terça-feira, 28 de junho de 2016

"Boca livre que nós pagamos", diz ministro sobre casamento


 
 
Fausto Macedo e Julia Affonso, do Estadão Conteúdo


São Paulo - O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou nesta terça-feira, 28, que o problema não é a Lei Rouanet, mas sim na "ausência de mecanismos preventivos".

A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União deflagraram nesta manhã a Operação Boca Livre contra fraudes de R$ 180 milhões na Lei Rouanet.
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De acordo com as investigações, os recursos públicos oriundos da legislação pagaram confraternizações de empresas e até festas de casamento.

"Nós vimos a gravação de um vídeo do casamento, uma festa boca livre que nós pagamos. No meu casamento, eu paguei. Por sinal, fiquei pagando um ano ainda. No casamento desse senhor que pagou com a Lei Rouanet foi em um hotel cinco estrelas em Florianópolis com direito a vídeo gravado. Nós achamos que tivesse sido contratados modelos para fazer o vídeo. Eram os convidados mesmo, champanhe sendo aberto e isso com a Lei Rouanet", declarou.

A investigação cita o Ministério da Cultura, as empresas Bellini Eventos Culturais, Scania, KPMG e o escritório de advocacia Demarest, Roldão, Intermedica Notre Dame, Laboratório Cristalia, Lojas 100, Nycomed Produtos Farmacêuticos e Cecil.

O casamento do filho do empresário Antonio Carlos Bellini Amorim, do Grupo Bellini, em Jurerê Internacional, em 25 de maio deste ano, seria um dos eventos bancados com verbas da Lei Rouanet.

Em dois vídeos sobre o evento, divulgados em redes sociais, um no dia anterior ao casamento e outro na cerimônia, é possível ver os convidados com taças de bebidas.

"Essa operação de hoje detectou já de início R$ 180 milhões, obviamente a investigação vai continuar. Há indícios de mais dinheiro, valor maior ainda desviado", afirmou Moraes.

"A utilização da Lei Rouanet com desvio de finalidade muito grande, não para incentivar a cultura, mas sim para incentivar o crescimento de fortunas pessoais, festas pessoais, festas de final de ano", disse.

A Lei Rouanet foi criada no governo Fernando Collor (PTC/AL), em 1991. A legislação permite a captação de recursos para projetos culturais por meio de incentivos fiscais para empresas e pessoas físicas. Na prática, por exemplo, a Lei Rouanet permite que uma empresa privada direcione parte do dinheiro que iria gastar com impostos para financiar propostas aprovadas pelo Ministério da Cultura para receber recursos.

Moraes ressaltou que o problema não é a legislação. "O problema é a ausência de mecanismos preventivos de eficácia para verificar a liberação do dinheiro, a fiscalização, a efetiva utilização desse dinheiro. O que não é possível é que empresas fizessem não só casamentos, mas também festas de final de ano contratando artistas com dinheiro da Lei Rouanet", afirmou o secretário.


Defesas


"As investigações para apuração de utilização fraudulenta da Lei Rouanet têm o apoio integral do Ministério da Cultura (MinC), que se coloca à disposição para contribuir com todas as iniciativas no sentido de assegurar que a legislação seja efetivamente utilizada para o objetivo a que se presta, qual seja, fomentar a produção cultural do País", afirmou o ministério por meio de nota.

Consultado pela reportagem, o escritório Demarest Advogados de manifestou para prestar esclarecimentos sobre a presença da Polícia Federal em seu escritório. localizado em São Paulo. "O objetivo da visita foi a solicitação de documentos e informações relacionados a empresas de marketing de eventos que prestaram serviços ao escritório no âmbito da Lei Rouanet. Tais empresas são alvo da operação. O escritório enfatiza que não cometeu qualquer irregularidade, e informa que colaborou e continuará a colaborar com a investigação".

Brasil e Rússia viram paraísos improváveis com Brexit





Andrew Harrer/Bloomberg
Dinheiro: pilhas de moedas de real
Mercado brasileiro: com mudança na percepção de risco global, Brasil volta a parecer um bom investimento para estrangeiros
 
Natasha Doff e Ksenia Galouchko, da Bloomberg


A decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia mudou as percepções do risco político mundial.

