Conselheiro para temas de economia internacional e comércio
do eventual superministro de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, o professor
da Universidade Columbia Marcos Troyjo recomenda que o Brasil se
mantenha neutro na guerra comercial entre Estados Unidos e China. Em vez
de escolher um lado, deve explorar as oportunidades oferecidas pelos
dois.
“A suposta guerra comercial é mais um movimento de acomodação do que
algo que vá escalar outras áreas para além da economia e, portanto,
tornar necessário fazer algum tipo de alinhamento”, disse. “Ter de
escolher lados de maneira automática e irreversível não é olhar esse
quadro de maneira realista.”
Troyjo ressaltou, ao conversar com o jornal O Estado de S. Paulo, que
expressava suas opiniões pessoais e não as da equipe de um eventual
governo de Jair Bolsonaro. Ele relativizou o peso da visita que o
candidato fez, no início do ano, a Taiwan, ilha que não reconhece o
predomínio da China continental. A iniciativa foi criticada numa carta
enviada pela embaixada da China no Brasil ao DEM e publicada nas redes
sociais pelo vereador César Maia (RJ).
“Duvido que ter uma boa relação com Taiwan vá criar obstáculos mais
elevados na relação com Pequim”, disse o professor, que é codiretor do
laboratório dos Brics na universidade. Ele acrescentou que a Alemanha,
por exemplo, tem excelentes relações com Pequim e intensas trocas
comerciais com Taiwan.
Troyjo disse ainda que os chineses “não estranhariam” caso o Brasil
viesse a impor limites à presença estrangeira em determinadas áreas.
“Eles também fazem isso”, observou. A proibição, porém, teria de ser
aplicada a todos os países, e não à China especificamente.
O candidato do PSL já fez restrições à compra pelos chineses dos
ativos de geração de energia da Eletrobrás. Há também preocupação com a
compra de terras por investidores do país asiático. Segundo auxiliares
de Bolsonaro, é a esse problema que ele se referia quando disse que os
chineses estão “comprando o Brasil.”
Metamorfose
Para o professor, é importante não perder de vista que a China tem
passado por uma “metamorfose”. De geradora de grandes superávits
comerciais, ela tem transitado para um outro perfil de atuação: a de
fonte de empréstimos governo a governo, origem de investimentos
estrangeiros diretos. “Não vamos descuidar da parte comercial, mas temos
de prestar atenção nas outras coisas”, disse. “Há um casamento entre
oportunidade e necessidade na área de infraestrutura no Brasil em que
vamos ter de lidar com os chineses.”
Troyjo acha, por exemplo, que o Brasil deveria ter um escritório na
China para vender as oportunidades de investimento no setor. Hoje, só as
grandes empresas estão presentes lá.
Para eles, as prioridades de uma política em relação à China deveriam
ser: adensar a relação, sofisticar a pauta de exportação, aumentar o
fluxo de investimentos e, eventualmente, criar “uma ou outra
seletividade, para resguardar o interesse nacional.” E o mesmo deveria
ser feito em relação aos EUA, afirmou. “Não existe maior deseconomia no
mundo do que o baixo volume de intercâmbio comercial entre os EUA e o
Brasil.”
Na sua avaliação, a declaração do presidente Trump que o País tem
tarifas elevadas e “está entre os mais duros do mundo, talvez o mais
duro” é, na verdade, um “convite para melhorar” a relação comercial. Não
um passo no fechamento do mercado, como pode parecer.
As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
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