Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
O Deputado Luiz Carlos Hauly, relator da Comissão de Reforma
Tributária na Câmara dos Deputados, tem realizado uma série de
palestras para apresentar seu projeto de reforma tributária, cuja ideia
central é juntar o PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS. A base de cobrança
dessa unificação seria o valor adicionado em cada elo da cadeia
produtiva, dando origem a um IVA (Imposto sobre Valor Adicionado)
nacional.
O governo federal cogita apoiar essa proposta para promover mudanças
amplas no sistema de impostos e contribuições do país, como alternativa
ao seu projeto parcial que prevê unificar apenas PIS e Cofins.
O projeto do Deputado Hauly contempla um grave problema que é a
elevada alíquota que o IVA teria, algo que impulsionaria fortemente a
evasão de receita pública. Estima-se que ela seria de cerca de 30%. O
ICMS, um IVA estadual com alíquota de 18%, é o tributo mais sonegado no
país.
A alíquota do IVA federal seria um estímulo à sonegação, anomalia que
já atinge, por ano, a casa de meio trilhão no Brasil e que provoca
distorção na competição empresarial, uma vez que uma empresa que sonega
pode prosperar, frente à outra que não consegue fazê-lo, e exige que
contribuintes, como os assalariados, tenham que pagar mais tributos para
compensar essa gigantesca evasão de arrecadação.
Para fazer frente ao tamanho da alíquota, a proposta Hauly prevê a
criação de um novo imposto chamado de Seletivo (um excise tax) que
incidiria sobre produtos de amplo espectro na cadeia produtiva e nos
padrões de consumo, como energia e combustíveis. Mas isto teria como
inevitável resultado o generalizado desalinhamento dos preços relativos,
reduzindo significativamente a eficiência alocativa nos processos de
produção e consumo do país.
O IVA nacional tem como méritos o alívio na complexidade do sistema,
por conta da unificação de tributos, e o fim da guerra fiscal, uma vez
que sua legislação seria federal. Mas, o projeto não resolve o maior
problema tributário do país que é a evasão de receita. Muito pelo
contrário, ele tende a piorar a situação. Com Imposto Seletivo ou sem
ele, a alíquota do IVA se manteria alta e o sistema continuaria
declaratório, burocrático.
Levar este projeto adiante seria o mero “aperfeiçoamento do
obsoleto”, como afirmou Roberto Campos, em certa ocasião, ao avaliar
proposta semelhante. Arrematando seu raciocínio, a solução seria
caminhar na direção de um imposto único federal, mas não com base no
valor adicionado, como propõe Hauly, e sim sobre movimentação
financeira. No lugar de uma alíquota extremamente alta cobrada sobre um
sistema declaratório, poder-se-ia aplicar uma alíquota reduzida sobre
uma forma de cobrança automática que dispensa registros, declarações,
guias, etc. A simplificação seria maior, acabaria a guerra fiscal e a
sonegação seria combatida.
O intrigante neste tema é que o uso de um tributo sobre movimentação
financeira havia sido inicialmente idealizado pelo deputado em seu
relatório prévio, apresentado em fevereiro deste ano.
Mas,
lastimavelmente, ele voltou atrás em sua proposta inicial. Há várias
hipóteses sobre as causas dessa reversão, mas a que me parece a mais
provável é que um tributo insonegável e de largo alcance, como a
movimentação financeira, fere os interesses de grupos econômicos e
deflagra poderosas pressões contrárias. Os escândalos da Operação
Zelotes estão a demonstrar a correção desta hipótese.
A empresa tem R$ 220 milhões para investimentos até 2022
Da Redação
redacao@amanha.com.br
Menos de um ano depois de assumir a operação brasileira, a
fabricante de tratores Mahindra tem um acelerado plano de expansão que
inclui negócios em países da América Latina. O anúncio foi feito nesta
terça (29) pelo diretor-geral de Operações da Mahindra Brasil, Jak
Torretta (foto), em Esteio (RS). O avanço da empresa se dará em
diferentes frentes. Com capacidade de montagem de 1 mil tratores por ano
em Dois Irmãos (RS), a companhia projeta dobrar o volume de produção
até 2022. Para isso, analisa a compra de uma fabricante de implementos
ou tratores, ou mesmo a construção de uma nova fábrica.