O novo governo interino do Brasil e o isolamento da Rússia representam uma oportunidade de compra para o maior gestor de ativos da Europa enquanto o caos político em toda a zona do euro corrói o status das economias desenvolvidas como mais seguras.
Mesmo antes da votação da Brexit, as oscilações de preços para títulos de nações mais avançadas tinham ofuscado os de seus pares em nações menos desenvolvidas, expondo investidores a riscos maiores.

“Certamente agora alguns mercados emergentes estão mais seguros do que partes do mundo desenvolvido”, disse Sergei Strigo, chefe de mercados emergentes da Amundi Asset Management em Londres, maior empresa de investimentos do continente, com US$ 1 trilhão sob gestão, que se posicionou para a decisão britânica de abandonar a UE.

Strigo avalia adicionar mais títulos do Brasil e da Rússia em sua carteira e está “overweight” na Argentina e no México. Ele não está sozinho. 

Enquanto os mercados globais despencavam na sexta-feira após o resultado do referendo do Reino Unido, o BNP Paribas ampliou sua posição na Rússia, na Colômbia e na África do Sul através de credit-default swaps.


"Brilho de refúgio seguro"

 

Analistas do Société Générale angariaram títulos em moeda local em Moscou na segunda-feira por seu “brilho de refúgio seguro”, e as ações negociadas em Johannesburgo atraíam a maior quantidade de fluxos de entrada na semana passada desde março de 2009. 

Os investidores colocaram US$ 1,75 bilhão em fundos negociados em bolsas dos EUA que investem em dívida e ações do mercado emergente na semana passada, o maior montante em três meses, mostram dados compilados pela Bloomberg.

A volatilidade na negociação de ações mostrou reações completamente diferentes. A volatilidade de trinta dias nos mercados dos EUA, da Europa e do Reino Unido disparou depois da votação e continua acima do patamar em que terminou o primeiro trimestre.

A reação dos traders de ações no Brasil, Rússia, Índia e China, por sua vez, foi praticamente limitada, e os níveis de volatilidade de trinta dias mal se moveram, deixando-a menor ou quase igual em comparação com o patamar observado no dia 31 de março.

Ao ofuscar o apelo de países que normalmente são associados à previsibilidade e à estabilidade, a votação do Reino Unido está tornando os riscos do mercado emergente mais palatáveis para quem busca um refúgio dos rendimentos negativos. 

A Brexit empurrou a libra para uma queda livre e deixou os investidores lutando para entender como o enfraquecimento da UE afetará o futuro político e econômico da Europa.

Por todo o seu risco político, comprar dívida do governo britânico com vencimento em 10 anos oferecia um yield de 0,97 por cento às 12h40 em Londres. 

Na Rússia, no Brasil e na África do Sul, as mesmas notas pagavam entre 8,5 por cento e 12,2 por cento.

“É melhor ficar longe dos ativos europeus devido à incerteza, e vale a pena analisar os mercados em desenvolvimento, onde a Rússia e o rublo parecem bastante atraentes”, disse Yury Tulinov, chefe de pesquisa do Rosbank em Moscou. 

“Em um momento em que a integração europeia está se fragmentando, a Rússia, relativamente isolada, parece um paraíso seguro para os investidores”.

Abusos do governo federal agravaram deterioração financeira estadual







Em 2012, o economista Daron Acemoglu, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), e o cientista político James Robinson, da Universidade Harvard, ficaram famosos com a publicação de Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty (Nova Iorque: Crown Publishers, 2012).[1] O best-seller parte de uma perspectiva institucionalista, para oferecer uma reinterpretação das razões que historicamente levaram nações ao sucesso e ao fracasso, em termos econômicos.

Nessa nova proposta teórica, as macroestruturas sociais são agrupadas em duas grandes categorias: instituições extrativistas e instituições inclusivas. E dessa divisão, extrai-se que o sucesso econômico e a prosperidade são resultantes da prevalência do segundo tipo de arranjos institucionais.

