quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Marcos Cintra: Aperfeiçoando o obsoleto


 
O Deputado Luiz Carlos Hauly, relator da Comissão de Reforma Tributária na Câmara dos Deputados, tem realizado uma série de palestras para apresentar seu projeto de reforma tributária, cuja ideia central é juntar o PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS. A base de cobrança dessa unificação seria o valor adicionado em cada elo da cadeia produtiva, dando origem a um IVA (Imposto sobre Valor Adicionado) nacional.

O governo federal cogita apoiar essa proposta para promover mudanças amplas no sistema de impostos e contribuições do país, como alternativa ao seu projeto parcial que prevê unificar apenas PIS e Cofins.

O projeto do Deputado Hauly contempla um grave problema que é a elevada alíquota que o IVA teria, algo que impulsionaria fortemente a evasão de receita pública. Estima-se que ela seria de cerca de 30%. O ICMS, um IVA estadual com alíquota de 18%, é o tributo mais sonegado no país.

A alíquota do IVA federal seria um estímulo à sonegação, anomalia que já atinge, por ano, a casa de meio trilhão no Brasil e que provoca distorção na competição empresarial, uma vez que uma empresa que sonega pode prosperar, frente à outra que não consegue fazê-lo, e exige que contribuintes, como os assalariados, tenham que pagar mais tributos para compensar essa gigantesca evasão de arrecadação.

Para fazer frente ao tamanho da alíquota, a proposta Hauly prevê a criação de um novo imposto chamado de Seletivo (um excise tax) que incidiria sobre produtos de amplo espectro na cadeia produtiva e nos padrões de consumo, como energia e combustíveis. Mas isto teria como inevitável resultado o generalizado desalinhamento dos preços relativos, reduzindo significativamente a eficiência alocativa nos processos de produção e consumo do país.

O IVA nacional tem como méritos o alívio na complexidade do sistema, por conta da unificação de tributos, e o fim da guerra fiscal, uma vez que sua legislação seria federal. Mas, o projeto não resolve o maior problema tributário do país que é a evasão de receita. Muito pelo contrário, ele tende a piorar a situação. Com Imposto Seletivo ou sem ele, a alíquota do IVA se manteria alta e o sistema continuaria declaratório, burocrático.

Levar este projeto adiante seria o mero “aperfeiçoamento do obsoleto”, como afirmou Roberto Campos, em certa ocasião, ao avaliar proposta semelhante. Arrematando seu raciocínio, a solução seria caminhar na direção de um imposto único federal, mas não com base no valor adicionado, como propõe Hauly, e sim sobre movimentação financeira. No lugar de uma alíquota extremamente alta cobrada sobre um sistema declaratório, poder-se-ia aplicar uma alíquota reduzida sobre uma forma de cobrança automática que dispensa registros, declarações, guias, etc. A simplificação seria maior, acabaria a guerra fiscal e a sonegação seria combatida.

O intrigante neste tema é que o uso de um tributo sobre movimentação financeira havia sido inicialmente idealizado pelo deputado em seu relatório prévio, apresentado em fevereiro deste ano. 

Mas, lastimavelmente, ele voltou atrás em sua proposta inicial. Há várias hipóteses sobre as causas dessa reversão, mas a que me parece a mais provável é que um tributo insonegável e de largo alcance, como a movimentação financeira, fere os interesses de grupos econômicos e deflagra poderosas pressões contrárias. Os escândalos da Operação Zelotes estão a demonstrar a correção desta hipótese.


Fonte: “SP Norte”

 http://www.institutomillenium.org.br/artigos/marcos-cintra-aperfeioando-obsoleto/

Mahindra dobrará produção no Brasil


A empresa tem R$ 220 milhões para investimentos até 2022

 

Da Redação

 

redacao@amanha.com.br
Mahindra dobrará produção no Brasil


Menos de um ano depois de assumir a operação brasileira, a fabricante de tratores Mahindra tem um acelerado plano de expansão que inclui negócios em países da América Latina. O anúncio foi feito nesta terça (29) pelo diretor-geral de Operações da Mahindra Brasil, Jak Torretta (foto), em Esteio (RS). O avanço da empresa se dará em diferentes frentes. Com capacidade de montagem de 1 mil tratores por ano em Dois Irmãos (RS), a companhia projeta dobrar o volume de produção até 2022. Para isso, analisa a compra de uma fabricante de implementos ou tratores, ou mesmo a construção de uma nova fábrica. 

