terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Native quer disseminar sua revolução


 ‘Não quero ser produtor de grãos, quero que os produtores de grãos migrem para uma agricultura sustentável de verdade’, diz o empresário Leontino Balbo



“Deixa eu te dizer como funciona: aqui é a sala da doutrinação”. Leontino Balbo apaga a luz, se acomoda à mesa diante de seu laptop e projeta o primeiro das dezenas de slides que viriam a seguir para recontar 30 anos de história da Native, marca líder de açúcar orgânico no mundo, e que começa agora a olhar para além da cana.

“Aqui já sentaram presidentes de multinacionais, secretários e ministros. Em geral, eles ficam dois dias para entender direito o trabalho que a gente faz”. Ao Valor, ele falou por sete horas e meia, desconsiderando a pausa do almoço.

As longas explanações ancoradas em power-point fazem parte da estratégia que o usineiro brasileiro chama de marketing realista, o antídoto do “greenwashing”.

Crítico contumaz de empresas que pregam a sustentabilidade “da boca para fora”, ele dedica tempo aos porquês que ajudam a explicar como seus canaviais no interior paulista tornaram-se um modelo de produção limpa e levaram a Native à liderança global em produção e exportação de açúcar orgânico.

Estatísticas, inventários, fotos, estudos, gráficos, tudo está nesses slides (já são mais de mil). A Native tem apresentações específicas para cada perfil de seus 64 países compradores. Para os alemães, dados de recuperação de fauna são preciosos. Japoneses, obcecados por assepsia, preferem informações sobre a fabricação e limpeza de produto.

O pano de fundo comum a todas, no entanto, são os resultados operacionais: uma produtividade 25% maior que a média dos canaviais paulistas e seis cortes por ciclo, contra quatro nos plantios convencionais. E sem a necessidade de aplicação de uma molécula química na planta ou no solo.

“Nós estamos quebrando paradigmas”, diz Leontino, frisando o tempo verbal no gerúndio porque, diante da viabilidade da produção sustentável na cana, ele deu início a experimentos em lavouras de soja e milho sem defensivos e adubos químicos, com resultados “que irão incomodar muita gente”.

Em um episódio inédito em 2016/17, a Native semeou 30 hectares de soja e milho. O plano não é diversificar, mas endossar que o manejo correto, com ênfase na autonomia da natureza, pode ser estendido a qualquer cultura.

Segundo Leontino, o rendimento inicial na soja foi de 3.840 kg por hectare (na média nacional, a Companhia Nacional de Abastecimento estima para esta safra 3.156 kg). No milho, 7.200 kg por hectare (contra 5.405 kg na média do país). A colheita foi vendida para a alimentação de aves da Korin e da Fazenda da Toca, de Pedro Paulo Diniz, voltadas ao mercado de ovos sem antibióticos e orgânico.

“Fomos bem-sucedidos, mas há muito o que aprendermos sobre manejo orgânico destas culturas”, afirma Leontino. Ele repete: “Não quero ser produtor de grãos. Quero que os produtores de grãos migrem para uma agricultura sustentável de verdade”, enfatiza.

“Tenho sido procurado por grandes grupos agropecuários do Centro-Oeste que acham que poderão ter problemas no futuro se continuarem produzindo da forma convencional intensificada”. Questionado, não revela nomes.

Leontino é o principal executivo e a alma da Native, do Grupo Balbo, criado em 1956 pela família de imigrantes italianos em Sertãozinho. Com faturamento de R$ 298 milhões em 2017/18 (31% superior ao anterior), a marca já representa um terço da receita total da companhia de açúcar e álcool, graças ao prêmio que praticamente dobra o preço do adoçante orgânico.

Guardada toda a volatilidade deste mercado, o produto orgânico vale atualmente US$ 600,00 a tonelada para exportação. Já bateu nos US$ 800,00, quando a demanda superou a oferta, diz William Hernandes, sócio da consultoria FG/A. À tonelada convencional paga-se US$ 300. No varejo brasileiro, as políticas de margem encarecem ainda mais o orgânico, não raro, três vezes o valor do convencional.

“A Native se consolidou como a maior empresa em produção de açúcar orgânico do Brasil e, portanto, do mundo”, diz o analista.

No ciclo atual, que se encerra em março, a Native produziu 87.000 toneladas de açúcar orgânico.

Como no mercado convencional, a maior parte, neste caso, 64.000 toneladas, segue para o exterior. 

Isso garante à empresa participação de 31% no consumo global de açúcar orgânico, de 280.000 toneladas.

