segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Industrializados perdem participação nas exportações em 2018


As vendas de automóveis para o exterior caíram 13,8% de janeiro a setembro, revela MDIC 

 

Por Agência Brasil 

 

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As vendas de automóveis para o exterior caíram 13,8% de janeiro a setembro, revela MDIC


Mesmo com a recuperação significativa das exportações nos últimos anos, os produtos industrializados continuam a perder participação nas vendas externas brasileiras. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a fatia dos manufaturados nas exportações caiu de 36% nos nove primeiros meses de 2017 para 35,2% no mesmo período deste ano. 

Em valores absolutos, a venda de bens industrializados acumula alta de 6,8% nos nove primeiros meses do ano na comparação com os mesmos meses de 2017, totalizando US$ 63,2 bilhões. Este é o maior valor para o período desde 2013. As vendas de produtos básicos, no entanto, têm apresentado melhor desempenho neste ano, reduzindo o peso dos manufaturados na balança comercial. Beneficiadas pela alta da cotação internacional do petróleo e da soja, as exportações de produtos básicos saltaram 15,7% nos nove primeiros meses do ano. A participação dos bens primários nas exportações totais subiu de 47,6% de janeiro a setembro do ano passado para 50,4% nos mesmos meses de 2018.

As exportações de manufaturados têm sido beneficiadas pela alta do dólar, que subiu 21,9% de janeiro a setembro. O câmbio torna mais competitiva a venda de produtos industrializados, enquanto as exportações de commodities (bens primários) dependem mais das cotações internacionais de minérios e de produtos agropecuários. Segundo o MDIC, o bom desempenho das exportações de manufaturados em 2018 concentra-se em cinco produtos. A maior alta, de 353%, foi registrada nas vendas de plataformas para extração de petróleo na comparação entre os nove primeiros meses de 2018 e os mesmos meses do ano passado. Em seguida, vêm partes de motores e turbinas para aeronaves (101,2%), óleos combustíveis (70,2%), motores para veículos e partes (24,7%) e máquinas para terraplanagem (22,9%).

As vendas externas de produtos industrializados poderiam registrar desempenho melhor não fosse a situação nos países vizinhos. A crise cambial na Argentina, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, prejudicou as exportações de veículos. De janeiro a setembro, o valor das vendas de automóveis de passageiros caiu 13,8%. As exportações de veículos de carga recuaram 14,2%. A Argentina é um dos principais compradores de veículos brasileiros.



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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Dólar recua em linha com exterior e favoritismo de Bolsonaro no Datafolha


O dólar opera em queda ante o real na manhã desta quinta-feira, 11, pressionado pela desvalorização da divisa dos EUA no exterior e após a pesquisa Datafolha divulgada na noite de quarta-feira (10) indicar um favoritismo de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno da eleição presidencial – com 58% dos votos válidos ante seu adversário Fernando Haddad (PT), com 42%.

A perspectiva do feriado nacional de sexta-feira, 12, no entanto, pode ainda apoiar alguma demanda defensiva durante a sessão, por precaução.

Ainda que essa sondagem venha reforçar a percepção no mercado de que a eleição de Bolsonaro pode estar bem encaminhada, a correção de baixa do dólar ante o real está mais discreta. Isso porque estão surgindo dúvidas em relação à agenda liberal do presidenciável do PSL, que não participará de nenhum debate até o dia 18, por determinação médica.

Bolsonaro vem mudando o tom de seu discurso sobre privatizações e reformas. Passou a defender um processo de reforma da Previdência mais moderado do que o esperado e já sinalizou ser contrário às privatizações do setor elétrico e de bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. 

Também já indicou restrições à venda de ativos da Petrobras e defendeu nesta quarta-feira a adoção de 13º salário a beneficiários do programa Bolsa Família. Neste caso, ele quer atrair votos sobretudo no Nordeste do País, região onde ele perdeu para seu adversário Fernando Haddad no primeiro turno.
Na noite de quarta-feira, Bolsonaro afirmou em entrevista à RecordTV que o economista Paulo Guedes, que o assessora, tem carta branca para formular propostas, mas que somente “bate o martelo” depois de falar com ele. 

O mercado está de olho em Guedes, que está sendo investigado pelo Ministério Público, e poderá, se o capitão reformado for eleito, ser seu ministro da Fazenda. O “chefe” pediu medidas no sentido de ter um “dólar compatível e uma taxa juros menor possível”. Para isso, o time econômico da campanha de Bolsonaro prepara estudo detalhado para medidas de estímulo ao mercado de capitais e desoneração dos investimentos no setor produtivo.