A empresa tem reservado US$ 70 milhões (cerca de R$ 221 millhões) para investimentos nos próximos cinco anos, valor destinado para aquisições ou construção de nova unidade e nacionalização de tratores fabricados em outros países pela marca originária da Índia.  “Estamos em negociações com municípios para a instalação de uma fábrica, mas a nossa preferência é ficar na Grande Porto Alegre. Se não montarmos mais em Dois Irmãos, deverá ficar na cidade um centro de distribuição de peças”, adiantou Torretta.  Pelo fato de a matriz da Mahindra ter 35% da fabricante de colheitadeiras Sampo Rosenlew, da Finlândia, Torretta também afirmou que está em estudo a fabricação de modelos no Brasil. “Os finlandeses estão bem interessados em razão do potencial do agronegócio brasileiro. Seriam colheitadeiras voltadas para o pequeno e médio produtor”, relatou. 

Focada na agricultura familiar – são 5 milhões de propriedades rurais no país com esse perfil –, a Mahindra tem o mercado consumidor concentrado no Sul e Sudeste. Mas está em andamento um plano para ampliar a rede de concessionárias. Atualmente são 15 pontos de venda. A projeção é chegar a 20 até o fim do ano, basicamente no Sul e Sudeste.  De acordo com a companhia, há compradores em potencial em São Paulo, Minas Gerais, sul da Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Líder mundial em volume de vendas de tratores, a indiana Mahindra está presente em mais de 100 países nos cinco continentes e conta com mais de 200 mil funcionários em todo o mundo. O Grupo Mahindra possui 34 unidades de manufatura espalhadas pelo globo. Apenas nas quatro fábricas da Índia são produzidos cerca de 250 mil tratores por ano. No total, a gigante indiana já ultrapassou a marca de 2 milhões de tratores vendidos.

 http://www.amanha.com.br/posts/view/4438

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A Fiat em cima do muro


A dois anos de se aposentar, o CEO da montadora, Sergio Marchionne, insiste em procurar um comprador para a companhia. A bola da vez é a chinesa GWM

A Fiat em cima do muro
 
 
Em 2004, quando o ítalo-canadense Sergio Marchionne assumiu o comando da Fiat, a montadora italiana estava à beira da falência. Nos anos seguintes, ele se consolidou como um nome de peso na indústria automobilística ao conduzir a companhia de volta ao lucro. Um dos destaques de sua gestão foi a fusão com a americana Chrysler, que deu origem à FCA, dona de um faturamento de € 111 bilhões de euros em 2016. No mesmo ano, a Fiat figurou entre as 50 maiores empresas do Brasil no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO.

Aos 65 anos, Marchionne tem uma última meta antes de se aposentar, em 2019: deixar a FCA bem posicionada em um cenário de consolidação do setor, que ele classifica como inevitável diante da demanda crescente pelo desenvolvimento de tecnologias como os carros elétricos e autônomos. Depois de tentativas frustradas de aproximação com a alemã Volkswagen e a americana General Motors, essa busca por alternativas parece ter ganhado uma nova opção. No dia 14, as ações da FCA chegaram a subir 8,3% com os rumores sobre a sondagem de empresas chinesas para adquirir o grupo.
Fusão à vista: para Marchionne, CEO da FCA, a consolidação na indústria automotiva é inevitável (Crédito:Chris Helgren / Reuters)
Na segunda-feira 21, esse interesse ganhou um nome, literalmente, dentro da Grande Muralha. Em comunicado, a chinesa Great Wall Motor (GWM) confirmou que vem avaliando uma oferta pela FCA, sem especificar, no entanto, se uma eventual proposta incluiria toda a operação, cujo valor de mercado é de US$ 22,7 bilhões, ou parte dos ativos do grupo. No setor, porém, são fortes as especulações que o foco de uma investida estaria restrito à marca Jeep. À parte das especulações, a Fiat informou que não foi procurada pela GWM.