A empresa
tem reservado US$ 70 milhões (cerca de R$ 221 millhões) para
investimentos nos próximos cinco anos, valor destinado para aquisições
ou construção de nova unidade e nacionalização de tratores fabricados em
outros países pela marca originária da Índia. “Estamos em negociações
com municípios para a instalação de uma fábrica, mas a nossa preferência
é ficar na Grande Porto Alegre. Se não montarmos mais em Dois Irmãos,
deverá ficar na cidade um centro de distribuição de peças”, adiantou
Torretta. Pelo fato de a matriz da Mahindra ter 35% da fabricante de
colheitadeiras Sampo Rosenlew, da Finlândia, Torretta também afirmou que
está em estudo a fabricação de modelos no Brasil. “Os finlandeses estão
bem interessados em razão do potencial do agronegócio brasileiro.
Seriam colheitadeiras voltadas para o pequeno e médio produtor”,
relatou.
Focada na agricultura familiar – são 5 milhões de
propriedades rurais no país com esse perfil –, a Mahindra tem o mercado
consumidor concentrado no Sul e Sudeste. Mas está em andamento um plano
para ampliar a rede de concessionárias. Atualmente são 15 pontos de
venda. A projeção é chegar a 20 até o fim do ano, basicamente no Sul e
Sudeste. De acordo com a companhia, há compradores em potencial em São
Paulo, Minas Gerais, sul da Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Líder
mundial em volume de vendas de tratores, a indiana Mahindra está
presente em mais de 100 países nos cinco continentes e conta com mais de
200 mil funcionários em todo o mundo. O Grupo Mahindra possui 34
unidades de manufatura espalhadas pelo globo. Apenas nas quatro fábricas
da Índia são produzidos cerca de 250 mil tratores por ano. No total, a
gigante indiana já ultrapassou a marca de 2 milhões de tratores
vendidos.
A dois
anos de se aposentar, o CEO da montadora, Sergio Marchionne, insiste em
procurar um comprador para a companhia. A bola da vez é a chinesa GWM
Moacir Drska
Em 2004, quando o ítalo-canadense Sergio Marchionne assumiu o
comando da Fiat, a montadora italiana estava à beira da falência. Nos
anos seguintes, ele se consolidou como um nome de peso na indústria
automobilística ao conduzir a companhia de volta ao lucro. Um dos
destaques de sua gestão foi a fusão com a americana Chrysler, que deu
origem à FCA, dona de um faturamento de € 111 bilhões de euros em 2016.
No mesmo ano, a Fiat figurou entre as 50 maiores empresas do Brasil no
anuário AS MELHORES DA DINHEIRO.
Aos 65 anos, Marchionne tem uma última meta antes de se aposentar, em
2019: deixar a FCA bem posicionada em um cenário de consolidação do
setor, que ele classifica como inevitável diante da demanda crescente
pelo desenvolvimento de tecnologias como os carros elétricos e
autônomos. Depois de tentativas frustradas de aproximação com a alemã
Volkswagen e a americana General Motors, essa busca por alternativas
parece ter ganhado uma nova opção. No dia 14, as ações da FCA chegaram a
subir 8,3% com os rumores sobre a sondagem de empresas chinesas para
adquirir o grupo.
Na segunda-feira 21, esse interesse ganhou um nome, literalmente,
dentro da Grande Muralha. Em comunicado, a chinesa Great Wall Motor
(GWM) confirmou que vem avaliando uma oferta pela FCA, sem especificar,
no entanto, se uma eventual proposta incluiria toda a operação, cujo
valor de mercado é de US$ 22,7 bilhões, ou parte dos ativos do grupo. No
setor, porém, são fortes as especulações que o foco de uma investida
estaria restrito à marca Jeep. À parte das especulações, a Fiat informou
que não foi procurada pela GWM.