Haddad, por sua vez, conseguiu nesta quarta apoios importantes do PDT, da Rede e da corrente “esquerda para valer”, do PSDB, que reúne cerca de 5 mil militantes nas redes sociais e deve participar de um ato público com o candidato nesta Quinta-feira.
Também na quarta, o ex-ministro e ex-governador Jaques Wagner (PT), senador eleito pela Bahia e um dos coordenadores da campanha de Haddad, afirmou que nomes de ministros de um eventual governo petista podem começar a ser anunciados antes da eleição a fim de acalmar os eleitores desconfiados com o partido.

Segundo Wagner, essa preocupação tem sido demonstrada por Haddad e, por isso, as pastas da Educação, Fazenda e Justiça podem ter divulgados “nomes que tranquilizem a população”.

Os investidores tende a monitorar as próximas pesquisas, propostas econômicas e os nomes de ambos os lados que poderão eventualmente compor os futuros governos.

No exterior, o ambiente negativo generalizado reflete receios de aperto monetário mais rigoroso nos EUA, além de maiores tensões comerciais entre EUA e China e perspectivas de expansão econômica global mais fraca. 

Às 9h52 desta quinta-feira, o dólar à vista caía 0,83%, a R$ 3,7322. O dólar futuro de novembro recuava 0,60%, a R$ 3,7405.


Inovação à brasileira


Como o agronegócio vem se tornando um dos grandes laboratórios de P&D do país – e a contribuição do Sul nesse cenário

 

Por Karine Menoncin

 

karine.menoncin@amanha.com.br
Como o agronegócio vem se tornando um dos grandes laboratórios de P&D do país – e a contribuição do Sul nesse cenário


Enquanto o Brasil estava prestes, em 1958, a ser campeão do mundo pela primeira vez, a estrutura de dupla hélice do DNA já havia sido descoberta em 1953; o Sputnik I recém havia sido lançado ao espaço, em 1957, e a medicina dava seus primeiros passos rumo ao transplante de órgãos. Sem o mesmo alarde, distante dos holofotes urbanos, outras descobertas mudariam a paisagem econômica ao longo da segunda metade do século 20, e iriam compor o que se chamou de Revolução Verde. O uso de máquinas e insumos agrícolas redimensionou a escala da produção de alimentos ao oportunizar um grande salto de produtividade, baseado no melhoramento genético, uso de fertilizantes e sistemas de irrigação. Havia, porém, uma lacuna – uma certa despreocupação com a sustentabilidade da revolução agrícola. Cinco décadas depois, este é um dos focos de atenção dos laboratórios e centros de pesquisa que comandam a inovação no campo brasileiro, em busca de tecnologias que não apenas aumentem a produtividade, mas otimizem o tempo do produtor, reduzam o consumo de insumos e atenuem os impactos ambientais. 

No Sul, a Stara, sediada em Não-Me-Toque (RS), é uma das empresas que abraçaram com maior sucesso essa missão. Desde o sucesso da sua capinadeira dirigível com braços flutuantes, em 1970, a empresa busca antecipar-se às necessidades dos produtores. “Fomos chamados de loucos quando falamos que um trator iria se comunicar com um satélite, através de um GPS. Mas estávamos enxergando nessa tecnologia uma grande oportunidade”, recorda Gilson Trennepohl, presidente da companhia. Se a conexão via GPS já é uma realidade em boa parte das lavouras, a fabricante de máquinas agrícolas aposta agora em uma plataforma conectável com a Telemetria Stara, tecnologia que permite ao produtor acessar em tempo real e de forma simples e intuitiva as informações dos equipamentos – basta que tenha à mão um dispositivo móvel, como smartphone ou tablet, com acesso à internet. Dados como o mapa de dosagem, de velocidade e transpasse [ato de monitorar para não aplicar defensivo em uma área onde o produto já foi usado] são armazenados na nuvem e integrados com as plataformas de gestão, gerando informações importantes para auxiliar o produtor na tomada de decisão na propriedade. Essa e outras iniciativas fizeram com que a empresa fosse reconhecida pela multinacional alemã SAP, com quem mantém parcerias de pesquisa, como o Melhor Cliente Referência da marca no Brasil, em 2017. Hoje, 55% da receita da Stara é fruto de produtos lançados nos últimos três anos.

