segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Dólar e bolsa agora, na visão de especialistas


Ações de estatais devem apresentar um desempenho positivo – entre elas a paranaense Copel

 

Da Redação

 

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Ações de estatais devem apresentar um desempenho positivo – entre elas a paranaense Copel


O mercado repercute nesta segunda-feira (8) o desempenho de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno. Com a manutenção de seu favoritismo na disputa e a distribuição das cadeiras da Câmara, na qual a centro-direita chegou perto de 380 – o que joga a favor da governabilidade de Bolsonaro caso seja eleito, assim como na potencial aprovação das reformas – os agentes econômicos reagem positivamente. Perto das 13h, o Ibovespa subia 3,5%, aos 85.210 pontos. Porém, pela manhã chegou a valorizar 6,1%. O giro financeiro já acumula um total de R$ 12 bilhões. No câmbio, o dólar comercial acumulava uma retração de 2%, cotado a R$ 3,7768.

Porém, como a bolsa e o dólar se comportarão a partir de agora? O portal AMANHÃ ouviu especialistas e recolheu opiniões sobre o tema. O JP Morgan avalia que o Ibovespa alcançará os 90 mil pontos rapidamente, o que representa um avanço de 9,3% em relação ao fechamento de sexta-feira (5). Na visão do banco, ações de estatais devem apresentar um desempenho positivo – entre elas a paranaense Copel (foto). Em relação aos cenários para a moeda norte-americana, o JP Morgan estima que a divisa possa ir até R$ 3,80, uma queda de 1,5%.

Robério Costa, economista-chefe do Grupo Confidence, avalia que é um momento especialmente delicado para fazer projeções para o câmbio, sobretudo durante a fase de definição até o segundo turno. Na possibilidade de Bolsonaro assumir a liderança imediata das pesquisas, retirando a incerteza do resultado, é mais provável que o dólar caia, podendo voltar ao patamar de R$ 3,40.  “O mercado vê no candidato a possibilidade da continuação da política macroeconômica com o ambiente propício para aprovar reformas constitucionais, principalmente a da previdência”, entende Costa. Porém, caso as próximas semanas apontem para a virada de Haddad sobre Bolsonaro, a volatilidade deve se elevar e o câmbio pode voltar a ficar acima dos R$ 4, podendo superar o recorde dos R$ 4,20. “Em meio a esses dois cenários, várias combinações podem ser imaginadas. Nenhum desses movimentos de curto prazo, no entanto, é determinante para o dólar ao longo do próximo ano. Muito mais importante será o fluxo de capitais estrangeiros nesse horizonte, que depende do interesse dos investidores externos no Brasil e das condições da economia global”, sintetiza Costa. 
 
Nicolas Takeo, analista da corretora Socopa, também prevê que o Ibovespa possa alcançar 91 mil pontos no curto prazo. “Os estrangeiros estão desalocados em [papéis do] Brasil, assim a vitória de um candidato mais alinhado com o mercado pode abrir caminho para os investidores recomporem posições em ações de risco doméstico”, opina Takeo. Para a corretora XP, “a bolsa será um dos ativos mais atrativos no Brasil (seguido pela curva longa e por último o dólar), seja pelo desconto que a bolsa negocia em relação ao seu histórico, pela potencial revisão positiva de lucro para os próximos anos ou pela alocação baixa a bolsa no Brasil vis a vis o histórico”. Ainda segundo a XP, vários segmentos poderão se beneficiar com a presidência exercida por Bolsonaro. “Entre eles, Cemig; bancos, como Banco do Brasil e Bradesco; Petrobras; companhias áreas, como a Gol; empresas ligadas ao consumo, como Localiza, B2W e Lojas Americanas; além do segmento de aço, com Usiminas em foco”, lista a corretora.  

De acordo com a Guide Investimentos, o risco Brasil medido pelo CDS de 5 anos cai 2,6%, abaixo dos 240 pontos. “Os ETFs de Brasil disparam mais de 6% na Europa, refletindo a força de Jair Bolsonaro, bem como a boa construção de uma base parlamentar por parte de seu partido, o PSL. O dia deve ser bastante positivo para os mercados de ações, juros e o câmbio deve continuar a tendência de apreciação, apesar do movimento global de aversão ao risco”, avalia Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide. 


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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Crise de identidade impera nas empresas de telecomunicação


Para especialistas, setor precisa modernizar negócios em plena era da transformação digital 

 

Por Agência Brasil 

 

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Para especialistas, setor de telecomunicações precisa modernizar negócios em plena era da transformação digital



Com a transformação digital e o surgimento de inovações no mundo online, as operadoras de telecomunicações entraram em uma “crise de identidade” e precisam se reinventar. A análise foi a principal conclusão de seminário realizado nesta semana pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre o novo ecossistema digital e a sustentabilidade dos modelos de negócio de companhias do setor. O evento buscou discutir os desafios desses mercados em um momento de mudanças econômicas e tecnológicas.

Até a virada dos anos 2000, as chamadas teles se dedicaram a prover serviços clássicos, como telefonia fixa, telefonia móvel, TV paga e, mais recentemente, acesso à internet. Contudo, diversos novas companhias passaram a prover serviços antes de responsabilidade dessas operadoras, como serviços de voz (Skype), mensagens (WhatsApp), músicas (Spotify) e vídeo (YouTube e Netflix). Esses serviços passaram a ser conhecidos como over-the-top (sobre a rede), ou OTTs, por operarem sobre a a infraestrutura que garante o acesso à web. Em anos recentes, essa disputa de mercado vem motivando discussões intensas, seja dentro dos países ou na União Internacional de Telecomunicações. Operadoras tradicionais reclamam das receitas perdidas e da atuação de conglomerados como Facebook, Google e Microsoft sem investimento em redes. Já as gigantes da tecnologia rebatem argumentando que oferecem serviços atendendo à demanda de consumidores, aumentando as opções e gerando inovação.