Ou seja, esquemas políticos e econômicos fundados no pluralismo, na participação e na inclusão social, com governos garantidores de direitos, rule of law e competitividade nos mercados, seriam os únicos capazes de promover o que o economista Joseph Schumpeter chamou de “destruição criadora”, dispersando a riqueza e o poder entre os membros da sociedade (ao invés de concentrar recursos em uma pequena elite privilegiada) e, assim, garantindo um crescimento sustentável de longo prazo.

Aí está seu grande mérito: distanciando-se das velhas teorias da modernização, que tendem a atribuir a pobreza, o baixo crescimento e o acúmulo nas mãos de poucos a fatores culturais, étnicos, religiosos, ou mesmo geográficos, a dupla desconstrói uma série de mitos sobre o desenvolvimento e o progresso econômicos. Para eles, é a forma como instituições político-econômicas são moldadas que, em última análise, determina quais países serão ricos e quais serão pobres.

Em que pese a importância desse trabalho, não se pode deixar de destacar uma deficiência. Como bem percebeu o sociólogo Roberto Patricio Korzeniewicz, não são apenas elementos internos que ditam o futuro de um povo.[2] Embora Acemoglu e Robinson tenham acertado na opção pelo institucionalismo,[3] no lugar de visões preconceituosas sobre as sociedades humanas, eles incorrem no erro de tomar Estados-nação como se fossem “ilhas”, ignorando o forte papel exercido por estruturas “para além do horizonte nacional” (como as dinâmicas do capitalismo global) na performance econômica de cada país.[4]

Se essa crítica se mostra adequada no plano das relações internacionais, faz muito mais sentido quando se analisa o desempenho de estados-membros que compõem uma federação. Afinal, todo Estado federal é composto por uma União que se coloca acima das demais unidades políticas, exercendo sobre elas influência direta e constante.

No Brasil, é a própria Constituição Federal de 1988 que diz, já em seu primeiro artigo, que a república federativa é “formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”. Logo, ações levadas a cabo pelo governo central, sobretudo no campo econômico-financeiro, inevitavelmente repercutirão nos entes menores, tanto positiva quanto negativamente.

Pois é precisamente essa a conclusão de um cuidadoso estudo realizado pela Auditoria Cidadã da Dívida acerca da crise dos estados brasileiros, no contexto do exame pelo STF do artigo 3º da LC 148/14 (desconto da dívida com a União).[5] O referido estudo se posicionou a favor dos mandados de segurança impetrados pelos estados, “[...] tendo em vista que referidos julgados minoram os impactos das numerosas ilegalidades perpetuadas ao longo dos últimos 17 anos [pela União].”[6]

De fato, a União sistematicamente impôs e continua a impor perdas arrecadatórias aos governos estaduais, inviabilizando a quitação da dívida.[7] Um exemplo impressionante compreende os prejuízos da LC 87/96 (apelidada Lei Kandir), que a União insiste em não rever.[8] Para se ter uma ideia, Minas Gerais teve uma perda líquida não compensada correspondente a cerca de R$ 62 bi. Isso é quase o valor total da dívida, que soma mais ou menos R$ 79 bi.

É importante lembrar, ainda, aquilo que o ministro Gilmar Mendes denominou de “inversão do quadro de partilha constitucional”:[9] ao longo dos anos, a União aprovou renúncias a tributos cuja arrecadação deve ser compartilhada com os estados (exonerações do IPI, como em 2009; deduções no IR) e, para cobrir seu déficit, ampliou as contribuições sociais (tributos não compartilhados), desvinculando parcela das receitas. Com isso, os recursos foram se concentrando no ente federativo maior, em claro movimento centrípeto, contrário à tendência centrífuga idealizada pelo constituinte de 1988.[10]

Para piorar, os estados receberam os encargos mais gravosos, como educação, saúde, segurança pública, previdência.[11] Não é de se espantar, pois, que tenham ficado com suas finanças combalidas, sendo hoje os mais endividados,[12] o que coloca em sério risco a autonomia estadual e a prestação de serviços essenciais à garantia da dignidade humana.[13] Como noticiado pela Folha de S. Paulo,[14] a situação só não é mais dramática por conta das leis que autorizaram o uso de depósitos judiciais e/ou extrajudiciais, cuja constitucionalidade está em discussão no STF.[15]

