Comissão Europeia elevou sua oferta de abertura de seu mercado de 70
mil toneladas para 99 mil toneladas; impasse já dura 19 anos.
Produtores agropecuários do Mercosul se recusam a aceitar a proposta
feita pela União Europeia de abertura de seu mercado e alertam que
acordo final entre os dois blocos pode ficar desequilibrado.
Na noite de segunda-feira, em Bruxelas, a Comissão Europeia elevou
sua oferta de abertura de seu mercado de 70 mil toneladas para 99 mil
toneladas de carnes no Mercosul. O tema era central para destravar o
impasse no processo que já dura 19 anos.
A proposta, que está sendo alvo de negociações hoje em Bruxelas por
parte do chanceler Aloysio Nunes Ferreira, foi alvo de dura crítica por
parte das entidades que representam o setor agropecuário no Mercosul,
entre eles a Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes
(Abiec), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Sociedade
Rural Brasileira.
“A oferta de 99 mil toneladas de carne não cumpre o mandato de 2010 e
não contempla a ambição do setor no Mercosul”, disseram os grupos, que
ainda apontaram para a “falta de informação” sobre o restante das
condicionalidades. “A oferta não atende às expectativas do setor
agropecuário do Mercosul”, insistiram as entidades, num documento
assinado por Gedeão Silveira Pereira e enviado aos ministros dos quatro
países.
A demanda do setor é de que a cota seja estabelecida inicialmente em
100 mil toneladas e que haja um incremento anual até atingir 160 mil
toneladas por ano.
Transparência
O setor agropecuario também criticou a falta de “transparência” do
processo. Em Bruxelas, os negociadores do Mercosul não informaram aos
produtores sobre a nova oferta.
“Confiávamos que os governos do bloco buscariam um acordo amplo e
equilibrado, que trouxesse reais benefícios para os produtores rurais
sul-americanos e causariam o mínimo de dano possível”, disseram as
entidades na carta. “Em vista à nova oferta da EU, essa realidade
infelizmente parece estar mais distante”, apontaram.
“Não somente temos sido privados de conhecer a realidade das
negociações, mas também estamos receosos do que pode ser concedido pelos
nossos governos em termos de acesso de produtos subsidiados ao nosso
mercado, em prol de um fechamento de acordo a qualquer custo”,
afirmaram.
“Nesse momento crucial do processo negociador, todas as cartas
precisam ser colocadas na mesa, com transparência”, cobrou o setor.
“Afinal, o setor privado será o real impactado com os termos negociados
pelos nossos governos”, completaram as entidades.
O governo brasileiro garante que o setor privado tem sido informado
com frequência de todos os passos da negociação e que sempre existe
representantes de empresas nas cidades onde ocorrem as negociações (O
Estado de S.Paulo, 31/1/18)
UE apresenta nova oferta e melhora acesso para carne do Mercosul
A União Europeia (UE) apresentou ontem à noite ao Mercosul nova
oferta para entrada de carne bovina e etanol com tarifa de importação
menor, visando destravar a barganha final para o acordo de livre
comércio birregional, que será o maior da história dos dois blocos.
O Valor apurou que o sentimento entre certos negociadores é de que a oferta europeia tem potencial de levar à conclusão do acordo, após 19 anos de negociações.
A oferta para carne bovina passou para cota variando entre 90 mil e 100 mil. A oferta anterior era de 70 mil toneladas. O volume exato era mantido em sigilo em Bruxelas, até que o Mercosul discuta a oferta hoje de manhã na embaixada do Paraguai.
Foi durante o jantar oferecido ontem pelos comissários de Comércio, Cecilia Malmström, e da Agricultura, Phil Hogan – Foto -, aos ministros de Relações Exteriores do Mercosul que a nova oferta agrícola europeia foi colocada na mesa.
O jantar durou duas horas, no prédio central da Comissão Europeia. O presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, apareceu no encontro, ilustrando a importância que os europeus dão à conclusão do acordo até o fim de março.
As ofertas europeias sempre têm condicionalidades. Hogan insistiu à tarde, depois de uma reunião dos ministros europeus de Agricultura, que a barganha final com o Mercosul "não é apenas sobre carne, e temos nossos interesses ofensivos". Hogan deixou claro que, primeiro, há limites na concessão que a UE pode fazer para a entrada de carne bovina. E segundo, há condições.
Embora o Mercosul tenha colocado na mesa uma "oferta final", em dezembro, em Buenos Aires, em Bruxelas a posição europeia é de que ainda há muito a ser negociado. A União Europeia quer ganhar mais acesso do que o Mercosul ofereceu até agora tanto para produtos industriais, incluindo liberalização mais rápida para entrada de seus carros, como também para produtos agrícolas como lácteos, vinhos, bebidas, passando por serviços marítimos, regras de origem e proteção de indicação geográfica.
Além disso, embora o Mercosul tenha reduzido o prazo para liberalizar boa parte dos produtos, de 15 para 10 anos, os europeus continuam destacando a importância de "acordo ambicioso". Diante da resistência demonstrada por vários ministros de Agricultura ao acordo com o Mercosul, o comissário procurou tranquilizá-los, dizendo que a qualidade do acordo será privilegiada em relação à rapidez para concluí-lo.
