Segundo o ministro da Fazenda, embora o cronograma possa sofrer atrasos, o curso da política econômica não seria mudado com a saída do presidente
Brasília – O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta segunda-feira que o cronograma da reforma da Previdência
deverá sofrer atraso em função da crise política deflagrada na semana
passada, mas disse que acredita na aprovação da proposta mesmo se o
presidente Michel Temer não seguir no comando do país.
Em conversa por telefone com investidores, Meirelles afirmou que seu
cenário-base contempla a permanência de Temer no cargo. Mesmo que isso
não aconteça, ressaltou não enxergar possibilidade de a oposição
contrária às reformas assumir o poder e mudar o curso da política
econômica.
“A agenda de reformas nesse momento se tornou parte da agenda do
Congresso. Os líderes mais importantes do Congresso já entenderam que as
medidas fiscais têm de ser aprovadas e estamos seguindo adiante”,
disse.
Temer virou alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por
corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça em
investigação aberta com base em acordo de delação fechado por Joesley
Batista, do grupo JBS. O plenário do STF decidirá na quarta-feira se
aceita ou não o pedido de Temer para suspender o inquérito contra ele.
A divulgação na semana passada de conversa gravada por Joesley com
Temer injetou forte volatilidade no mercado, com agentes passando a
questionar a viabilidade das reformas, em especial a da Previdência,
considerada crucial para o reequilíbrio fiscal do país.
Meirelles admitiu que o governo não possui os 308 votos necessários
para aprovar a reforma da Previdência no plenário da Câmara dos
Deputados com base no posicionamento público dos parlamentares. Por
outro lado, afirmou que vários deputados lhe confidenciaram que irão
apoiar a proposta no momento certo.
Falando em inglês, Meirelles disse que atraso de um ou dois meses na
apreciação do texto não fará diferença para o efeito fiscal da reforma,
que é orientado para o longo prazo. Destacou ainda que um atraso dessa
magnitude seria o pior dos cenários.
Antes da divulgação da delação de Joesley, o ministro havia dito que o
governo já acreditava ter os votos para aprovação da reforma da
Previdência na Câmara e que eventual atraso na votação faria diferença
na expectativa econômica.
Meirelles, que era presidente do conselho da holding controladora da
JBS, a J&F, antes de assumir a Fazenda, é um dos nomes que vêm sendo
ventilados para a Presidência em caso de eleições indiretas, na esteira
de eventual sucessão de Temer.
Após o escândalo político envolvendo Temer, Meirelles tem conversado
com investidores, inclusive estrangeiros, para tentar conter os ânimos.
Só nesta segunda-feira, ele tem agendada outra conferência com
investidores.
Também presente na conversa por telefone com investidores desta
manhã, o secretário de Acompanhamento Econômico do ministério, Mansueto
de Almeida Junior, disse que, com novas medidas colocadas em andamento, o
governo irá diminuir o corte no Orçamento, de 42 bilhões de reais,
anunciado em março para o cumprimento da meta de déficit primário deste
ano, de 139 bilhões de reais.
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