O Brasil espera evitar que um confronto com a China por causa do
açúcar se transforme em uma batalha na Organização Mundial do Comércio.
Autoridades do governo do Brasil estão negociando com a China na
esperança de criar um trato comercial que possibilitaria uma quota de
importação do açúcar brasileiro isenta de taxas adicionais, disse
Eduardo Leão, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar
(Unica), em entrevista por telefone.
As "condições do acordo estão sendo negociadas pelos dois governos", disse Leão.
A iniciativa surge depois que a China impôs, nesta semana, mais taxas
à importação do açúcar, além do imposto atual de 50 por cento sobre as
compras acima das quotas estipuladas, para tentar proteger sua indústria
nacional. O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar do mundo e
também é o principal fornecedor da China. As novas tarifas implicariam
uma redução de cerca de 800.000 toneladas por ano das remessas
brasileiras ao país asiático, disse Leão, no dia 22 de maio. Ele
acrescentou que as taxas adicionais "não se justificam".
O gabinete do Ministro das Relações Exteriores do Brasil não quis comentar imediatamente as negociações.
Se as negociações atuais entre o Brasil e a China sobre um novo
acordo não forem bem-sucedidas, o setor açucareiro vai "deixar claro" ao
governo que uma queixa deve ser apresentada à OMC, disse Leão.
Impostos chineses
A China impôs uma taxa adicional de 45 por cento que será cobrada por
12 meses, informou o Ministério do Comércio no dia 22 de maio. A taxa
cairá para 40 por cento no ano que começa em 22 de maio de 2018 e para
35 por cento no ano seguinte, segundo o Ministério.
A China começou a investigar as importações em setembro depois que as
remessas dispararam e prejudicaram a indústria local. O país também
ampliou medidas contra o contrabando de açúcar nas principais regiões
fronteiriças, inclusive Myanmar. A China estipulou uma quota anual de
importação de 1,95 milhão de toneladas para este ano, a mesma de 2016. O
país importou 3,1 milhões de toneladas em 2016, segundo dados
alfandegários. Estima-se que um volume de 2 milhões de toneladas entre
por ano no país asiático através do contrabando, de acordo com Leão.
O setor brasileiro gostaria que a quota fosse de 3 milhões de
toneladas anuais, com impostos em torno de 15 por cento, disse Leão.
Essa quantidade equivaleria à metade dos 6 milhões de toneladas que o
país asiático precisa importar a cada ano, disse ele.
Taxas mais pesadas não vão mudar a demanda chinesa pela commodity,
disse Bruno Lima, diretor de açúcar da INTL FCStone, em entrevista por
telefone.
"As necessidades do país persistirão, e essa quantidade de açúcar vai
entrar de qualquer jeito, inclusive por contrabando", disse Lima
(Bloomberg, 25/5/17)
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