Ao mesmo tempo, documento da União Europeia diz que as negociações entre os dois blocos estão se aproximando do final do jogo, e podem ser concluídas até março próximo. A avaliação é de que, se não der agora, tudo ficará para 2019, diante do período eleitoral no Brasil.
Segundo a UE, o acordo com o Mercosul tem um valor comercial muito elevado - "três vezes o valor do acordo com o Japão e oito vezes o valor do acordo com o Canadá" , de acordo com a comissária do Comércio do bloco europeu.
Hoje haverá reunião de ministros do Mercosul com comissários da UE durante quase todo o dia, em Bruxelas. Em seguida, os técnicos continuarão as reuniões durante a semana, para tentar acelerar a barganha final.
No jantar na Comissão Europeia, os comissários de Agricultura e de Comércio convidaram os ministros de Relações Exteriores do Mercosul, mas deixaram de fora outros ministros do bloco do Cone Sul que se encontram em Bruxelas, como os ministros de Agricultura e Indústria da Argentina, e o novo ministro do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Marcos Jorge de Lima, causando certa irritação no bloco.
Hogan chegou a brincar, dizendo que a UE talvez fosse servir carne irlandesa para os representantes do Mercosul. Hogan é originário da Irlanda, país que mais faz campanha contra o acordo birregional, precisamente por causa do temor de perder fatias do mercado de carne bovina.
Uma delegação de pecuaristas irlandeses voltou a denunciar o que diz ser impacto negativo da negociação, estimando que o preço da carne bovina poderá cair 16% e custar € 5 bilhões aos produtores europeus (Assessoria de Comunicação, 30/1/18)
O Valor apurou que o sentimento entre certos negociadores é de que a oferta europeia tem potencial de levar à conclusão do acordo, após 19 anos de negociações.
A oferta para carne bovina passou para cota variando entre 90 mil e 100 mil. A oferta anterior era de 70 mil toneladas. O volume exato era mantido em sigilo em Bruxelas, até que o Mercosul discuta a oferta hoje de manhã na embaixada do Paraguai.
Foi durante o jantar oferecido ontem pelos comissários de Comércio, Cecilia Malmström, e da Agricultura, Phil Hogan – Foto -, aos ministros de Relações Exteriores do Mercosul que a nova oferta agrícola europeia foi colocada na mesa.
O jantar durou duas horas, no prédio central da Comissão Europeia. O presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, apareceu no encontro, ilustrando a importância que os europeus dão à conclusão do acordo até o fim de março.
As ofertas europeias sempre têm condicionalidades. Hogan insistiu à tarde, depois de uma reunião dos ministros europeus de Agricultura, que a barganha final com o Mercosul "não é apenas sobre carne, e temos nossos interesses ofensivos". Hogan deixou claro que, primeiro, há limites na concessão que a UE pode fazer para a entrada de carne bovina. E segundo, há condições.
Embora o Mercosul tenha colocado na mesa uma "oferta final", em dezembro, em Buenos Aires, em Bruxelas a posição europeia é de que ainda há muito a ser negociado. A União Europeia quer ganhar mais acesso do que o Mercosul ofereceu até agora tanto para produtos industriais, incluindo liberalização mais rápida para entrada de seus carros, como também para produtos agrícolas como lácteos, vinhos, bebidas, passando por serviços marítimos, regras de origem e proteção de indicação geográfica.
Além disso, embora o Mercosul tenha reduzido o prazo para liberalizar boa parte dos produtos, de 15 para 10 anos, os europeus continuam destacando a importância de "acordo ambicioso". Diante da resistência demonstrada por vários ministros de Agricultura ao acordo com o Mercosul, o comissário procurou tranquilizá-los, dizendo que a qualidade do acordo será privilegiada em relação à rapidez para concluí-lo.
Ao mesmo tempo, documento da União Europeia diz que as negociações entre os dois blocos estão se aproximando do final do jogo, e podem ser concluídas até março próximo. A avaliação é de que, se não der agora, tudo ficará para 2019, diante do período eleitoral no Brasil.
Segundo a UE, o acordo com o Mercosul tem um valor comercial muito elevado - "três vezes o valor do acordo com o Japão e oito vezes o valor do acordo com o Canadá" , de acordo com a comissária do Comércio do bloco europeu.
Hoje haverá reunião de ministros do Mercosul com comissários da UE durante quase todo o dia, em Bruxelas. Em seguida, os técnicos continuarão as reuniões durante a semana, para tentar acelerar a barganha final.
No jantar na Comissão Europeia, os comissários de Agricultura e de Comércio convidaram os ministros de Relações Exteriores do Mercosul, mas deixaram de fora outros ministros do bloco do Cone Sul que se encontram em Bruxelas, como os ministros de Agricultura e Indústria da Argentina, e o novo ministro do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Marcos Jorge de Lima, causando certa irritação no bloco.
Hogan chegou a brincar, dizendo que a UE talvez fosse servir carne irlandesa para os representantes do Mercosul. Hogan é originário da Irlanda, país que mais faz campanha contra o acordo birregional, precisamente por causa do temor de perder fatias do mercado de carne bovina.
Uma delegação de pecuaristas irlandeses voltou a denunciar o que diz ser impacto negativo da negociação, estimando que o preço da carne bovina poderá cair 16% e custar € 5 bilhões aos produtores europeus (Assessoria de Comunicação, 30/1/18)
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