Segundo a FG/A, apenas duas outras usinas entraram e ficaram no segmento de nicho: Jales Machado, com 70.000 toneladas e quase 20% do mercado global, e Goiasa, com 35.000 a 40.000 toneladas e participação estimada de 10%.

Há três anos, a Native iniciou investimentos de R$ 43 milhões para expandir a capacidade de sua usina. A meta é finalizar esse processo em 2019 e atingir uma produção de 140.000 toneladas de açúcar.

“O orgânico representa só 0,16% do mercado mundial de 178 milhões de toneladas de açúcar de cana e beterraba. Nem arranha. É ruim por ser um mercado pequeno, e ótimo por ter tudo isso para substituir”, afirma Leontino, deslizando rapidamente o cursor até chegar à tela do começo da história.

Nascido e criado na Usina São Francisco, onde a produção de açúcar orgânico está concentrada, Leontino alçou a Native à primeira posição com um misto de subversão (palavras suas) e rompimento com o status quo do campo.

“A agricultura hoje não atende a uma agenda social, mas a uma agenda corporativa. É para atender à necessidade de remuneração do capital dos acionistas. As multinacionais sabem que não precisa de 80% (do que elas vendem ou prescrevem para o produtor). Eu entro hoje em qualquer fazenda do Brasil e diminuo em 50%, de cara, o uso de produto químico e elevo a produtividade em 10%. E depois podemos pensar em tirar tudo”.

Curiosamente, não foi o modo de produção orgânico, apesar de certificá-lo como tal, que garantiu viabilidade ao açúcar Native. Desde meados dos anos 80, o usineiro trabalha em uma metodologia científica intitulada “Agricultura Revitalizadora de Ecossistema”.

Mais conhecidoi como ERA, a sigla em inglês para ajudar na doutrinação de clientes estrangeiros, o sistema desenvolvido por Leontino gera, segundo ele, resultados melhores a custos menores. Mais: ele viabiliza a produção sustentável em larga escala, algo ainda difícil para a concorrência orgânica.

“Em pequena e média escala, até 60, 100 hectares, esterco de vaca funciona. Os produtos são saudáveis, a produtividade é ótima, é certificável. Mas passou daí, a produtividade cai e não sustenta mais”.

O ERA parte do pressuposto de que a natureza é autorregulável. Para ele, a discussão vai muito além de usar defensivo. Ao contrário da grande indústria, a Native preza seus micro e macroorganismos. Não existem pragas – mas situações de descontroles de determinada população, derivadas de algum desequilíbrio que precisa ser reencontrado.

Formado em agronomia pela Unesp, Leontino teve a primeira grande reflexão ainda na faculdade. A meia dúzia de filhos de produtores, como ele, já tinha o futuro determinado ao negócio familiar. Os 84 restantes da classe de 90 trabalhariam na indústria química.

“Na faculdade, nós estudamos germinação, fisiologia, reprodução, tudo relacionado à vida. Aí saímos e vamos trabalhar 100% para a morte. Plantas e bichos viram pragas. Isso me chocou. O Estado gasta uma média de R$ 8.000,00 a R$ 9.000,00 por mês para formar um cara que vai sair dali como um vendedor especializado em agrotóxico”.

Como previsto, Leontino começou a trabalhar na usina em 1984. Passou dois anos aperfeiçoando a parte operacional. Ganhou a confiança do pai e dos cinco tios no comando da empresa, até de Alcides, o mais duro de dobrar. Com o moral em alta, virou-se para a família e sugeriu “mexer nas coisas”.

A primeira grande mudança foi o desenvolvimento de máquinas para pôr fim à queima do canavial. Os embates com o Ministério Público já eram frequentes no setor.

Então, Leontino passou a sonhar alto. Não queria fazer produção intensiva e sabia que o orgânico não daria escala à usina. “Entrei no mato para encontrar respostas”. Voltou-se a Goethe, Heigel, à “Evolução Criadora” de Bergson. Com o filósofo alemão Edmundo Husserl aprendeu que a experiência é a fonte do conhecimento e esmerou-se na fenomenologia.

“Eu percebi que todas as iniciativas que eu tinha deflagrado até então eram mera adaptação de tecnologia de cana queimada para a crua”.

Ele discorre sobre a teoria da trofobiose, uma de suas paixões: adubada por meios naturais, a planta tem a sua fisiologia direcionada para a construção de proteínas e moléculas tão complexas que tornam seus tecidos não digeríveis por bactéria, fungo e inseto.

