segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

PF diz que Lula e Dilma agiram contra a Lava Jato


Polícia Federal atribui aos ex-presidentes crime de obstrução de Justiça e sugere denúncia em primeira instância




São Paulo – A Polícia Federal atribui aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff crime de obstrução de Justiça e ao ex-ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil e Educação) os crimes de tráfico de influência – e também obstrução de Justiça.

Em relatório de 47 páginas o delegado de Polícia Federal Marlon Oliveira Cajado dos Santos, do Grupo de Inquéritos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, sugere que os ex-presidentes e o ex-senador e ex-ministro (Educação e Casa Civil) sejam denunciados criminalmente, mas em primeiro grau judicial – no âmbito da Justiça Federal do Distrito Federal – porque nenhum deles detém foro privilegiado na Corte máxima.

O relatório do inquérito foi encaminhado ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, e ao procurador-geral da República Rodrigo Janot. Formalmente, a PF não indiciou Lula, Dilma e Mercadante, mas sustenta que “o conjunto probatório é suficiente”.

Para a PF, ao nomear Lula ministro-chefe da Casa Civil, em março de 2016, a então presidente e seu antecessor – que com a medida de Dilma ganharia foro privilegiado no Supremo e, na prática, escaparia das mãos do juiz federal Sérgio Moro – provocaram “embaraço ao avanço da investigação da Operação Lava Jato”.

A conclusão da PF ocorre na mesma semana em que o ministro Celso de Mello, do STF, deu sinal verde para a nomeação do ministro Moreira Franco – citado em delações de executivos da empreiteira Odebrecht – para a Secretaria-Geral da Casa Civil do governo Michel Temer.

A nomeação de Lula, então sob investigação da Lava Jato, foi barrada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF. No caso de Aloizio Mercadante, a investigação foi baseada na gravação de uma conversa dele com o ex-chefe de gabinete do ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS), Eduardo Marzagão. O ex-ministro teria demonstrado empenho em barrar a delação premiada de Delcídio. A PF crava que Mercadante provocou “embaraço à colaboração premiada do ex-senador Delcídio do Amaral”.

O inquérito foi aberto para investigar simultaneamente três capítulos emblemáticos da Lava Jato: 1) o teor da conversa gravada entre Mercadante e o ex-chefe de gabinete de Delcídio no Senado, ocorrida em 28 de dezembro de 2015 – 33 dias depois da prisão de Delcídio; 2) a nomeação de Lula para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma; 3) e a indicação do ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça, episódio envolvendo o ex-presidente da Corte, ministro Francisco Falcão.

Com relação aos ministros do STJ, o delegado da PF sugere desmembramento dos autos porque ambos desfrutam de foro especial no Supremo. A nomeação de Navarro para o STJ teria sido resultado de um plano, segundo a delação de Delcídio, para favorecer o empreiteiro Marcelo Bahia Odebrecht, preso desde junho de 2015 na Lava Jato.

Nessa parte da investigação que cita Navarro e Falcão, o delegado pretendia ouvir Odebrecht e também o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo, além de Delcídio e Diogo Ferreira Rodrigues, que trabalhou no gabinete do ex-senador. Mas, com os desdobramentos da delação premiada do ex-presidente da Odebrecht – atualmente,preso em Curitiba -, Cajado considerou oportuno aguardar que se dê publicidade às revelações do empreiteiro.

Ao se referir especificamente a Mercadante e à gravação, a PF diz. “Os conteúdos das conversas são reveladores.” Os diálogos foram gravados por Marzagão. Na ocasião, Delcídio já sinalizava que pretendia fazer uma delação premiada.

O ex-senador foi preso em flagrante no dia 25 de novembro de 2015, por ordem do Supremo Tribunal Federal, sob acusação de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró – o próprio Delcídio foi gravado pelo filho de Cerveró tramando até uma possível fuga do ex-diretor da estatal petrolífera para o exterior.

O alcance explosivo da delação de Delcídio, que foi líder do governo Dilma no Senado, deixou o Palácio do Planalto em alerta máximo. Mercadante tinha acabado de deixar a Casa Civil de Dilma, no dia 2 de outubro, e assumira a Educação.

Mercadante teria se empenhado em encontrar uma estratégia legal para livrar o ex-senador. A prisão de Delcídio foi endossada pelo Senado, com o que Mercadante nunca concordou. Para ele, a saída poderia ser encontrada no âmbito do próprio Senado. “Só dá prá fazer coisa na legalidade, com transparência”, disse o ex-ministro na conversa com Eduardo Marzagão.

“Ele (Delcídio) se defenda como achar que deve se defender, não tô falando nem como governo nem como ministro da Casa Civil. Eu serei solidário ao Delcídio”, disse, ainda, Mercadante.

No relatório, o delegado Marlon Cajado afirma que Mercadante “atuou de forma consciente para prejudicar acordo de colaboração premiada de Delcídio do Amaral objetivando embaraçar o avanço das investigações da Operação Lava Jato”.

A ação de Mercadante incluiria uma conversa com o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo. “Também precisa conversar com Lewandowski. Eu posso conversar com ele para achar uma saída.”

O ex-ministro e ex-senador sempre sustentou que a “saída” que busca era dentro do aspecto legal e no próprio Senado, por meio da convocação de uma nova sessão na Casa.

A PF é taxativa ao apontar a “existência da materialidade do crime de tráfico de influência, previsto no artigo 332 do Código Penal com autoria de Aloizio Mercadante”.

“Vez que o mesmo, a pretexto de desestimular o acordo de colaboração premiada de Delcídio do Amaral, jacta-se de que utilizaria seu prestígio para costurar uma “saída” junto ao Senado Federal com o então presidente (do Senado) Renan Calheiros e o advogado-geral do Senado Bruno Dantas, e no Supremo Tribunal Federal, com o ministro Ricardo Lewandowski e outros, de modo a conseguir a libertação de Delcídio do Amaral.” Para o delegado da PF, contra Mercadante existem “indícios de obstrução de Justiça e tráfico de influência”.

Sobre Lula e Dilma, o delegado segue a mesma linha. “No tópico ‘embaraço à investigação mediante a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da Casa Civil da Presidência da República’, também acreditamos haver suficientes indícios de materialidade e autoria do crime previsto no artigo 2.º, parágrafo 1.º, da Lei 12.850/2013 atribuível à Dilma Rousseff e a Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que ambos, de forma consciente, impuseram embaraços ao avanço das investigações da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula em razão da sua nomeação para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República.”
A PF diz que com relação aos ex-presidentes, “a nomeação de Lula caracteriza obstrução de Justiça”.

“O conjunto probatório (contra Dilma, Lula e Mercadante) foi suficiente”.

O delegado sugere o declínio da competência dessa parte do inquérito para a Justiça Federal do Distrito Federal (primeira instância judicial). E recomenda, ainda, a continuação das investigações sobre os ministros do STJ Marcelo Navarro e Francisco Falcão, mas na alçada do Supremo Tribunal Federal.

Accenture criará 15 mil empregos nos Estados Unidos


A empresa tem sede em Dublin, Irlanda, enquanto uma grande parte de seus mais de 394 mil funcionários estão na Índia

 




A Accenture anunciou nesta sexta-feira que criará 15 mil empregos nos EUA, à medida que as empresas de serviços de TI se preparam para um programa de vistos tecnológicos mais protecionistas do país presidido por Donald Trump.

A empresa tem sede em Dublin, Irlanda, enquanto uma grande parte de seus mais de 394 mil funcionários estão na Índia.

As empresas de serviços de TI ficaram sob os holofotes após Trump dizer que seu governo se concentraria na criação de mais empregos para trabalhadores dos EUA, que haviam sido afetados pela terceirização de empregos no exterior.

Grandes empresas de serviços de TI, especialmente aquelas com sede na Índia, usam vistos H-1B para enviar engenheiros para os EUA para atender clientes, mas alguns oponentes argumentam que estão usando o programa para substituir empregos nos EUA.

A Accenture disse na sexta-feira que investirá 1,4 bilhão de dólares para treinar seus funcionários e abriria 10 centros de inovação em algumas cidades dos EUA.

Os novos postos de trabalho aumentarão a força de trabalho da empresa em 30 por cento para mais de 65 mil até o fim de 2020, disse a empresa.

Os negócios nos EUA responderam por 46 por cento da receita da empresa no ano fechado em 31 de agosto.


Incentivo ao esporte virou regra para estas grandes empresas


Neste domingo, Dia do Esportista, confira algumas das grandes empresas que incentivam os funcionários a praticarem esporte e terem uma vida saudável 

 

Por Tatiana Vaz




São Paulo – Em um sítio em Embú, cidade próxima à capital paulista, 350 funcionários do escritório central da Decathlon no Brasil fizeram em janeiro uma reunião anual de balanço um tanto quanto inusitada.

Em vez de sala com ar condicionado, o lugar escolhido foi uma das trilhas da região, onde eles fizeram juntos uma corrida de aventuras, logo depois de definirem as metas para o ano e refletirem sobre como melhorar o negócio.

A situação, estranha para muitas empresas e tão rara em outras, faz parte da estratégia da companhia dentro e fora do país. Fazer esporte é uma rotina depois das reuniões mensais e anuais de todas as 21 lojas brasileiras da varejista.

Há anos a rede definiu que esporte seria seu maior trunfo competitivo entre as maiores varejistas do mundo – e também na maneira de encontrar os funcionários certos e motivá-los.

Ao todo, a companhia conta com 1.400 funcionários no Brasil e 70.000 em toda corporação, todos acostumados à ideia.

Tanto é que, enquanto a reunião em Embú acontecia, outras tantas eram feitas pelas equipes da empresa Brasil afora, com a diferença das modalidades escolhidas, em dias alternados. Em algumas, vôlei ou futebol foram escolhidas, caiaque ou corrida foram as praticadas por outras.

“Não importa o tipo de esporte, importa que todos façam juntos, se superem, mostrem na prática como podem trabalhar, liderar, melhorar unidos”, conta o presidente da empresa no Brasil, Cedric Burel.

Assim como a Decatlhon, outras empresas já entenderam que o esporte pode contribuir com a conquista de funcionários mais entrosados e focados nas premissas da operação.

A Ball, fabricante de embalagens de alumínio para bebidas, realiza um programa de estímulo a atividades esportivas e culturais para seus 2.200 funcionários no país desde 2007.

Em cada uma das 13 fábricas espalhadas pelos país, além do escritório central, uma prática é definida por todos os interessados.

Assim, enquanto 20 pessoas da unidade de Brasília saem para fazer moutain bike uma vez por semana, a operação de Jacareí, interior de São Paulo, conta com um grupo fixo de corrida, formado por 25 membros da equipe.

Como é comum em algumas academias, os funcionários recebem uma cartela, preenchida a cada atividade esportiva praticada por eles com outros da empresa. Como incentivo, prêmios são sorteados para os mais assíduos ao final do ano.

A farmacêutica Novo Nordisk, focada em tratamentos para doenças crônicas, especialmente diabetes, definiu saúde como a premissa básica para a mudança de seu escritório, em São Paulo.

Desde abril no novo endereço, a empresa conta hoje uma área ao ar livre, onde reuniões ou pausas durante o dia são feitas, além de ofertar pista de corrida, sala de ginástica e consulta periódica com nutricionista.


Competições saudáveis


Shell investe R$ 300 mil em um programa de bem-estar para os 800 funcionários, que inclui custear metade do aluguel de uma quadra de vôlei e outra de futebol para a prática depois do expediente.

Batizada de Bem Viver, a iniciativa foi criada em 2007 e implantada em algumas operações fora do país, como Malásia, África do Sul e Holanda. Chegou ao Brasil dois anos depois e já conquistou 70% da equipe brasileira.

Um projeto semelhante foi desenhado pela Suzano, logo após a companhia mapear a má saúde dos 70 funcionários da unidade de Limeira, no interior de São Paulo, em 2004. Diversas iniciativas foram feitas desde então em todas as operações da companhia no país.

Além de promover jogos internos, com campeonatos de futsal, futebol, vôlei e basquete, e contar com um grupo de corridas, a empresa criou um programa de estímulo à vida saudável dos 8.400 funcionários diretos.

Uma competição realizada duas vezes por ano, com 90 dias de duração cada, é feita entre as unidades da companhia para saber quais delas contam com equipes mais saudáveis.

No período, os participantes têm o acompanhamento semanal de nutricionistas, psicólogos e educadores físicos e são incentivados a ter uma alimentação equilibrada e uma rotina de exercícios.

Práticas que acabam sendo incorporadas pelas pessoas que realmente querem viver mais e melhor a partir de agora – independente de onde elas escolherem trabalhar no futuro.


“É um acordo de rendição”, diz advogado da delação da Odebrecht


Em entrevista, o advogado da força-tarefa da Lava Jato diz que a operação revelou a "relação promíscua, parasitária, entre atores públicos e privados"

 






São Paulo – O advogado Theodomiro Dias Neto, que coordenou todo o longo e exaustivo processo de negociação da Odebrecht com a força-tarefa da Operação Lava Jato, classifica a colaboração premiada como “um acordo de rendição”.

Durante dez meses, de fevereiro a dezembro de 2016, Theo Dias, como é conhecido, experimentou etapas de muita tensão nas negociações que culminaram na assinatura do maior pacto de delação premiada da Lava Jato – envolvendo 77 executivos e ex-funcionários da empreiteira.

Em entrevista ao Estado, ele diz que a operação revelou a “relação promíscua, parasitária, entre atores públicos e privados”, mas o saldo positivo pode ser “um novo ambiente de negócios no Brasil”.


Como a Lava Jato influi no Direito Penal?


Vivemos um momento de ambiguidade no Brasil. Eu me sinto pessoalmente dessa forma.

De um lado, um profundo desânimo, um profundo ceticismo, pessimismo, nós sentimos ao constatar a dimensão do nível de penetração da corrupção no Brasil.

Todos sabíamos que o Brasil é um país com problema sistêmico de corrupção, mas talvez nenhum de nós tivéssemos uma dimensão tão clara do nível que estava.

Isso causa perplexidade, preocupação, entristecimento, desaponto com determinados agentes públicos que nós acreditávamos, nos quais votamos.

Essa é uma metade do copo. A outra metade é uma leitura mais otimista, de que a Lava Jato é produto de um aperfeiçoamento institucional.

A Lava Jato não é e não deve ser sinônimo de Sérgio Moro. Qual será o saldo positivo da Lava Jato se pensarmos daqui a dez anos? Quero crer que possa ser um novo ambiente de negócios no Brasil, uma nova forma de relacionamento entre o setor público e o privado.

E isso se faz por meio de reformas no campo do Direito Penal e também por reformas fora do Direito Penal.


Quais?


As reformas do Direito Penal são aquelas necessárias para regulamentar melhor o sistema com o público, o relacionamento entre o setor público e o privado.

É necessário criar mecanismos para aperfeiçoar o sistema de compras públicas, de contratações públicas.


Qual a sua avaliação sobre as Dez Medidas, o pacote levado ao Congresso pelo Ministério Público Federal?

Tenho profundo respeito pelos procuradores da República e pelos policiais federais que integram a força-tarefa. São profissionais jovens, entusiasmados, que trabalham 16 horas por dia na investigação.

Isso, por si só, já é algo discrepante na média do serviço público brasileiro. Um nível de dedicação que não é comum. Tenho uma série de divergências, obviamente, de natureza jurídica no conteúdo, na forma como denúncias são apresentadas, na excessiva duração de prisões sem pena.

Acho que, em alguns casos, desnecessariamente longas. Entendo que essas Dez Medidas – concordo com algumas delas – estão voltadas a facilitar, a assegurar maior transparência na relação do poder público.

Eu acho que é possível, sim, pensar em reformas legislativas no sistema recursal para que ele seja mais ágil, sem que isso signifique redução de garantias.


Há uma cruzada de procuradores e juízes contra o garantismo no Brasil?

Não podemos criar uma contraposição entre a eficiência da aplicação da lei penal e o sistema de garantias processuais necessárias para que o processo seja justo. As garantias penais fazem parte da realidade em qualquer país que se pretenda civilizado.

Você mede a força do estado de direito pelas garantias processuais penais. No caso da Lava Jato estamos vendo que essa operação está acontecendo dentro do atual arcabouço jurídico do País.

Independentemente de maiores modificações legais, a operação está acontecendo com as garantias que estão aí, previstas pela Constituição, que podem até em alguns casos estar sendo questionadas pela defesa, mas o sistema está aí para avaliar se elas estão sendo cumpridas.

O que está fazendo a diferença na Operação Lava Jato é a qualidade da investigação criminal. Isso vem permitindo que a aplicação da lei penal seja eficiente. É fundamental que a eficiência do Direito Penal não seja uma eficiência a qualquer preço. A eficiência a qualquer preço é a Gestapo.


Há um ano, uma centena de juristas, advogados, assinaram manifesto classificando a Lava Jato como uma operação de uma “neoinquisição”…

Divirjo de muitas das interpretações jurídicas que vêm sendo dadas no âmbito da Operação Lava Jato. Por exemplo, no entendimento da extensão do crime de lavagem de dinheiro. Me parece excessivamente abrangente. Não é coerente com o conceito de crime de lavagem.

A forma como o crime de lavagem vem sendo interpretado em muitas das denúncias e decisões não me parece adequada.

Também entendo que em muitas das prisões houve uma abertura da interpretação, mais abrangente do que vinha ocorrendo, mas não acredito que seja um sistema inquisitivo e também não gosto de comparações com o regime militar, como alguns costumam fazer.

Acho que, de fato, a situação no Brasil hoje, o grau, a dimensão da Operação Lava Jato tem levado juízes, inclusive de tradição liberal, como o ministro (do STF) Celso de Mello, a adotarem as posições mais rígidas com relação à questão da prisão processual, entendendo que os riscos para o processo, nesses casos, justificam uma exceção da prisão temporária.


Como foram as negociações até a delação da Odebrecht?

Não pretendo entrar na discussão do caso Odebrecht. Posso dizer, de forma genérica, que qualquer negociação de um acordo de delação premiada envolvendo pessoas ou empresa tem como primeiro grande desafio a criação de um ambiente de negociação.

A complexidade desse processo pode ser maior ou menor dependendo do número de pessoas envolvidas, dependendo do tempo, do momento em que você está, dependendo do interesse do Ministério Público no acordo, dependendo da quantidade de informações que o Ministério Público tem ou não à disposição.

A construção desse ambiente de negociação passa necessariamente pela construção de uma credibilidade, pela constatação de que você não está ali fazendo um jogo de cena, de que você realmente deseja o acordo, de que você está à disposição de revelar os fatos, está com disposição de virar uma página na sua vida.

Esse é um primeiro grande desafio. Um acordo de colaboração premiada não é um acordo de pessoas, de partes em posições simétricas. Há uma relação de total assimetria de poder nessa relação.

O acordo de colaboração premiada é um acordo de rendição, em que uma parte está se rendendo à outra. O que é importante, é fundamental e um desafio para você fazer um acordo é que no caso de uma empresa ninguém faz um acordo para morrer, você faz um acordo para sobreviver.


Qual foi o papel do Emílio Odebrecht no processo de delação?

O que eu posso dizer é que o Emílio Odebrecht tem sido a grande força propulsora de mudanças dentro da empresa.

Ele é a pessoa que decidiu virar essa página e, portanto, foi o grande indutor de todo esse processo. Sem Emílio Odebrecht isso não teria acontecido.

A Lava Jato ficou marcada pelo grande número de delações premiadas. Há quem considere um exagero e que prisões ocorrem para forçar a colaboração…

Acredito no acordo de delação premiada. É um instrumento importante e deve estar à disposição do Estado como um instrumento para o combate e prevenção a ilícitos.

Se consegue até evitar que outros ilícitos possam ocorrer. O risco é a excessiva dependência do Estado na delação transformar o sistema penal num sistema preguiçoso. A confissão que volta a ter aquele valor que tinha no período inquisitivo de rainha das provas.

O Estado não pode estar dependendo das delações, mas eu não acho que é o que está acontecendo necessariamente.


A decisão do Supremo de autorizar a prisão em segunda instância teve influência?

Além dessa decisão, o que está influindo na Lava Jato é a celeridade das decisões. Eu discordo dessa decisão porque entendo que dentro da atual realidade penal não há uma interpretação possível que autorize a prisão após a decisão em segunda instância. Para que isso ocorra é necessário que haja uma mudança da lei.


O que a Lava Jato revelou? Caixa 2 ou propina?

Há de tudo. É uma discussão que seguirá. A Lava Jato trouxe exemplos de doações oficiais que eram atos de corrupção e há também doações não oficiais, no caso o caixa 2, que não necessariamente estão vinculados a uma contraprestação, ao chamado toma lá dá cá.

Teremos um desafio dogmático importante para diferenciar com maior rigor técnico o crime de caixa 2 eleitoral e o crime de corrupção.
 

A estratégia traçada pela Puma para dar lucro no Brasil


Com investimentos pesados em marketing, novas outlets e reforço na loja online, a empresa acredita que tornará sua operação no país rentável ainda em 2017




São Paulo – Fabio Espejo, presidente Puma no Brasil, promete para este ano um feito que a operação local da empresa não vê há muito tempo: lucro.

A fabricante de artigos esportivos alemã está encerrando um ciclo de reestruturação no país e começa a colher os frutos. No ano passado, impulsionadas pelas Olimpíadas, as vendas de produtos para parceiros cresceram 10% e, na loja online própria da marca, avançaram 70%.

A ideia é dobrar o tamanho do e-commerce em 2017, abrir duas outlets em São Paulo (a companhia já tem quatro lojas próprias e uma quinta operada por terceiros) e rentabilizar o negócio. Saiba mais: O que posso e o que não posso enviar pelos Correios – Patrocinado

Espejo assumiu o comando da filial em agosto de 2014, no meio de uma transição global da Puma, logo após a Copa do Mundo, evento-chave para o setor.

“Cheguei com a economia brasileira crescendo e o dólar a 2,40 reais, um cenário bem diferente do atual”, comenta.

De longa carreira na indústria do esporte, ele deixou a cadeira de diretor de finanças da Alpargatas na Argentina para assumir o desafio de reposicionar a rival por aqui.

“A marca era muito forte no Brasil, mas a empresa tinha um problema de gestão”, conta. Os estoques estavam altos demais, as receitas estagnadas e o mix de produtos e a comunicação inadequados.

 

Mudar geral

 

A primeira coisa em que Espejo mexeu foi o time. Ele levou para a Puma executivos que já tinham encabeçado reorganizações em concorrentes, nas áreas de produto, logística, finanças e marketing.

Para motivar as 180 pessoas da equipe, instituiu uma política de horários flexíveis, jornadas curtas às sextas-feiras e incentivos para a prática de esportes.

“Não é fácil fazer uma virada de jogo se você não tiver uma postura diferente”, avalia.

A segunda foi enxugar gastos. A companhia renegociou aluguéis e contratos com distribuidores e reduziu a folha de pagamentos (o departamento jurídico foi terceirizado).

Ao mesmo tempo, baixou o inventário, investiu na melhoria de processos e realocou investimentos das áreas de suporte para as de produto, vendas e marketing.

Em 2016, foi a hora de adequar melhor os produtos ao gosto dos brasileiros (cerca de 40% do portfólio é produzido nacionalmente), reforçar o material de comunicação nos pontos de venda e mudar o layout da loja online. Também foram abertas duas pontas de estoque.

“Lançamos duas coleções por ano. Ter outlet é importante para escoar o que não vende”, diz Espejo.

A Puma é quem recolhe os produtos que não têm saída junto aos varejistas e leva para os pontos promocionais.

“O estoque do cliente é o meu estoque. Não adianta só eu vender para ele, tenho que me preocupar com o que está girando”, afirma.

O resultado de tanta mudança, de acordo com o executivo, foi que nos últimos três anos as vendas aumentaram, o lucro operacional da empresa (Ebit) melhorou em 50% e o braço de varejo (as lojas mais a vitrine virtual) passou a fechar no azul.

O desafio agora é tornar rentável a parte de distribuição – o que ele espera para até dezembro.

A empresa não abre o balanço local. No mundo, porém, as receitas somaram 3,62 bilhões de euros em 2016, um salto de 7% frente ao ano anterior.

O lucro operacional foi de 127,6 milhões de euros, ante 96,3 milhões de euros em 2015, um aumento de 32%. Já o lucro líquido foi de 62,4 milhões de euros, 68% acima dos 37,1 milhões de euros acumulados em 2015.

Sua margem bruta passou de 45,5% para 45,7%, indicando um pequeno ganho de mercado.

Espejo não revela quanto a Puma gastou para bancar os projetos que transformaram o negócio, apenas diz que “uma quantidade razoável de euros” foi investida nos últimos anos.

 

Marketing certeiro e lucro


Uma das grandes apostas da Puma Brasil para este ano é o comércio eletrônico. A loja na internet é administrada por um terceiro, mas é a empresa que decide quais itens serão vendidos nela e as estratégias.

Nos próximos meses, a vitrine vai ganhar uma nova plataforma. Em 2016, as vendas pela web corresponderam a 2% do faturamento total da companhia. A expectativa é de que neste ano a fatia fique entre 8 e 10%.

O lucro no braço de distribuição, acredita Espejo, virá com aposta pesada em marketing e parcerias.

A empresa, que está no país desde 2002, quer ampliar a gama de produtos vendidos em varejistas como a Artwalk e a Centauro. Ela oferta cerca de 1.200 artigos em 1.000 pontos de venda, mas metade desse portfólio está nas mãos dos 50 maiores clientes.

Também aposta em ações nas redes sociais (o Brasil é o segundo país onde a companhia mais tem seguidores nessas plataformas) e em um acordo fechado com a academia de luxo SETTCoaching, de São Paulo. A Puma patrocina os uniformes dos treinadores em troca de divulgação e eventos.

“Lá tem muitas blogueiras, influenciadoras. A ideia é despertar o desejo pela marca”, explica Fabio Espejo.

Nessa mesma linha, a empresa investe pesado em marketing no mundo todo. Tem como embaixadores atletas como Usain Bolt e Lewis Hamilton e artistas como Rihanna e Cara Delevingne.

A principal missão dessas personalidades é convencer os consumidores de que os produtos da Puma têm design casual, mas também tecnologia e inovação.

“Você não precisa tirar o tênis de academia para sair. Mas a performance de um Puma não deve em nada para a dos concorrentes. Precisamos comunicar isso melhor”, diz Espejo.

Ele está confiante de que os resultados do ano passado serão superados neste ano, apesar de não acreditar numa recuperação significativa da economia no curto prazo.

“Fizemos ajustes antes da crise. Outras marcas grandes demoraram, tiveram que fechar lojas. Estou otimista, o meu negócio vai bem”, afirmou.

A consultoria Iemi Inteligência de Mercado espera que as vendas de moda esportiva cresçam 1,7% neste ano no Brasil. No ano passado, o segmento recuou 2,6%, quando considerada a inflação.

Troca de ações pode ser obrigatória com grande adesão, diz Vale


Vale disse que não pode garantir se os acionistas preferencialistas vão aderir à troca dos papéis, mas que, se adesão for grande, ela pode virar obrigatória







Rio – Inicialmente voluntária, a adesão de acionistas preferencialistas da Vale poderá se tornar mandatória caso o total de preferenciais remanescentes após a janela inicial de conversão seja muito pequeno, afirmou o presidente da mineradora, Murilo Ferreira, em teleconferência com analistas.

“Essa adesão é voluntária, queremos que tenha o maior sucesso possível, mas realmente a decisão cabe aos acionistas. Se no final a gente observar que as preferenciais remanescentes são muito poucos podemos avaliar transformar a situação de voluntária para mandatória. É uma possibilidade caso haja uma adesão muito grande”, disse.

Questionado sobre a adesão de acionistas preferencialistas e, nominalmente, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à conversão de ações, Ferreira afirmou que a diretoria não tem conhecimentos de passos seguintes da operação. Tampouco se a intenção dos atuais controladores será vender as ações da companhia liberadas pelo novo acordo no futuro.

O presidente da Vale também garantiu que a operação não terá nenhum impacto fiscal para a Vale.Além disso,disse que os benefícios fiscais da Valepar serão transferidos para todos os acionistas, em referência ao ágio de R$ 3 bilhões relativo à privatização da companhia.

A mineradora ainda não tem um estudo que defina como será feito o aproveitamento desse ágio. O diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, disse ainda que a Valepar tem um caixa de R$ 518 milhões e arcará com todos os seus passivos.

De acordo com a diretoria da Vale, o direito de retirada de acionistas não ocorre na conversão voluntária de ações, mas apenas se houver um resíduo de acionistas e caso seja determinada essa adesão mandatória posteriormente.

Luciano Siani destacou que o prêmio de 10% definido na operação aos acionistas da Valepar foi uma decisão dos próprios controladores. Segundo o diretor, o porcentual parece alinhado com o de operações semelhantes realizadas no passado, como as da Klabin e da Embraer.

Poder

 

As mudanças na governança corporativa da Vale permitirão que o conselho de administração da mineradora se torne mais independente. Entre outras coisas, a Valepar não terá mais reuniões prévias obrigatórias para votar as matérias antes de sua chegada ao conselho, à exceção de itens em que seja exigido quórum qualificado.

Com isso, o conselho de administração passa a ser a instância mais importante em termos de deliberações na companhia. “O conselho da Vale vai ganhar um poder que não tem hoje”, destacou Siani, na teleconferência sobre o acordo de acionistas da empresa.

Além disso, depois de expirado o acordo de voto da Vale, o conselho não mais seráeleito majoritariamente por um só grupo de acionistas. O conselho da Vale terá 12 membros, boa parte deles independente.

Na teleconferência, Siani explicou que a Litel, que reúne as participações dos fundos de pensão na Valepar hoje, não será dissolvida. Segundo ele, os acionistas terão outros mecanismos para obter liquidez com suas participações individuais.
 
Os fundos que estão na Litel, como Previ e Funcef, vão decidir entre si sobre a possibilidade de venda de ações e distribuição de dividendos aos acionistas
 
 

Acionistas da Vale decidem extinguir a Valepar


A decisão permitirá que cada um controle diretamente suas ações na Vale e decida individualmente seus votos

 




São Paulo – Os acionistas da Vale S.A. decidiram extinguir a Valepar, holding que controla a empresa, maior produtora de ferro nos últimos 20 anos, informou neste domingo um colunista do jornal O Globo.

A decisão, tomada durante as negociações para renovar o acordo de acionistas, permitirá que cada um controle diretamente suas ações na Vale e decida individualmente seus votos.

A decisão foi revelada pelo colunista Lauro Jardim, que não informou quando a dissolução da Valepar irá acontecer, mas que os sócios devem anunciá-la no próximo mês. O atual acordo entre os acionista expira em Abril.

Os sócios na Valepar incluem Bradespar SA, Mitsui & Co, vários fundos de pensão liderados pelo Previ Caixa de Previdência, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Também fazem parte da holding os fundos Petros Fundação, Funcef e o fundo privado Fundação Cesp.

A Reuters informou em 19 de janeiro que membros da Valepar negociavam para extinguir o bloco ao longo de um período de seis anos, quando a Vale se tornaria uma empresa com propriedade diluída.

Com a Valepar deixando de atuar como um bloco, Bradespar e Previ acreditam que a empresa será mais atrativa para novos investidores, pessoas familiares com o tema disseram à Reuters em janeiro.

Previ e Bradespar não puderam comentar imediatamente as informações publicadas pelo jornal o Globo. Os porta-vozes do BNDES e do fundo Petros não retornaram as ligações. Representantes da Mitsui não foram encontrados para comentar.