Outro exemplo do Sul é a Falker Automação Agrícola. Quando nem existia o conceito de startups, a empresa já despontava na incubadora tecnológica da Cientec, fundação do governo gaúcho extinta recentemente. Há 13 anos, a companhia desenvolve produtos com tecnologia própria, fornecendo equipamentos para coleta, organização e uso de informações agronômicas. Um de seus últimos lançamento é o FarmLink,  sistema sem fio que permite monitorar a umidade do solo em tempo real, proporcionando um controle efetivo da irrigação. A conexão via internet é opcional para permitir acesso remoto, já que a comunicação entre as antenas é feita por rádio até a estação central. Dessa forma, os dados estão sempre disponíveis na fazenda. É investindo na funcionalidade dos seus produtos que a empresa já atua em mercados de mais de dez países da América Latina. 

“É importante conhecer bem o agronegócio para, então, desenvolver soluções para o produtor. A tecnologia precisa ser acessível para quem está no campo. É o caso dos drones, que só farão parte do dia a dia do agricultor quando tiverem um manuseio mais fácil e um valor realmente acessível”, ensina Marcio Albuquerque, diretor da Falker. Atualmente, um aparelho como esse pode custar até R$ 100 mil. O negócio é tão promissor que despertou até mesmo o interesse de companhias de outras áreas, como a fabricante de equipamentos de informática Positivo, do Paraná. A empresa criou a Eleva, startup para comercializar seu próprio drone (veja mais detalhes em “A solução que vem do céu”, ao final desta reportagem). 


Melhoramento genético

 A tecnologia, entretanto, não está embarcada só nas máquinas inteligentes ou satélites, mas em cada grão produzido, literalmente. Com a genética e com a biotecnologia, as plantas ficaram mais resistentes a ataques de pragas e mais bem adaptadas às condições climáticas de cada região. Os próprios defensivos agrícolas são desenvolvidos com moléculas que permitem a seletividade, para que atuem de forma localizada e, assim, gerem menor impacto ambiental.  Os avanços também estão onde os olhos sequer podem perceber. A nanotecnologia trabalha com partículas 50 mil vezes menores do que a espessura de um fio de cabelo, e entre muitas outras possibilidades permite investigar como são fibras, células, partículas e moléculas para, então, desenvolver sensores  capazes de identificar doenças e até mesmo comandar sistemas nanoparticulados que liberam insumos agrícolas e veterinários (vacinas e fármacos) de forma gradual, prolongando o tempo de efeito.

Foram avanços como esses que permitiram aumentar a produção agrícola enormemente. Enquanto a área plantada cresceu 65% nos últimos 25 anos, a produtividade no Brasil foi quase multiplicada por quatro, de acordo com estudos feitos pelo Banco do Brasil. É essa matemática que explica a proeza de Santa Catarina que, mesmo com apenas 1,3% do território nacional, é o quinto maior produtor brasileiro de alimentos. “Nossa tecnologia está dentro de cada grão exportado, já que o mercado internacional é muito qualificado e requer que estejamos aptos, especialmente na produção de commodities”, destaca Luiz Antônio Palladini, diretor de ciência, tecnologia e inovação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Com 13 estações de pesquisa, a Epagri se concentra no melhoramento genético de plantas, além de pesquisar novas técnicas de manejo e pós-colheita para reduzir o uso de insumos e gerar um produto mais limpo, de menor contaminação do meio ambiente – tanto para o produtor quanto para o consumidor. O retorno é efetivo: segundo o balanço social da estatal, a cada real investido na Epagri, os brasileiros foram beneficiados com R$ 5,88. No ano passado, o retorno global das tecnologias geradas pela empresa de pesquisa catarinense, considerando a contribuição de todos os agentes para o uso dessas soluções, foi estimado em R$ 5,2 bilhões (veja mais detalhes em “Os entraves da pesquisa” quais são os fatores que ainda freiam o desenvolvimento no agronegócio).  

No Paraná, mais de 240 variedades de plantas melhoradas, como trigo, algodão, arroz, cítricos, feijão, mandioca e batata, foram desenvolvidas em 46 anos pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Ao todo, são 16 fazendas experimentais, 23 estações agrometeorológicas e 25 laboratórios de diferentes áreas de especialidade. “Hoje, trabalhamos especialmente com o melhoramento de milho, trigo, arroz e feijão. Mas nossas frentes de trabalho também abarcam a chamada agricultura contemporânea, com um programa voltado à pesquisa e ao desenvolvimento de energias renováveis, a partir de biodiesel, biomassa, biogás e energia solar e eólica”, conta o diretor de pesquisa Tiago Pellini. Uma vertente menos aparente, mas igualmente importante, é a das tecnologias de processo, como o plantio direto e a rotação de culturas. “É importante incentivar essas práticas para evitar o esgotamento do solo. Aqui no Paraná, na safra de verão, 90% dos hectares são ocupados pela soja. Antes, tínhamos mais equilíbrio com o milho, que hoje está reduzido a menos de 10% da área total de verão”, admite Pellini.