Com a soja foi assim. Leontino diz que apareceram apenas quatro helicoverpas – o maior temor dos sojicultores, na lavoura – mortas. “Coloco a planta num estágio fisiológico tal que a lagarta começa a comer e morre. A própria planta mata a praga. É a natureza que faz isso. Eu só ajudo dando o conforto necessário para as plantas mostrarem o seu potencial”. Ele fala alto, como quem quer ser escutado.


Contexto


O açúcar da marca Native chegou ao mercado apenas em 2000. Até então, a companhia vendia o adoçante apenas a granel. Mais de 200 opções de nome foram postas à mesa. A escolha seria por algo internacional e de fácil compreensão.

Ao fim, ‘Native’ revelou-se global demais: a companhia pagou em 2016 quase R$ 1 milhão a advogados em disputas pela propriedade intelectual da marca. Desde a sua criação, a empresa expandiu o portfólio com a marca para 130 produtos, entre sucos, café, bolachas e cereais orgânicos.

Uma equipe interna monitora os mais de 100 fornecedores no país, da matéria-prima à produção. Ainda dependente das vendas no grande varejo, a Native planeja voltar a investir em sua plataforma de e-coomerce, criada há quatro anos e colocada em banho maria 

(Assessoria de Comunicação, 5/2/18)



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Quem vai levar o Walmart?


Maior varejista do mundo, a rede americana busca um sócio para a sua operação no Brasil. Saiba quem está no páreo

 

Quem vai levar o Walmart?
Desde que desembarcou no Brasil, em 1995, a rede americana Walmart alterna fases de investimentos pesados em expansão com momentos de indefinição, fechamentos de lojas e seguidos resultados deficitários, especialmente nos últimos anos. No início de dezembro, esse histórico de contrastes foi reforçado. O grupo anunciou um aporte local de R$ 1,5 bilhão, a integração de suas lojas offline e online e, ao mesmo tempo, passou a conviver com os rumores de que iria deixar o País, conforme antecipou a coluna MOEDA FORTE, do redator-chefe Carlos Sambrana, no portal da DINHEIRO, em dezembro de 2017. Na semana passada, as dúvidas em relação ao futuro da companhia no mercado brasileiro vieram novamente à tona, com as especulações de que a empresa está buscando um sócio para tocar a operação.

A relação de potenciais interessados no ativo estaria restrita a um grupo de fundos americanos de private equity. Um dos nomes que desponta nas negociações com o Walmart é o Advent. Com assessoria do Goldman Sachs, a lista também inclui os fundos Catterton, Carlyle, General Atlantic, GP Investments e Acon. Procurado, o Walmart afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não comenta especulações. O mesmo direcionamento foi adotado por todas as outras companhias citadas.
Alternativa: para analistas, a busca por um sócio no País vai ao encontro da decisão do CEO Doug McMillon de priorizar, neste momento, a reinvenção da gigante varejista no mercado americano (Crédito:Divulgação)
 
Conforme apurou a DINHEIRO, as conversas mantidas pelo Walmart ainda são muito preliminares. A fatia que a companhia está disposta a oferecer ainda não está definida. A expectativa dos analistas é que a empresa venda uma participação minoritária para manter o controle do negócio. Seja qual o formato, os especialistas apontam os fundos para os quais um eventual acordo faria mais sentido. O Catterton é um desses nomes, pelo fato de ter em seu portfólio marcas Premium, como a rede varejista brasileira St. Marche. “É uma marca complementar, com um público e formatos distintos ao do Walmart, o que ajudaria a rede a fortalecer sua presença em todo o varejo alimentar”, diz Douglas Carvalho, sócio-fundador da consultoria Target Advisor.
O Advent é mais um forte candidato. Com um histórico de aportes em marcas como a Restoque, o fundo acumulou conhecimento sobre o varejo brasileiro e seria um bom parceiro para oxigenar a gestão do Walmart no Brasil. Entre os desafios da operação da rede americana, os especialistas apontam a lentidão para unificar os canais online e offline e para integrar as aquisições realizadas no País. “A grande questão é se os recursos injetados em um acordo vão ficar por aqui ou na matriz”, diz Eduardo Yamashita, diretor do Grupo Gouvêa de Souza.

