O procurador-geral da República também defendeu a validade das gravações entregues pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS
Brasília – O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
pediu autorização ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal
(STF), para tomar o quanto antes o depoimento do presidente da
República, Michel Temer (PMDB), o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG)
e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) no curso inquérito
aberto contra os três a partir da delação da JBS.
Em relação ao depoimento de Temer, Janot disse a Fachin que a oitiva
deve acontecer “nos moldes a serem definidos por Vossa Excelência
Fachin”.
Janot afirma que, por haver investigados presos – Andrea Neves e
Frederico Pacheco de Medeiros, irmã e prima de Aécio, e Mendherson Souza
Lima -, o prazo para a conclusão da investigação por parte da Polícia
Federal e da própria apresentação da denúncia pela Procuradoria-Geral da
República (PGR) é mais curto.
“Conjugando o regime preconizado pelo Código de Processo Penal e pelo
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal tem o
prazo de 10 dias, contados da realização da prisão, para finalizar as
investigações e remeter o inquérito para o Ministério Público Federal,
que, por sua vez, possui o prazo de 5 dias para oferecer denúncia ou
requerer o arquivamento”, disse Janot.
“Há a necessidade de ultimação de inquérito no prazo acima apontado
em virtude de haver investigado preso, devendo ser efetivadas
diligências a fim de angariar elementos a formação da opinio delicti”,
disse Janot.
Além de ouvir os investigados, Janot falou que também é necessário
analisar o material apreendido na Operação Patmos de busca e apreensão,
no dia 18.
Outra pendência no inquérito é a conclusão da perícia dos áudios das
conversas gravadas pelo delator Joesley Batista, do Grupo J&F.
Janot comenta que já concordou com a realização da análise da validade dos áudios.
Temer, Aécio e Rocha Loures são investigados por corrupção passiva,
constituição e participação em organização criminosa e obstrução à
investigação de organização criminosa.
Confissão
Janot também afirmou que Temer fez uma “confissão espontânea” durante
os pronunciamentos públicos realizados após o escândalo vir à tona, ao
admitir o encontro, à noite, com Joesley no Palácio do Jaburu, o diálogo
sobre possível corrupção de juízes, diálogo sobre a relação de Joesley
com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, e o fato de Temer ter
indicado o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures para tratar de temas
com o empresário.
“Ocorre que, em que pese Michel Temer alegar ilicitude da gravação e
questionar a integridade técnica desta, cumpre ressaltar que, em
pronunciamentos recentes, o Presidente da República não negou o encontro
nem diálogo noturno e secreto com o colaborador JOESLEY BATISTA,
tampouco nega que o colaborador tenha lhe confessado fatos criminosos
graves, o que demandaria, no mínimo, comunicação de tais crimes as
autoridades competentes”, afirmou Janot.
Janot interpretou que, nos pronunciamentos de Temer, houve “confissão
no sentido de que os interlocutores dialogaram sobre possível corrupção
de agentes públicos”.
O procurador-geral cita um trecho de discurso de Temer:
“Devo até registrar, devo até registrar, que é interessante quando os
senhores examinam o seu depoimento e o áudio, os senhores verificam que
a conexão de uma sentença a outra, não a conexão de quem diz: olhe eu
estou comprando o silencio de um ex-deputado e estou dando tanto a ele.
Não!
A conexão é com a frase: ‘eu me dou muito bem com o ex-deputado,
mantenho uma boa relação’, e eu disse: ‘mantenha isso, viu?’ Enfatizou
muito o ‘viu’.”
Em seguida, Janot retoma e diz que: “de fato, o que consta desse
trecho do discurso e o reconhecimento por parte do investigado MICHEL
TEMER da existência do diálogo com JOESLEY e da boa relação entre
JOESLEY com EDUARDO CUNHA”.
“A interpretação do diálogo e do que significa esta anuência por
parte do investigado MICHEL TEMER será avaliada no momento da formação
da opinio delicti”, diz Janot.
Gravações
Em defesa ao uso da gravação de áudios por parte do delator, Janot
compara ainda o caso de Temer com os diálogos interceptados entre a
então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em março de 2016, quando os dois petistas discutiam a nomeação de
Lula para o cargo de ministro da Casa Civil.
Citando o posicionamento do ministro do Supremo Tribunal Federal,
Gilmar Mendes, no caso envolvendo Dilma e Lula, ele diz que é possível
afirmar “as confissões espontâneas têm força para provar a existência da
conversa e do seu conteúdo”.
Na ocasião, Gilmar, que era relator do mandado de segurança que
impediu Lula de assumir o cargo, afirmou que “em pelo menos duas
oportunidades, a presidente da República admitiu a conversa, fazendo
referências ao seu conteúdo” e que isso caracterizava ainda que “há uma
admissão pessoal da existência da conversa e da autenticidade do
conteúdo da gravação”.
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