O cenário do restante do Brasil não foge disso. Se há quatro décadas era impensável produzir grãos no Cerrado, a implementação de tecnologias possibilitou o cultivo em áreas anteriormente consideradas improdutivas por conta da baixa fertilidade natural e acidez acentuada. No início da década de 1970, aproximadamente 4,5 milhões de hectares estavam ocupados com agricultura. Em 2016, a área passava de 20,5 milhões, segundo a Embrapa. “A tecnologia foi capaz de incorporar o Cerrado [na produção brasileira de grãos], mantendo a biodiversidade da região. Conseguimos também produzir soja em regiões mais frias e hoje se colhe o grão de norte a sul. Fizemos adaptação de cultivares e conseguimos grande penetração em várias regiões”, orgulha-se Kepler Euclides Filho, pesquisador da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

O desenvolvimento genético de animais é um capítulo à parte. O grupo gaúcho Vibra é apenas um exemplo. A companhia migrou da produção de frangos para a genética avícola. Hoje, a companhia trabalha em dois segmentos diretamente ligados: a multiplicação genética de matrizes de aves com a marca Agrogen e a produção e comercialização de carne de frango com as marcas Nat Verde e Ávia. A empresa atua em conjunto com a Cobb-Vantress, líder mundial das casas genéticas de aves. “Ocupamos uma posição de destaque na multiplicação genética de matrizes de aves no país. E, ainda, estamos entre as poucas indústrias brasileiras que detêm o controle total da cadeia produtiva – incluindo granjas, incubatórios, laboratórios, fábricas de ração e frigoríficos”, comemora Gerson Muller, diretor-superintendente do Grupo Vibra. 

 Santa Catarina também adicionou ousadia à avicultura. Em março, o Estado se tornou o primeiro do mundo a ter um projeto de compartimentação da avicultura de corte. No sistema de produção fechado da Seara Alimentos de Itapiranga, os ovos, os pintainhos, o abate e os caminhões de ração devem circular dentro de um limite territorial. O frango precisa nascer, desenvolver-se e ser abatido dentro de uma unidade geográfica – neste caso, em 28 municípios do extremo-oeste catarinense. A intenção é reduzir o risco de introdução de doenças, aumentando o controle de qualidade.


Do GPS ao big data 

 Nos anos 1990, um sistema eletrônico de navegação militar chegava aos consumidores de todo o mundo. O GPS era uma novidade – ainda mais no campo. Rapidamente, embarcou nas máquinas agrícolas e tornou o trabalho mais eficiente a partir de sistemas que possibilitam a geração de mapas de produtividade. Tornou-se possível conhecer a fundo os aspectos da lavoura, como as características físicas, químicas e de compactação do solo, além de controlar possíveis doenças e pragas. Com isso, monitora-se a variabilidade da produção, tanto sob o aspecto quantitativo como da qualidade dos grãos. “Identificando as falhas, o agricultor consegue gerenciar melhor a utilização dos insumos no momento certo, no local que precisa e na quantidade adequada. Além do aumento da produtividade, também é um sistema que promove a sustentabilidade”, assinala José Paulo Molin, presidente da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP) e professor da USP. 

Se o GPS já transformou os processos, desde a preparação do solo até a colheita, os novos ventos que sopram parecem aposentar de vez os cadernos de anotações. A agricultura digital é muito mais do que uma roupagem nova para velhos conceitos. Nessa nova revolução, agora composta por bytes, a utilização de sensores refinados e robôs com inteligência artificial é uma realidade bastante próxima. A apropriação do big data – um grande conjunto de dados armazenados – permite criar simulações computacionais que indicam como cada cultura se comporta em diferentes condições, a partir de informações coletadas para identificar padrões. Para Pellini, do Iapar, é preciso encarar essa nova etapa. “As áreas clássicas das ciências agronômicas precisam se integrar a uma série de conhecimentos de áreas não clássicas das ciências agrárias, como as possibilidades provindas da automação, TI, robótica, inteligência artificial e bioinformática. A existência de todos esses dados não prescinde da necessidade de se ter gente preparada para trabalhar com isso”, pondera o diretor do Instituto Agronômico do Paraná.  

