Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
A Neoway, maior empresa de Big
Data Analytics, Inteligência Artificial, Machine Learning e tecnologia
aplicada a negócios da América Latina, anunciou nesta terça-feira (11) a
aquisição da LegalLabs, maior companhia de Inteligência Artificial do
Brasil para a área de Direito. A operação avaliada em US$ 26 milhões
(cerca de R$ 100 milhões), dá origem à Neoway Legal, solução inédita no
mercado nacional para aumento de produtividade jurídica e administrativa
de organizações privadas e púbicas. A Neoway Legal disponibiliza
funcionalidades como, por exemplo, previsão de decisões judiciais,
contingenciamento de massas processuais, previsão de valor de
condenações judiciais, apoio à decisão jurídica e geração de documentos.
Empresas com grande número de processos judiciais como bancos,
seguradoras e negócios de saúde.
"A
compra da LegalLabs faz parte da estratégia de crescimento da Neoway,
pois traz uma tecnologia complementar à empresa, fortalecendo ainda mais
o nosso posicionamento de one stop shop de soluções tecnológicas",
comenta Jaime de Paula (foto), CEO da Newoay que, no Sul, tem unidade em
Florianópolis (SC). "Estamos atentos a novas oportunidades que tenham
sinergia e sejam interessantes para os nossos negócios", pontua ele.
Especialistas
indicam que o mercado americano de legal movimenta cerca de US$ 489
bilhões por ano. No Brasil, a estimativa é que esse valor seja de entre
US$ 1 bilhão e US$ 3 bilhões, sendo que, aproximadamente, 2% do PIB
nacional passa, de alguma forma, pela área. A previsão é que o segmento
cresça no país quatro vezes nos próximos dois anos. Atualmente, existem
no Brasil, entre 100 milhões e 110 milhões de processos em tramitação.
Somente os processos de execução fiscal chegam a 35 milhões. A
plataforma atua diretamente nesse cenário.
De
acordo com o CEO da LegalLabs, agora executivo da Neoway Legal, Kleber
Campos, um dos principais objetivos da Neoway Legal é eliminar
atividades repetitivas, facilitando, assim, o cotidiano de grandes
empresas, advogados, magistrados e procuradores. "A plataforma realiza
em minutos, com grande precisão, a avaliação de milhões de processos,
reavaliação de contingências de grandes empresas e previsão de decisões
judiciais futuras. Além disso, serve de auxílio para a geração de
petições que demorariam semanas para ser elaboradas", exemplifica.
Para deixar a crise no retrovisor, General Motors procura aperfeiçoar a experiência do consumidor
Por Karine Menoncin
karine.menoncin@amanha.com.br
Após uma queda de 46% em
quatro anos, para 2,05 milhões de unidades em 2016, as vendas de carros e
caminhões cresceram 9% em 2017. Os negócios passaram a se recuperar no
ano passado, quando a venda de veículos novos cresceu 14,6%, segundo
levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea). Na carona, a General Motors (GM), dona da marca
Chevrolet, comercializou quase 390 mil carros e passou a dominar 18,5%
do mercado brasileiro.
Ainda assim, no início de 2019, a
multinacional norte-americana anunciou a pretensão de sair do Brasil,
encerrando as operações em suas fábricas em São Caetano do Sul, Mogi das
Cruzes e São José dos Campos (SP), Gravataí (RS) e Joinville (SC). Após
acordos, a empresa decidiu ficar no país.
Luis
Mesa, diretor de produção da unidade gaúcha (foto), apresentou ao canal
AMANHÃ TV algumas estratégias da montadora para encantar os
brasileiros.
Negócio foi anunciado em visita de missão empresarial ao Chile
Da Redação
redacao@amanha.com.br
A missão empresarial ao Chile
liderada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio
Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, retorna a Porto Alegre,
nesta sexta-feira (7), com US$ 4,25 milhões em negócios fechados ou
alinhados para os próximos 12 meses. Foram duas rodadas e 89 reuniões
previamente agendadas realizadas, envolvendo 15 empresas gaúchas, na
terça e quarta-feira, com empresas e investidores chilenos. Com o
governo do Estado, que esteve na missão, até quarta-feira, representado
pelo governador Eduardo Leite e secretários, a chilena Ultramar acertou a
expansão das operações no Porto de Rio Grande, em um investimento de
aproximadamente R$ 300 milhões (na foto, Leite com executivos da
companhia chilena). O plano é aumentar a área ocupada atualmente para
poder escoar a produção de madeira e celulose. Ao mesmo tempo, a CMPC
Celulose, já instalada na cidade de Guaíba, mantém o plano de ampliação
de seu investimento no País, e o Rio Grande do Sul é candidato a receber
o projeto.
