Estrategista da campanha do presidente francês acredita que há espaço no Brasil para aliar tecnologia e diálogo e renovar a forma de mobilizar os eleitores
São Paulo – Uma campanha eleitoral eficiente, que use big data para aproximar o político da população, como a que elegeu Emmanuel Macron
na França, pode ser replicada no Brasil. Quem diz isso é Guillaume
Liegey, presidente da Liegey Muller Pons, empresa de tecnologia que
coordenou a campanha do mais jovem presidente francês.
Liegey esteve em São Paulo nesta quarta-feira (31) para a
Latin America Investment Conference do banco de investimentos Credit
Suisse. E fez considerações sobre alguns dos principais candidatos à
presidência no Brasil: “Em relação ao Bolsonaro, eu não conheço suas
ideias, mas sei que ele é radical, e um radical é muito bom em animar as
próprias bases, mas terá muita dificuldade em mobilizar qualquer outra
pessoa num segundo turno”.
“O Alckmin certamente sabe muito sobre campanhas políticas, e
não dá para menosprezar o tempo que ele vai ter na TV. E, por fim, eu
acredito, sim, que alguém como Luciano Huck poderia ter uma chance. Tudo
pode acontecer”, avalia.
Segundo VEJA,
ele já se encontrou com representantes do movimento Agora!, que tem
entre seus quadros um possível pré-candidato à presidência, o
apresentador Luciano Huck. O apresentador voltou a articular uma candidatura após a divulgação do Datafolha nesta quarta, segundo a coluna da jornalista Vera Magalhães no Estadão.
O caminho das pedras
Em sua fala, Liegey destacou que Brasil e França têm muitas
diferenças, mas que o país vive, em 2018, um cenário muito parecido com o
francês no ano passado: uma desconfiança generalizada da política, e um
contexto em que partidos grandes e consolidados estão reticentes em
adotar novas estratégias de campanha.
Para a plateia de investidores e empresários, Liegey
detalhou a chave do sucesso da campanha de Macron, que se espelhou na
estratégia bem-sucedida e pioneira de Barack Obama nos Estados Unidos,
da qual o estrategista francês participou como coadjuvante.
“Quando eu coloquei meu nome na lista para participar da
campanha de Obama, algumas horas depois um completo desconhecido me
ligou perguntando se eu estaria disposto a bater de porta em porta em
algum lugar de Nova York. Eu pensei: ir de porta em porta, em pleno
século 21? E por que Nova York, se estou em Boston?”, narra.
Mas ele aceitou a proposta mesmo assim, e pôde aprender em
primeira mão sobre o que funcionou para Obama: Nova York era um dos
chamados “swing states”, estados que não têm uma preferência política
histórica definida, e que, portanto, são cruciais nas eleições
nacionais.
A visita às casas dos eleitores tinha dois propósitos: um
deles era incentivar as pessoas a votarem, dar a elas informações sobre
como fazê-lo (já que nos EUA o voto não é obrigatório). A outra era
escutar o eleitor, e isso fez toda a diferença, diz Liegey, já que os
políticos costumam falar muito e escutar pouco.
Aplicando o que aprendeu com Obama na campanha de Macron, a
empresa de Liegey mapeou, com auxílio de tecnologia, os lares onde os
eleitores não tinham uma opinião formada sobre seus candidatos, e enviou
voluntários com um questionário de oito perguntas sobre suas principais
demandas, medos, sonhos e esperanças. Esse movimento ficou conhecido
como a “grande marcha” de Macron e seus apoiadores pelo país.
“Eu me espanto com o número de afiliados que os partidos têm
no Brasil, e mesmo assim não existe esse tipo de mobilização. Quando
você faz um discurso, um comício, você só está falando com quem já vai
votar em você, é um desperdício de dinheiro. O François Hollande gastou
quase um terço do seu orçamento de campanha em uma estratégia que não
lhe trouxe um voto sequer”, pontua o estrategista.
Ele afirma que, para uma campanha desse tipo funcionar, é
preciso aceitar que haverá fatores fora do controle do candidato, mas
acreditar que é possível mudar o que estiver ao seu alcance. “É preciso
descobrir os 20% a 30% dos eleitores que mudam de ideia, e focar sua
estratégia neles. Não garanto que é isso que vai levar o candidato a
vencer a eleição, mas garanto que isso aumenta o número de votos”.
https://exame.abril.com.br/brasil/brasil-esta-pronto-para-ter-seu-macron-diz-guillaume-liegey/
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