A agricultura de precisão já beneficiou milhares de cooperados da Coamo em toda a área de ação da cooperativa no Paraná, em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul, desde 2012. O programa é respaldado pela pesquisa e conta com tecnologia de ponta para o trabalho que inclui desde a retirada do solo para análise até a aplicação dos corretivos. Foi essa tecnologia que solucionou o problema da lavoura da família Bocato, de Boa Esperança, na região centro-oeste do Paraná. A primeira área recebeu a agricultura de precisão há três anos. Como o resultado foi satisfatório, os Bocato começaram a aplicar em outra parte da propriedade. A técnica já foi aplicada em 90% dos 130 alqueires. 

Cleber Bocato conta que começou a notar melhora já no primeiro ano após a aplicação dos corretivos. “Foi uma grande mudança. A área era bastante manchada e ficou uniforme, igualando a produtividade e aumentando a produção”, sintetiza. Ele salienta que a tecnologia reduziu o custo, aumentando a produção. “Houve ganhos de produtividade, pois as manchas mostravam que as lavouras tinham algum tipo de deficiência, o que levava a diminuir a colheita nessas áreas. Agora, está tudo uniforme, produzindo igual”, conta Cleber, que trabalha em parceria com o pai José e os irmãos Edvaldo e Luiz.

Segundo o engenheiro agrônomo Luiz Oliveira, do Departamento Técnico (Detec) da Coamo, em Boa Esperança, os cooperados da região estão buscando novas tecnologias para que possam melhorar a produtividade e a renda das famílias. “No caso da família Bocato, a ideia de fazer a agricultura de precisão surgiu após várias tentativas sem sucesso de resolver um problema de baixo rendimento em um lote da propriedade. Variedades e fungicidas foram trocados, sistemas aprimorados, mas nada de saber o que acontecia. Até que a agricultura de precisão mostrou o que precisava ser corrigido. A resposta veio já na primeira safra, aumentando a produtividade na área”, comenta Oliveira. 

A Cotrijal desenvolve o Ciclus, que difunde a tecnologia obtida através de outro projeto, o Aquarius. Criado ainda no ano 2000, o Aquarius é voltado à pesquisa em agricultura de precisão. Os primeiros estudos foram realizados por uma parceria entre as empresas Stara, Monsanto, Massey Ferguson e Serrana Fertilizantes. A Fazenda Anna, no interior de Não-Me-Toque (RS), foi o campo de provas para os experimentos. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) passou a atuar no projeto em 2004, mesmo ano em que o primeiro implemento concebido pela pesquisa chegou ao mercado. No ano seguinte, a Cotrijal também integrou-se, quando a cidade passou a ser denominada a Capital Nacional da Agricultura de Precisão. “Aqui na região da Cotrijal temos produtores colhendo 66 sacas a 70 sacas de soja por hectare e 170 sacas a 240 sacas de milho por hectare – e isso é uma média, o que significa dizer que há quem colha 80, 90 sacas de soja. Uma produtividade excelente, que nos orgulha, porque é referência para todo o país.”, destaca Nei Mânica, presidente da Cotrijal. Em solo gaúcho também se encontra a primeira instituição de ensino superior do Brasil voltada exclusivamente ao ensino, pesquisa e extensão em cooperativismo: a Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo – Escoop, com sede em Porto Alegre. A instituição foi avaliada com conceito 4 (numa escala até 5) pelo Ministério da Educação. 


Do boi ao peixe

 Em menor escala, a pecuária e a aquicultura também vêm incorporando avanços. Uma parceria conjunta da Embrapa, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP) investirá R$ 57 milhões nos próximos quatro anos para oferecer pacotes tecnológicos e pesquisas científicas necessárias de modo a elevar a produção de tambaqui, tilápia e camarão. O programa BRS Aqua pretende melhorar desde a qualidade das matrizes reprodutoras até a tecnologia de processamento de rações, já que esse insumo responde por 82% do custo. Para gerenciar o maior rebanho comercial do mundo, o Brasil também investe em soluções de bem-estar animal, nutrição, sanidade e rastreabilidade. “Há 40 anos importávamos carne. Hoje, a genética para o desenvolvimento de novos animais gerou uma grande transformação para a cadeia da carne, tanto de bovinos quanto suínos e ovinos. Melhoramos a genética de forrageiras, fazemos a seleção e oferta de cultivar e, atualmente, somos exportadores. No leite, a genética e o manejo também cresceram muito. Enfim, em qualquer área que olharmos, tem protagonismo dos produtores nesse processo”, sublinha Kepler Euclides Filho, pesquisador da Embrapa há 44 anos.

