A grife alagoana Martha Medeiros conquista famosos com sua renda artesanal e DNA de sustentabilidade
Há algo em comum nos guarda-roupas de celebridades como a
cantora Beyoncé, as atrizes Jessica Alba e Patricia Arquette, a modelo
colombiana Sofia Vergara e a cantora brasileira Ivete Sangalo: todas
vestem as roupas da alagoana Martha Medeiros, que ganhou fama por suas
rendas artesanais e hoje exporta para 35 países. Nos Estados Unidos, por
exemplo, é revendida na Bergdorf Goodman, famosa loja de departamento
de luxo de Nova York. Os negócios ganharam ainda mais holofotes depois
que Sangalo apareceu com um vestido da marca no encerramento da Copa de
2014 e Vergara, uma das mais bem-pagas de Hollywood, ligou pessoalmente
para Martha pedindo um vestido para o seu casamento, em 2015. Um modelo
com sua etiqueta pode custar mais de R$ 50 mil. São cinco lojas próprias
em áreas nobres em Maceió, São Paulo, na badalada Trancoso e, desde o
ano passado, em Melrose Place, reduto dos principais nomes mundiais da
moda em Los Angeles. “A meta é abrir a próxima em Nova York”, disse
Martha, em entrevista à DINHEIRO.
Tão notória quanto os números da marca é a trajetória da
própria fundadora. A designer, que começou na moda ainda criança fazendo
roupas para bonecas e as vendendo em um centro de artesanato em Maceió,
abriu sua primeira loja na década de 80, na época um negócio
multimarcas. Ao longo dos anos, fez faculdade e aperfeiçoou seus
conhecimentos em moda e elegeu a renda sua matéria-prima predileta,
sempre aliada a tecidos nobres e locais, como algodão 100% nacional. O
passo seguinte foi criar peças por conta própria, “que sempre esgotavam
rapidamente na loja”, conta. Foi a deixa para criar a marca que leva seu
nome, há nove anos. “Eu vendia em feira, trabalhava como sacoleira, mas
tinha a ideia fixa de tirar a cara de toalha de mesa da renda
brasileira e fazer luxo com ela. Consegui”, orgulha-se.
Sem revelar o faturamento, o CEO da grife, Gélio Medeiros,
que também é filho da estilista, afirma que o ritmo das vendas tem
crescido 30% ao ano, em média. “É um resultado excelente em um cenário
de turbulências econômicas”, afirma. “Até em Los Angeles o balanço do
primeiro ano de funcionamento da loja foi acima das expectativas.
Tivemos um retorno que esperávamos somente em dois ou três anos”, diz
ele. Segundo Martha, seu filho foi o responsável pela expansão da marca.
“Eu cuido da criação, mas Gélio é quem tem a visão de negócios.” Parte
do sucesso da Martha Medeiros é, naturalmente, a renda, com forte
tradição no Nordeste brasileiro. O tipo usado nas confecções é
principalmente o Renascença, considerado o de melhor caimento e
qualidade por ser fino e delicado. O processo de sua trama é
inteiramente artesanal e as peças chegam a demorar de semanas a mais de
um ano para ficarem prontas, dependendo do tamanho da roupa.
Finalizadas, essas rendas vão para a fábrica com 110
funcionários, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Se no início 100%
das peças eram produzidas sob encomenda, hoje essa proporção caiu para
28%. São quatro mil peças produzidas por ano, segundo Gélio. Mas cada
uma delas continua sendo montada individualmente, como em um ateliê. “A
exclusividade, o bom acabamento e muitas vezes o apelo regional são
ingredientes que têm tudo a ver com o que se considera luxo hoje”, diz
Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, empresa que analisa diversos
segmentos de mercado.
De fato, o diferencial do “feito a mão” e “o que só o Brasil
tem” é o que tem aberto as portas do mercado internacional para as
grifes brasileiras, como aconteceu com marcas como Isabela Capeto e
Ronaldo Fraga. Segundo a Associação Brasileira de Estilistas (Abest),
que tem um programa de internacionalização da moda brasileira, as
exportações de marcas brasileiras em 2017 somaram US$ 13,8 milhões. O
número ainda é pequeno, mas representa um crescimento de 38,7% em
relação a 2016.
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