Se, por um lado, falece aos estados competência para “inventar” outras fontes de recursos, não podendo sequer emitir moeda para equilibrar suas finanças, tal como faz constantemente o ente federal,[16] por outro, cabe a eles, em essência, os maiores gastos com pessoal, porque devem arcar, notadamente, com as despesas com polícia e professores primários, para não falar nos dispendiosos sistemas de saúde e previdenciário. Em Minas Gerais, isso tudo consome em torno de 88% do orçamento, mesmo sendo o padrão remuneratório de seus servidores significativamente inferior ao da União.

Como consequência, não restou outra alternativa aos estados senão cortar despesas fulcrais, sacrificando sua própria capacidade operacional. Mas esses ajustes não resolvem o problema, apenas o retardam. O verdadeiro desafio é eliminar a obrigação de verter recursos de “baixo para cima”, com o pagamento juros a taxas elevadíssimas à União.

Aliás, uma questão que passou despercebida é que a exigência da Selic capitalizada nem mesmo é a taxa mais apropriada para indicar o custo de captação de recursos no mercado financeiro. Corresponde, na verdade, à taxa média de financiamento no mercado interbancário para operações de curtíssimo prazo, lastreadas em títulos públicos federais e com compromisso de recompra. Essas operações, que remuneram a chamada taxa de overnight (cuja média ponderada apurada é justamente a Selic), ocorrem em apenas um dia. Trata-se de uma taxa média do mercado para operações de curtíssimo prazo, nas quais o custo efetivo é significativamente maior do que ocorreria em operações de longo prazo (em 20, 30 ou 40 anos, como é o caso da dívida dos estados).

O que deve ficar claro é que foram os inúmeros abusos cometidos pelo governo federal,[17] atentatórios ao federalismo cooperativo de participação, que terminaram por agravar o quadro de deterioração financeira estadual. Pode-se mesmo afirmar que a União tentou equilibrar suas contas aumentando a carga tributária global e cobrando juros escorchantes dos estados. Vários tiveram de apertar os cintos[18] e, agora, começam a colocar em risco a possibilidade de atender a direitos humanos fundamentais da população.[19]

É inadmissível pensar que, mesmo com atrasos e parcelamentos dos salários de servidores estaduais, subsista a obrigação dos estados de comprometerem de 11% a 15% de suas receitas para pagar juros à União. Nesse compasso, não podendo sequer pagar a folha, só lhes restará cortar gastos inarredáveis (menos gasolina na viatura da PM; menos medicamentos; presídios superlotados, etc.). Naturalmente, readequações ainda podem ser feitas, mas o volume de recursos que saem na forma de juros para a União é enorme e mortal para os estados e, consequentemente, para o próprio federalismo.

Caso o STF decidisse favoravelmente aos estados (prestigiando os comandos manifestos do legislador complementar), a União teria de diluir a “perda” pelos próximos 22 anos. Isso significa que o alegado rombo de aproximadamente R$ 300 bilhões (de uma dívida federal de mais de R$ 3 trilhões) seria diluído até 2038 — uma gota d’água no oceano de recursos à disposição do governo federal. Não por outra razão, concluiu a Nota Técnica da Auditoria Cidadã da Dívida que “a União não quebra com a aplicação dos juros simples”.

Contribuintes de que estado forem (mais pobres ou mais ricos) já não suportam mais pagar juros e tributos para engordar os cofres federais, assim sujeitando-se, cada vez mais, aos mandos e desmandos de um distante, concentrado e incontrolável governo central. O ideal democrático incorporado pelo direito constitucional brasileiro exige que se privilegie a descentralização, impondo-se sempre uma interpretação jurídica pró-federação.