Aliadas aos produtores, as cooperativas são parceiras no campo e nos laboratórios. São elas os principais pontos de acesso da agricultura familiar e dos pequenos produtores com o que vem sendo desenvolvido em termos tecnológicos. Em Santa Catarina, ganha espaço o uso da tecnologia RFID baseada no uso da radiofrequência para aperfeiçoar o sistema de rastreabilidade. O projeto, conhecido como Canal Azul, permite o uso de uma espécie de etiqueta eletrônica inteligente implantada nos lacres dos contêineres, controlando todo o processo de preparação, transporte aos portos, embarque e chegada ao destino final, no exterior. 


Os entraves da pesquisa

 Para chegar às colheitadeiras inteligentes, que se ajustam sobre o melhor caminho, ou às estações de irrigação que interagem com sensores meteorológicos, ligando ou desligando conforme necessário, foi necessário investir muito tempo – e dinheiro – em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). “Para produzir uma planta ou 1 milhão delas, a estrutura é a mesma. Então, é realmente custoso [fazer pesquisa]”, confirma Luiz Antônio Palladini, diretor do Epagri. Centros de pesquisa financiados por verbas públicas amargaram um corte de 25% dos investimentos em relação ao ano passado. O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) foi limitado a R$ 4,6 bilhões.

A alternativa encontrada por centros de pesquisa como a Embrapa foi intensificar parcerias para manter projetos em andamento. “Os investimentos estão muito baixos, pois o Brasil tem vivido dificuldades econômicas e passamos por um contingenciamento nos últimos três anos. Esperamos que a recuperação da economia ajude a pesquisa”, preocupa-se Kepler Euclides Filho, pesquisador da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa. Em 2017, as despesas com pesquisa foram de aproximadamente R$ 66,8 milhões – um terço abaixo dos R$ 96,9 milhões investidos na área em 2016. Esse foi o menor orçamento desde 2010.

Em Santa Catarina, a Epagri conta com 180 pesquisadores focados em pesquisa aplicada. Com safras recordes nos últimos anos, os orçamentos destinados à empresa de pesquisa foram mantidos de forma estável. “Por sorte, Santa Catarina tem acreditado no desenvolvimento e pesquisa e, então, vem proporcionando recursos. É suficiente, mas não tudo que desejaríamos. Tem de se aplicar sempre mais verbas, pois a P&D pode estagnar se houver um acúmulo de dois ou três anos sem aporte”, defende Palladini. Só no instituto paranaense Iapar, mais de mil pessoas – entre pesquisadores, analistas, técnicos agrícolas e servidores – dedicam-se a diferentes programas de pesquisa.


A solução que vem do céu

 Não faz muito tempo que a palavra drone entrou no vocabulário dos brasileiros. Mas, se antes eram utilizados basicamente para a captura de imagens áreas, hoje os superequipamentos já estão nas mais diversas funções, desde a entrega de encomendas ao reconhecimento de situações de perigo em grandes multidões. Na agricultura, encontrou um habitat natural. Um drone bem empregado acaba sendo uma espécie de funcionário, de olhar apurado e presteza no trabalho, com a vantagem de vigiar tudo do alto. Apostando nisso, a startup Eleva lançou o superdrone Eleva Spray 150. O equipamento é a primeira incursão no agronegócio do Grupo Positivo, holding paranaense com investimentos no setor de ensino, gráfica, entretenimento e na produção de computadores, tablets e celulares. O protótipo pesa 150 quilos e tem capacidade de estocar até 80 litros de insumo por operaçã

Medindo cinco metros de largura e com seis metros de barra de pulverização, o Eleva Spray 150 está em processo de desenvolvimento final para comercialização já a partir do ano que vem, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, Argentina e Austrália, mercados globais com características semelhantes às grandes áreas de produção rural brasileiras. Além do Vant – veículo aéreo não tripulado –, o sistema conta com uma estação de controle, a GS – Ground Station, de onde é possível coordenar a pilotagem manual ou automatizada. “Uma vantagem da Eleva é que a legislação brasileira para uso de Vants é baseada na europeia, que é a mais restritiva mundialmente. Portanto, as certificações no Brasil vão garantir que o equipamento esteja preparado para passar nos testes no exterior também. Essa é a principal premissa para ganharmos escala com agilidade”, projeta Celso Faria de Souza, diretor técnico da Eleva.