O superintendente de Competição da Anatel, Abraão Balbino e Silva, apresentou dados registrando perda de lucratividade do setor entre 2010 e 2014. A receita média por usuário também caiu. A participação do segmento no bolo das indústrias de tecnologia da informação foi de 49%, em 2010, para 37%, em 2014. O preço das ações das teles e empresas de internet saiu de um patamar semelhante, em 2010, para uma queda nos primeiros e crescimento dos segundos. Na opinião de Balbino e Silva, o setor não deveria ficar limitado a uma percepção de “concorrência desleal” por parte das empresas de internet, mas compreender que a transformação digital está gerando uma mudança radical no setor, o que gera crise de identidade nas firmas de telecomunicações. “Estamos vivendo uma disrupção nos modelos de comunicação. E isso implica reorganização do ecossistema. O que antes era em camadas vai para uma coisa que não sabe para onde vai em termos de quem faz o quê. É preciso recompor a visão de estratégia”, afirmou.

O representante da consultoria Cullen Internacional, André Moura, destacou entre as reações do setor a onda de fusões e aquisições ocorrida em diversos países. Na Argentina, no ano passado, a operadora Telecom Argentina fundiu-se à Cablevisión. Nos Estados Unidos, a gigante Verizon (telefonia e Internet) adquiriu o Yahoo (serviços online) e a AT&T (telefonia e internet) está tentando comprar o conglomerado TimeWarner (programação e produção de TV paga). No Brasil, a Oi (telefonia e internet) e a Portugal Telecom (telefonia e internet) anunciaram fusão em 2014 e o grupo Vivo/Telefônica (telefonia e internet) comprou a empresa GVT (acesso à internet) em 2015. 

O movimento de concentração seria uma reação à “crise de identidade” dos grupos econômicos do segmento. “Quando você está no processo de decidir quem você é, sai tentando. As fusões e aquisições são para reagir a essa crise de sustentabilidade. Isso se mostra de maneira significativa, envolvendo valores significativos, como caso da AT&T e TimeWarner”, exemplificou. Moura citou casos de fusão de operadoras de telecomunicações com empresas de cabo, de companhias de infraestrutura (como gestoras de torres e de redes de fibra ótica) ou até mesmo teles com produtoras de conteúdo.

Para Fred Moraes, analista do banco Bradesco, a perspectiva é que esse movimento de concentração de mercado continue no Brasil. Ele sugeriu que dos quatro grandes em atuação no país (Claro/Net, Vivo/Telefônica, TIM e Oi), a Oi tende a ter maior dificuldade e pode ser comprada nos próximos anos. “Quando você olha para a Oi hoje, ela tem dificuldade grande de, em 2020, dar continuidade ao negócio. A cada ano que passa, a dívida está aumentando R$ 3,7 bilhões. Apesar da situação [estar] melhor que em anos anteriores, ainda é uma situação complicada”, avaliou Moraes.


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Cooperativismo: um sistema resiliente


Mesmo sofrendo o impacto da turbulência política e da crise econômica nos últimos anos, cooperativas se fortaleceram

 

Por Marcos Graciani

 

graciani@amanha.com.br
C.Vale, de Palotina

Verdadeiros motores do setor primário, as cooperativas foram as principais impulsionadoras da economia no duro período recessivo que se desencadeou a partir de 2015. No quadriênio 2014-2017, por exemplo, o cooperativismo catarinense  avançou 36,5%, o equivalente a mais de 9% ao ano. O mesmo fenômeno se repete em toda a região Sul. “Não há empreendimento do mundo com tanta resiliência quanto o cooperativismo”, garante Vergílio Perius, presidente do Sistema Ocergs/Sescoop, que reúne as cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul. Perius se apoia em um número robusto. O cooperativismo gaúcho obteve um crescimento de receita que chegou a 38% nos últimos três anos. Se esse desempenho foi possível em meio à crise, cabe especular até onde essa expansão teria chegado se nesse período o país tivesse vivido um movimento de normalidade no comportamento da economia. 

O que faz as cooperativas resistentes diante de cenários tão desanimadores, como o que impôs pesados prejuízos à indústria e estagnação de vendas ao comércio? Uma das respostas pode estar na configuração legal do sistema, acredita Claudio Post, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro-SC). “Um dos princípios que conferem perenidade mesmo em tempos difíceis é o uso de fundos compostos pelas sobras [como se chama o lucro distribuído entre os associados ao final de cada ano fiscal] das nossas operações”, afiança.

Com essa filosofia, as cooperativas conseguiram, nos últimos anos, aproveitar os bons momentos para planejar e investir – especialmente em projetos que permitem adicionar valor à produção e libertar as organizações do mero papel de produtoras de commodities. Hoje, quase metade (48%) da receita das cooperativas agropecuárias advém da industrialização, o que dá a elas musculatura e flexibilidade para ultrapassar tempos bicudos. “Os cooperados precisam ter boas opções de renda e acesso aos mercados. As cooperativas buscaram isso com projetos de diversificação da produção e com a agroindustrialização. Em síntese, a opção do cooperativismo é pelo desenvolvimento”, sentencia José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar, que congrega as cooperativas do Paraná. 

Exemplo notório dessa postura é a transformação da soja e do milho em carnes e leite. A C.Vale (foto), de Palotina (PR), é apenas um case que demonstra como essa estratégia transformou o cooperativismo. Apostando as fichas na indústria, desde 1995, a cooperativa viu o faturamento saltar de R$ 128 milhões, duas décadas atrás, para R$ 6,9 bilhões no ano passado. O investimento também foi o principal responsável pela grande oferta de novos postos de trabalho: a C.Vale tinha 540 funcionários em meados dos anos 1990 e agora são 9 mil. “A rentabilidade melhorou, as receitas cresceram de maneira sustentável e reduzimos nossa exposição ao risco climático. Isso nos deu maior previsibilidade, o que é fundamental para quem quer investir”, analisa Alfredo Lang, presidente da C.Vale.

