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Um novo perfil: para atuar na indústria 4.0, profissional precisa desenvolver visão multidisciplinar
A união da chamada internet das coisas com a rápida automatização
desenha um novo cenário dentro das fábricas de todo o mundo. A indústria
4.0, ou manufatura avançada, deve revolucionar as linhas de montagem e
gerar produtos inovadores e customizados em um futuro próximo. Com robôs
cada vez mais participativos no processo, mudará também o perfil do
profissional que as indústrias procuram.
Uma pesquisa da consultoria Roland Berger estimou a escassez de mais de
200 milhões de trabalhadores qualificados no mundo, nos próximos 20
anos. Um dos motivos que contribuem para esse cenário é a necessidade de
cada vez mais mão de obra qualificada. Técnicos deixarão de exercer
funções repetitivas, como o encaixe de uma peça em um smartphone, por
exemplo. Isso não significa, porém, que os funcionários serão eliminados
das linhas de produção. Eles ficarão concentrados em tarefas
estratégicas e no controle de projetos.
Mas qual será o impacto dessa mudança na vida dos profissionais? Para
responder a essa questão, é preciso analisar o mercado alemão, onde a
quarta revolução industrial está mais avançada. Estimativa do Boston
Consulting Group (BCG) indica que o número de empregos deve aumentar 6%
nos próximos dez anos. A demanda por funcionários no setor de engenharia
mecânica deve subir ainda mais, cerca de 10%. A expectativa geral é que
sejam criados 960 mil postos de trabalho, principalmente nas áreas de
TI e de desenvolvimento de software.
A tendência é que o número de pessoas com alta qualificação aumente no
mercado. “O papel do líder, por exemplo, passa a ser ainda mais
importante. Em vez de controlar as horas de produção, ele alinhará as
tarefas e fará a equipe trabalhar unida”, afirma Eduardo de Senzi
Zancul, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Apesar de o Brasil ainda caminhar a passos lentos rumo à indústria 4.0, o
tema já desperta muito interesse por aqui. “A manufatura avançada
representa um renascimento da indústria. Os jovens em formação gostam de
novidades, e as fábricas voltarão a ter um ambiente desafiador. O que
vejo nos alunos é um interesse crescente em entender essa convergência
entre informação, TI, eletrônica e hardware”, diz o professor Zancul.
Quem quer conquistar espaço nas fábricas do futuro deverá desenvolver
novas habilidades. Será preciso, por exemplo, aprender a trabalhar lado a
lado com robôs colaborativos para aumentar a produtividade. Isso gera
espaço para exercer funções mais complexas e criativas. O profissional
não será responsável apenas por exercer uma parte específica da linha de
montagem, mas por todo o processo produtivo.
É preciso estar aberto a mudanças, ter flexibilidade para se adaptar às
novas funções e se habituar a uma aprendizagem multidisciplinar
contínua. “É muito importante ter uma visão ampla. E é nesse ponto que
os profissionais já estão em falta”, afirma Gabriel Almeida, gerente de
engenharia e logística da empresa de recrutamento Talenses.
Ter uma visão multidisciplinar não significa que o conhecimento técnico
perdeu importância no currículo. Uma formação acadêmica em engenharia da
computação ou mecatrônica é importante, mas não é o suficiente. “As
competências aprendidas em uma graduação valem por cada vez menos tempo.
Técnica você aprende, mas atitude é algo intrínseco”, diz Ivar Berntz,
sócio-líder do setor automotivo da consultoria Deloitte. Gabriel
Almeida, da Talenses, concorda: “É preciso se especializar em diversas
frentes e conhecer um pouco de cada coisa. Tem que gostar de tecnologia,
de inovação e, principalmente, ter curiosidade para aprender e
acompanhar uma indústria que sempre se reinventa”.
Especialistas mapearam ainda a possibilidade de surgimento de duas novas
profissões ligadas à indústria digital: a de cientista de dados
industriais, responsável por análises avançadas de dados, e a de
coordenador de robótica, profissional que deverá interagir com os robôs
no chão de fábrica.
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