Um dos trunfos do superdrone é o efeito downwash, que impulsiona para baixo os defensivos, gerando economia de insumos e mais segurança operacional. Além disso, o equipamento pode ser utilizado à noite, quando algumas condições estão mais favoráveis à pulverização: maior umidade, menor temperatura, menos ventos e maior facilidade da planta para absorver os defensivos sistêmicos, entre outros. Adicionalmente, há diversas pragas com comportamento noturno, tornando esse tipo de pulverização mais efetiva e menos danosa à natureza e aos insetos, como as abelhas.


quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Nubank vira maior startup latina com aporte de US$ 180 milhões de chinesa



Nubank vira maior startup latina com aporte de US$ 180 milhões de chinesa
A startup brasileira Nubank, conhecida pelo seu cartão de crédito roxo, anunciou na segunda-feira, 8, que recebeu uma rodada de investimentos de US$ 180 milhões da chinesa Tencent, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. De acordo com o site americano ‘The Information’, que antecipou a notícia, o investimento faz o Nubank ser cotado em US$ 4 bilhões, tornando-se a maior startup de capital fechado da América Latina.

Segundo as companhias, US$ 90 milhões serão investidos diretamente na empresa, enquanto o restante será utilizado pela asiática para comprar participação de outros acionistas da startup brasileira. Ao todo, a chinesa deve ter uma fatia de cerca de 5% dentro do Nubank, disseram fontes próximas ao assunto.

Fundado em 2013, pelo colombiano David Vélez, o Nubank tem registrado crescimento expressivo nos últimos meses: há duas semanas, divulgou ter 5 milhões de clientes em seu cartão de crédito controlado por aplicativo, 20% mais do que tinha em fevereiro. Além disso, a empresa também tem 2,5 milhões de usuários em sua conta bancária digital, a NuConta, lançada há cerca de um ano.

“O projeto do Nubank é ser um banco digital completo. Uma avaliação de mercado de US$ 4 bilhões é condizente com o potencial da empresa”, avalia Guilherme Horn, diretor executivo de inovação da consultoria Accenture. Na visão do especialista, os números atuais do Nubank o credenciam como um dos maiores bancos digitais do mundo, mesmo atuando apenas no Brasil – em entrevista recente, David Vélez negou ter planos de expansão para a América Latina no curto prazo.

Já para o presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Amure Pinho, o investimento mostra a força do ecossistema brasileiro de startups, mesmo em meio à crise. “É um sinal de que nosso mercado consumidor interno tem apetite”, afirma ele, ressaltando que o investimento ajudará o Nubank a brigar de frente com as instituições bancárias tradicionais brasileiras. “A empresa tem tudo para ser a maior emissora de cartões do País em breve.”

Destino


Em comunicado divulgado à imprensa, o presidente executivo do Nubank, David Vélez, ressaltou que a empresa não “precisava de mais capital neste momento” – em fevereiro, a startup recebeu um aporte de US$ 150 milhões do fundo DST Global. “Já geramos caixa operacional desde o ano passado, mas não poderíamos deixar passar a oportunidade de ter a Tencent conosco.” Para especialistas ouvidos pelo jornal o Estado de S. Paulo, a troca de conhecimento com a chinesa será o principal ganho do Nubank na operação.

“Os chineses têm um grande conhecimento para fazer negócios ganharem escala”, diz Horn, da Accenture. “Além disso, mudanças que já estão maduras na China ainda não aconteceram aqui, como toda a revolução na área de pagamentos.”
É um setor que a chinesa tem experiência: hoje, é dona do WePay, um dos serviços de pagamentos móveis mais populares do mundo. Ele funciona dentro do WeChat, espécie de WhatsApp chinês, utilizado por mais de 1 bilhão de pessoas atualmente. Além disso, a Tencent também tem participações em empresas como Tesla, Snap e o aplicativo de transportes Didi. Avaliada em US$ 360 bilhões, a chinesa também é dona da Riot, produtora do sucesso dos games League of Legends. 


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

STJ usa proveito econômico para definir honorários de sucumbência



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Por considerar ínfimo o valor dos honorários de sucumbência fixado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que, na hipótese de improcedência de embargos à execução, a verba honorária deve ser fixada em 5% do proveito econômico buscado pelo perdedor da ação.

Assim, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino aumentou de R$ 2 mil para R$ 21,7 mil o valor dos honorários de sucumbência em uma ação envolvendo a Companhia Muller de Bebidas e outros.

Os autores dos embargos de terceiros tentaram desfazer a penhora de cerca de R$ 1,1 milhão. Porém, os embargos foram julgados improcedentes. A sentença fixou os honorários de sucumbência em R$ 2 mil, valor mantido pelo TJ-SP.

Inconformado, o escritório Teixeira, Martins e Advogados recorreu ao STJ alegando que o valor era ínfimo, uma vez que representava 0,18% do proveito econômico buscado pelos embargantes.