E como o plano da C.Vale se revelou vitorioso, a fórmula será aplicada na abertura de novas frentes. Recentemente,  a cooperativa inaugurou um frigorífico para peixes, com investimento de R$ 110 milhões. A planta tem capacidade de abate de 150 mil tilápias, mas a produção pode ser ampliada para 600 mil peixes. A C.Vale estima que a industrialização responderá por metade do faturamento no longo prazo. Hoje, ela se encontra na faixa de 25%. A cooperativa também ambiciona fortalecer sua posição no Rio Grande do Sul. A C.Vale começou a operar com os gaúchos em 2015 e acredita que há espaços para incrementar os negócios, principalmente para expandir o recebimento de grãos e comercializar máquinas e implementos. 

O desejo da C.Vale revela a necessidade da chamada intercooperação, movimento que representará um novo ganho de competitividade para o sistema cooperativista. Trata-se de um planejamento de negócios feito em conjunto por duas ou mais cooperativas. Em novembro de 2017, três das maiores cooperativas paranaenses anunciaram a união de suas marcas. Frísia, Castrolanda e Capal, de Castro, lançaram a marca Unium. A nova grife, resultado da fusão das palavras “união” e “um”, substituiu os selos das cooperativas em produtos como carnes, leite e farinha de trigo. 

A marca Unium é resultado de um modelo de negócios que concilia os interesses de diferentes cooperativas, embora elas sigam gestões independentes e continuem com cooperados próprios. “É o que chamamos de intercooperação. Estávamos buscando uma identidade para nossas marcas, que já trabalham e têm desenvolvimento conjunto”, revela o presidente da Castrolanda, Frans Borg. “A Unium surgiu da necessidade de dar empoderamento às cooperativas. E permite irmos para o mercado de forma conjunta”, complementa Renato Greidanus, que preside a Frísia. Apesar de não haver uma sede administrativa própria, os diretores não descartam uma futura fusão completa de suas grifes. Cada cooperativa tem uma participação nas diversas divisões da empresa, compartilhando algumas marcas no mercado. No segmento de lácteos, a atuação é com os produtos Colaso, Colônia Holandesa e Naturalle.  Juntas, as três cooperativas somam R$ 7 bilhões de faturamento anual.

Coincidentemente, a espinha dorsal do Plano Paraná Cooperativo 100 (PRC 100) – que tem a meta de fazer com que o faturamento das cooperativas do Estado chegue a R$ 100 bilhões em 2021 – é justamente a cooperação. O Comitê Parcerias e Alianças do PRC 100 reúne representantes de cooperativas de vários ramos que buscam ampliar as possibilidades de intercooperação. “As alianças entre cooperativas no Sul podem ser intensificadas, mas é preciso encontrar o modelo adequado para cada caso específico de intercooperação, respeitando a cultura, a autonomia e a identidade das parceiras”, avalia Ricken, da Ocepar. 

A cultura disseminada pela entidade ganha adeptos em toda a região. A Santa Clara, de Carlos Barbosa (RS), costuma fazer trabalhos de operação integrada com outras cooperativas. A Cotrisoja, de Tapera (RS), por exemplo, produz ração para a Santa Clara, que paga uma taxa pela industrialização do grão. A CCGL, de Encantado, fabrica leite em pó em troca de leite UHT da Santa Clara, o que faz com que os custos logísticos com matéria-prima diminuam. Agora, a Santa Clara está focada na construção da sua nova unidade de achocolatado que será sediada em Casca (RS), investimento de R$ 115 milhões que deve entrar em operação até dezembro. A cooperativa que faturou R$ 1,1 bilhão e distribuiu R$ 9 milhões aos seus mais de 5,5 mil associados no ano passado é dona de lojas e supermercados e tem se adaptado ao momento de baixa do varejo. “Notamos que até maio os preços estiveram 8% inferiores aos que eram praticados em igual período de 2017. O ramo de alimentos está vendendo mais itens de menor valor, mas o mercado é soberano”, conforma-se Alexandre Guerra, diretor administrativo e financeiro da Santa Clara.  

Adaptar-se às circunstâncias e manejar com destreza as ferramentas de negociação com fornecedores e clientes é a especialidade das cooperativas de excelência, caso da paranaense Coamo. José Aroldo Gallassini, que preside há 43 anos a maior cooperativa da América Latina, costuma utilizar a metáfora da toalha molhada. “Em um negócio, não queremos simplesmente comprar e vender, mas comprar e vender bem. Então, os negociantes da Coamo têm de tirar o máximo. É como se fosse uma toalha molhada: você vai torcendo, torcendo, até a última gota. Nós queremos a última gota. Nesse sentido, falamos para negociar bem. Se o cooperado fixou R$ 100, vendemos a alguém que paga o máximo possível, a última gota, R$ 105, R$ 107”, exemplifica. 

Fica no passado a noção de que cooperativas dispensam instrumentos de gestão profissional ou relativizam sua importância. No Sul e em outras regiões em que o cooperativismo se desenvolveu com ímpeto, exporta-se conhecimento. O “Encadeamento Produtivo Cooperativa Central Aurora Alimentos – Sebrae/SC: suínos, aves e leite”, por exemplo, surgiu em Santa Catarina e transformou-se em um programa nacional desde junho de 2018. Agora, também contempla o Paraná, o Rio Grande do Sul e o Mato Grosso do Sul. O Encadeamento Produtivo do agronegócio tem o objetivo de contribuir para a melhoria dos índices de produtividade e competitividade, promovendo a inserção de pequenos negócios em cadeias de valor de grandes empresas por meio de relacionamentos cooperativos. “A expectativa é muito grande com a nacionalização desse projeto no qual a propriedade rural é vista como uma empresa, levando aos empresários técnicas de gestão, inteligência em negócios e trabalho em rede, tendo em vista a melhoria do desempenho em toda a cadeia”, observa Renato Perlingeiro Salles Junior, coordenador do Programa Nacional de Encadeamento Produtivo do Sebrae Nacional.