Para analistas, a aquisição da Jeep se encaixaria perfeitamente na estratégia da GWM para ganhar escala no mercado global. Em seu país, a companhia é uma das principais fabricantes de SUVs e picapes. “A Jeep é uma marca forte e não há muitas opções de ativos à disposição para que os chineses entrem nesse jogo global”, diz o executivo de uma consultoria automotiva com atuação no mercado chinês, que já foi procurada pela GWM para uma análise da FCA. “E eles têm o governo chinês como acionista. Capital não é problema para os chineses.” Contudo, sob o ponto de vista da FCA, uma eventual venda do ativo é vista com ceticismo por parte do mercado.

Alguns fatores contribuem para essa visão. As mais de 1,4 milhão de unidades vendidas da marca em 2016 representaram o quinto ano consecutivo de recordes da Jeep, classificada por alguns especialistas como a “joia da coroa” no portfólio do grupo. Em julho, Adam Jonas, analista do Morgan Stanley chegou a apontar em relatório que, sozinha, a marca valeria mais do que o restante da FCA. Outra possível barreira para um acordo seria a declarada rejeição de Donald Trump às aquisições de ativos dos Estados Unidos por companhias chinesas. A possibilidade de um símbolo americano como a Jeep seguir esse caminho fatalmente seria alvo de uma forte resistência por parte do político.

Sob esse cenário, Rodrigo Custódio, analista da consultoria Roland Berger, entende que, um caminho mais provável para a concretização de um acordo seria o modelo já adotado por outras montadoras chinesas. Em 2013, por exemplo, a Dongfeng investiu cerca de € 800 milhões na compra de 14% da francesa PSA. A cifra ajudou o grupo francês, dono da Peugeot e da Citroën, que estava próximo da falência. “Uma parceria nesses moldes faria mais sentido”, diz Custódio. “A FCA teria uma injeção de capital importante. E a GWM teria um caminho mais fácil para ganhar escala global.”


Tribunal derruba prazo para requerer seguro-desemprego




 Reforma trabalhista – Trabalhador – Trabalho: Carteiras de trabalho de candidatos a vagas de emprego Temporário – 02/06/2017

 Carteiras de trabalho de candidatos a vagas de emprego Temporário



O Ministério Público Federal (MPF) informou nesta segunda-feira que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou, por unanimidade, o recurso da União e manteve a sentença de primeira instância que considera ilegal os prazos estabelecidos para a solicitação do seguro-desemprego. A decisão vale para todo o Brasil.

As requisições do benefício eram indeferidas em casos protocolados após 120 contados da rescisão do contrato de trabalho e 90 dias contados do resgate do trabalhador da situação análoga à de escravo.

A ação foi ajuizada pelo Ministério Público em 2014, na 4ª Vara Federal de Porto Alegre. O órgão diz considerar ilegal “o estabelecimento dos prazos porque a lei do seguro-desemprego nunca instituiu tais limites”.

A União, então, entrou com recurso, que foi negado pelo TRF4. Ainda cabe recurso. Procurado, o Ministério do Trabalho, que estabelece os prazos, não se posicionou até a publicação desta nota.

TLP terá atuação direta nos juros estruturais no País, diz diretor indicado do BC

Resultado de imagem para fotos  da fachada do BNDES


O diretor indicado para a área de Administração do Banco Central, Maurício Costa de Moura, afirmou nesta terça-feira, 29, durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que a Taxa de Longo Prazo (TLP) terá atuação direta nos juros estruturais no País. “A melhoria da eficiência alocativa dos juros tende a reduzir os juros estruturais”, disse. “Enxergamos na TLP um avanço estrutural importante no ambiente de negócios. A TLP reduz subsídios implícitos, e os subsídios terão que ser concedidos de forma transparente”, acrescentou. 

Durante a sabatina, ele afirmou ainda que a medida provisória 784, que estabelece novo marco punitivo para as instituições reguladas, permitirá que o BC esteja pronto para enfrentar os desafios futuros. “Qualquer indício de crime que chegue ao BC, temos obrigação legal de comunicar ao Ministério Público”, acrescentou, ao ser questionado por senadores sobre a possibilidade de a MP 784 prejudicar os trabalhos do Ministério Público na área penal. 


