Adriano Machado/ Reuters
Luis Inácio Lula da Silva: "ficará também muito ruim se a Petrobras mantém a titularidade e não tem dinheiro para fazer nada".
São Paulo - Os grampos da Operação Lava Jato que monitoraram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com autorização da Justiça mostram que, mesmo fora do governo, ele foi um dos principais interlocutores de caciques do PMDB, que nesta terça-feira, 29, desembarcam da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff.
Em conversa gravada da entre Lula e o então ministro da Casa Civil,
Jaques Wagner, no final de fevereiro, os dois discutem os bastidores da
aprovação pelo Senado do projeto que acabou com a participação
obrigatória da Petrobras na exploração do petróleo nos campos do pré-sal - uma das derrotas do governo Dilma no Congresso.
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Proposta pelo senador José Serra (PSDB-SP) - arquirrival dos petistas - o
projeto foi aprovado no dia 24, com texto substitutivo do senador
Romero Jucá (PMDB-RR), após acordo entre o PSDB e parte da bancada
peemedebista.
"A orientação que ela (presidente Dilma Rousseff) passou: só não pode
dar o Serra", afirma Wagner, para Lula, em conversa após a aprovação do
projeto pelo Senado.
Lula então conta que esteve reunido com a bancada governista do PMDB e
tratou do assunto. "Deixa eu te falar uma coisa de bom senso, vai ficar
entre eu e você essa porra. Logo que foi a primeira votação do José
Serra, você está lembrado? Eu estava em um almoço, Jucá, Renan
(Calheiros, presidente do Senado), (José) Sarney, (Edison) Lobão, eu.
Quando me disseram que o Renan ia votar a posição do Serra, eu falei na
mesa 'o Renan, pelo amor de Deus, o PMDB não pode embarcar nessa porra. O
PMDB pode até flexibilizar mas garantindo que a decisão seja da
Petrobras".
Para Lula, "no fundo, no fundo, um pouco dos que eles fizeram foi isso" ao aprovar o projeto, com o substitutivo de Jucá.
Briga
Ao saber de Lula que ele havia se encontrado com a cúpula congressista
do PMDB, Wagner fala: "Presidente ainda bem que você tocou no ponto,
porque o Renan publicamente estava trabalhando para essa posição que
ficou saindo. Então a gente ia ficar no isolamento, porque o Lindbergh
acha que ia ganhar."
Wagner diz que defendeu Dilma, afirmando que ela não mudou de posição. O
diálogo gravado entre os dois petistas ocorre no domingo, 28 de
fevereiro, após a festa de aniversário dos 36 anos do PT, no Rio, em que
Lula fez discurso aos partidários.
O ministro da Casa Civil começa a conversa dizendo que tinha uma reunião
marcada com senadores e que não queria desmarcar por conta da votação
do projeto da Petrobras.
"A festa foi boa. Acho que não tinha aquele mal humor que a imprensa
falava contra a Dilma, sabe.
Eu falei ó 'tem problemas? Tem. O partido não é obrigado a acatar tudo que o governo faz, o governo não é obrigado a atender tudo que o partido quer. Mas temos que ter em conta que a Dilma é nossa presidenta. E ela sabe que somos o exército dela', afirma Lula.
Eu falei ó 'tem problemas? Tem. O partido não é obrigado a acatar tudo que o governo faz, o governo não é obrigado a atender tudo que o partido quer. Mas temos que ter em conta que a Dilma é nossa presidenta. E ela sabe que somos o exército dela', afirma Lula.
O ex-presidente brincou com Wagner: "É que nem a mãe da gente, faz comida a gente não gosta, mas come".
Lula demonstrou desacordo com o enfrentamento travado pelo governo no
Congresso pela aprovação do projeto - o Senado aprovou por 40 votos
favoráveis, 26 contrários e duas abstenções, o texto substitutivo,
alterando as regras de exploração de petróleo do pré-sal.
A proposta retira da Petrobras a exclusividade das atividades no pré-sal
e acaba com a obrigação de a estatal a participar com pelo menos 30%
dos investimentos em todos os consórcios de exploração dos campos.
Lula relatou, também, conversa com lideranças sindicais, que tinham ato
público marcado contra o governo Dilma. "Vamos imaginar que a medida
provisória do Serra era o bode. Tirou o bode da sala e colou uma coisa
mais razoável, que é garantir que a Petrobras tenha preferência, mas que
pode ser negociado montando uma boa diretoria da Petrobras, um bom
conselho nacional de política energética", afirma Lula.
Para o ex-presidente, "ficará também muito ruim se a Petrobras mantém a titularidade e não tem dinheiro para fazer nada".
"Acho que Dilma poderia conversar com a nossa base, criando uma comissão
especial para tentar fazer um acordo estratégico com os chineses em
cima do pré-sal em cima desses 30%. Tentando dar para os caras um
discurso que coloca, como fala, um capilé, uma rota de fuga."
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