Entre os resultados do programa está o fornecimento de produtos com maior qualidade ao consumidor final. Para 48% dos produtores rurais e das empresas encadeadas, houve aumento de receitas. O vice-presidente Neivor Canton lembra que as duas décadas do relacionamento entre a Aurora e o Sebrae foram essenciais para manter produtivas e competitivas as famílias rurais que formam a base produtiva da Cooperativa Central, sediada em Chapecó. “Graças a isso nos mantivemos no mercado nacional e internacional”, reconhece, ao anotar que as regiões onde atua a Aurora concentram a maior densidade populacional rural do Brasil.


Barreiras

 Ainda que tenham muito a comemorar, especialistas acreditam que o cooperativismo pode dar um passo à frente colocando em prática o gerenciamento de riscos, conceito que tem começado a ganhar corpo no Brasil, recentemente. “As cooperativas podem se antecipar a riscos como clima ou falta de mão de obra qualificada no campo, por exemplo. Há um movimento no Sul nesse sentido por meio das OCEs (Ocepar, Ocesc e Ocergs), que dialogam entre si e trabalham um ambiente propício para essas melhores práticas”, conta Adriano Machado, sócio da PwC Brasil e especialista em agronegócio.

Na visão de quem acompanha o setor há muito tempo, o cooperativismo nacional tem, ainda, algumas barreiras a vencer – a principal delas de natureza cultural, ligada ao modo como o sistema se vê e é visto pelos brasileiros. A desinformação sobre o que é e como atua uma cooperativa ainda preocupa o Sistema OCB, que lançou em novembro de 2017 o movimento SomosCoop – uma campanha nacional de valorização das cooperativas brasileiras, de seus cooperados e empregados. A campanha tem divulgado uma webserie sobre como as cooperativas colaboram com o desenvolvimento das comunidades onde estão instaladas. As cooperativas também enviam sugestões de histórias, cases, palestras e iniciativas capazes de promover a valorização e o pleno reconhecimento do cooperativismo no Brasil. O Paraná foi o primeiro Estado do país a aderir ao movimento SomosCoop, ainda em dezembro.

Para o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, a campanha veio para ficar. “Precisamos difundir melhor o modelo e mostrar a dignidade que é ser cooperativista no país para que todos percebam isso. Até mesmo os cooperados às vezes deixam de valorizar”, reconhece. Para ele, será preciso ao menos uma década para fazer com que o cooperativismo seja mais bem reconhecido pelos brasileiros. “No país, existe uma barreira para perceber o associativismo como uma grande ideia. É que dificilmente há disposição de abrir mão de um privilégio em nome do cooperativismo, pois corporações e pessoas colocam seus interesses acima de tudo”, evidencia Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS). Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, de Cascavel (PR), lembra ainda outra virtude do sistema cooperativo: o seu papel social. “No Sul, 80% dos associados são pequenos produtores. Com isso, o cooperativismo também presta um serviço à sociedade”, ressalta Grolli. Somente no ano passsado, a cooperativa do oeste paranaense distribuiu R$ 50 milhões em sobras e antecipações e faturou R$ 2,1 bilhões. 

Para além do embate cultural, cujos resultados são lentos, existem obstáculos mais tangíveis e emergenciais. O ramo agropecuário, que representa 63% das receitas do cooperativismo, enfrenta dois problemas crônicos: a escassez de insumos e as deficiências infraestruturais. Para manter a imensa cadeia agroindustrial da avicultura, da suinocultura e da bovinocultura de leite, Santa Catarina precisa importar todos os anos entre 2,5 milhões e 3 milhões de toneladas de milho do Brasil Central ou do exterior. Essa operação impacta a competitividade do produto catarinense, afetando os criadores (na maioria, produtores integrados e associados às cooperativas) e as agroindústrias. “Também é urgente melhorar a logística de transporte com investimentos em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e armazéns. O oeste catarinense, berço das principais empresas e cooperativas, reivindica uma ferrovia interestadual ligando Chapecó ao Centro-Oeste e uma ferrovia intraestadual unindo o extremo-oeste ao litoral”, clama Luiz Vicente Suzin, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc). 

No ramo da saúde, há necessidade de linhas de crédito para que as cooperativas de trabalho médico possam tomar financiamento para a construção de hospitais e aquisição de equipamentos de tecnologia de ponta. É uma situação análoga à de cooperativas do ramo de infraestrutura, que precisam de aportes para o sistema de distribuição de energia elétrica e internet. “Ao se dirigirem ao mercado financeiro, as cooperativas não possuem taxas de juros diferenciadas para captação de crédito. Isso nos leva a profissionalizar cada vez mais a gestão”, entende Jeferson Smaniotto, presidente da cooperativa de laticínios Piá. A marca tem sede em Nova Petrópolis (RS), a Capital Nacional do Cooperativismo,  em virtude de ser o berço do cooperativismo de crédito da América Latina. Foi ali que surgiu, em 1902, a Caixa de Economias e Empréstimos Amstad (atual Sicredi Pioneira RS), primeira cooperativa de crédito. 