Outro resultado obtidos foi o da Cerealista
Polisul, de Pelotas, que conseguiu fechar venda de arroz ao mercado
daquele país. “Nas missões da Fiergs sempre procuramos proporcionar
visitas técnicas a empresas de referência como uma fonte de trocas de
experiências, seja em processos produtivos, modelos de gestão ou
internacionalização", disse Petry. “Os objetivos foram alcançados, volto
satisfeito, e as empresas e os investidores chilenos na Sofofa
(Sociedade de Fomento Fabril) também se manifestaram dessa forma”. Nesta
quinta-feira (6), a pauta incluiu uma reunião com o Banco do Brasil
para acertar um convênio que facilite o fluxo de comércio e as
movimentações financeiras das empresas gaúchas no Chile. A medida tem
como objetivo facilitar ao empresário do Estado que pretende exportar
para o país, por meio de um convênio entre a federação e o escritório do
banco no Chile. Quando passar a vigorar o projeto, o banco
disponibilizará dados sobre o que o Chile compra e informações da
empresa chilena importadora dos produtos gaúchos. Além disso, ocorreu
uma visita técnica à Costanera Center & Cencosud, grande rede
varejista multissetorial que emprega 140 mil pessoas em mais de 940
estabelecimentos entre hipermercados, lojas de materiais de construção e
shoppings centers na Argentina, Brasil, Chile, Peru e Colômbia.
No
ano passado, a balança comercial entre o Rio Grande do Sul e o Chile
teve um saldo de mais de US$ 346 milhões, com o Estado vendendo ao país,
sexto destino das exportações gaúchas, principalmente veículos (US$
206,54 milhões), 42,17% do total da pauta. Já de origem chilena, o RS
comprou especialmente produtos químicos orgânicos (US$ 41,68 milhões),
29% do total importado. O Chile tem uma população de quase 19 milhões,
uma taxa de desemprego de 7% e um salário mínimo de US$ 400.
As medidas de austeridade adotadas pelo
diretor-geral brasileiro de Itaipu, Joaquim Silva e Luna, já resultam
numa economia de R$ 163 milhões para os cofres da binacional, empresa
pública mantida pelo Brasil e pelo Paraguai.
O valor economizado equivale à metade dos recursos destinados à
construção da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que deve custar R$
323 milhões (apenas a ponte, sem considerar a perimetral que vai
conectá-la à BR-277, em Foz do Iguaçu).
O balanço é referente a 100 dias de sua gestão à frente da margem esquerda da usina, completados nesta quarta-feira, 5 de junho.
Nessa conta não entram estimativas futuras de redução de outros
gastos que ocorrerão com o enxugamento do escritório de Itaipu em
Curitiba e, consequentemente, a transferência de quase 150 empregados
para Foz do Iguaçu, centro de comando da usina. O processo de migração
começa em julho e se estende até janeiro de 2020. Itaipu manterá na
capital paranaense apenas uma unidade de representação, a exemplo de
Brasília (DF).
Só com o cancelamento da reforma prevista para o Edifício Parigot de
Souza, sede do escritório de Curitiba, a economia passa de R$ 4,1
milhões. Com a redução de passagens aéreas e diárias de empregados que
se locomoviam entre Foz do Iguaçu e Curitiba, nos primeiros cinco meses
do ano e em comparação ao mesmo período de 2018, foram economizados R$
2,3 milhões.
Mas a redução de gastos mais significativa foi no orçamento referente
a convênios. Entre cortes de convênios e desonerações, tanto em
convênios atuais como os que seriam pagos ao longo dos anos. foram
poupados R$ 140 milhões. Na concessão de patrocínios o corte foi de R$
17 milhões.
Aplicação dos recursos
Além das medidas de
austeridade - e como consequência delas, também - o general Silva e Luna
deu encaminhamento à obra da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que
deverá colocar Foz do Iguaçu num outro status de importância econômica,
com a melhoria da infraestrutura logística e da segurança.
Segundo o diretor-geral brasileiro de Itaipu, a usina poderá bancar a
construção da ponte, das ligações com a BR-277 e da aduana graças
exatamente ao remanejamento do orçamento nos próximos quatro anos. Isso,
sem afetar a tarifa, que permanecerá nos níveis em que está.
Os investimentos também estão sendo aplicados na ampliação e
modernização do Hospital Costa Cavalcanti, um dos mais importantes do
Sul do Brasil e de extrema importância para a fronteira e na conclusão
do mercado municipal, entre outros.