Política Monetária


O diretor indicado afirmou ainda, ao defender a atuação do Comitê de Política Monetária (Copom), que a política monetária no Brasil segue o que a “boa norma” e a academia dizem. Em outro momento da sabatina, ele afirmou que o cadastro positivo, defendido pelo BC e pelo próprio governo, representa uma evolução para o crédito no Brasil, que está sendo discutida agora.

Vinho estimula mais o cérebro do que música ou matemática


Cientista defende que a bebida é fortemente dependente das memórias e emoções

 

Por Marcos Graciani

 

graciani@amanha.com.br
Vinho estimula mais o cérebro do que música ou matemática, revela estudo


Um copo de vinho, quem diria, também pode ser um excelente exercício para o cérebro. Esta é a tese do neurocientista Gordon Shepherd, da Faculdade de Medicina de Yale, nos Estados Unidos. Ele afirma que beber vinho desperta reações tanto nas partes sensoriais como emocionais do cérebro. No seu livro “Neuroenology: How the Brain Creates the Taste of Wine”, o especialista criou o termo "neurogastronomia" para descrever o estudo de como o cérebro cria a sensação de sabor. No mesmo livro, Shepherd defende que o gosto é apenas uma ilusão, produzida pelos nossos sentidos e emoções que posteriormente irá traduzir a percepção que temos dos alimentos e bebidas.

"O sabor não está no vinho. O sabor é criado pelo cérebro de quem o ingere num processo que implica o movimento do vinho através da boca e do ar infundido pelo álcool através do nariz, fazendo com que o cérebro formule o sabor. A parte mais importante desta ativação do cérebro está no momento em que expiramos o ar infundido com o aroma que cheiramos”, explicou ao jornal britânico Daily Mail. 

O cérebro constrói uma imagem das cores através de informações que os olhos retiram de como a luz atinge os objetos em volta. "As moléculas do vinho não têm sabor nem cheiro, mas quando estimulam os nossos cérebros, é criado o sabor da mesma forma que cria a cor", afirmou o especialista à Rádio National Public. O neurocientista crê que o vinho é fortemente dependente das nossas memórias e emoções, conclui, então, que beber vinho estimula mais o cérebro que ouvir música ou resolver uma equação matemática.

100 bilhões de motivos para sorrir


A XP Investimentos bate recordes de ativos sob custódia e de captação, prepara o lançamento de um banco e projeta se transformar na maior casa de investimentos do Brasil em cinco anos. Para que isso aconteça, terá de superar as maiores instituições financeiras e seu novo sócio, o Itaú

Crédito: Gabriel Reis
1. Carlos Ferreira, head de renda variável / 2. Julio Capua, CFO / 3. Daniel Lemos, COO e head de produtos / 4. Guilherme Benchimol, fundador e CEO / 5. Gabriel Leal, head comercial e de relacionamento com clientes / 6. Fernando Vasconcellos, head de marketing (Crédito: Gabriel Reis)



No próximo dia 30 de agosto, Guilherme Benchimol, fundador e CEO da XP Investimentos, estará em Chamonix, nos Alpes franceses, para dar início a uma longa jornada de 120 quilômetros. Ele terá até 34 horas para cumprir o percurso e vencer uma elevação aproximada de 7,2 mil metros de altitude. Se conseguir completar a Ultra-Trail du Mont-Blanc, Benchimol terá superado a barreira centenária pela segunda vez em poucos dias. A primeira, alcançada no dia 15, não foi um feito exclusivo do ultramaratonista, embora a escalada também tenha sido íngreme.

A empresa independente de investimentos, criada por ele em 2001, numa pequena sala de Porto Alegre, bateu a marca de R$ 100 bilhões sob custódia em ações, fundos, seguros, previdência, renda fixa, tesouro direto e investimentos no exterior. Há sete anos, a companhia tinha um centésimo desse valor. No final deste ano, a projeção indica que a XP chegará a R$ 130 bilhões, um volume possível pelos recordes mensais de captação. Em agosto, a casa deve atrair R$ 5 bilhões de novos recursos. “O que a gente tinha sob custódia em todo o ano de 2010 a gente capta, agora, em poucos dias”, diz Benchimol (leia entrevista aqui).