Mesmo com um faturamento no Brasil de R$ 29,4 bilhões em 2016, último ano em que a rede divulgou dados locais, a subsidiária tem dificuldade para fazer frente ao Carrefour e ao Grupo Pão de Açúcar, líderes do varejo alimentar no País. “A operação dá prejuízo há muitos anos. No Brasil, O Walmart patina, patina e não sai do lugar”, afirmou um ex-alto executivo do Walmart, em entrevista recente à DINHEIRO. Os analistas destacam ainda que a gigante americana, sob o comando do CEO Doug McMillon, está concentrando suas forças no mercado americano, onde tem conquistado bons avanços, especialmente em inovações e no campo digital. Nesse contexto, a busca por um sócio seria, no momento, a melhor alternativa para o Walmart ganhar fôlego e tempo para se reestruturar no Brasil, sem maiores riscos. “E, lá na frente, caso a operação esteja redonda, as opções são diversas”, diz Yamashita, do Gouvêa de Souza. “Eles podem recomprar sua fatia. Ou mesmo vender um ativo muito mais valorizado.”


https://www.istoedinheiro.com.br/quem-vai-levar-o-walmart/  

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

A marca brasileira que ganhou o mundo

 

A grife alagoana Martha Medeiros conquista famosos com sua renda artesanal e DNA de sustentabilidade

 


Estrelas aprovam: Acima, a atriz Sofia Vergara (1), a top model Izabel Goulart (2) e a cantora Ivete Sangalo (3), que usaram os vestidos da grife em ocasiões de grande visibilidade, como no encerramento da Copa do Mundo de 2014 (Crédito:Divulgação)
Há algo em comum nos guarda-roupas de celebridades como a cantora Beyoncé, as atrizes Jessica Alba e Patricia Arquette, a modelo colombiana Sofia Vergara e a cantora brasileira Ivete Sangalo: todas vestem as roupas da alagoana Martha Medeiros, que ganhou fama por suas rendas artesanais e hoje exporta para 35 países. Nos Estados Unidos, por exemplo, é revendida na Bergdorf Goodman, famosa loja de departamento de luxo de Nova York. Os negócios ganharam ainda mais holofotes depois que Sangalo apareceu com um vestido da marca no encerramento da Copa de 2014 e Vergara, uma das mais bem-pagas de Hollywood, ligou pessoalmente para Martha pedindo um vestido para o seu casamento, em 2015. Um modelo com sua etiqueta pode custar mais de R$ 50 mil. São cinco lojas próprias em áreas nobres em Maceió, São Paulo, na badalada Trancoso e, desde o ano passado, em Melrose Place, reduto dos principais nomes mundiais da moda em Los Angeles. “A meta é abrir a próxima em Nova York”, disse Martha, em entrevista à DINHEIRO.
Martha Medeiros: “Não acredito em nada que seja só para ganhar dinheiro sem mudar a vida das pessoas” (Crédito:Divulgação)
Tão notória quanto os números da marca é a trajetória da própria fundadora. A designer, que começou na moda ainda criança fazendo roupas para bonecas e as vendendo em um centro de artesanato em Maceió, abriu sua primeira loja na década de 80, na época um negócio multimarcas. Ao longo dos anos, fez faculdade e aperfeiçoou seus conhecimentos em moda e elegeu a renda sua matéria-prima predileta, sempre aliada a tecidos nobres e locais, como algodão 100% nacional. O passo seguinte foi criar peças por conta própria, “que sempre esgotavam rapidamente na loja”, conta. Foi a deixa para criar a marca que leva seu nome, há nove anos. “Eu vendia em feira, trabalhava como sacoleira, mas tinha a ideia fixa de tirar a cara de toalha de mesa da renda brasileira e fazer luxo com ela. Consegui”, orgulha-se.

Sem revelar o faturamento, o CEO da grife, Gélio Medeiros, que também é filho da estilista, afirma que o ritmo das vendas tem crescido 30% ao ano, em média. “É um resultado excelente em um cenário de turbulências econômicas”, afirma. “Até em Los Angeles o balanço do primeiro ano de funcionamento da loja foi acima das expectativas. Tivemos um retorno que esperávamos somente em dois ou três anos”, diz ele. Segundo Martha, seu filho foi o responsável pela expansão da marca. “Eu cuido da criação, mas Gélio é quem tem a visão de negócios.” Parte do sucesso da Martha Medeiros é, naturalmente, a renda, com forte tradição no Nordeste brasileiro. O tipo usado nas confecções é principalmente o Renascença, considerado o de melhor caimento e qualidade por ser fino e delicado. O processo de sua trama é inteiramente artesanal e as peças chegam a demorar de semanas a mais de um ano para ficarem prontas, dependendo do tamanho da roupa.
Visão empreendedora: o CEO da marca e filho de Martha, Gélio Medeiros (à esq.), expandiu os negócios internacionais, abrindo uma loja em Melrose Place, em Los Angeles
Finalizadas, essas rendas vão para a fábrica com 110 funcionários, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Se no início 100% das peças eram produzidas sob encomenda, hoje essa proporção caiu para 28%. São quatro mil peças produzidas por ano, segundo Gélio. Mas cada uma delas continua sendo montada individualmente, como em um ateliê. “A exclusividade, o bom acabamento e muitas vezes o apelo regional são ingredientes que têm tudo a ver com o que se considera luxo hoje”, diz Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, empresa que analisa diversos segmentos de mercado.