"O gestor de um órgão público, que trabalha com o que obtém da
cobrança de impostos, e o gestor de uma empresa pública, cujo orçamento
se baseia nos recursos obtidos pelos serviços que presta, têm que usar
critérios de profundo respeito ao dinheiro que, pela análise mais
simples, é do povo", diz Silva e Luna.
"Encaro a gestão em Itaipu como a missão de mostrar à população que
viemos não para atender a interesses diversos, mas para confirmar que é
possível, sim, administrar uma empresa pública de forma idônea e em
consonância com as diretrizes do governo federal", conclui.
Decisão do STF abre caminho para Petrobras negociar suas controladas
Por Agência Brasil
redacao@amanha.com.br
O plenário (foto) do Supremo
Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (6), por maioria,
liberar a venda do controle acionário de subsidiárias de empresas
públicas e sociedades de economia mista, sem que para isso seja preciso
aval legislativo ou processo de licitação. A decisão abre caminho para
que companhias como Petrobras e Eletrobras, por exemplo, possam vender
suas controladas. Por unanimidade, contudo, o plenário decidiu que a
dispensa de aval legislativo e de licitação somente se aplica às
subsidiárias, não valendo para empresas matrizes, que continuam
precisando de autorização do Congresso para serem privatizadas.
O
plenário derrubou em parte decisão liminar (provisória) do ministro
Ricardo Lewandowski, relator de três ações diretas de
inconstitucionalidade (ADI) sobre o assunto, que em junho do ano passado
havia suspendido a venda do controle acionário de empresas públicas,
sociedades de economia mista ou de suas subsidiárias ou controladas caso
não houvesse prévia autorização legislativa. A maioria dos ministros
entendeu que a jurisprudência do Supremo já dispensou a necessidade de
aprovação de lei específica para autorizar a criação ou compra de cada
uma das subsidiárias ou controladas, sendo preciso somente que a lei que
criou a própria estatal matriz permita que ela tenha subsidiárias no
geral. Dessa maneira, por paralelismo, também a venda do controle
acionário de cada uma dessas subsidiárias não precisa de aval
legislativo, decidiu a maioria do Supremo.
Em
relação ao processo licitatório, a maioria dos ministros entendeu ser
necessário algum tipo de procedimento competitivo que assegure
princípios constitucionais como os da escolha da melhor proposta e da
competitividade igualitária entre os interessados, sempre que se tratar
da alienação de controle acionário de subsidiárias. Tal procedimento
competitivo, porém, não precisa se dar pelas modalidades descritas na
Lei das Licitações (8.666/1993) ou na Lei das Privatizações (9491/1997),
decidiu a maioria do Supremo. Pode-se, por exemplo, adotar-se processos
simplificados, como aqueles previstos no Decreto 9.188/2017, que criou o
regime especial de desinvestimento de ativos pelas sociedades de
economia mista federais.
A
decisão dos ministros tem impacto imediato principalmente para a
Petrobras, cujo presidente-executivo, Roberto Castello Branco,
acompanhou o julgamento do plenário. Na semana passada, com base na
decisão anterior de Lewandowski, o ministro Edson Fachin suspendeu a
venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), uma empresa controlada
pela petroleira estatal. O negócio foi fechado em abril no valor de US$
8,6 bilhões, equivalente a R$ 34 bilhões, com o Grupo Engie, e prevê a
transferência de 90% das ações da subsidiária. Com a derrubada da
liminar de Lewandowski, o caminho deve ficar livre para que o negócio
seja consumado. A questão liminar de Fachin, porém, ainda vai ser
discutida no próximo dia 12 de junho pelo plenário do Supremo.
Duas das
maiores empresas de proteína animal do mundo acertam os últimos detalhes
do acordo que criará um colosso global com liderança dos principais
mercados do mundo e faturamento de R$ 80 bilhões
Fome de lucros: Pedro Parente
(à esq.), CEO da BRF, e Marcos Molina, controlador da da Marfrig:
negociação à mesa (Crédito: Evandro Rodrigues)
Durante toda a semana, os principais acionistas e executivos
dos frigoríficos Brasil Foods (BRF) e Marfrig Global Foods — duas das
maiores produtoras de proteína animal do mundo — fizeram uma série de
reuniões a portas fechadas para acertar os detalhes de uma possível
fusão. A união, que tem prazo de 90 dias para ser concluída ou
descartada, criará uma gigante com faturamento de R$ 80 bilhões e valor
de mercado de R$ 26,5 bilhões. Ela será a quarta maior empresa de carne
do planeta, atrás apenas da compatriota JBS, da americana Tyson Foods e
da chinesa Smithfield.
