sexta-feira, 3 de junho de 2016

Falta de investidores ameaça plano da China contra dívida






Reuters/David Gray
Yuan, moeda chinesa
Sinal vermelho na dívida: estratégia chinesa para diminuir exposição dos bancos pode fracassar por falta de investidores
 


No papel, a mais recente iniciativa da China para livrar seus bancos de empréstimos de liquidação duvidosa parece sensata.

Reunindo a dívida em títulos, os bancos esperam repassá-la a investidores ávidos por risco, uma solução que poderia ser benéfica para todos e que foi muito elogiada pelo bilionário Wilbur Ross.
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Mas se as primeiras transações desse programa de 50 bilhões de yuans (US$ 7,6 bilhões) servirem de referência, todo esse exercício pode acabar simplesmente transferindo a inadimplência de um banco a outro, o que pouco faria para melhorar a saúde do sistema financeiro da China como um todo.

O Bank of China (BOC) vendeu pelo menos metade dos 301 milhões de yuans de sua oferta de estreia de títulos garantidos por empréstimos em inadimplência (“non-performing loans”, NPLs) para outros bancos chineses no dia 26 de maio, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto, que pediram anonimato porque não estão autorizadas a falar publicamente sobre isso.

Noventa e cinco por cento da fatia de maior risco da transação foi comprada por um gestor de ativo que pertence ao Estado, um sinal de demanda morna entre as instituições privadas.

Nesse mesmo dia, o China Merchants Bank (CMB) vendeu pelo menos 60 por cento de uma oferta de 233 milhões de yuans em NPLs a outros bancos, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.

Embora uma demonstração inicial de apoio dos bancos possa ajudar a atrair outros tipos de investidores, os céticos dizem que é improvável que o programa atraia uma demanda ampla porque os títulos são ilíquidos e complexos demais para a maioria das instituições não bancárias da China.

Um fracasso da tentativa de expurgar os credores de seus NPLs poderia gerar expectativas de um resgate liderado pelo governo que, segundo estimativas do Standard Chartered, poderia chegar a custar até US$ 1,5 trilhão.

“Não temos uma quantidade suficiente de investidores institucionais locais com experiência para fixar o preço de produtos tão complexos”, disse Ming Ming, chefe de pesquisa sobre renda fixa em Pequim da Citic Securities, maior corretora da China.

“A falta de investidores qualificados, fará com que os bancos tenham dificuldades para vender títulos garantidos por NPLs e restringirá seu desenvolvimento”.

O acúmulo de empréstimos de liquidação duvidosa é um dos maiores riscos enfrentados pela maior economia asiática.

Após anos inundando o país de crédito, os bancos agora enfrentam um aumento de tomadores de empréstimos em problemas porque o crescimento econômico desacelerou para o ritmo mais lento desde 1990 e os lucros corporativos estão diminuindo.

A China tem cerca de US$ 2,4 trilhões de dívida corporativa sob risco de calote, de acordo com a Bloomberg Intelligence.

O problema é que a maioria das seguradoras, dos trusts, das corretoras e dos fundos mútuos da China não tem o conhecimento necessário para investir em ativos garantidos por empréstimos de liquidação duvidosa, de acordo com Luo Yi, analista da Huatai Securities em Shenzhen.

Mensagens enviadas por fax ao banco central e à Comissão Reguladora Bancária da China não foram respondidas e assessores de imprensa do Bank of China e do China Merchants Bank preferiram não comentar.


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