Na lição de Dalmo de Abreu Dallari: “O respeito ao Federalismo como princípio deve condicionar a legislação, as iniciativas e ações dos governos e também as decisões judiciais. Todo ato com implicações jurídicas que for antifederativo será, por isso mesmo, inconstitucional.”[20]


1 A obra, já com tradução para o português, recebeu elogios de diversos ganhadores do “Nobel de Economia” (Kenneth Arrow, Gary Becker, Peter Diamond, Michael Spence, Robert Solow), bem como de importantes nomes das ciências sociais (Niall Ferguson, Francis Fukuyama, Ian Morris, Dani Rodrik).
2 Cf. KORZENIEWICZ, R.P. The logic of global capitalism: “Why nations fail” has been widely praised for its explanatory power. But it oversimplifies the workings of global capitalism. Jacobin, 30 out. 2015 (https://www.jacobinmag.com/2015/10/robinson-acemoglu-inclusive-extractive-poverty-wealth/).
3 Associado a quatro nobelistas: Ronald Coase, Douglass North, Elinor Ostrom e Oliver Williamson.
4 Para uma investigação mais profunda, cf. BATISTA Jr., O.A. O outro Leviatã e a corrida ao fundo do poço: guerras fiscais e precarização do trabalho, a face perversa da globalização, a necessidade de uma ordem econômica global mais justa. São Paulo: Almedina, 2015.
5 Para uma melhor compreensão da controvérsia, remetemos o leitor a nossa coluna anterior: http://www.conjur.com.br/2016-abr-25/recalculo-divida-estados-quem-realmente-paga-pato.
7 O que já era observado no ano de 1999 pelos mais renomados juristas e professores de direito (Aloízio Gonzaga de Andrade de Araújo, Misabel Abreu Machado Derzi, Lúcia Valle Figueiredo, Américo Masset Lacombe, Dalmo de Abreu Dallari, Eros Roberto Grau, Fábio Konder Comparato, Menelick de Carvalho Netto, Celso Antônio Bandeira de Mello, José Alfredo de Oliveira Baracho, Sebastião Alves dos Reis), que contribuíram com relevantes pareceres e artigos para o primeiro volume da Revista da Procuradoria Geral do Estado de Minas Gerais, intitulada Direito Público, sob a temática O Pacto Federativo e os Contratos de Renegociação de Dívida entre a União e os Estados Federados.
8 A propósito, cf. ARRETCHE, M. Continuidades e descontinuidades da federação brasileira: de como 1988 facilitou 1995. In: ARRETCHE, M. Democracia, federalismo e centralização no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2012, p. 33-75.
9 Tributação e finanças públicas na Constituição Federal de 1988. In: MENDES, G.F.; BRANCO, P.G.G. Curso de direito constitucional. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 1.346-1.380, p. 1.353 et seq.
10 Como registrou o ministro Fachin (http://s.conjur.com.br/dl/ms-dividas-estados-uniao-voto-fachin.pdf): “No campo da receita, há um acirramento dos conflitos acerca da distribuição da carga tributária, uma vez que no exercício financeiro de 2014 a Secretaria da Receita Federal noticia que a União deteve 68,47% da arrecadação, ao passo que os Estados ficaram com 25,35% e os Municípios, 6,19% do total (BRASIL. MINISTÉRIO DA FAZENDA. SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Carga Tributária no Brasil – 2014: análise por tributo e bases de incidência. Brasília: Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros, 2015, p. 5).”
11 Também é preciso salientar o dever de garantir as condições mínimas de integridade física e moral dos presos, previsto tanto na CRFB/88, quanto em documentos internacionais (Pacto dos Direitos Civis e Políticos, Convenção Interamericana de Direitos Humanos), mormente depois da ADPF 347, em que o STF passou a adotar a chamada Teoria do Estado de Coisas Inconstitucional.
12Asfixiados pelo encolhimento da economia e da arrecadação de impostos, os Estados sofrem mais diretamente que o governo federal o impacto da crise orçamentária. Enquanto a União consegue se endividar no mercado financeiro e postergar as medidas mais amargas de ajuste, os governos estaduais dispõem de poucas opções para equilibrar suas contas – além de elevar tributos e atrasar pagamentos quanto falta dinheiro no caixa.” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/05/1775806-queda-na-arrecadacao-no-brasil-deixa-estados-mais-estrangulados.shtml).
13 Nesse sentido, o terceiro volume da Direito Público: Revista da Procuradoria Geral do Estado de Minas Gerais, de 2000, voltou a abordar a difícil questão relativa ao pagamento do serviço da dívida, porém tomando – nos dizeres da Profa. Misabel Derzi, então Procuradora-Geral do Estado de Minas Gerais – “como unidade temática Os Direitos Humanos Fundamentais, neles incluídos, como não poderia deixar de ser, os direitos sociais, talvez o mais belo e importante tema jurídico, a própria raiz do Direito.
16 Dentre os impostos constitucionalmente reservados aos estados (art. 155), estão o ICMS (cuja base foi, no decorrer dos anos, esvaziada pela “guerra fiscal”, sob o beneplácito da União) e outros dois de baixo potencial arrecadatório, o IPVA e o ITCMD (este, ainda limitado à alíquota de 8%, por resolução do Senado Federal). Podem até instituir taxas (art. 145, II) e contribuições de melhoria (art. 145, III), mas tais figuras tributárias têm finalidade meramente retributiva, e não contributiva – não se prestam a abastecer os cofres estaduais, restando limitadas ao valor do serviço e da fiscalização (no primeiro caso) ou da obra (no segundo caso). No mais, inexiste previsão de empréstimos compulsórios estaduais e, no campo das contribuições sociais, só há possibilidade de cobrança de exações cuja receita é inteiramente vinculada, a saber, as contribuições previdenciárias de seus respectivos servidores (art. 149, § 1º). Enfim, só a União pode emitir moedas (art. 21, VII) e estabelecer políticas monetárias, cambiárias, creditícias e de comércio exterior (art. 21, VIII; art. 22, VI, VII e VIII), sendo o único ente competente para criar novos tributos (art. 154, I; art. 195, § 4º).
17A dívida e os contratos dos entes federados se encontrarem inflados por ilegalidades e ilegitimidades desde a origem dos convênios firmados com base na Lei 9.496/97, cuja gênese está expressa em Carta de Intenções de dezembro/1991 com o FMI, itens 24 e 26.” (http://www.auditoriacidada.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Nota-Te%CC%81cnica-ACD-1.2016-para-o-STF.pdf).
18 Nos informa o economista José Roberto Afonso (em apresentação na Câmara dos Deputados de 28/04/2015), especialista em contas estaduais, que: “Governos estaduais e municipais apoiam e já promovem um ajuste em suas contas mais profundo até que o Governo Central.” Mesmo dispondo de um ¼ a menos de receita tributária e possuindo um raio mínimo de manobra, “o superávit primário dos governos regionais (R$ 10,5 bilhões) superou o do governo central (R$ 10 bilhões)”. O resultado, como observa o professor e pesquisador da FGV, é ainda mais valorizado devido à (1) forte queda da arrecadação estadual no início deste ano, sendo muito maior do que a do governo federal (recuo real na casa de 5% do ICMS e 3% do FPE/FPM); (2) impossibilidade de criar ou majorar contribuições, como a União.
19 Mais uma vez, vale transcrever as palavras do ministro Fachin (http://s.conjur.com.br/dl/ms-dividas-estados-uniao-voto-fachin.pdf), que buscou a filosofia de Hannah Arendt para ressaltar “o ideal de promoção da cidadania em sua dimensão fiscal na República Federativa do Brasil, sob as luzes da necessária conexão entre direitos fundamentais, cidadania e finanças públicas, traduzível no ‘direito a ter direitos’, célebre expressão de Hannah Arendt.
20 Implicações do pacto federativo. Direito Público: Revista da Procuradoria Geral do Estado de Minas Gerais, v. 1, n. 1, p. 77-82, 1999, p. 78.

