Andrew Harrer/Bloomberg
Mercado brasileiro: com mudança na percepção de risco global, Brasil volta a parecer um bom investimento para estrangeiros
Natasha Doff e Ksenia Galouchko, da Bloomberg
A decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia mudou as percepções do risco político mundial.
O novo governo interino do Brasil e o isolamento da Rússia representam
uma oportunidade de compra para o maior gestor de ativos da Europa
enquanto o caos político em toda a zona do euro corrói o status das economias desenvolvidas como mais seguras.
Mesmo antes da votação da Brexit, as oscilações de preços para títulos
de nações mais avançadas tinham ofuscado os de seus pares em nações
menos desenvolvidas, expondo investidores a riscos maiores.
“Certamente agora alguns mercados emergentes estão mais seguros do que
partes do mundo desenvolvido”, disse Sergei Strigo, chefe de mercados
emergentes da Amundi Asset Management em Londres, maior empresa de
investimentos do continente, com US$ 1 trilhão sob gestão, que se
posicionou para a decisão britânica de abandonar a UE.
Strigo avalia adicionar mais títulos do Brasil e da Rússia em sua
carteira e está “overweight” na Argentina e no México. Ele não está
sozinho.
Enquanto os mercados globais despencavam na sexta-feira após o resultado
do referendo do Reino Unido, o BNP Paribas ampliou sua posição na
Rússia, na Colômbia e na África do Sul através de credit-default swaps.
"Brilho de refúgio seguro"
Analistas do Société Générale angariaram títulos em moeda local em
Moscou na segunda-feira por seu “brilho de refúgio seguro”, e as ações
negociadas em Johannesburgo atraíam a maior quantidade de fluxos de
entrada na semana passada desde março de 2009.
Os investidores colocaram US$ 1,75 bilhão em fundos negociados em bolsas
dos EUA que investem em dívida e ações do mercado emergente na semana
passada, o maior montante em três meses, mostram dados compilados pela
Bloomberg.
A volatilidade na negociação de ações mostrou reações completamente
diferentes. A volatilidade de trinta dias nos mercados dos EUA, da
Europa e do Reino Unido disparou depois da votação e continua acima do
patamar em que terminou o primeiro trimestre.
A reação dos traders de ações no Brasil, Rússia, Índia e China, por sua
vez, foi praticamente limitada, e os níveis de volatilidade de trinta
dias mal se moveram, deixando-a menor ou quase igual em comparação com o
patamar observado no dia 31 de março.
Ao ofuscar o apelo de países que normalmente são associados à
previsibilidade e à estabilidade, a votação do Reino Unido está tornando
os riscos do mercado emergente mais palatáveis para quem busca um
refúgio dos rendimentos negativos.
A Brexit empurrou a libra para uma queda livre e deixou os investidores
lutando para entender como o enfraquecimento da UE afetará o futuro
político e econômico da Europa.
Por todo o seu risco político, comprar dívida do governo britânico com
vencimento em 10 anos oferecia um yield de 0,97 por cento às 12h40 em
Londres.
Na Rússia, no Brasil e na África do Sul, as mesmas notas pagavam entre 8,5 por cento e 12,2 por cento.
“É melhor ficar longe dos ativos europeus devido à incerteza, e vale a
pena analisar os mercados em desenvolvimento, onde a Rússia e o rublo
parecem bastante atraentes”, disse Yury Tulinov, chefe de pesquisa do
Rosbank em Moscou.
“Em um momento em que a integração europeia está se fragmentando, a
Rússia, relativamente isolada, parece um paraíso seguro para os
investidores”.
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