Tanto apetite por recordes tem uma justificativa. Em cinco anos, a XP quer se tornar a maior casa de investimentos do Brasil, superando Banco do Brasil, Itaú e Bradesco. Esses três principais bancos comerciais do País concentram mais da metade dos R$ 3,3 trilhões em investimentos de cerca de 30 milhões de brasileiros. Para superar esses bancões, a XP terá de multiplicar por, pelo menos, nove vezes o seu volume atual sob custódia. Para alcançar os R$ 900 bilhões, Benchimol acredita em dois pilares: qualidade na prestação de serviço e oferta de bons produtos. O primeiro ponto é seu exército de agentes autônomos de investimento, que são os especialistas responsáveis por convencer uma pessoa comum a trocar o tradicional relacionamento com o banco pela XP.




Onde tudo começou: no início, a XP oferecia cursos para quem se interessava em aprender a investir na bolsa de valores. Só em 2007 a empresa se tornou uma corretora (Crédito:Divulgação)


“Não é criar mercado, é convencê-lo de que investir com a gente é incomparavelmente melhor do que em qualquer outro banco comercial do Brasil”, diz Benchimol. Na visão da empresa, os investimentos precisam ser tratados como a saúde: um especialista é muito mais preciso que um clínico geral. Há cinco anos, a XP tinha pouco mais de 880 agentes autônomos, número que está próximo de 2,4 mil. Daqui a três anos, o objetivo é ter 10 mil. Cabe a esses “soldados” mostrar que um fundo com características idênticas na XP e num grande banco, por exemplo, tem retornos distintos.

Ainda há centenas de fundos DI que cobram taxas de administração perto de 3% ao ano. A XP tem um produto com características semelhantes a 0,3%. “Sempre tivemos metas audaciosas por acreditar que existe uma oportunidade muito grande no Brasil de oferecer um serviço diferente para investimentos”, afirma Gabriel Leal, head comercial e de relacionamento com cliente do Grupo XP. A solução foi ofertar fundos de terceiros. “Até pouco tempo atrás, os bancos rejeitavam conceitos como assessoria de investimentos ou plataforma aberta. Hoje, o jogo virou”, complementa Fernando Vasconcellos, head de marketing.

O segundo pilar de Benchimol é a oferta de produtos. Sua prateleira tem mais de 25 emissores de renda fixa e oferece mais de 400 fundos de investimento, como os da Verde Asset, Adam Capital, Garde Asset e AZ Quest (os fundos são responsáveis por metade da captação da XP). A Verde Asset Management, por exemplo, do badalado gestor Luis Stuhlberger, detém R$ 32 bilhões sob gestão e não é acessível a todo tipo de investidor, por exigir um valor alto para aplicação. Em abril, a XP passou a distribuir um desses fundos, com tíquete de R$ 50 mil. “A XP tem sido mais rápida e aproveitado as oportunidades de mercado, como as debêntures de infraestrutura, em 2012, e a oferta de CDB”, diz Daniel Lemos, Chief Operating Officer e head de produtos do Grupo XP. “Cada vez tem mais concorrência e a velocidade de acompanhar o nosso movimento tende a diminuir.”




Novo sócio: Roberto Setubal, co-presidente do Conselho do Itaú: “A empresa está três anos à frente da concorrência. Ela vai tirar todos os bancos da zona de conforto, como tirou o Itaú” (Crédito:Felipe Gabriel)
Dentro dessa oferta de plataforma aberta, cabe até um banco. É isso o que eles querem mostrar ao mercado, assim que o Banco Central emitir a autorização para o funcionamento do Banco XP. O processo está em análise há mais de um ano pela autoridade monetária e a expectativa é que consiga entrar em atividade no primeiro semestre de 2018. A diferença do banco da XP é que ele será uma marca ao lado das outras e não a principal atividade. Como será isso? Um cliente poderá fazer todos os tipos de operações financeiras com a XP, mas a conta corrente, o cartão de crédito e o financiamento não serão as principais. O modelo é inspirado na gigante americana Charles Schwab, criada no início da década de 1970, em São Francisco, como uma corretora de valores.

