Sem ver maiores chances de sobrevivência de Temer, os investidores passam a vislumbrar mudança rápida de governo que preserve a agenda de reformas
São Paulo – Uma semana após o abalo causado pelo áudio de conversas entre Michel Temer e o empresário Joesley Batista, o pessimismo no mercado dá sinais de refluxo.
Sem ver maiores chances de sobrevivência do presidente, os
investidores passam a vislumbrar uma mudança rápida de governo que
preserve a agenda de reformas.
Bolsa e taxas de juros devolvem parte da oscilação da última
quinta-feira, o pior dia do mercado brasileiro desde 2008, enquanto o
câmbio dá alguns sinais de moderação.
As incertezas, contudo, seguem muito altas e os ativos brasileiros estão longe de retomar os níveis anteriores à crise.
“Tudo reforça o nosso cenário de que o governo poderá cair
rapidamente, em um ou dois meses”, diz Christopher Garman, cientista
político da Eurasia Consultoria, em Nova York, que prevê 70% de chances
de Temer cair.
Para ele, a crise pode ter desfecho ainda mais rápido caso Temer
decida não recorrer a uma possível decisão do TSE de cassar a chapa
Dilma-Temer.
Essa seria uma “saída honrosa” para o presidente, que sairia por
irregularidades eleitorais, sem vincular a saída ao escândalo atual,
como ocorreria em caso de renúncia.
A solução da crise vai depender das articulações para escolha do novo
presidente, por via indireta, que já começaram mas ainda estão em
estágio inicial, diz Garman.
Para ele, o mais provável é que surja um nome de consenso da própria
base governista atual, que é majoritária no Congresso, o que significa
que a agenda de reformas também seria preservada.
Garman mantém a previsão de que as reformas trabalhista e
previdenciária serão aprovadas, embora, diante do cenário mais
desafiador, seja provável que haja mais “diluição”, sobretudo nas
mudanças das aposentadorias.
Consenso está em que a política econômica não seja modificada, ainda
que não haja um nome natural e óbvio para o mercado, dentre os tantos
cogitados para eventualmente suceder Temer, diz Carlos
Kawall, economista do banco Safra.
“Não se está discutindo um vácuo que nos levasse de volta a uma
política populista. Crise é grande, mas as instituições funcionam e o
Congresso está mantendo um mínimo de atividade na agenda.”
As incertezas, contudo, ainda são enormes. Entre os nomes citados
pela mídia recentemente como possíveis candidatos a presidente estão
alguns que são potenciais defensores das reformas, como FHC, que tentou
sem sucesso mudar a Previdência em seu governo, seu correlegionário
Tasso Jereissati, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e Nelson Jobim.
Para Garman, não existe candidato perfeito. Será sempre uma questão
de “trade-off”, diz o analista.
Ou seja, o melhor candidato será aquele
que reunir uma média de condições em termos de preparo e em relação à
Justiça, mas também que tenha condições de angariar apoio no Congresso.
Qualquer solução terá que ser rápida, não apenas para que ainda haja
tempo para tocar as reformas este ano, mas também para que a situação
esteja pacificada antes das eleições de 2018.
Relatório da Goldman Sachs alerta que a manutenção de uma incerteza
política ampla e de longa duração seria “altamente corrosiva” para os
preços dos ativos e para a economia.
Entre as consequências macroeconômicas, o banco cita o risco de a
recuperação esperada ser interrompida e, no extremo, haveria um duplo
mergulho na recessão.
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