quarta-feira, 24 de maio de 2017

JBS tenta recuperação na Bolsa em meio à coleção de problemas


Com a divulgação de detalhes do depoimento de Joesley Batista, a JBS viu seu valor de mercado encolher e seus problemas multiplicarem

 



São Paulo — A JBS opera em alta na Bolsa, pelo segundo dia consecutivo, com os papéis recuperando parte das perdas acumuladas desde a última quinta-feira (18), quando começaram a aparecer os primeiros detalhes da delação premiada dos irmãos Batista, controladores da companhia.

Hoje, os papéis chegaram a subir cerca de 5%. Por volta das 14h, registravam alta de 2,14%, negociados a 6,69 reais. Ontem, terminaram o dia com ganhos de 9,53%.

No mês, no entanto, o saldo é negativo. Do começo de maio para cá, as ações da gigante de alimentos acumulam perdas de quase 35%. No mesmo período, o Ibovespa recuou 2,42%.

 

Coleção de problemas


Com a divulgação de detalhes do depoimento de Joesley Batista ao Ministério Público Federal (MPF), a JBS viu seu valor de mercado encolher ao menos 8 bilhões de reais e seus problemas multiplicarem.

O Ministério Público Federal (MPF) tenta fechar com a companhia um acordo de leniência que envolveria o pagamento de 11 bilhões de reais em multas.

O acordo ainda não foi fechado, mas segundo a agência Reuters, membros da família Batista teriam contratado o Bradesco BBI para trabalhar em um plano de venda de ativos. Os recursos, segundo a reportagem, seriam utilizados no acordo. A empresa nega a informação.

A companhia também virou alvo da fúria de investidores norte-americanos. Na segunda-feira, o escritório de advocacia Rosen Law Firm informou que está preparando uma ação coletiva para os acionistas do frigorífico que tiveram prejuízos com as notícias da delação. 

Como tem empresas nos Estados Unidos, a JBS deve responder à lei anticorrupção local, chamada FCPA (Foreign Corruptions Practices Act). A legislação, que é a mais antiga do gênero, prevê penas severas para ilícitos cometidos em qualquer lugar do mundo. 

Quem também pode entrar na justiça contra a empresa dos Batista é a BRF. Na noite da última terça-feira, a companhia informou que avalia a possibilidade de abrir um processo para obter reparação por eventuais prejuízos causados pela conduta da JBS.

Fora tudo isso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu sete investigações envolvendo a JBS. Entre as questões que serão analisadas pela autarquia estão a atuação da JBS no mercado futuro de dólar, a atuação do Banco Original (controlado pela holding da JBS) no mercado de derivativos, indícios de insider trading ao MPF e negociações do acionista controlador da JBS com ações de emissão da companhia.

Sobre as investigações, a JBS disse, em nota, que irá responder aos questionamentos dentro do prazo estipulado pela CVM e que está “cooperando completamente com as autoridades para solucionar as questões em aberto.”

Hora de comprar?


Mesmo com a crise vivida pela JBS, algumas instituições como a Citi Corretora mantiveram a recomendação de compra dos papéis da empresa.

A avaliação do banco norte-americano, segundo um operador consultado pela agência Estado, é que os riscos operacionais para a companhia são baixos no curto prazo, já que poucos clientes parariam de comprar os produtos da empresa.

Em comentário aos investidores, o BTG Pactual disse, ontem, que o rebaixamento da JBS feito pelo banco em setembro do ano passado, após o anúncio da Operação Greenfield, levou em conta preocupações que agora fazem sentido.

De acordo com o banco, as dívidas da companhia são formadas principalmente por tipos de débitos muito líquidos, e não é certo que os bancos vão cortar as linhas para a companhia e os refinanciamentos, já que as grandes instituições são muitos expostas à JBS.

Os analistas do BTG também levantaram a dúvida se os acordos em discussão com a Justiça brasileira serão pagos pela JBS ou pelos controladores. Segundo os cálculos do banco, a cada 1 bilhão de reais em multas que a companhia poderia pagar, o impacto seria de 0,37 real no papel.

Em um cenário de Ebitda “normalizado” em 2017 e assumindo riscos de refinanciamento, a análise conservadora do BTG Pactual projeta um potencial de valorização da ação da JBS.

Com Estadão Conteúdo.

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