A Schwab, que hoje tem US$ 3,1 trilhões sob custódia, mexeu com a estabilidade de tradicionais casas, como o Merrill Lynch, ao cortar drasticamente as taxas dos investidores. Ao longo do tempo, foi uma das pioneiras na negociação online de ações e ampliou a oferta de aplicações aos clientes, como fundos de investimento e títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Assim como a XP quer oferecer produtos bancários, a Schwab tem essa possibilidade entre seus serviços, num total de 1,2 milhão de contas. Mas o modelo americano foi colocado à prova quando a Schwab saiu às compras após o estouro da bolha da internet, em 2000, e adquiriu o private bank US Trust e o banco de investimentos Soudview. A diversificação afastou a empresa daquilo que a diferenciou do mercado. A XP quase caiu nessa mesma tentação.

No início do ano passado, quando o Citigroup anunciou a intenção de vender a operação de varejo do Citi no Brasil, a XP apareceu como um potencial interessado. O mercado comenta que a avaliação da XP foi muito séria, inclusive envolvendo seus investidores estrangeiros, que poderiam fazer o aporte de capital. Mas, além da entrada de competidores como Santander e Itaú (que arrematou o banco por R$ 710 milhões), os sócios da XP avaliaram que não queriam ser vistos nem como banqueiros nem como vorazes compradores de um ativo pouco estratégico. “O Guilherme tem uma obsessão por novos projetos, por tentar e errar”, diz um ex-sócio, que deixou a empresa em 2012. “Mas uma de suas características é começar pequeno e não perder o controle.”

Durante um ano e meio, Benchimol viveu um dos poucos momentos em que ele se tornou um passageiro da agonia. Um fantasma passou a ameaçá-lo após a XP ter sido vítima de roubo de informações confidenciais. Uma quadrilha montou um email falso para capturar a senha de acesso à plataforma da empresa. Um funcionário não se deu conta do golpe, colocou seus dados e os bandidos conseguiram 29 mil dados de clientes. Com isso, passaram a chantagear Benchimol, que se recusou a pagar R$ 22 milhões em bitcoins (moeda virtual que não deixa rastros) para se ver livre dessa ameaça. O episódio é tratado com muito cuidado internamente, pois o erro poderia ter custado caro. Ele serviu para aumentar os níveis de segurança de acesso ao sistema. Hoje, todos têm um token de acesso.



Painel de controle: o grupo XP mantém três marcas para o investidor que quer acessar a bolsa de valores, a própria XP, a Rico e a Clear Corretora (foto) (Crédito:Leonardo Rodrigues / Valor / Agência O Globo)
 
A XP não comenta o assunto, apenas informa que todos os detalhes foram enviados às autoridades para investigação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e do Banco Central. Recém-formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Benchimol passou a fazer parte do time da corretora Investishop. Sua missão era vender uma plataforma virtual de negociação de ações, num momento de crescente interesse pela tecnologia. Mas o projeto não deu certo e ele foi demitido. Benchimol se mudou para uma corretora gaúcha, mas o projeto não vingou. Em Porto Alegre, conheceu Marcelo Maisonnave, com quem criou a própria empresa de investimentos, que chamaram de XPTO, por total falta de criatividade – com o tempo, decidiram cortar pela metade a marca.

Além dos dois sócios, eles tinham dois estagiários. Um deles, porém, decidiu trocar a startup pela segurança do salário do JP Morgan. Para não perder metade da equipe, os sócios decidiram oferecer 10% de participação a Ana Clara Sucolotti. A XP só conseguiu sobreviver graças à adoção do modelo de partnership. Dessa sociedade, Ana Clara e Guilherme engataram um namoro e depois se casaram. Ela já deixou a empresa. O modelo inicial deu tão certo que se transformou na base de tudo o que a XP fez dali para frente. Julio Capua, CFO do Grupo XP, foi o quarto sócio da empresa. Para convencê-lo a entrar para o time, ofereceram uma participação no negócio.