Para analistas, a aquisição da Jeep se encaixaria perfeitamente na
estratégia da GWM para ganhar escala no mercado global. Em seu país, a
companhia é uma das principais fabricantes de SUVs e picapes. “A Jeep é uma marca forte e não há muitas opções de ativos à disposição para que os chineses entrem nesse jogo global”,
diz o executivo de uma consultoria automotiva com atuação no mercado
chinês, que já foi procurada pela GWM para uma análise da FCA. “E eles
têm o governo chinês como acionista. Capital não é problema para os
chineses.” Contudo, sob o ponto de vista da FCA, uma eventual venda do
ativo é vista com ceticismo por parte do mercado.
Alguns fatores contribuem para essa visão. As mais de 1,4 milhão de
unidades vendidas da marca em 2016 representaram o quinto ano
consecutivo de recordes da Jeep, classificada por alguns especialistas
como a “joia da coroa” no portfólio do grupo. Em julho, Adam Jonas,
analista do Morgan Stanley chegou a apontar em relatório que, sozinha, a
marca valeria mais do que o restante da FCA. Outra possível barreira
para um acordo seria a declarada rejeição de Donald Trump às aquisições
de ativos dos Estados Unidos por companhias chinesas. A possibilidade de
um símbolo americano como a Jeep seguir esse caminho fatalmente seria
alvo de uma forte resistência por parte do político.
Sob esse cenário, Rodrigo Custódio, analista da consultoria Roland
Berger, entende que, um caminho mais provável para a concretização de um
acordo seria o modelo já adotado por outras montadoras chinesas. Em
2013, por exemplo, a Dongfeng investiu cerca de € 800 milhões na compra
de 14% da francesa PSA. A cifra ajudou o grupo francês, dono da Peugeot e
da Citroën, que estava próximo da falência. “Uma parceria nesses moldes
faria mais sentido”, diz Custódio. “A FCA teria uma injeção de capital
importante. E a GWM teria um caminho mais fácil para ganhar escala
global.”
Carteiras de trabalho de candidatos a vagas de emprego Temporário
O Ministério Público Federal (MPF) informou nesta segunda-feira que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou, por unanimidade, o recurso da União e manteve a sentença de primeira instância que considera ilegal os prazos estabelecidos para a solicitação do seguro-desemprego. A decisão vale para todo o Brasil.
As
requisições do benefício eram indeferidas em casos protocolados após
120 contados da rescisão do contrato de trabalho e 90 dias contados do
resgate do trabalhador da situação análoga à de escravo.
A ação
foi ajuizada pelo Ministério Público em 2014, na 4ª Vara Federal de
Porto Alegre. O órgão diz considerar ilegal “o estabelecimento dos
prazos porque a lei do seguro-desemprego nunca instituiu tais limites”.
A
União, então, entrou com recurso, que foi negado pelo TRF4. Ainda cabe
recurso. Procurado, o Ministério do Trabalho, que estabelece os prazos,
não se posicionou até a publicação desta nota.
O diretor indicado para a área de Administração do Banco
Central, Maurício Costa de Moura, afirmou nesta terça-feira, 29, durante
sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que a Taxa de Longo
Prazo (TLP) terá atuação direta nos juros estruturais no País. “A
melhoria da eficiência alocativa dos juros tende a reduzir os juros
estruturais”, disse. “Enxergamos na TLP um avanço estrutural importante
no ambiente de negócios. A TLP reduz subsídios implícitos, e os
subsídios terão que ser concedidos de forma transparente”, acrescentou.
Durante a sabatina, ele afirmou ainda que a medida provisória
784, que estabelece novo marco punitivo para as instituições reguladas,
permitirá que o BC esteja pronto para enfrentar os desafios futuros.
“Qualquer indício de crime que chegue ao BC, temos obrigação legal de
comunicar ao Ministério Público”, acrescentou, ao ser questionado por
senadores sobre a possibilidade de a MP 784 prejudicar os trabalhos do
Ministério Público na área penal.
