"Eles cobram de nós o que querem", disse presidente americano sobre o Brasil
São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou nesta segunda-feira (1º) a relação comercial do Brasil com os americanos:
“O Brasil é outro caso. É uma beleza. Eles cobram de nós o
que querem. Se você perguntar a algumas empresas, eles dizem que o
Brasil está entre os mais duros do mundo, talvez o mais duro. E nós não
os chamamos e dizemos ‘ei, vocês estão tratando nossas empresas
injustamente, tratando nosso país injustamente”, disse o presidente
americano.
A declaração foi feita durante coletiva de imprensa sobre o novo Nafta, acordo comercial entre EUA, Canadá e México que foi anunciado hoje.
Relação
O questionamento das relações comerciais americanas com o resto do mundo tem sido uma das principais marcas da gestão Trump.
Mas o Brasil tinha saído ileso até agora, e por um motivo simples: os
brasileiros tem uma relação praticamente equilibrada com os americanos.
Em 2017, o Brasil importou US$ 24,8 bilhões para os Estados Unidos e
exportou US$ 26,8 bilhões – saldo de US$ 2 bilhões. Foi o primeiro
superávit para os brasileiros desde 2008.
Entre 2009 e 2016, os americanos tiveram superávit comercial com o
Brasil. O saldo positivo para eles chegou aos US$ 11,37 bilhões em 2013.
A título de comparação, a China, principal alvo de Trump até agora,
registrou um superávit comercial na relação com os Estados Unidos de US$
275,8 bilhões em 2017.
“No agregado dos últimos 25 anos, Brasil é um dos pouquíssimos países
do mundo que na média conseguiu a façanha de conseguir déficits
comerciais com os EUA”, diz Marcos Troyjo, economista e diretor
do BRICLab da Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
A economia americana tem duas particularidades que geram uma
tendência ao déficit: taxa de poupança pequena em relação a de consumo e
uma grande quantidade de empresas transnacionais, que produzem em
lugares mais baratos para abastecer o mercado americano.
Mas a reclamação de Trump também tem um ponto, na medida que o Brasil
é pouco integrado ao comércio internacional e dá pouca margem para os
EUA nos vender seus bens de capital, por exemplo.
“Quem quer que venha a reclamar de acesso ao mercado brasileiro tem
razão. O Brasil, seja em termos de tarifas ou de cotas, segue como um
dos países mais fechados do mundo”, diz Troyjo. Ele também não acredita
que o timing da declaração seja acidental:
“O estilo do Trump é do morder para assoprar. Ele tem se voltado para
discussões bilaterais, o Brasil é a segunda maior economia das
Américas, e ele sabe que teremos um novo presidente em 2019”.
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