segunda-feira, 8 de maio de 2017

Quanto o Brasil sangra de dinheiro ilegal para fora por ano


Cálculo feito por ONG internacional com base em números do comércio internacional mostra dezenas de bilhões de dólares fluindo para fora do país

 






São Paulo – O fluxo ilegal de dinheiro para fora do Brasil ficou entre US$ 9,6 bilhões e US$ 22,1 bilhões só em 2014, o último ano com dados disponíveis.

É algo entre 2% e 5% do total do comércio do país, mesmos percentuais da Argentina e próximo de países como Chile (3% a 6%) e Peru (4% a 7%).

No total dos países em desenvolvimento, o cálculo da saída ilegal em 2014 ficou entre US$ 620 bilhões e US$ 970 bilhões.

Em países como Rússia e África do Sul, as estimativas mais altas de fluxo ilegal chegam a representar dois dígitos do comércio total.

Os números são de um relatório recente da Global Financial Integrity (GFI), uma organização de pesquisa e lobby com sede em Washington DC e financiamento da Ford Foundation.

Em 2014, um documento com foco no Brasil estimou que US$ 400 bilhões sangraram do país entre 1960 e 2012. Veja os dados da última década:



Estimativa baixa Estimativa Alta
2005 US$ 7,1 bi US$ 14,1 bi
2006 US$ 5,3 bi US$ 10,6 bi
2007 US$ 9,6 bi US$ 16,5 bi
2008 US$ 10,6 bi US$ 22,1 bi
2009 US$ 10 bi US$ 22 bi
2010 US$ 11,4 bi US$ 27,4 bi
2011 US$ 13,7 bi US$ 28,2 bi
2012 US$ 13,5 bi US$ 30,8 bi
2013 US$ 10,1 bi US$ 22,8 bi
2014 US$ 9,6 bi US$ 22,1 bi


A organização passou nesta última edição a dar igual ênfase aos fluxos ilegais que entram, e não apenas aqueles que saem, dos países em desenvolvimento.

“Anos de experiência com negócios e governos no mundo em desenvolvimento nos ensinaram que a decisão de trazer fluxos ilícitos para um país específico frequentemente marca apenas a primeira fase de uma estratégia para depois mover os fundos para fora daquele país”, diz Raymond Baker, fundador do órgão e especialista em crime financeiro.

O fluxo de dinheiro ilegal para dentro do Brasil foi estimado entre US$ 25 bilhões e R$ 53 bilhões em 2014, mas os números devem ser vistos com cuidado.

O cálculo é feito com base nas discrepâncias encontradas entre as balanças de pagamento dos países e nas faturas de comércio internacional.

Ficam de fora o comércio de serviços ou em dinheiro vivo, faturas duplicadas e os recursos de atividades criminosas, que não passam pelas estatísticas oficiais.

Os fatores não contabilizados afetam muito mais a saída de dinheiro dos países em desenvolvimento (que deve estar subestimada pelo relatório) do que a entrada (que deve estar superestimada).

O relatório recomenda que transações com paraísos fiscais sejam tratadas com lupa pelas autoridades e sujeitas a altas de impostos, e cita o Brasil como um exemplo nessa área.

Outras recomendações incluem mais transparência nos registros e um sistema de troca automática de informações entre os países, incluindo paraísos fiscais, tema que vem avançando no âmbito do G-20 e da OCDE.

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