Política Monetária
O diretor indicado afirmou ainda, ao defender a atuação do
Comitê de Política Monetária (Copom), que a política monetária no Brasil
segue o que a “boa norma” e a academia dizem. Em outro momento da
sabatina, ele afirmou que o cadastro positivo, defendido pelo BC e pelo
próprio governo, representa uma evolução para o crédito no Brasil, que
está sendo discutida agora.
Cientista defende que a bebida é fortemente dependente das memórias e emoções
Por Marcos Graciani
graciani@amanha.com.br
Um copo de vinho, quem diria, também pode ser um excelente
exercício para o cérebro. Esta é a tese do neurocientista Gordon
Shepherd, da Faculdade de Medicina de Yale, nos Estados Unidos. Ele
afirma que beber vinho desperta reações tanto nas partes sensoriais como
emocionais do cérebro. No seu livro “Neuroenology: How the Brain
Creates the Taste of Wine”, o especialista criou o termo
"neurogastronomia" para descrever o estudo de como o cérebro cria a
sensação de sabor. No mesmo livro, Shepherd defende que o gosto é apenas
uma ilusão, produzida pelos nossos sentidos e emoções que
posteriormente irá traduzir a percepção que temos dos alimentos e
bebidas.
"O sabor não está no vinho. O sabor é criado pelo cérebro
de quem o ingere num processo que implica o movimento do vinho através
da boca e do ar infundido pelo álcool através do nariz, fazendo com que o
cérebro formule o sabor. A parte mais importante desta ativação do
cérebro está no momento em que expiramos o ar infundido com o aroma que
cheiramos”, explicou ao jornal britânico Daily Mail.
O cérebro
constrói uma imagem das cores através de informações que os olhos
retiram de como a luz atinge os objetos em volta. "As moléculas do vinho
não têm sabor nem cheiro, mas quando estimulam os nossos cérebros, é
criado o sabor da mesma forma que cria a cor", afirmou o especialista à
Rádio National Public. O neurocientista crê que o vinho é fortemente
dependente das nossas memórias e emoções, conclui, então, que beber
vinho estimula mais o cérebro que ouvir música ou resolver uma equação
matemática.
A
XP Investimentos bate recordes de ativos sob custódia e de captação,
prepara o lançamento de um banco e projeta se transformar na maior casa
de investimentos do Brasil em cinco anos. Para que isso aconteça, terá
de superar as maiores instituições financeiras e seu novo sócio, o Itaú
1. Carlos Ferreira, head de
renda variável / 2. Julio Capua, CFO / 3. Daniel Lemos, COO e head de
produtos / 4. Guilherme Benchimol, fundador e CEO / 5. Gabriel Leal,
head comercial e de relacionamento com clientes / 6. Fernando
Vasconcellos, head de marketing (Crédito: Gabriel Reis)
Márcio Kroehn
No próximo dia 30 de agosto, Guilherme
Benchimol, fundador e CEO da XP Investimentos, estará em Chamonix, nos
Alpes franceses, para dar início a uma longa jornada de 120 quilômetros.
Ele terá até 34 horas para cumprir o percurso e vencer uma elevação
aproximada de 7,2 mil metros de altitude. Se conseguir completar a
Ultra-Trail du Mont-Blanc, Benchimol terá superado a barreira centenária
pela segunda vez em poucos dias. A primeira, alcançada no dia 15, não
foi um feito exclusivo do ultramaratonista, embora a escalada também
tenha sido íngreme.
A empresa independente de investimentos, criada por ele em 2001, numa
pequena sala de Porto Alegre, bateu a marca de R$ 100 bilhões sob
custódia em ações, fundos, seguros, previdência, renda fixa, tesouro
direto e investimentos no exterior. Há sete anos, a companhia tinha um
centésimo desse valor. No final deste ano, a projeção indica que a XP
chegará a R$ 130 bilhões, um volume possível pelos recordes mensais de
captação. Em agosto, a casa deve atrair R$ 5 bilhões de novos recursos.