“Aprendemos desde cedo a dividir para crescer, pois sempre acreditamos que o nosso sucesso dependeria de pessoas”, afirma ele. “Desde o início nos inspiramos em alguns modelos bem sucedidos de partnership do mercado. No começo era uma necessidade, pois não tínhamos dinheiro para atrair executivos seniores para a empresa.” A XP, de fato, não importa em dividir e sente que profissionais trabalham melhor quando têm algo a perder. Mas para ser sócio não basta ter performance. A meritocracia tem o mesmo peso que o comportamento e a cultura.




Espelho meu: a corretora Schwab é o modelo perseguido pela XP. Na década de 70, a americana inovou no mercado de investimentos dos EUA ao oferecer uma alternativa de produtos e taxas mais acessíveis (Crédito:Divulgação)
 
A XP quer um alinhamento horizontal e, internamente, todos afirmam que não querem ter como sócio alguém desagradável. DINHEIRO conversou com dois ex-funcionários que relativizam essa história. “Alguns sócios não têm esse comportamento exemplar de dividir e ensinar. Há, sim, quem queira atropelar o outro para ganhar participação”, afirmou um deles. “É como acontece em todo o mercado financeiro.” Hoje, são 32 sócios com mais de 0,5% da Holding e mais de 200 associados com participação acionária, além dos seis sócios majoritários.


SONHO GRANDE 


Os planos de sonho grande de Benchimol e sua trupe ganharam um atalho no início de maio, quando o Itaú anunciou a compra de 49,9% da empresa por R$ 5,7 bilhões, o que elevou o valor de mercado para R$ 12 bilhões. A XP quadruplicou de tamanho em 12 meses. Em abril de 2016, a General Atlantic, fundo americano de private equity, já havia feito uma injeção de capital na empresa e adquirido a participação do fundo inglês Actis. A operação, naquele período, avaliou a XP em R$ 3 bilhões. Ali, o plano era alcançar os grandalhões do mercado financeiro em 10 anos.

“O Itaú é um selo de qualidade, que nos agrega uma estrutura sólida e consistente”, afirma Benchimol. “Antes era preciso explicar que a XP começou em 2001, em Porto Alegre. Com o Itaú como sócio, encurtamos essa história. Fica mais simples e mais fácil mostrar credibilidade e convencer o cliente que somos uma empresa séria.” A assinatura do contrato com o Itaú aconteceu um dia depois de a XP ter protocolado na Comissão de Valores Mobiliários o prospecto para o seu lançamento inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), na bolsa de valores. O plano era acessar o mercado e aumentar a governança corporativa, uma exigência que clientes mais endinheirados começaram a fazer para acreditar na solidez da instituição financeira que vai movimentar seus investimentos.

O interessante dessa história é que o IPO e a associação com o Itaú caminharam juntos. Em janeiro, no início do road show para apresentar a XP a investidores, Benchimol almoçou com Roberto Setubal, na sede do banco. Ali, desenharam uma carta de intenções numa folha de papel sulfite. Naquele momento, o fundador da XP colocou o Itaú como seu Plano A, por tudo o que o banco poderia agregar à sua empresa. Mas ele não tinha como paralisar o processo do IPO, principalmente porque era o único que a empresa poderia controlar. Se não vingasse com o Itaú, a XP não atrasaria os seus planos.


O mercado comenta que grandes fundos internacionais, como o Temasek, de Singapura; o Texas Pacific Group (TPG); o chinês GAC eram potenciais interessados em ancorar o IPO, termo utilizado no mercado para garantir que a operação seja bem-sucedida. O Itaú, porém, interrompeu esse processo e formalizou o que Benchimol e Setubal tinham colocado na folha A4 naquele almoço: o Itaú tinha interesse na independência da XP e nesse novo modelo de negócio para os investimentos, enquanto a XP ganhava a confiança de um importante parceiro, sem abrir mão do controle. “A XP é o maior caso de sucesso do empreendedorismo dos últimos 30 anos”, afirmou Setubal, durante a Expert, um evento organizado pela sua nova sócia. “A empresa está três anos à frente da concorrência. Ela vai tirar todos os bancos da zona de conforto, como tirou o Itaú.”