Para especialistas, setor precisa modernizar negócios em plena era da transformação digital
Com a transformação digital e o
surgimento de inovações no mundo online, as operadoras de
telecomunicações entraram em uma “crise de identidade” e precisam se
reinventar. A análise foi a principal conclusão de seminário realizado
nesta semana pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre o
novo ecossistema digital e a sustentabilidade dos modelos de negócio de
companhias do setor. O evento buscou discutir os desafios desses
mercados em um momento de mudanças econômicas e tecnológicas.
Até
a virada dos anos 2000, as chamadas teles se dedicaram a prover
serviços clássicos, como telefonia fixa, telefonia móvel, TV paga e,
mais recentemente, acesso à internet. Contudo, diversos novas companhias
passaram a prover serviços antes de responsabilidade dessas operadoras,
como serviços de voz (Skype), mensagens (WhatsApp), músicas (Spotify) e
vídeo (YouTube e Netflix). Esses serviços passaram a ser conhecidos
como over-the-top (sobre a rede), ou OTTs, por operarem sobre a a
infraestrutura que garante o acesso à web. Em anos recentes, essa
disputa de mercado vem motivando discussões intensas, seja dentro dos
países ou na União Internacional de Telecomunicações. Operadoras
tradicionais reclamam das receitas perdidas e da atuação de
conglomerados como Facebook, Google e Microsoft sem investimento em
redes. Já as gigantes da tecnologia rebatem argumentando que oferecem
serviços atendendo à demanda de consumidores, aumentando as opções e
gerando inovação.
O
superintendente de Competição da Anatel, Abraão Balbino e Silva,
apresentou dados registrando perda de lucratividade do setor entre 2010 e
2014. A receita média por usuário também caiu. A participação do
segmento no bolo das indústrias de tecnologia da informação foi de 49%,
em 2010, para 37%, em 2014. O preço das ações das teles e empresas de
internet saiu de um patamar semelhante, em 2010, para uma queda nos
primeiros e crescimento dos segundos. Na opinião de Balbino e Silva, o
setor não deveria ficar limitado a uma percepção de “concorrência
desleal” por parte das empresas de internet, mas compreender que a
transformação digital está gerando uma mudança radical no setor, o que
gera crise de identidade nas firmas de telecomunicações. “Estamos
vivendo uma disrupção nos modelos de comunicação. E isso implica
reorganização do ecossistema. O que antes era em camadas vai para uma
coisa que não sabe para onde vai em termos de quem faz o quê. É preciso
recompor a visão de estratégia”, afirmou.
O
representante da consultoria Cullen Internacional, André Moura,
destacou entre as reações do setor a onda de fusões e aquisições
ocorrida em diversos países. Na Argentina, no ano passado, a operadora
Telecom Argentina fundiu-se à Cablevisión. Nos Estados Unidos, a gigante
Verizon (telefonia e Internet) adquiriu o Yahoo (serviços online) e a
AT&T (telefonia e internet) está tentando comprar o conglomerado
TimeWarner (programação e produção de TV paga). No Brasil, a Oi
(telefonia e internet) e a Portugal Telecom (telefonia e internet)
anunciaram fusão em 2014 e o grupo Vivo/Telefônica (telefonia e
internet) comprou a empresa GVT (acesso à internet) em 2015.
O
movimento de concentração seria uma reação à “crise de identidade” dos
grupos econômicos do segmento. “Quando você está no processo de decidir
quem você é, sai tentando. As fusões e aquisições são para reagir a essa
crise de sustentabilidade. Isso se mostra de maneira significativa,
envolvendo valores significativos, como caso da AT&T e TimeWarner”,
exemplificou. Moura citou casos de fusão de operadoras de
telecomunicações com empresas de cabo, de companhias de infraestrutura
(como gestoras de torres e de redes de fibra ótica) ou até mesmo teles
com produtoras de conteúdo.
Para
Fred Moraes, analista do banco Bradesco, a perspectiva é que esse
movimento de concentração de mercado continue no Brasil. Ele sugeriu que
dos quatro grandes em atuação no país (Claro/Net, Vivo/Telefônica, TIM e
Oi), a Oi tende a ter maior dificuldade e pode ser comprada nos
próximos anos. “Quando você olha para a Oi hoje, ela tem dificuldade
grande de, em 2020, dar continuidade ao negócio. A cada ano que passa, a
dívida está aumentando R$ 3,7 bilhões. Apesar da situação [estar] melhor que em anos anteriores, ainda é uma situação complicada”, avaliou Moraes.
http://www.amanha.com.br/posts/view/6349
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