“O que a gente tinha sob custódia em todo o ano de 2010 a gente capta,
agora, em poucos dias”, diz Benchimol (leia entrevista aqui).
Tanto apetite por recordes tem uma justificativa. Em cinco anos, a XP
quer se tornar a maior casa de investimentos do Brasil, superando Banco
do Brasil, Itaú e Bradesco. Esses três principais bancos comerciais do
País concentram mais da metade dos R$ 3,3 trilhões em investimentos de
cerca de 30 milhões de brasileiros. Para superar esses bancões, a XP
terá de multiplicar por, pelo menos, nove vezes o seu volume atual sob
custódia. Para alcançar os R$ 900 bilhões, Benchimol acredita em dois
pilares: qualidade na prestação de serviço e oferta de bons produtos. O
primeiro ponto é seu exército de agentes autônomos de investimento, que
são os especialistas responsáveis por convencer uma pessoa comum a
trocar o tradicional relacionamento com o banco pela XP.
“Não é criar mercado, é convencê-lo de que investir com a gente é
incomparavelmente melhor do que em qualquer outro banco comercial do
Brasil”, diz Benchimol. Na visão da empresa, os investimentos precisam
ser tratados como a saúde: um especialista é muito mais preciso que um
clínico geral. Há cinco anos, a XP tinha pouco mais de 880 agentes
autônomos, número que está próximo de 2,4 mil. Daqui a três anos, o
objetivo é ter 10 mil. Cabe a esses “soldados” mostrar que um fundo com
características idênticas na XP e num grande banco, por exemplo, tem
retornos distintos.
Ainda há centenas de fundos DI que cobram taxas de administração
perto de 3% ao ano. A XP tem um produto com características semelhantes a
0,3%. “Sempre tivemos metas audaciosas por acreditar que existe
uma oportunidade muito grande no Brasil de oferecer um serviço
diferente para investimentos”, afirma Gabriel Leal, head
comercial e de relacionamento com cliente do Grupo XP. A solução foi
ofertar fundos de terceiros. “Até pouco tempo atrás, os bancos
rejeitavam conceitos como assessoria de investimentos ou plataforma
aberta. Hoje, o jogo virou”, complementa Fernando Vasconcellos, head de
marketing.
O segundo pilar de Benchimol é a oferta de produtos. Sua prateleira
tem mais de 25 emissores de renda fixa e oferece mais de 400 fundos de
investimento, como os da Verde Asset, Adam Capital, Garde Asset e AZ
Quest (os fundos são responsáveis por metade da captação da XP). A Verde
Asset Management, por exemplo, do badalado gestor Luis Stuhlberger,
detém R$ 32 bilhões sob gestão e não é acessível a todo tipo de
investidor, por exigir um valor alto para aplicação. Em abril, a XP
passou a distribuir um desses fundos, com tíquete de R$ 50 mil. “A XP
tem sido mais rápida e aproveitado as oportunidades de mercado, como as
debêntures de infraestrutura, em 2012, e a oferta de CDB”, diz Daniel
Lemos, Chief Operating Officer e head de produtos do Grupo XP. “Cada vez
tem mais concorrência e a velocidade de acompanhar o nosso movimento
tende a diminuir.”
Dentro dessa oferta de plataforma aberta, cabe até um banco. É isso o
que eles querem mostrar ao mercado, assim que o Banco Central emitir a
autorização para o funcionamento do Banco XP. O processo está em análise
há mais de um ano pela autoridade monetária e a expectativa é que
consiga entrar em atividade no primeiro semestre de 2018. A diferença do
banco da XP é que ele será uma marca ao lado das outras e não a
principal atividade. Como será isso? Um cliente poderá fazer todos os
tipos de operações financeiras com a XP, mas a conta corrente, o cartão
de crédito e o financiamento não serão as principais. O modelo é
inspirado na gigante americana Charles Schwab, criada no início da
década de 1970, em São Francisco, como uma corretora de valores.