De fato, o diferencial do “feito a mão” e “o que só o Brasil tem” é o que tem aberto as portas do mercado internacional para as grifes brasileiras, como aconteceu com marcas como Isabela Capeto e Ronaldo Fraga. Segundo a Associação Brasileira de Estilistas (Abest), que tem um programa de internacionalização da moda brasileira, as exportações de marcas brasileiras em 2017 somaram US$ 13,8 milhões. O número ainda é pequeno, mas representa um crescimento de 38,7% em relação a 2016.
Do sertão para o mundo: renda artesanal transforma a vida de mulheres no sertão nordestino e vira queridinha de personalidades como a atriz Jessica Alba (foto à esquerda)
 
 

Na produção da Martha Medeiros, toda a confecção da renda acontece no sertão nordestino, onde quase 400 rendeiras trabalham organizadas em cooperativas em pequenas cidades às margens do Rio São Francisco. “Não é só comprar e vender. Fico perto delas, ensino, faço com que tenham orgulho do que produzem e tento melhorar suas condições de vida.” Atenta em atrelar seu produto à sua história pessoal, Martha toca projetos sociais com as rendeiras que prestam serviços à empresa. Uma das ações, a campanha “Primavera no sertão”, em parceria com a marca francesa de champanhe Perrier-Jouët, promoveu um engajamento de suas clientes no qual cada publicação na rede social Instagram com fotos de flores e as hashtags das marcas recebia R$ 1 de doação da Perrier-Jouët. Os recursos obtidos, de R$ 150 mil, foram usados para perfurar poços artesianos na Paraíba, levando água potável para a região.
As parcerias com marcas e pessoas influentes têm sido constantes. Uma delas é com Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração da rede Magazine Luiza. Trajano, que também lidera um grupo de 50 mulheres executivas para ações ligadas a educação e empreendedorismo, ajudou a criar uma metodologia para as rendeiras que une produtividade e boas condições de trabalho. “Martha me convidou para conhecer as mulheres das quais ela comprava renda e agora volto todo ano para o sertão. É muito bom ver o empoderamento delas, ver como o trabalho transforma suas vidas e também como a renda artesanal ganha as passarelas do Brasil e do mundo”, anima-se Luiza. “Eu só acredito no empreendedorismo social”, diz Martha. E prossegue. “Não acredito em nada que seja só para ganhar dinheiro sem mudar a vida de todas as pessoas envolvidas”, diz ela.

SAP compra empresa de software dos EUA por US$2,4 bi


A empresa alemã está passando por uma transição estratégica, visando acelerar o desenvolvimento de sua plataforma em nuvem

 





Walldorf, Alemanha – A principal empresa de tecnologia europeia SAP anunciou uma aquisição por 2,4 bilhões de dólares nos Estados Unidospara ajudá-la a aumentar as receitas de sua plataforma em nuvem e o presidente-executivo Bill McDermott disse que simplificará seu negócio geral este ano para reforçar as margens.

A empresa alemã está passando por uma transição estratégica, visando acelerar o desenvolvimento de sua plataforma em nuvem S/4 HANA, que agora conta com 7.900 clientes, e afastar os usuários de softwares vendidos sob licença e instalados em escritórios e fábricas.

A mudança aumentou as margens nos últimos anos porque o modelo de negócios em nuvem é baseado em assinaturas que levam mais tempo para serem pagas – em contraste com o pagamento antecipado de licenças de software, que vinha impulsionando o negócio há décadas.

Mas McDermott disse à Reuters que a estratégia agora está dando frutos, depois que a SAP estabilizou suas margens operacionais no quarto trimestre em 35,2 por cento.