Ao julgar o pedido, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino reconheceu que o parâmetro que deveria ter sido adotado para a fixação dos honorários de sucumbência era o proveito econômico dos embargos de terceiro improvidos, que no caso corresponde a 39% do total da penhora.

Assim, o valor definido estaria abaixo do percentual mínimo admitido pela jurisprudência, que é de 1% do valor da causa. Considerando as circunstâncias da causa, o ministro decidiu fixar os honorários em 5% do proveito econômico, o que corresponde a R$ 21,7 mil.


Clique aqui para ler a decisão.
REsp 1.726.163



 https://www.conjur.com.br/2018-out-09/stj-usa-proveito-economico-definir-honorarios-sucumbencia

Cade aprova cisão da Florestal Vale do Corisco, controlada por Klabin e Arauco

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Parecer do Cade sobre a operação informa que o negócio, por se tratar de cisão, não vai alterar a estrutura do mercado. “Os ativos que estavam sendo administrados de forma conjunta por Klabin e Arauco desde a aquisição da Vale do Corisco em 2011 passarão a ser administrados individualmente pelas partes de acordo com a divisão determinada por elas”, cita o documento. 

A operação – acrescenta o texto – tende a ser pró-competitiva já que, ao final, resultará nas duas empresas comercializando os produtos independentemente, em vez de fazê-lo de forma conjunta.

A chilena Arauco atua nos segmentos de reflorestamento, toras de madeira, painéis de madeira, formol, papel impregnado, madeira serrada, resinas termofixas, e pisos laminados de madeira. A nacional Klabin atua na produção de celulose, papéis, embalagens de papelão ondulado e sacos industriais, além do setor florestal, com vendas de toras de madeira para a indústria de laminação e madeira serrada.



Guru econômico de Bolsonaro é investigado por fraude

Coordenador do programa econômico do candidato do PSL está sob investigação do MPF em Brasília por suspeita de fraude

 





São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília abriu Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para investigar o economista Paulo Guedes, conselheiro econômico do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). A informação foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo e confirmada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Chamado de “Posto Ipiranga” pelo presidenciável e indicado como ministro da Fazenda em caso de vitória de Bolsonaro, Guedes é suspeito de cometer crimes de gestão fraudulenta e temerária à frente de fundos de investimentos (FIPs) que receberam R$ 1 bilhão, entre 2009 e 2013, de fundos de pensão ligados a empresas públicas. Também será apurada a emissão e negociação de títulos imobiliários sem lastros ou garantias.

Entre os fundos de pensão que repassaram valores aos FIPs administrados por Guedes estão a Funcef, da Caixa, Postalis, dos Correios, Previ, do Banco do Brasil e BNDESPar, este fundo de investimento do BNDES. À época dos fatos apurados, os fundos eram geridos por pessoas indicadas pelo PT e PMDB.

A investigação foi aberta com base em relatórios da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) que apontam indícios de fraudes nos aportes feitos pelos fundos de pensão em dois fundos de investimentos criados pela BR Educacional Gestora de Ativos, empresa de Paulo Guedes. A investigação é conduzida pela força-tarefa Greenfield, responsável por apurar desvios nos principais fundos de pensão do País.

Segundo os relatórios da Previc, os aportes nos FIPs podem ter gerado ganho excessivo a Guedes. Em um dos FIPs, que recebeu cerca de R$ 400 milhões, Guedes ganhou 1,75% sobre o valor aportado pelos fundos de pensão logo após o investimento.

Esse mesmo FIP, segundo a Previc, aplicou os valores recebidos dos fundos de pensão em uma empresa: a HSM Educacional, que era controlada pelo próprio Guedes.

A Previc também viu indício de irregularidades no fato de a HSM Educacional, logo após receber os valores, ter adquirido de uma empresa argentina 100% da companhia HSM Brasil, voltada a projetos educacionais e palestras. Como não era uma empresa listada na Bolsa, o investimento foi feito tendo como base um laudo produzido por outra empresa.

Mesmo com laudo apontando a viabilidade do investimento, a empresa que recebeu o aporte registrou prejuízo, principalmente, por causa da remuneração de palestrantes. Somente com o pagamento desse tipo de serviço, entre 2011 e 2012, a empresa gastou R$ 11,9 milhões. Na mesma época, Guedes viajou o País realizando palestras. O MPF quer descobrir se ele recebeu parte desses valores.

Procurado, Paulo Guedes não respondeu aos contatos da reportagem.