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"Pode colocar no crédito": ao adiar reformas e priorizar crescimento, China está acentuando desequiíbrios
São Paulo - A China anunciou no final da semana passada sua meta de crescimento do PIB para 2016: algo entre 6,5% e 7%.
"A China com certeza não terá um pouso forçado", disse Xu Shaoshi, líder da Comissão para Reforma e Desenvolvimento Nacional.
No ano passado, a meta era 7% e o resultado ficou em 6,9%, o menor dos
últimos 25 anos. Mas o que muitos defendem é que é hora da China aceitar
crescer ainda menos.
"A meta é ambiciosa e pode distrair as autoridades de reformas
dolorosas, como o fechamento de empresas estatais não lucrativas", diz o
economista Louis Kuijs, diretor de pesquisa da consultoria Oxford
Economics para a Ásia.
A agência de rating Moody's, que mudou recentemente a perspectiva da
nota chinesa de estável para negativa, diz que a China está tentando
três objetivos incompatíveis: crescimento alto, estabilidade financeira e
uma agenda de reformas.
"Acreditamos que alcançar mesmo o patamar mais baixo dessa meta para
2016 vai exigir mais estímulos monetários e fiscais (...) Este nível de
suporte provavelmente vai frustrar a habilidade do governo de alcançar
pelo menos um dos outros objetivos", diz Michael Taylor, chefe de
crédito para Ásia-Pacífico da agência.
Ou seja: continuar estimulando a economia para crescer nestes níveis
significa acentuar os desequilíbrios que a trouxeram até aqui - como o
excesso de capacidade, de alavancagem e de endividamento.
Priorizar as reformas, além de difícil politicamente, é deixar o velho
sucumbir sem que o novo ainda tenha emergido - e a atividade certamente
sentiria o baque.
Também haveria uma depreciação grande do iuane e volatilidade dos
mercados, que o governo poderia combater usando suas reservas. O
problema é que elas já estão no seu menor nível desde 2011 em meio a uma intensa fuga de capitais.
Diga-se de passagem que a China está tendo que equilibrar não só três
objetivos políticos, mas também uma "trindade impossível" conhecida da
teoria econômica: a impossibilidade de manter para sempre uma conta de
capitais aberta, uma taxa de câmbio fixa e uma política monetária
independente.
Diante disso tudo, a Moody's acredita que o problema será empurrado com a
barriga e as reformas serão as sacrificadas, por enquanto. Não seria a
primeira vez - nem aqui, nem na China.
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