A aquisição da norte-americana Callidus, que vende softwares, em um acordo anunciado nesta terça-feira, ajudará a SAP na sua ambição de se tornar líder de mercado no chamado software de front-office usado em vendas e marketing, tendo como base sua força em softwares de back-office que são utilizados pelas empresas para manter o controle sobre operações multinacionais à distancia.

Como a Callidus já está na nuvem, ajudará a SAP a atingir a meta de ter receitas “previsíveis” entre 70 a 75 por cento do total em 2020. Em 2017, as receitas previstas cresceram 1 ponto percentual para 63 por cento das receitas totais.

A SAP disse que espera uma receita total entre 24,6 e 25,1 bilhões de euros (30 bilhões a 31 bilhões de dólares) em 2018, em linha com as estimativas de analistas ouvidos pela Thomson Reuters.

Mas a empresa também espera que as margens aumentem mais rapidamente este ano. A receita deve crescer cerca de 5 a 7 por cento, excluindo os efeitos de conversão cambial, enquanto o lucro operacional deve aumentar de 8 para 11 por cento.

A SAP prevê um lucro operacional entre 7,3 bilhões e 7,5 bilhões de euros, acrescentando que a implementação de novas regras contábeis (IFRS 15) adicionará 200 milhões de euros aos lucros da empresa.

 https://exame.abril.com.br/negocios/sap-compra-empresa-de-software-dos-eua-por-us24-bi/

Boeing continua em “conversas ativas” com a Embraer, diz CEO


Muilenburg sugeriu que poderia fechar um acordo que daria à empresa capacidade adicional em "ascensão vertical"

 




Nova York – O executivo-chefe da Boeing, Dennis Muilenburg, disse que continua em “conversas ativas” com a Embraer, mas não deu mais detalhes sobre as negociações. Muilenburg sugeriu que poderia fechar um acordo que daria à empresa capacidade adicional em “ascensão vertical”.

Para analistas, o acordo fazia sentido ao acrescentar pequenos jatos, engenheiros e receita com serviços, então a sinalização de que o pacto poderá englobar tudo, desde helicópteros até drones comerciais e militares, adiciona um novo ingrediente às negociações.


Fonte: Dow Jones Newswires.

Brasil está pronto para ter seu Macron, diz Guillaume Liegey


Estrategista da campanha do presidente francês acredita que há espaço no Brasil para aliar tecnologia e diálogo e renovar a forma de mobilizar os eleitores

 





São Paulo – Uma campanha eleitoral eficiente, que use big data para aproximar o político da população, como a que elegeu Emmanuel Macron na França, pode ser replicada no Brasil. Quem diz isso é Guillaume Liegey,  presidente da Liegey Muller Pons, empresa de tecnologia que coordenou a campanha do mais jovem presidente francês.

Liegey esteve em São Paulo nesta quarta-feira (31) para a Latin America Investment Conference do banco de investimentos Credit Suisse. E fez considerações sobre alguns dos principais candidatos à presidência no Brasil: “Em relação ao Bolsonaro, eu não conheço suas ideias, mas sei que ele é radical, e um radical é muito bom em animar as próprias bases, mas terá muita dificuldade em mobilizar qualquer outra pessoa num segundo turno”.

“O Alckmin certamente sabe muito sobre campanhas políticas, e não dá para menosprezar o tempo que ele vai ter na TV. E, por fim, eu acredito, sim, que alguém como Luciano Huck poderia ter uma chance. Tudo pode acontecer”, avalia.

Segundo VEJA, ele já se encontrou com representantes do movimento Agora!, que tem entre seus quadros um possível pré-candidato à presidência, o apresentador Luciano Huck. O apresentador voltou a articular uma candidatura após a divulgação do Datafolha nesta quarta, segundo a coluna da jornalista Vera Magalhães no Estadão.

O caminho das pedras

 

Em sua fala, Liegey destacou que Brasil e França têm muitas diferenças, mas que o país vive, em 2018, um cenário muito parecido com o francês no ano passado: uma desconfiança generalizada da política, e um contexto em que partidos grandes e consolidados estão reticentes em adotar novas estratégias de campanha.

Para a plateia de investidores e empresários, Liegey detalhou a chave do sucesso da campanha de Macron, que se espelhou na estratégia bem-sucedida e pioneira de Barack Obama nos Estados Unidos, da qual o estrategista francês participou como coadjuvante.

“Quando eu coloquei meu nome na lista para participar da campanha de Obama, algumas horas depois um completo desconhecido me ligou perguntando se eu estaria disposto a bater de porta em porta em algum lugar de Nova York. Eu pensei: ir de porta em porta, em pleno século 21? E por que Nova York, se estou em Boston?”, narra.