Na visão de Smaniotto, um modo de enfrentar os grandes players é apostar em agregação de valor dos produtos comercializados. Nos últimos sete anos, a Piá investiu R$ 90 milhões na modernização de seus processos produtivos. Com 75% do faturamento concentrado em solo gaúcho, a cooperativa pretende expandir negócios na direção do Paraná, de Santa Catarina e de São Paulo, que juntos respondem pelos 25% restantes. Dentro de cinco anos, a Piá prevê dobrar essa fatia. Para alcançar o objetivo, a média de crescimento das receitas deve se manter em torno de 8% a 10% ao ano. Em 2018, a previsão é de um faturamento de R$ 650 milhões, justamente 8% a mais do que no ano passado. Na base da estratégia está a comercialização de itens com maior valor agregado, receita seguida por um número cada vez maior de cooperativas.  Somente em junho de 2018, pelo menos dois produtos de cooperativas foram anunciados no mercado. A Cotripal, de Panambi (RS), apresentou uma carne de hambúrguer para sua linha Angus Supreme, já temperada e rica em Ômega 3. E a Cotrirosa, de Santa Rosa (RS), passou a ter no seu mix uma linha de feijão premium selecionado criteriosamente e com grãos nobres.


Ótima reputação

 O vice-presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste, Márcio Port, gosta de comparar o cooperativismo em geral com o modo com que opera a Lojas Renner no mercado de capitais. A rede de lojas, como é sabido, foi a primeira corporation brasileira. Isso significa que a empresa não pertence a uma única pessoa, mas sim a muitas – espalhadas ao redor de todo o mundo, inclusive. “Quando os correntistas são os próprios donos do negócio, não existe caráter especulativo”, destaca o executivo. Essa é apenas uma das razões para que os juros cobrados pelas cooperativas de crédito sejam menores do que as taxas estipuladas pelos bancos tradicionais. Do mesmo modo, o índice de inadimplência também é proporcionalmente menor no sistema cooperativista. 

Na visão de Port, o Banco Central (BC) foi determinante para o desenvolvimento do cooperativismo de crédito no país. Segundo ele, o Brasil tem a melhor legislação para instituições financeiras cooperativas, e elas retribuem a confiança. “Temos ótima reputação com o BC”, afirma Port. A autoridade monetária tem se preocupado em colocar em pauta a agenda BC+, que busca, entre outros objetivos, a desburocratização e a inclusão financeira. Presente em muitos municípios pequenos, o Sicredi consegue ajudar o BC a cumprir parte da tarefa. No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde dois terços das cidades têm menos de 10 mil habitantes, há muitos lugares em que 60% da população é sócia do Sicredi. “Pergunte a um morador de localidades menores quanto a alta do dólar impacta a vida dele. Ele vai responder que não, pois os efeitos demoram mais a chegar. Eles baixam a cabeça, trabalham e fazem acontecer”, entusiasma-se Port.

Hoje, Sicredi e Sicoob respondem juntos por 80% do cooperativismo de crédito no Brasil. No que depender do Sicredi, essa fatia poderá crescer ainda mais. Até 2019, o banco cooperativo – que já está presente em 21 Estados – prepara uma grande expansão em Minas Gerais. O foco é mirar o crescimento não apenas nas capitais, mas também em grandes cidades do interior. “Muita gente liga o nome do Sicredi ao meio rural, mas nada menos que 80% de nossos associados vivem no meio urbano”, revela Port. Enfim, mais uma conquista do cooperativismo, que multiplica sua força – até mesmo nas crises, ou quem sabe como a melhor resposta para elas.



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Cade firma acordo em investigação no mercado de bolsa de valores



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O Conselho Administrativo de Defesa Econômica homologou, nesta quarta-feira (3/10), um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) com a B3, bolsa de valores oficial do Brasil. Pelo acordo, a empresa deverá pagar R$ 9,4 milhões como contribuição pecuniária.

O inquérito foi instaurado em 2016 para apurar ilícitos concorrenciais no mercado de bolsa de valores a partir da denúncia da ATS Brasil e da Americas Clearing System (ACS).

As empresas relataram que a ATS foi constituída para atuar no mercado brasileiro, mas enfrentou diversos entraves. Isso porque a BM&FBovespa (BMVF), atual B3, adotou estratégias para elevar as barreiras à entrada de concorrentes no mercado.

Ao analisar o caso, Superintendência-Geral do Cade entendeu que o fato poderia constituir indícios de infração à ordem econômica.


Termo de Compromisso de Cessação

 
Com relação aos serviços de central depositária, a B3 firmou acordo de que durante cinco anos vai garantir às empresas interessadas a opção pelo modelo em que os serviços sejam cobrados diretamente da Infraestrutura de Mercado Financeiro (entidade que opera valores mobiliários), e não do usuário final, enquanto perdurar eventual procedimento arbitral.

A B3 também deverá manter acessíveis os ambientes para fazer testes operacionais nos sistemas da central depositária, por quaisquer potenciais Infraestruturas de Mercado Financeiro que demonstrem legítimo interesse.

Além disso, o acordo prevê que a B3 terá que oferecer a prestação de serviços de compensação e liquidação, na condição de contraparte central, de operações do mercado à vista de renda variável referentes a negócios originados em outra Infraestruturas de Mercado Financeiro, em condições justas, transparentes e não-discriminatórias, o que inclui os termos e as condições contratuais de acesso à infraestrutura.

Com a celebração do acordo, o inquérito administrativo fica suspenso até que o Cade ateste o cumprimento integral do TCC.


Ato de concentração

 
Após instaurar o inquérito em 2016, o Cade foi notificado do ato de concentração que tratava da união das atividades da BVMF e da Cetip S.A, para formar a B3. O Tribunal do Cade aprovou a operação, com restrições, em março de 2017.

Em um Acordo em Controle de Concentração (ACC) as empresas se comprometeram a cumprir obrigações sobre regras de acesso, além de oferecer prestação de serviços de central depositária em condições justas, transparentes e não-discriminatórias. Caso as negociações não funcionassem, após 120 dias seria instaurado um processo arbitral.

Com o acordo, a ATS e a ACS iniciaram outra negociação com a B3 referente à contratação dos serviços de central depositária. No entanto, não houve consenso entre as empresas no prazo estipulado no acordo com o Cade, motivo pelo qual a ACS iniciou uma ação arbitral. O procedimento, que segue em andamento, trata principalmente do preço a ser cobrado pela B3 pelo serviço de central depositária. Com informações da Assessoria de Imprensa do Cade.



