Vender ou fechar unidades pode salvar
a empresa
Eram
anos de prosperidade, os negócios cresciam dois dígitos ao ano já por alguns
anos consecutivos. O que a empresa botava para vender, vendia. A verdade que
não conseguíamos nem atender toda demanda, e muitos negócios escapavam.
Aumentávamos os preços e mesmo assim, o mercado comprava, como se
estivéssemos vendendo ouro. A inadimplência era baixíssima, e risco era uma
palavra estranha, afinal, como dizia meu sócio “Quem não arrisca não cresce”.
E foi assim, que decidimos entrar em novos nichos, montamos outras empresas,
compramos máquinas, contratamos, injetamos capital próprio no negócio. Os
bancos nos procuravam, mas demos as costas; ora bolas, pra que pegar dinheiro
a juros altíssimos, quando podemos financiar tudo com capital próprio.
Esta
imaginária estória, não foi tão imaginária assim para muito dos empresários
que conheci. O mercado virou, e agora a empresa tem excesso de capital
imobilizado, funcionários, custo fixo, espaço de armazém, veiculos e estoque.
Obviamente, a empresa tenta vender tudo que pode, mas não se tratando de
problemas específicos da empresa, a economia como um todo está ruim, e nada é
vendido. Difícil encontrar compradores, e os preços de venda não agradam. Se
espera mas vai que alguém quer comprar os ativos, ou alugar o imóvel no preço
de alguns anos atrás, mas a situação piora e o preço despenca.
Nisso o
custo fixo vem corroendo as reservas, começa o atraso de pagamentos de
tributos, e o desespero inviabiliza qualquer tentativa de pensar
racionalmente. A opção de demitir os funcionários comprometeria ainda mais o
caixa da empresa e é adiada, como se houvesse algum momento adequado para
demitir.
Dentro
deste triste cenário que afeta milhões de empresas no Brasil e no mundo,
empresários e executivos muitas vezes congelam diante da situação extrema.
Quando tudo que tentam, apenas soma mais um fracasso que não muda o rumo da
empresa a insegurança toma conta de forma generalizada.
Apesar
de todo os stress que estão envolvidos, as decisões podem ser bem simples. O
verdadeiro problema é que em geral falta coragem para sua execução. Pergunte,
o que está verdadeiramente contribuindo para seu lucro imediato? Lembre-se,
você está em estado de sobrevivência, hipóteses futuras de clientes que podem
ou não realizar contratos imaginários devem ser deixados de fora. O que
interessa é apenas o que é real e tangível. Sim, você abrirá mão de trabalho,
e ativos que foram construindo com esforço árduo depois de muitos anos serão
apenas uma memória. Mas isso não interessa mais. Se você “não largar o osso”,
você poderá perder o pouco que lhe resta. O botão de “reset” vai ser
apertado, e você terá um recomeço, voltando alguns anos na linha do tempo, se
espera que mais maduro.
É bem
possível que várias linha de negócio estão contribuindo pouco, nada, ou
negativamente para a lucratividade de operação. Pouco, significa que o risco
de manter o custo fixo, e o peso sobre a alavancagem da empresa com
financiamento simplesmente não vale apena. Contribuição negativa ou nula com
certeza devem ser eliminados o mais rápido possível.
Vender
ou fechar deve ser julgado sobre o critério do tempo e sua influência através
do custo fixo sobre o caixa da empresa. Se tiver algo verdadeiro e rápido,
algo que pode reduzir um pouco o passivo, ou transferi-lo mesmo que em
algumas situações sem que se tenha de fato transferência de dinheiro pode
valer muito apena.
Existem
muitas consultorias hoje que podem ajudar nesses procedimentos, e apesar que
dentro de um cenário de redução de custos, contratar uma prestadora de
serviços pareça contra-intuitivo, ainda é melhor do que fazer um erro que lhe
vai custar muito mais. As empresas que sabem realizar turn-around, spin-off
(separação de ativos), fechamento de unidades ou atividades de investment
banking (a venda da unidade), em geral fazem o trabalho hoje, para receber
parcelado durante um bom tempo, dando assim tempo para você se reorganizar, e
sem que haja um grande peso no fluxo de caixa.
Bote
data limite para o fechamento das unidades, ou seja, se não conseguir fechar
um contrato de venda até determinada data, feche a unidade sem nenhum pudor.
E se a oportunidade vingar meses depois, bem, sobre isso dizemos que sorte é
estar no lugar certo na hora certa, e você com certeza não estava, mas se
esperasse também não seria adequado, pois o benefício da venda teria sido
comprometido pela influência do custo fixo.
Em
determinadas situações , em que a empresa está pré-falimentar, a única forma
segura de vender certos ativos, como unidades da empresa, filiais etc.
dependendo da estrutura societária que foi usada é através de recuperação
judicial. Se alguém alegar que a venda do ativo foi uma tentativa de fraude,
por exemplo, tentando vender a parte boa da empresa para salva-la, enquanto a
parte que fica é a ruim, onde será declarada a falência mais tarde, é
possível que todo passível seja passado para a compradora, comprometendo a
operação.
De
qualquer forma, não importa como você tente analisar, diagnosticar, avaliar,
a solução é se livrar do peso excessivo. Depois que tiver realizado sua dieta
empresarial, se conseguir sobreviver para mais uma rodada da montanha-russa econômica,
pense bem antes de começar a comer em excesso; haja coração que aguente.
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