Mas ele aceitou a proposta mesmo assim, e pôde aprender em primeira mão sobre o que funcionou para Obama: Nova York era um dos chamados “swing states”, estados que não têm uma preferência política histórica definida, e que, portanto, são cruciais nas eleições nacionais.

A visita às casas dos eleitores tinha dois propósitos: um deles era incentivar as pessoas a votarem, dar a elas informações sobre como fazê-lo (já que nos EUA o voto não é obrigatório). A outra era escutar o eleitor, e isso fez toda a diferença, diz Liegey, já que os políticos costumam falar muito e escutar pouco.

Aplicando o que aprendeu com Obama na campanha de Macron, a empresa de Liegey mapeou, com auxílio de tecnologia, os lares onde os eleitores não tinham uma opinião formada sobre seus candidatos, e enviou voluntários com um questionário de oito perguntas sobre suas principais demandas, medos, sonhos e esperanças. Esse movimento ficou conhecido como a “grande marcha” de Macron e seus apoiadores pelo país.

“Eu me espanto com o número de afiliados que os partidos têm no Brasil, e mesmo assim não existe esse tipo de mobilização. Quando você faz um discurso, um comício, você só está falando com quem já vai votar em você, é um desperdício de dinheiro. O François Hollande gastou quase um terço do seu orçamento de campanha em uma estratégia que não lhe trouxe um voto sequer”, pontua o estrategista.

Ele afirma que, para uma campanha desse tipo funcionar, é preciso aceitar que haverá fatores fora do controle do candidato, mas acreditar que é possível mudar o que estiver ao seu alcance. “É preciso descobrir os 20% a 30% dos eleitores que mudam de ideia, e focar sua estratégia neles. Não garanto que é isso que vai levar o candidato a vencer a eleição, mas garanto que isso aumenta o número de votos”.

 https://exame.abril.com.br/brasil/brasil-esta-pronto-para-ter-seu-macron-diz-guillaume-liegey/


Setor agrícola do Mercosul rejeita proposta de acordo da Europa


Brasil e Argentina são os países do Mercosul que mais procuraram abrir suas economias

Comissão Europeia elevou sua oferta de abertura de seu mercado de 70 mil toneladas para 99 mil toneladas; impasse já dura 19 anos.

Produtores agropecuários do Mercosul se recusam a aceitar a proposta feita pela União Europeia de abertura de seu mercado e alertam que acordo final entre os dois blocos pode ficar desequilibrado. 

Na noite de segunda-feira, em Bruxelas, a Comissão Europeia elevou sua oferta de abertura de seu mercado de 70 mil toneladas para 99 mil toneladas de carnes no Mercosul. O tema era central para destravar o impasse no processo que já dura 19 anos. 

A proposta, que está sendo alvo de negociações hoje em Bruxelas por parte do chanceler Aloysio Nunes Ferreira, foi alvo de dura crítica por parte das entidades que representam o setor agropecuário no Mercosul, entre eles a Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (Abiec), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Sociedade Rural Brasileira.

“A oferta de 99 mil toneladas de carne não cumpre o mandato de 2010 e não contempla a ambição do setor no Mercosul”, disseram os grupos, que ainda apontaram para a “falta de informação” sobre o restante das condicionalidades. “A oferta não atende às expectativas do setor agropecuário do Mercosul”, insistiram as entidades, num documento assinado por Gedeão Silveira Pereira e enviado aos ministros dos quatro países.

A demanda do setor é de que a cota seja estabelecida inicialmente em 100 mil toneladas e que haja um incremento anual até atingir 160 mil toneladas por ano. 


Transparência


O setor agropecuario também criticou a falta de “transparência” do processo. Em Bruxelas, os negociadores do Mercosul não informaram aos produtores sobre a nova oferta. 

“Confiávamos que os governos do bloco buscariam um acordo amplo e equilibrado, que trouxesse reais benefícios para os produtores rurais sul-americanos e causariam o mínimo de dano possível”, disseram as entidades na carta. “Em vista à nova oferta da EU, essa realidade infelizmente parece estar mais distante”, apontaram. 

“Não somente temos sido privados de conhecer a realidade das negociações, mas também estamos receosos do que pode ser concedido pelos nossos governos em termos de acesso de produtos subsidiados ao nosso mercado, em prol de um fechamento de acordo a qualquer custo”, afirmaram. 