Empresas veem desaceleração de aquisições com Brexit





Neil Hall / Reuters
Homem carrega bandeira da União Europeia em Londres após brexit, dia 24/06/2016
Homem carrega bandeira da União Europeia em Londres após brexit
 
Ruth David, da Bloomberg
Aaron Kirchfeld e Dinesh Nair, da Bloomberg


As empresas europeias que esperavam que hoje se abririam as comportas das fusões e das vendas de ações estão se preparando para uma seca mais longa.

A decisão britânica de deixar a União Europeia “será a maior cisão da história”, disse Richard Cranfield, sócio corporativo da Allen & Overy LLP.
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“Um mercado de fusões e aquisições saudável é fortemente impulsionado pela confiança. 

Considerando o período de incerteza no qual acabamos de entrar após a votação pela saída, provavelmente veremos uma desaceleração significativa das fusões e aquisições”.

As aquisições de empresas europeias caíram 27 por cento, para US$ 251 bilhões, até o referendo de quinta-feira, segundo dados compilados pela Bloomberg. O declínio foi ecoado pela queda na captação de recursos, com o valor das vendas de ações e das ofertas públicas iniciais na Europa em menos da metade do patamar que estavam na comparação anual. As fusões e as vendas de ações estão no nível mais baixo desde 2012, segundo os dados.

Os primeiros sinais já estão aparecendo. A Telefónica avalia o adiamento dos IPOs de sua unidade de infraestrutura Telxius e da operadora de telefonia celular britânica O2 após o referendo, disseram pessoas informadas sobre o assunto.

A Telxius havia planejado a abertura do processo para a captação de 1,5 bilhão de euros (US$ 1,7 bilhão) já na semana que vem, enquanto a O2 estudava realizar um IPO no quarto trimestre, disseram as pessoas. Um representante da Telefónica preferiu não comentar.

A Steinhoff International Holdings disse nesta sexta-feira que está reconsiderando uma abordagem para a rede de varejo popular britânica Poundland Group, que havia rejeitado sua proposta de aquisição, após os resultados do referendo.

No referendo de quinta-feira, o Reino Unido decidiu deixar a UE após mais de quatro décadas, levando a libra ao menor nível em mais de 30 anos e colocando as ações europeias a caminho da maior queda desde 2008.

Os alertas dos economistas e dos líderes mundiais sobre as sombrias consequências políticas e econômicas perderam para os argumentos de que a adesão ao bloco impedia o país de ter controle pleno sobre suas fronteiras, suas leis e suas finanças.
 

IPOs adiados


As empresas vinham adiando as vendas de ações e os IPOs nas semanas anteriores ao referendo devido à possibilidade de o Reino Unido optar por sair da UE.

Agora que a decisão foi tomada, bilhões de dólares em transações estão em um limbo.

Até US$ 25 bilhões em possíveis vendas de ações para empresas europeias também podem estar congelados, segundo pesquisa de uma consultoria, que pediu anonimato porque os números não são públicos.

Esse total inclui acionistas que adiaram vendas nas semanas anteriores ao referendo e aqueles cujas restrições à venda (lock up) expiram até setembro, disseram as pessoas.


Dança das cadeiras: Nestlé terá novos CEO e chairman em 2017




Bloomberg
Nestlé
"Gostaríamos de reassegurar aos consumidores que nenhum de nossos produtos foi afetado pelo recall da Fonterra", disse o porta-voz da Nestlé

São Paulo – A Nestlé terá um novo presidente executivo a partir de 2017. Ulf Mark Schneider, que é CEO da Fresenius Group desde 2003, foi escolhido por unanimidade pelo conselho de administração.

O grupo alemão fornece produtos e serviços para o setor de saúde, como equipamentos para diálise e para hospitais. Hoje, o grupo tem 220.000 funcionários em mais de 100 países e faturamento de 28 bilhões de euros.

Já a Nestlé, onde ele começará a trabalhar a partir de setembro de 2016, tem faturamento de 88,8 bilhões de francos suíços, cerca de 81,66 bilhões de euros, e 335.000 funcionários.

A sua indicação, que demonstra uma inclinação da empresa para sua divisão de saúde, acontece por conta de uma dança das cadeiras.

O atual chairman do conselho de administração da Nestlé irá se aposentar a partir do ano que vem.