A Schwab, que hoje tem US$ 3,1 trilhões sob custódia, mexeu com a
estabilidade de tradicionais casas, como o Merrill Lynch, ao cortar
drasticamente as taxas dos investidores. Ao longo do tempo, foi uma das
pioneiras na negociação online de ações e ampliou a oferta de aplicações
aos clientes, como fundos de investimento e títulos do Tesouro dos
Estados Unidos. Assim como a XP quer oferecer produtos bancários, a
Schwab tem essa possibilidade entre seus serviços, num total de 1,2
milhão de contas. Mas o modelo americano foi colocado à prova quando a
Schwab saiu às compras após o estouro da bolha da internet, em 2000, e
adquiriu o private bank US Trust e o banco de investimentos Soudview. A
diversificação afastou a empresa daquilo que a diferenciou do mercado. A
XP quase caiu nessa mesma tentação.
No início do ano passado, quando o Citigroup anunciou a intenção de
vender a operação de varejo do Citi no Brasil, a XP apareceu como um
potencial interessado. O mercado comenta que a avaliação da XP foi muito
séria, inclusive envolvendo seus investidores estrangeiros, que
poderiam fazer o aporte de capital. Mas, além da entrada de competidores
como Santander e Itaú (que arrematou o banco por R$ 710 milhões), os
sócios da XP avaliaram que não queriam ser vistos nem como banqueiros
nem como vorazes compradores de um ativo pouco estratégico. “O Guilherme
tem uma obsessão por novos projetos, por tentar e errar”, diz um
ex-sócio, que deixou a empresa em 2012. “Mas uma de suas características
é começar pequeno e não perder o controle.”
Durante um ano e meio, Benchimol viveu um dos poucos momentos
em que ele se tornou um passageiro da agonia. Um fantasma passou a
ameaçá-lo após a XP ter sido vítima de roubo de informações
confidenciais. Uma quadrilha montou um email falso para capturar a senha
de acesso à plataforma da empresa. Um funcionário não se deu
conta do golpe, colocou seus dados e os bandidos conseguiram 29 mil
dados de clientes. Com isso, passaram a chantagear Benchimol, que se
recusou a pagar R$ 22 milhões em bitcoins (moeda virtual que não deixa
rastros) para se ver livre dessa ameaça. O episódio é tratado com muito
cuidado internamente, pois o erro poderia ter custado caro. Ele serviu
para aumentar os níveis de segurança de acesso ao sistema. Hoje, todos
têm um token de acesso.
A XP não comenta o assunto, apenas informa que todos os detalhes
foram enviados às autoridades para investigação da Polícia Federal, do
Ministério Público Federal e do Banco Central. Recém-formado em economia
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Benchimol passou a fazer
parte do time da corretora Investishop. Sua missão era vender uma
plataforma virtual de negociação de ações, num momento de crescente
interesse pela tecnologia. Mas o projeto não deu certo e ele foi
demitido. Benchimol se mudou para uma corretora gaúcha, mas o projeto
não vingou. Em Porto Alegre, conheceu Marcelo Maisonnave, com quem criou
a própria empresa de investimentos, que chamaram de XPTO, por total
falta de criatividade – com o tempo, decidiram cortar pela metade a
marca.
Além dos dois sócios, eles tinham dois estagiários. Um deles, porém,
decidiu trocar a startup pela segurança do salário do JP Morgan. Para
não perder metade da equipe, os sócios decidiram oferecer 10% de
participação a Ana Clara Sucolotti. A XP só conseguiu sobreviver graças à
adoção do modelo de partnership. Dessa sociedade, Ana Clara e Guilherme
engataram um namoro e depois se casaram. Ela já deixou a empresa. O
modelo inicial deu tão certo que se transformou na base de tudo o que a
XP fez dali para frente. Julio Capua, CFO do Grupo XP, foi o quarto
sócio da empresa. Para convencê-lo a entrar para o time, ofereceram uma
participação no negócio.