“Nesse momento crucial do processo negociador, todas as cartas precisam ser colocadas na mesa, com transparência”, cobrou o setor. “Afinal, o setor privado será o real impactado com os termos negociados pelos nossos governos”, completaram as entidades. 

O governo brasileiro garante que o setor privado tem sido informado com frequência de todos os passos da negociação e que sempre existe representantes de empresas nas cidades onde ocorrem as negociações (O Estado de S.Paulo, 31/1/18)

 

UE apresenta nova oferta e melhora acesso para carne do Mercosul

 


A União Europeia (UE) apresentou ontem à noite ao Mercosul nova oferta para entrada de carne bovina e etanol com tarifa de importação menor, visando destravar a barganha final para o acordo de livre comércio birregional, que será o maior da história dos dois blocos.

O Valor apurou que o sentimento entre certos negociadores é de que a oferta europeia tem potencial de levar à conclusão do acordo, após 19 anos de negociações.

A oferta para carne bovina passou para cota variando entre 90 mil e 100 mil. A oferta anterior era de 70 mil toneladas. O volume exato era mantido em sigilo em Bruxelas, até que o Mercosul discuta a oferta hoje de manhã na embaixada do Paraguai.

Foi durante o jantar oferecido ontem pelos comissários de Comércio, Cecilia Malmström, e da Agricultura, Phil Hogan – Foto -, aos ministros de Relações Exteriores do Mercosul que a nova oferta agrícola europeia foi colocada na mesa.

O jantar durou duas horas, no prédio central da Comissão Europeia. O presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, apareceu no encontro, ilustrando a importância que os europeus dão à conclusão do acordo até o fim de março.

As ofertas europeias sempre têm condicionalidades. Hogan insistiu à tarde, depois de uma reunião dos ministros europeus de Agricultura, que a barganha final com o Mercosul "não é apenas sobre carne, e temos nossos interesses ofensivos". Hogan deixou claro que, primeiro, há limites na concessão que a UE pode fazer para a entrada de carne bovina. E segundo, há condições.

Embora o Mercosul tenha colocado na mesa uma "oferta final", em dezembro, em Buenos Aires, em Bruxelas a posição europeia é de que ainda há muito a ser negociado. A União Europeia quer ganhar mais acesso do que o Mercosul ofereceu até agora tanto para produtos industriais, incluindo liberalização mais rápida para entrada de seus carros, como também para produtos agrícolas como lácteos, vinhos, bebidas, passando por serviços marítimos, regras de origem e proteção de indicação geográfica.

Além disso, embora o Mercosul tenha reduzido o prazo para liberalizar boa parte dos produtos, de 15 para 10 anos, os europeus continuam destacando a importância de "acordo ambicioso". Diante da resistência demonstrada por vários ministros de Agricultura ao acordo com o Mercosul, o comissário procurou tranquilizá-los, dizendo que a qualidade do acordo será privilegiada em relação à rapidez para concluí-lo.

Ao mesmo tempo, documento da União Europeia diz que as negociações entre os dois blocos estão se aproximando do final do jogo, e podem ser concluídas até março próximo. A avaliação é de que, se não der agora, tudo ficará para 2019, diante do período eleitoral no Brasil.

Segundo a UE, o acordo com o Mercosul tem um valor comercial muito elevado - "três vezes o valor do acordo com o Japão e oito vezes o valor do acordo com o Canadá" , de acordo com a comissária do Comércio do bloco europeu.

Hoje haverá reunião de ministros do Mercosul com comissários da UE durante quase todo o dia, em Bruxelas. Em seguida, os técnicos continuarão as reuniões durante a semana, para tentar acelerar a barganha final.

No jantar na Comissão Europeia, os comissários de Agricultura e de Comércio convidaram os ministros de Relações Exteriores do Mercosul, mas deixaram de fora outros ministros do bloco do Cone Sul que se encontram em Bruxelas, como os ministros de Agricultura e Indústria da Argentina, e o novo ministro do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Marcos Jorge de Lima, causando certa irritação no bloco.

Hogan chegou a brincar, dizendo que a UE talvez fosse servir carne irlandesa para os representantes do Mercosul. Hogan é originário da Irlanda, país que mais faz campanha contra o acordo birregional, precisamente por causa do temor de perder fatias do mercado de carne bovina.

Uma delegação de pecuaristas irlandeses voltou a denunciar o que diz ser impacto negativo da negociação, estimando que o preço da carne bovina poderá cair 16% e custar € 5 bilhões aos produtores europeus (Assessoria de Comunicação, 30/1/18)