Em comunicado oficial, a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão,
admitiu que as partes estão aprofundando os estudos para definir os
termos de um acordo final e reafirmou que a nova empresa, ainda sem
nome, estará entre as líderes do setor no Brasil, Estados Unidos,
América Latina, Oriente Médio e Ásia. “Os termos preliminares da
operação não preveem desembolso algum de caixa, sendo baseado numa troca
de ações que resultará na atribuição de 84,98% da participação
acionária resultante aos acionistas de BRF e 15,02% aos acionistas da
Marfrig”, informou a BRF. “A avaliação é que o negócio representa
complementaridade para as duas empresas nos mercados de atuação,
diversificação geográfica e de proteínas e redução de riscos.”
Essa redução dos riscos passa, principalmente, pela redefinição do
quadro societário. Segundo fontes ouvidas por DINHEIRO, o receio de que
as negociações pudessem enfrentar obstáculos já na largada,
principalmente no que se refere à distribuição de forças dentro da
composição acionária da nova empresa, começou a se dissipar. Isso
porque, em reunião na terça-feira 4, o ex-presidente do conselho de
administração da BRF, Abilio Diniz, 82, teria discordado dos termos
iniciais da fusão e anunciado que deixaria em definitivo a empresa. A
decisão de Abilio, apontado como fonte de inúmeros conflitos internos
nos últimos anos, teria sido recebida como um alento pelos acionistas.
“Se confirmada, a decisão seria uma saída honrosa para Abilio.
A gestão da Tarpon (fundo parceiro de Abílio na condução da BRF, e
que detinha ações da empresa) foi desastrosa e deixou o empresário
desacreditado no mercado”, disse uma fonte ligada à empresa. “O Abilio
fora da BRF será ótimo para ele e excelente para a nova empresa.” Sob a
ótica dos números, a euforia faz todo sentido. Desde 2013, quando Abilio
Diniz assumiu o Conselho da BRF com forte apoio da Previ (fundo de
pensão dos funcionários da Caixa e do Banco do Brasil) e da Petros (da
Petrobras), o valor de mercado da empresa despencou quase à metade: de
R$ 39 bilhões para R$ 20 bilhões. Além disso, sob seu comando, entre
2016 e 2017, a companhia acumulou prejuízo de R$ 1,4 bilhão.
Abilio escolheu a BRF como prioridade de negócios quando começou a
vender as suas ações na empresa de sua família, o Grupo Pão de Açúcar
(GPA). Ele assumiu o comando do conselho de administração da BRF em
2013, trocou a gestão da empresa, nomeou como CEO Pedro Faria, sócio da
Tarpon, e prometeu tornar a BRF uma potência global. O peso das
operações em halal nos países de Oriente Médio aumentou. Ao substituir
no conselho de administração Nildemar Secches, homem-forte da Perdigão
desde os anos 1990, Abilio tentou trazer maior agilidade, eficiência às
operações e uma gestão de caráter mais financeiro. Mas demonstrou não
entender muito bem o setor em que atuava, que tem uma cadeia complexa e
longa. Ao reduzir os estoques de ração, esperava aumentar o fluxo de
caixa. Mas, quando o preço dos insumos disparou, como o milho para as
aves, o prejuízo foi maior. Ele também implementou uma política
excessiva de cortes de custos, demitindo quase mil pessoas e alterando
processos que causaram insatisfação e problemas operacionais numa
empresa que não demonstrava estar mal administrada anteriormente.
Com esse histórico recente, à primeira vista, o casamento da Marfrig,
financeiramente saudável e com maior valor de mercado, é um negócio
menos vantajoso para a empresa de Marcos Molina do que para a BRF, mais
endividada e com rentabilidade menor. Mas não é bem assim. Molina, que
hoje é o principal acionista da Marfrig, com 35% do capital, será o
terceiro principal acionista da nova empresa, com fatia de 5,5%. Ele
ficará atrás apenas da Previ e da Petros e à frente do BNDES. “A
concretização do negócio será uma jogada de mestre, já que ele será
peça-chave na composição acionária de uma companhia muito mais robusta”,
afirmou o economista e consultor Leandro Pierini, da Fundação Getulio
Vargas.