Depois de 50 anos trabalhando na Nestlé, 11 deles como presidente executivo, Peter Brabeck-Letmathe deixará a companhia no final do ano. A eleição de um novo chairman ocorrerá em abril de 2017.

No seu lugar, o conselho lançou a candidatura de Paul Bulcke, atual CEO da empresa, para concorrer ao posto.

Ele é presidente executivo desde 2008 e, nesses anos, “a companhia experimentou desenvolvimento acima do nível da indústria e fez grandes avanços na sua jornada para se tornar uma companhia líder em nutrição, saúde e bem estar”, disse ela em nota.

Como o cargo de CEO ficou, então, vago, o conselho votou na nomeação de Schneider.

FGV: Índice de Confiança da Indústria tem alta em junho





O resultado indica uma melhora das expectativas dos empresários, que vem ocorrendo desde abril 

Por Agência Brasil
 

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) registou alta de 4,2 pontos em junho, chegando a 83,4 pontos. O índice, medido pela Fundação Getulio Vargas, registrou elevação em 14 dos 19 segmentos pesquisados. Para o superintendente Adjunto para Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo Jr, o resultado indica uma melhora das expectativas dos empresários, que vem ocorrendo desde abril. “Um movimento que pode ser definido como de redução do pessimismo. O retorno da confiança aos níveis médios históricos dependerá, de agora em diante, de uma efetiva recuperação da demanda interna e da redução das incertezas originadas no ambiente político”, analisa Campelo Jr.

O Índice de Expectativas teve alta de 7,5 pontos e ficou com 85,7 pontos em junho. A variação mensal foi a maior desde janeiro de 2002, quando foi verificada uma elevação de 7,6 pontos. A alta foi puxada pela diminuição do percentual de empresas que acreditam que devem reduzir a produção nos próximos meses, de 28,7% em maio, para 16% em junho. A parcela de indústrias que avaliam que passaram a produzir mais subiu de 23,4% para 24,2%.

O Índice de Situação Atual teve elevação de 2,7 pontos em junho, ficando com 80,1 pontos. Segundo a FGV, o resultado está ligado à estabilização das perspectivas em relação à demanda, que vinham apresentando um quadro de pioras sucessivas. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) ficou praticamente estável em junho, crescendo 0,1 ponto percentual em junho sobre maio, ficando em 73,9%. O primeiro avanço desde o terceiro trimestre de 2013.


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Ipea: crise econômica começa a perder fôlego




Recuperação pode ser percebida na indústria nacional

Por Agência Brasil


Levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que a crise econômica que atinge o país começa a perder fôlego. Apesar disso, ainda há um longo caminho para a recuperação, de acordo com o coordenador do Grupo de Conjuntura do Ipea, José Ronaldo Souza Júnior. Os dados constam na Carta de Conjuntura, que avalia dados econômicos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o Ipea, os sinais de que a crise está perdendo fôlego podem ser percebidos principalmente na indústria nacional. Além disso, a desvalorização do real ante o dólar, de acordo com o Ipea, beneficia o setor exportador brasileiro, principalmente nos segmentos têxtil, madeireiro e de calçados. 
Além de aumentar a competitividade brasileira no setor externo, a desvalorização do real também está estimulando a substituição de importação na produção de alguns bens intermediários, ou seja, nos insumos usados pelo setor produtivo. Por outro lado, no entanto, a moeda nacional desvalorizada torna a importação de máquinas e equipamentos mais cara, prejudicando investimentos no setor produtivo.

Diferentemente da indústria, os setores de serviços e comércio ainda estão em retração. “Os serviços tendem a levar um tempo maior para se recuperar porque depende muito da renda dos consumidores e ela vai demorar a se recuperar por conta da questão do emprego”, projeta Souza Júnior. A renda e o aumento de desemprego têm prejudicado a recuperação da demanda doméstica por bens e serviços. 

“Há um longo caminho [para a recuperação da economia], pois os indicadores de confiança, principalmente dos consumidores, ainda estão muito pessimistas”, diagnostica o pesquisador.


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