Advogado garante que produziu provas suficientes para inocentar Dilma
por Catarina Alencastro
BRASÍLIA - O advogado da presidente afastada
Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, convocou uma entrevista coletiva no
Palácio da Alvorada, onde a petista mora e mantém agora um escritório de
trabalho, para dizer que conseguiu produzir provas suficientes, durante as
audiências da comissão de impeachment no Senado, para inocentá-la. Ele citou o
depoimento de testemunhas, autos que serão anexados ao processo e a perícia
realizada pelo Senado como provas em defesa de Dilma. Cardozo disse confiar que
o Senado livrará Dilma do impedimento, mas que se isso não for possível
recorrerá ao Supremo Tribunal Federal.
Para ele, o processo de impeachment carece de
"justa causa". Esta tese e a que houve desvio de poder praticado pelo
presidente da Câmara afastado Eduardo Cunha ao dar início ao processo são
passíveis de contestação na Justiça, acha. Na comissão, afirmou, foram feitas
"piruetas retóricas", mas nem mesmo a perícia caracterizou que Dilma
cometeu crime de responsabilidade.
— O processo de impeachment ele é
jurídico-político. O supremo não pode analisar o processo político, mas o
jurídico ele pode. Se eu tenho falta de pressuposto jurídico para um processo,
eu tenho como recorrer. A falta de motivos para o impeachment pode ser
examinado pelo Judiciário, a justa causa, e o desvio de poder. Acho que isso
tem que ser feito na hora certa — disse o ex-ministro da Justiça de Dilma,
acrescentando:
— Antes quero investir no Senado. Quero a
absolvição no Senado. O parlamento do Brasil tem que mostrar porque ele é serio
e ele é digno. Tenho que ir (para a Justiça) quando tiver perdido todas as
esperanças. Eu confio no parlamento.
Cardozo afirmou que a perícia surpreendeu o time
de Dilma "favoravelmente sob vários aspectos". Durante quase uma
hora, o advogado repetiu o que vinha pregando na comissão. No caso das
pedaladas, relativas ao Plano Safra, disse que não foi operação de crédito e
sim atraso no pagamento de um serviço. E no caso dos decretos de suplementação
orçamentária, argumentou que havia um entendimento de que não alterariam a meta
fiscal porque poderiam ser contingenciados os gastos. Ele ressaltou ainda que,
no início do processo, na Câmara, eram por seis decretos pelos quais Dilma
estava sendo acusada. E agora três foram desqualificados, restando apenas três
na peça de acusação.
— Em condições jurídicas normais, é caso de
absolvição sumária — disse Cardozo.
O advogado afirmou que também considera provas a
favor de Dilma áudios da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), em entrevista à
Rádio Itatiaia, dizendo que não acredita que houve pedaladas, mas que Dilma
está caindo porque o país está paralisado, e a gravação que o ex-presidente da
Transpetro Sergio Machado fez do senador Romero Jucá (PMDB-RR) insinuando que
era preciso parar as investigações da Lava-Jato para estancar a sangria da
classe política e que isso só seria possível se o então vice-presidente Michel
Temer assumisse a Presidência.
Perguntado se não trava uma luta perdida, Cardozo
respondeu:
— Quando se luta pela causa certa, nunca se perde
a guerra antes da hora. A população nunca perdoaria a presidenta por jogar a
toalha antes da hora. Só se joga a toalha quando se perde, e há muita questão a
ser colocada.
© 1996
- 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.
Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou
redistribuído sem autorização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário