Deixado de escanteio na última safra pelas usinas, o etanol hidratado
está começando a oferecer uma remuneração mais alta que o açúcar em
Estados mais distantes do porto de Santos, principal via de exportação
do adoçante. Conforme levantamento da consultoria FCStone, já está mais
vantajoso para as usinas em Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul
produzir etanol em detrimento do açúcar.
Nesses Estados, o preço do etanol hidratado, convertido à medida do
açúcar no mercado internacional (libra-peso), está acima do fechamento
de ontem do contrato mais negociado do demerara na bolsa de Nova York
(para entrega em julho), de 15,37 centavos de dólar a libra-peso.
Em Goiás, o etanol hidratado está valendo o equivalente a 15,85
centavos de dólar a libra-peso; em Mato Grosso do Sul, a 15,60 centavos
de dólar a libra-peso; e, em Mato Grosso, a 17,40 centavos de dólar a
libra-peso. Os valores foram apurados na sexta-feira passada, mas pouco
variaram nos últimos dias, diz Ricardo Nogueira, consultor da FCStone.
A diferença é maior nos Estados mais afastados do litoral porque o
cálculo considera o custo com frete, que aumenta conforme a distância do
porto, explica Nogueira. Além disso, enquanto o custo do frete de
açúcar recai sobre a usina, o frete de etanol é responsabilidade da
distribuidora, acrescenta.
Essa virada no mercado ocorre justamente em Estados onde mais houve
movimentos em 2016 para a produção de açúcar, seja de destilarias que
instalaram fábricas de açúcar, seja de usinas que compraram novas
máquinas e mexeram em suas estruturas para elevar a capacidade de
produção de açúcar.
Mesmo nos Estados onde o preço do etanol hidratado ainda está abaixo
do açúcar, a produção do biocombustível pode ser mais vantajosa. Como a
venda do etanol oferece mais liquidez, porque o pagamento à usina se dá
assim que o produto é posto nos caminhões da distribuidora, nem sempre é
preciso que o produto esteja remunerando mais a usina para estimular a
produção do biocombustível.
Uma das usinas que investiu em fábrica de açúcar em 2016 foi a
Bioenergética Aroreira, com uma usina no município mineiro de
Tupaciguara, que passou a ter capacidade para produzir 120 mil toneladas
de açúcar por safra. Segundo José Rubens Bevillaqua, diretor da
companhia, a unidade só não vai mudar o "mix" açucareiro, programado em
80% para esta safra, porque boa parte de sua produção já está com preço
fixado. "Já para o ano que vem, podemos ter que rever", indicou.
Quando a Aroeira tomou a decisão de investimento, o açúcar estava
acima de 20,5 centavos de dólar no mercado internacional e o dólar
estava em cerca de R$ 3,40. Atualmente, tanto a commodity como o câmbio
estão menos favoráveis para os exportadores.
Nogueira, da FCStone, lembra que cerca de 60% do açúcar para
exportação teve seu preço fixado até agora, o que significa que 40%
ainda está por ser negociado. "Não é pouca coisa, é a maior safra do
mundo. Se o preço em Nova York cair mais, pode retirar da safra de 2
milhões a 3 milhões de toneladas", estima ele.
As perdas nas cotações do açúcar têm se aprofundado nos últimos dias
com mais liquidações de posições por parte dos fundos. No último dia 25
de abril, os gestores de recursos ("managed money") reduziram seu saldo
líquido comprado em Nova York em 56%, para 13.656 papéis, segundo a
Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC).
Enquanto o açúcar amplia suas perdas, os preços do etanol não estão
caindo com a mesma força nas últimas semanas. No fim de abril, o
indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado em São Paulo chegou a
acumular alta de 0,9% em quatro semanas, enquanto os contratos de
segunda posição de entrega do açúcar demerara na bolsa de Nova York
cederam 7,4%.
Os preços do etanol estão inclusive mais altos que um ano atrás.
Depois de uma entressafra com valores pressionados, o etanol tem variado
menos. O indicador Cepea/Esalq para São Paulo na semana até 28 de abril
ficou 11% acima do valor até 29 de abril de 2016
(Assessoria de
Comunicação, 5/5/17)