Processo: 08700.002656/2016-57


 https://www.conjur.com.br/2018-out-03/cade-firma-acordo-investigacao-mercado-bolsa-valores

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Cerveja Praya quer triplicar seu faturamento em 2018 após abrir fábrica no sul



Antes atuando no eixo Rio-São Paulo, a marca abriu fábrica no Paraná, e busca expansão em direção ao sul do país

 

 

Cerveja Praya quer triplicar seu faturamento em 2018 após abrir fábrica no sul
A cerveja carioca Praya foi fundada por quatro amigos em 2016. Indo na contramão de grande parte das cervejarias artesanais, que oferecem uma série de opções em seu cardápio de produtos, a Praya completa dois anos de vida oferecendo apenas um rótulo. Não que isso preocupe seus fundadores, uma vez que a marca planeja triplicar seu faturamento neste ano.

A história de como nasceu a Praya foi casual. O então surfista e base jumper Marcos Sifu, gostava de cervejas a base de trigo, porém achava elas pesadas demais para o clima brasileiro. Foi então que resolveu fazer uma witbier leve, para combinar com o clima quente brasileiro. Ai nasceu a Praya, que se tornou uma empresa depois que Marcos trouxe os amigos Paulo Castro, Tunico Almeida e Duda Gaspar para a operação.

Em 2016 a cerveja nasceu e começou a ser vendida em alguns pontos do Rio de Janeiro. Em 2017, viu a produção quase caseira de 20 litros se transformar em uma estrutura de 15 mil litros para fornecer os 800 pontos de venda que abastecia no Rio de Janeiro e 200 em São Paulo. A marca fechou seu segundo ano com faturamento de R$ 3,5 milhões, e mira manter a trajetória ascendente em 2018.

Para a felicidade dos quatro sócios, o balanço do primeiro semestre de 2018 foi animador: 3,7 milhões. O número fez com que a Praya mirasse voos mais altos, e a marca já projeto um crescimento de 300% em relação a 2017, buscando fechar o ano com faturamento de R$ 11 milhões. Para tal, a marca investiu em infraestrutura que além de ter dobrado sua capacidade produtiva, abriu caminho para novos mercados.

Antes atuando no eixo Rio-São Paulo, a marca abriu fábrica no Paraná, e busca expansão em direção ao sul do país. “Existe uma questão logística envolvida, bem como um estudo com dados de instituições de pesquisa que nos apontaram que a região sul tinha um consumo per capita interessante”, explica Tunico Almeida. Com o rumo ao sul, a Praya chegou a 2.000 pontos de venda, além de produção mensal de 100 mil litros
Apesar dos números, a expansão da Praya também tem outra explicação, e ela reside no mundo do marketing. O objetivo da marca é que sua cerveja fique atrelada a um lifestyle de praia, esporte e saúde. Para isso, a cerveja patrocina diversas iniciativas que fogem do mundo cervejeiro, como o lançamento de coleção cápsula com a marca Hadred de André Namitala ou apoio a barco de surfe Sibon Praya nas ilhas Mentawai, na Indonésia. Tudo isso serve para que a cerveja seja mais do que uma bebida.

“Desde o início, o esporte está junto com a marca através de iniciativas – como apoio a campeonatos locais no Rio de Janeiro, de limpeza de praias, incentivo para atletas e até mesmo apoiando um barco de surfe na Indonésia. A nossa perspectiva é levar, sempre, todas as nossas iniciativas ao público de uma maneira criativa”, explica Paulo Castro.
 
 
 https://www.istoedinheiro.com.br/cerveja-praya-visa-triplicar-seu-faturamento-em-2018-apos-abrir-fabrica-no-sul/

Fome de aquisições


Depois de investir R$ 3 bilhões na compra de 12 empresas, a NotreDame Intermédica já tem dez novos alvos na mira. E, com o caixa abastecido após um IPO que captou R$ 2,7 bilhões, o grupo busca operações que combinam planos de saúde e hospitais 

 

Fome de aquisições
Irleu Machado Filho, presidente da Notredame Intermédica: “Assumimos a primeira posição em São Paulo. Agora, podemos ser a maior empresa do setor em três anos”


Uma das primeiras medidas do fundo de investimentos americano Bain Capital depois de comprar o grupo de saúde NotreDame Intermédica, por R$ 2 bilhões, em 2014, foi selecionar Irlau Machado Filho para comandar a operação. Tarimbado executivo, formado em administração de empresas, economia e ciências políticas pela faculdade americana Augustana College, em Dakota do Sul, ele conhecia como poucos o mercado finaceiro e o setor de saúde. Machado havia ocupado o cargo de vice-presidente de marketing do Santander no Brasil e também tinha comandado a Medial Saúde e o Hospital A.C. Camargo, no qual foi responsável por rebatizar o antigo Hospital do Câncer e torná-lo uma referência nacional no tratamento de oncologia. Portanto, unia as características que os acionistas da NotreDame buscavam. E, ao assumir a operadora de saúde, o executivo atendeu às expectativas: promoveu um plano de expansão com foco na abertura de capital e em aquisições.