“Aprendemos desde cedo a dividir para crescer, pois sempre
acreditamos que o nosso sucesso dependeria de pessoas”, afirma ele.
“Desde o início nos inspiramos em alguns modelos bem sucedidos de
partnership do mercado. No começo era uma necessidade, pois não tínhamos
dinheiro para atrair executivos seniores para a empresa.” A XP, de
fato, não importa em dividir e sente que profissionais trabalham melhor
quando têm algo a perder. Mas para ser sócio não basta ter performance. A
meritocracia tem o mesmo peso que o comportamento e a cultura.
A XP quer um alinhamento horizontal e, internamente, todos afirmam
que não querem ter como sócio alguém desagradável. DINHEIRO conversou
com dois ex-funcionários que relativizam essa história. “Alguns sócios
não têm esse comportamento exemplar de dividir e ensinar. Há, sim, quem
queira atropelar o outro para ganhar participação”, afirmou um deles. “É
como acontece em todo o mercado financeiro.” Hoje, são 32 sócios com
mais de 0,5% da Holding e mais de 200 associados com participação
acionária, além dos seis sócios majoritários.
SONHO GRANDE
Os planos de sonho grande de Benchimol e
sua trupe ganharam um atalho no início de maio, quando o Itaú anunciou a
compra de 49,9% da empresa por R$ 5,7 bilhões, o que elevou o valor de
mercado para R$ 12 bilhões. A XP quadruplicou de tamanho em 12 meses. Em
abril de 2016, a General Atlantic, fundo americano de private equity,
já havia feito uma injeção de capital na empresa e adquirido a
participação do fundo inglês Actis. A operação, naquele período, avaliou
a XP em R$ 3 bilhões. Ali, o plano era alcançar os grandalhões do
mercado financeiro em 10 anos.
“O Itaú é um selo de qualidade, que nos agrega uma estrutura sólida e
consistente”, afirma Benchimol. “Antes era preciso explicar que a XP
começou em 2001, em Porto Alegre. Com o Itaú como sócio, encurtamos essa
história. Fica mais simples e mais fácil mostrar credibilidade e
convencer o cliente que somos uma empresa séria.” A assinatura do
contrato com o Itaú aconteceu um dia depois de a XP ter protocolado na
Comissão de Valores Mobiliários o prospecto para o seu lançamento
inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), na bolsa de valores. O plano
era acessar o mercado e aumentar a governança corporativa, uma
exigência que clientes mais endinheirados começaram a fazer para
acreditar na solidez da instituição financeira que vai movimentar seus
investimentos.
O interessante dessa história é que o IPO e a associação com o Itaú
caminharam juntos. Em janeiro, no início do road show para apresentar a
XP a investidores, Benchimol almoçou com Roberto Setubal, na sede do
banco. Ali, desenharam uma carta de intenções numa folha de papel
sulfite. Naquele momento, o fundador da XP colocou o Itaú como seu Plano
A, por tudo o que o banco poderia agregar à sua empresa. Mas ele não
tinha como paralisar o processo do IPO, principalmente porque era o
único que a empresa poderia controlar. Se não vingasse com o Itaú, a XP
não atrasaria os seus planos.
O mercado comenta que grandes fundos internacionais, como o Temasek,
de Singapura; o Texas Pacific Group (TPG); o chinês GAC eram potenciais
interessados em ancorar o IPO, termo utilizado no mercado para garantir
que a operação seja bem-sucedida. O Itaú, porém, interrompeu esse
processo e formalizou o que Benchimol e Setubal tinham colocado na folha
A4 naquele almoço: o Itaú tinha interesse na independência da XP e
nesse novo modelo de negócio para os investimentos, enquanto a XP
ganhava a confiança de um importante parceiro, sem abrir mão do
controle. “A XP é o maior caso de sucesso do empreendedorismo dos
últimos 30 anos”, afirmou Setubal, durante a Expert, um evento
organizado pela sua nova sócia. “A empresa está três anos à frente da
concorrência. Ela vai tirar todos os bancos da zona de conforto, como
tirou o Itaú.”