Antonio Cruz/ABr
José Dirceu: empresa do principal acionista da Hypermarcas pagou serviços à consultoria de ex-ministro
Brasília - Na mira da Procuradoria-Geral da República, após a delação de
seu ex-diretor de Relações Institucionais, Nelson Mello, o grupo Hypermarcas já teve seu principal acionista, João Alves de Queiroz Filho, citado em uma quebra de sigilo na Operação Lava Jato.
Embora a delação de Mello não seja no âmbito da operação que apura o
cartel de empreiteiras na Petrobras, os investigadores querem descobrir o
motivo dos pagamentos efetuadas pela Monte Cristalina, holding de
Queiroz Filho, à JD Consultoria, do ex-ministro da Casa Civil no governo
Lula José Dirceu.
Publicidade
De acordo com a quebra de sigilo da consultoria solicitada pela
força-tarefa de Curitiba, a Monte Cristalina efetuou vários pagamentos,
entre 2008 e 2013, que somados alcançam o valor de R$ 1,5 milhão.
Agora, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo nesta terça-feira, 28,
a Hypermarcas, empresa em que Queiroz Filho tem 20% de participação,
está no centro de mais um escândalo envolvendo políticos.
Segundo Mello, apontado como o braço direito de Queiroz Filho há cerca
de 30 anos, a empresa repassou R$ 30 milhões para senadores do PMDB,
entre eles, Romero Jucá (RR), Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM).
Todos negam terem recebidos recursos.
Lobistas
Em um de seus depoimentos, Mello disse ter conhecido os lobistas Lúcio
Bolonha Funaro, apontado como suposto operador do presidente afastado da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e Milton Lyra, suposto lobista do
presidente do Senado, Renan Calheiros, em Brasília para "se aproximar"
do poder. Seu objetivo, declarou, era "proteger" o mercado que
representava que, em sua avaliação, precisava "ter uma proteção legal".
Embora os depoimentos não guardem relação com a Lava Jato, as revelações
de Mello fortaleceram uma nova frente de investigação na Procuradoria
que pretende apurar a relação de políticos e lobistas de Brasília.
Nesse cenário, o repasse da Monte Cristalina à JD Consultoria é um dos casos que estão na mira dos investigadores.
Além disso, a procuradoria pretende esmiuçar os projetos de lei, medidas
provisórias e dívidas fiscais relacionadas a empresas do setor
farmacêutico, em especial, o laboratório Hypermarcas.
Proteção
Em sua delação, Mello também disse que "ressarciu" o grupo do montante
que teria repassado aos lobistas. Segundo ele, a Hypermarcas "não
auferiu nenhuma vantagem e nem sofreu prejuízos porque foi reembolsada".
Em nota divulgada nesta terça, após a revelação do Estadão, a empresa
diz que Mello teria autorizado "por iniciativa própria as despesas sem
as devidas comprovações de prestação do serviço".
Para pessoas com acesso às investigações, o relato de Mello teria como
objetivo proteger Queiroz Filho e a Hypermarcas de modo a sugerir que os
pagamentos seriam de responsabilidade exclusiva do ex-funcionário.
A versão é reforçada pelos recados enviados nos bastidores por um dos
supostos lobistas utilizados pelo ex-executivo da Hypermarcas.
Oficialmente, Lúcio Funaro, por meio de seu advogado, Antônio Cláudio
Mariz de Oliveira, informou que nunca fez lobby, nunca distribuiu
propina e que os contratos assinados com a Hypermarcas tiveram como
objeto a "assessoria com finalidade de economia de energia" em duas
empresas do grupo.
Entretanto, nos bastidores, o suposto lobista tem enviado recados a
Queiroz Filho. Em e-mail encaminhado à alguns amigos, Funaro disse
desconhecer o conteúdo da delação de Mello e ressaltou que, ao contrário
do que diz o agora delator, seu contato no Hypermarcas era o próprio
Queiroz Filho.
Como prova, em anexo do e-mail, o suposto lobista encaminhou também uma
foto na qual aparece ao lado do maior acionista do grupo.
Defesa
Em nota à imprensa, o Grupo Hypermarcas informou que, após a saída de
Nelson Mello, em março de 2016, a companhia "contratou assessores
externos renomados para conduzir uma auditoria, já finalizada, que
concluiu que o Sr. Mello autorizou, por iniciativa própria, despesas sem
as devidas comprovações das prestações de serviços".
Sobre os pagamentos da Monte Cristalina à JD Consultoria, o grupo disse
que a contratação teve como objeto "análises mensais sobre o cenário
político e econômico brasileiro" e que os valores cobrados "estavam em
linha" com preços do mercado.
A defesa de José Dirceu não respondeu à reportagem. Milton Lyra negou
que "tenha se apresentado ou agido em nome de qualquer parlamentar nas
falsas situações descritas pela imprensa". Em e-mail a amigos, Lúcio
Bolonha Funaro diz desconhecer a delação de Mello.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário