Embora comemorado por boa parte do mercado, o novo programa econômico do PMDB já encontra seus desafetos na BM&FBovespa. A razão é simples: os ajustes propostos pelo partido, que deve anunciar na tarde desta terça-feira (29) a ruptura com o governo da presidente Dilma Rousseff, devem passar por cortes em incentivos para algumas empresas do setor de educação e construção civil, que foram favorecidas por programas governamentais.
O PMDB está preparando uma ampliação do plano nomeado como "Uma Ponte para o Futuro". A nova redação inclui uma revisão de gastos na área social e uma nova política para essa área. No caso da educação, o ajuste passaria por uma restrição maior ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que aos olhos do partido precisa de "meritocracia". Na Bolsa, há quatro empresas do setor expostas ao programa. Os papéis do segmento como Estácio, Kroton, Ser Educacional e Anima já sofreram quedas nos últimos pregoes. O partido estuda, ainda, tornar o Pronatec mais seletivo.
Já na construção civil, a alteração se daria em cortes de subsídios do programa "Minha Casa, Minha Vida", que têm como principais ações expostas na Bovespa MRV Engenharia e Direcional. No plano do PMDB está uma revisão do uso do FGTS para financiar o "Minha Casa, Minha Vida". Segundo Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães, o problema precisa ser enfrentado antes que se torne maior. “Estão levando o uso do FGTS ao limite – e o fundo é do trabalhador, precisa ser remunerado, não dá para fazer graça com dinheiro dos outros", afirmou recentemente Moreira Franco. Ele faria parte de um restrito grupo de assessores de Temer e estaria encarregado de propor programas numa eventual transição política, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo.
Além das questões que vêm sendo estudadas para ampliação do "Uma Ponte para o Futuro", há alguns pontos no antigo plano que, embora venham sendo deixados de lado pelo mercado, podem impactar outras empresas na Bolsa. Isso porque, embora o dólar venha em uma trajetória de queda diante da possibilidade do impeachment, se houver uma transição do governo Dilma para Temer, alguns fatores devem ser levados em consideração. “No programa do PMDB, alguns fatores devem trabalhar como limitador de uma desvalorização mais abrupta”, alerta José Faria Júnior, diretor de câmbio da Wagner Investimentos.
Ele aponta duas passagens que constam no documento para acreditar nisso. Em primeiro lugar,  o programa fala que é preciso "repensar seriamente a ação do Banco Central" nas dispendiosas operações de swap cambial, cujo custo para o governo poderá estar em 2015 em cerca de 2% do PIB. Um segundo ponto é que a agenda propõe uma taxa de câmbio que reflita as condições relativas de competitividade. Ou seja, na possibilidade do programa se tornar realidade, o dólar poderia ser elevado para níveis mais altos, beneficiando novamente no médio prazo as ações exportadoras, que foram prejudicadas no início deste ano pela queda da moeda. Entre elas, a fabricante de aeronaves Embraer, além das empresas do setor de papel e celulose Suzano, Fibria e Klabin.