Nesse curto período, ampliou o faturamento do grupo em cinco vezes, para os R$ 5,3 bilhões registrados no ano passado. Como ele conseguiu essa façanha em apenas três anos e meio? Simples. No período, investiu R$ 3 bilhões na compra de 12 companhias. E não vai parar por aí. Outros dez novos ativos estão no alvo. “Se somarmos as últimas aquisições, atingimos 3,6 milhões de clientes e assumimos a primeira posição em São Paulo”, disse Machado, durante evento realizado na segunda-feira 24 para uma plateia composta pelos maiores grupos de corretores e clientes corporativos, como o Grupo Pão de Açúcar (GPA). “Agora, temos a grande oportunidade de nos tornarmos a maior empresa do setor nos próximos três anos.”
Plano vertical: para otimizar os custos de operação do plano de saúde, a empresa busca integrar hospitais e clínicas numa rede própria
 
Com a última aquisição anunciada, no início deste mês, do grupo paulistano Greenline, por R$ 1,2 bilhão, a companhia chegará a 4 milhões de vidas. A Amil, empresa do grupo americano UnitedHealth e a atual líder do segmento, possui 5,5 milhões de beneficiários. No mesmo evento, o executivo anunciou ainda a criação de uma marca própria de laboratórios de exames, a NotreLabs, que vai aproveitar muitos dos recursos incorporados por meio de aquisições recentes. Outra novidade foi o lançamento de um aplicativo que permite aos usuários de seus planos de saúde marcarem exames e consultas.

O apetite para a consolidação, no entanto, segue sendo o principal eixo da estratégia de crescimento da NotreDame. Para acelerar a expansão da operadora, Machado montou um time de fusões e aquisições, com o objetivo de selecionar, comprar e integrar empresas. Formada por nove executivos, que respondem diretamente ao presidente, essa equipe foi responsável pelo mapeamento de 240 companhias que poderiam se tornar alvos de uma investida do grupo.

Antes da chegada de Machado e da Bain Capital, o grupo, fundado pelo empresário Paulo Barbanti e negociado por R$ 2 bilhões, em 2014, nunca havia adotado a estratégia de fusões em cinco décadas de existência. As últimas três aquisições, da Samed, da Medplan e do grupo Greenline, aconteceram depois da abertura de capital, em abril deste ano, que levantou R$ 2,7 bilhões. No entanto, a maior parte desse valor não foi direcionada à operação, mas sim para remunerar o fundo controlador. “As nossas aquisições estão sendo financiadas com a geração própria de caixa”, afirma Machado. “Apenas no caso do Greenline, que foi um negócio de maior porte, utilizamos financiamento bancário.”
Fundador: dono da Intermédica até 2014, Paulo Barbanti promoveu o crescimento do grupo sem recorrer a aquisições. Agora, tudo mudou
A NotreDame fechou o segundo trimestre com caixa e aplicações financeiras totalizando R$ 1,2 bilhão. “A estratégia por trás das aquisições é a expansão geográfica de nossa rede própria. Logo, nosso histórico tem sido direcionado a hospitais e planos de saúde verticalizados”, diz. À medida que se expande, o grupo também aumenta a sua zona de atuação ao redor da cidade de São Paulo, chegando ao grande ABC e em Mogi das Cruzes, onde atua a Samed, e no Rio de Janeiro, onde comprou o Hospital Samci (ver gráfico). Mas a empresa não pretende estender o foco muito além das duas maiores cidades do País e dos seus arredores. “Apenas o território de São Paulo e Rio de Janeiro abarca um mercado do tamanho da França”, diz Machado, acrescentando que 48% dos planos de saúde do País estão concentrados nessa região.

No plano traçado pela NotreDame, o objetivo é integrar rapidamente cada ativo adquirido à rede, para ganhar benefícios de escala e de uniformização de operações. Para isso, a área de fusões e aquisições mapeia os processos e inicia o trabalho de integração, com o objetivo de finalizar o projeto em até 100 dias. No caso do grupo Greenline, esse método deve levar um pouco mais de tempo, em virtude da complexidade da operação. Afinal, o acordo envolve um plano de saúde, o Laboratório Bio Master, o Pronto Socorro Itamaraty e a Maternidade Brás. Ao todo, são dois hospitais, 10 prontos-socorros e nove centros clínicos.



A companhia traz 464 mil beneficiários concentrados na região metropolitana de São Paulo, sendo que 60% dos planos são corporativos. “A negociação foi muito tranquila. Eles são muito profissionais”, diz José Rafic, fundador da Greenline. “Fomos cotejados por muitos grupos, mas eles prometeram manter a marca e o quadro de funcionários.” A fusão ainda tem o potencial para impulsionar novos segmentos de negócios. Um projeto-piloto na Greenline busca a criação de um produto diferente, um plano voltado ao público idoso, capaz de fazer frente à Prevent Senior. Segundo Machado, a estratégia está num estágio ainda preliminar.

Com tantas frentes de atuação, a NotreDame surpreendeu o mercado de ações. O grupo chegou à B3 em abril, exatamente na mesma semana em que a sua concorrente Hapvida, que fatura R$ 3,8 bilhões e captou R$ 3,4 bilhões com a abertura de capital. Focada no Norte e no Nordeste, a rival, fundada pelo médico Cândido Pinheiro, era vista como a mais atrativa das duas pelos investidores. Apesar de um faturamento menor, mesmo atingindo mais clientes, a Hapvida apresentava maior lucro e rentabilidade. Em 2017, a empresa lucrou R$ 651 milhões e reportou uma margem de 21,4%.

Na NotreDame, o resultado do período ficou em R$ 240 milhões e 13,4%, respectivamente. Mas a desconfiança acabou rapidamente. Desde o IPO, as ações da companhia subiram mais de 30%. “Eles estão cumprindo todas as promessas feitas na abertura de capital. Havia certa ansiedade em relação ao crescimento e à rentabilidade, mas estão entregando o que o mercado desejava”, diz Thiago Macruz, analista de investimentos do Itaú BBA. Ele observa que as ações subiram muito depois da compra da Greenline, o que foi visto como um movimento estratégico para evitar a competição. “Se a Hapvida quiser entrar no mercado de São Paulo, será muito complicado e precisará acontecer por crescimento orgânico.”

O investidor ficou satisfeito com o posicionamento que evita a pressão da chegada de um competidor direto. Mas também percebe outros pontos positivos na estratégia geral. “A NotreDame está sabendo contornar a crise econômica, que fez as pessoas perderem os seus planos de saúde, e mostrou um bom posicionamento nos mercados paulista e carioca, onde está a maior atividade corporativa”, afirma Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos. Os planos de saúde do grupo estão focados no mercado corporativo (apenas 3% deles são individuais), que são os preferidos das operadoras. Além de evitar o reajuste controlado de preços por parte da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), garantem uma média etária menor. A taxa média de clientes do setor com idade acima de 60 anos, que costuma utilizar mais consultas, exames e cirurgias, fica em 13%. Já na NotreDame, está abaixo de 5%. Isso significa um nível menor de uso dos serviços e custos inferiores de operação. “As empresas que trabalham com tíquete médio menor não sentiram a queda do número de beneficiários”, diz Marcos Novais, economista-chefe da Abramge, associação dos planos de saúde.

Desde o início da crise econômica, uma das grandes preocupações do setor de saúde são os antigos clientes que perderam empregos formais e, com isso, também os seus planos. O segmento superou 50 milhões de beneficiários por apenas um ano, em 2015. Desde então, 3 milhões de pessoas deixaram o sistema. Em receita, o segmento seguiu crescendo, atingindo R$ 196 bilhões de faturamento em 2017, o que coloca o Brasil atrás apenas dos EUA. Mas a maior parte desse valor serviu apenas para repassar a inflação médica, que avança acima de 10% ao ano. “O ganho de escala é salutar”, afirma Novais. “Por isso, é importante a consolidação do mercado.” Segundo a associação, existem 730 operadoras de planos médicos que possuem clientes (algumas detêm o registro na ANS mas não estão operando), e outras 300 voltadas apenas a planos odontológicos. De todas essas, as mais propensas a sobreviverem ou serem adquiridas são aquelas que buscam estratégias de ampliação de margem de rentabilidade, que, na média do setor, costuma ser baixa, em torno de 2%.

Contenção da concorrência: a compra da Greenline foi vista como uma forma de barrar a chegada Hapvida em São Paulo
A mais testada e aprovada dessas estratégias é a verticalização. Ela consiste em ter uma rede própria de hospitais e clínicas, para realizar consultas e internações dentro de casa, impondo maior controle de custos e evitando tratamentos e cirurgias desnecessários. O setor estima haver uma perda de R$ 25 bilhões em fraudes na saúde, diz Machado. A Amil foi uma das pioneiras em buscar uma atuação verticalizada. A Hapvida e a NotreDame também seguiram a cartilha com afinco. Muitas das aquisições recentes do grupo comandado por Machado foram de hospitais, como o Cruzeiro do Sul, o São Bernardo e o Samcil. “A verticalização parece ser, de fato, uma forma eficiente de controle de sinistros”, afirma Macruz, do Itaú BBA. “O maior custo dos planos de saúde está nas internações, por isso faz sentido começar esse esforço pelos hospitais próprios. Depois, numa segunda posição, mais remota, estão os gastos com exames.” Nesse segundo ponto, fica fácil explicar a criação da marca NotreLabs, anunciada na semana passada.

O objetivo é utilizar melhor um recurso que foi adquirido em meio à compra de tantas empresas. Quando a NotreDame adquiriu o Santamália Saúde, em 2015, e o Cruzeiro do Sul, em 2018, trouxe no pacote laboratórios de diagnósticos. O mesmo acontece com a aquisição recente do Greenline. A rede NotreLabs nasce com 20 pontos. Mas, considerando a existência de 18 hospitais e outros 90 centros clínicos e prontos-socorros na empresa, o crescimento deve acontecer de forma rápida. “A ideia agora é utilizar a capacidade de 500 mil análises por mês desses laboratórios para atender nossos beneficiários de planos de saúde”, diz Machado. “Para a abertura dos pontos de coleta dentro da rede própria, o investimento é marginal.” Dessa forma, o caixa de R$ 1,2 bilhão do grupo poderá ser utilizado para aquilo a que parece destinado: comprar mais empresas.

Embraer e Boeing querem fábrica nos EUA



Embraer e Boeing querem fábrica nos EUA
A negociação de uma joint venture na área de defesa entre as fabricantes de avião Embraer e Boeing incluirá a instalação de uma linha de montagem nos Estados Unidos do cargueiro militar KC-390, um dos projetos mais promissores da empresa brasileira. A informação foi antecipada pelo jornal Valor Econômico e confirmada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Ao contrário da parceria entre as empresas na área de aviação comercial – anunciada em julho -, a joint venture no setor de defesa terá a Embraer como sócia controladora. A participação exata da brasileira no negócio ainda não foi definida.

A fábrica da Embraer em Gavião Peixoto (SP), onde o KC-390 vem sendo desenvolvido, deverá ser mantida e ficará de fora do acordo.

Nos Estados Unidos, a cidade em que a unidade fabril será instalada ainda não foi definida e há conversas em andamento com governos de Estados para obtenção de isenções fiscais.

Com essa fábrica fora do Brasil e com a joint venture, o KC-390 poderá ser vendido diretamente ao governo americano. Hoje, para a Embraer comercializar a aeronave militar Super Tucano com Washington, a negociação precisa ser feita via a empresa americana Sierra Nevada.
A parceria na área militar permitirá ainda que a Embraer venda a aeronave para países aliados do governo americano no programa Foreign Military Sales, que facilita a comercialização de equipamentos de defesa americanos. Coreia do Sul e Cingapura, por exemplo, estão entre os parceiros no programa.

O KC-390 é o maior avião já desenvolvido no Brasil. A Força Aérea Brasileira (FAB) já encomendou 28 aeronaves, no valor de US$ 7,2 bilhões, a serem entregues nos próximos 12 anos – a primeira no ano que vem.

Procurada, a Embraer afirmou em nota que a produção do KC-390 será mantida em Gavião Peixoto. Já a Boeing não quis se pronunciar. 


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.