Há 12 anos, Joesley Batista sofreu na carne uma ação
semelhante à que protagonizou no Palácio do Jaburu, vinda a público na
semana passada.
Desta vez, foi ele quem levou o gravador a uma reunião com o presidente Michel Temer; em 2005, o aparelho estava em outras mãos.
Na
ocasião, ao lado do irmão José Batista Junior, então um dos
proprietários do frigorífico Friboi, foi alvo de uma gravação
clandestina.
Era o início da ampliação do grupo, que, com dinheiro do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), adquiria
unidades frigoríficas em dificuldades financeiras.
Ao comprar,
assumia as dívidas das empresas, mas pedia ao banco dinheiro extra como
capital de giro para gerir os negócios do frigorífico em dificuldades.
Uma
série de reportagens publicadas na Folha em 2005 revelou que, em
gravação, os donos da Friboi admitiam formação de cartel no setor de
carne e ilegalidades nos contratos com o BNDES.
José Batista Junior
dizia, no registro gravado, que o seu frigorífico e outros três
determinavam os preços de mercado do boi gordo.
Seu irmão Joesley Mendonça Batista, por sua vez, reconheceu ter contrato de gaveta com o BNDES.
Seu irmão Joesley Mendonça Batista, por sua vez, reconheceu ter contrato de gaveta com o BNDES.
A informação apareceu em gravação de conversa feita por
executivos do frigorífico Araputanga, à qual a Folha teve acesso.
Foram muitos os percalços enfrentados pelo Friboi, mas nada que comprometesse o avanço rápido da empresa.
De um lado, Batista Junior, com pretensões de ser governador de Goiás pelo PSDB, viu o sonho se desmilinguir.
De
outro, a empresa foi acusada de fazer exportações para a União Europeia
e para Rússia por meio de um expediente: a fim de enviar carnes não
autorizadas para essas regiões, usava um número de SIF (Sistema de
Inspeção Federal) de um frigorífico de uma área liberada.
À época, tanto o BNDES como o Friboi e os demais frigoríficos envolvidos no escândalo refutaram as acusações.
A
grita de pecuaristas e varejistas fez que a Câmara de Agricultura
exigisse a suspensão de novos empréstimos do BNDES —até então em R$ 568
milhões— para o Friboi, o que, todavia, não surtiu efeito.
Além
disso, Câmara e Senado resolveram criar uma Comissão Parlamentar de
Inquérito Mista, que, porém, não foi adiante. Parlamentares disseram que
as irregularidades existiam, mas as discussões prejudicariam a imagem
do Brasil no exterior.
Nascia ali a escalada exponencial do Friboi no mercado interno e externo. A ausência de discussões sérias naquele momento deu asas ao surgimento da maior empresa de carnes do mundo.
Embora
a fita tenha sido periciada por Ricardo Molina, da Unicamp, Wesley
Mendonça Batista, outro sócio do Friboi, disse, à época, que ela era uma
montagem.
(Folha de S.Paulo, 23/5/17)
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