Atualmente, o maior problema da BRF é o elevado índice de alavancagem
(dívida líquida em relação ao Ebitda), que está em 4,6 vezes, enquanto o
da Marfrig é de 2,1 vezes. Juntas, elas terão média de 3,3 vezes. “A
lógica financeira parece maior que a operacional para a combinação entre
as empresas”, disse Luca Cipiccia, do Goldman Sachs. “A transação pode
pavimentar um caminho para uma melhoria do rating de crédito e uma
redução dos gastos financeiros no futuro próximo”, acrescenta Victor
Saragiotto, do Credit Suisse.
Muitos especialistas, no entanto, enxergam um jogo de ganha-ganha na
união. A Marfrig é a quarta maior empresa de carnes dos Estados Unidos,
mercado em que a BRF tem operação irrelevante. Já a BRF é líder no
mercado halal do Oriente Médio. “A fusão geraria sinergias, reduziria
riscos geopolíticos, permitiria um custo menor de capital e deve
permitir ganhos para os investidores de ambas as empresas”, diz o
consultor Benjamin Theurer, do banco britânico Barclays. “Combinar
ativos de frango e carne podem trazer estabilidade de margens para os
negócios, considerando a posição forte da BRF no mercado halal e da
Marfrig nos EUA, expondo a empresa para mercados com forte demanda e
permitir direcionar as operações brasileiras para
exportações.”
Esta não seria a primeira vez que as histórias das duas empresas se
cruzam. A Marfrig, apesar de não operar mais fábricas em Santa Catarina,
já figurou como uma marca forte no Estado. Em 2011, ela comprou plantas
da Sadia e da Perdigão para cumprir as determinações do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) impostas à BRF após a fusão
das marcas. Essas e outras aquisições endividaram excessivamente a
Marfrig, o que forçou a companhia a vender seus ativos da Keystone nos
Estados Unidos para a Tyson Foods.
O plano de fusão foi bem recebido pelo mercado financeiro,
especialmente porque traz uma perspectiva de longo prazo à empresa.
Daqui a 10 dias, acabará o mandato do presidente Pedro Parente. Ele
ficará à frente do conselho e será substituído pelo executivo Lorival
Luz. Apesar das incertezas geradas em períodos de troca de comando, a
maioria das corretoras e dos analistas de investimentos recomendou,
durante toda a semana, a compra de ações das duas companhias, com
potencial de valorização acima de 20%. “Benefícios potenciais do negócio
incluem tirar riscos do balanço da BRF, ao mesmo tempo em que aumentam a
diversificação geográfica e de proteínas”, afirmou Leandro Fontanesi,
do Bradesco BBI. “Os minoritários também se beneficiar das sinergias.”
Assim como o mercado de ações, empresários do agronegócio de Santa
Catarina receberam com festa o anúncio da possível fusão. Juntas,
Marfrig e BRF terão mais musculatura para liquidar de vez os estragos
causados pela gestão de Abilio Diniz. “Sob comando uma gestão que
priorizava aumento de volume a qualquer custo, muitas normas de
qualidade e controle dos processos foram negligenciados”, disse um
empresário de Concórdia (SC), que fornece matérias-primas para a BRF.
Essa negligência teria resultado em problemas que levaram a Polícia
Federal a deflagrar as operações Carne Fraca e Trapaça. As acusações
resultaram na perda de mercados importantes como o da Europa e na Ásia.
PORTEIRA ABERTA A fusão entre BRF e Marfrig Global
Foods abre uma porteira para a saída do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Entre 2007 e 2012, o banco
estatal, por meio de seu braço de participações, a BNDESPar, desembolsou
R$ 3,6 bilhões na Marfrig, mas não conseguiu retorno positivo sobre os
aportes. Se vendesse todas as ações que possui hoje, que representa
33,7% do capital, o BNDES contabilizaria uma perda de R$ 320 milhões.
Agora, com a alta das ações gerada pela fusão, a venda dos papéis deve
gerar um lucro significativo.
Se a fusão prosperar, o banco estatal vai se tornar sócio de uma
empresa bem maior, com potencial de crescimento e ganhos de sinergias de
mais de R$ 5 bilhões. Além disso, a liquidez dos papéis aumentaria
sensivelmente, já que a BRF tem mais de 60% do capital na bolsa (free
float), enquanto a Marfrig possui menos de 30%. Na nova empresa, pode
chegar a 70%. O BNDES passaria a ter ações de uma companhia com recibos
de ações na bolsa de Nova York (ADRs) de alta liquidez. Os ADRS da
Marfrig, por sua vez, são menos líquidos. Hoje estão no nível 3,
negociados apenas em balcão. Procuradas, a Marfrig e a BRF informaram
que não fariam comentários durante o processo de negociação.
Um antigo e recorrente expediente ganhou status de arma fatal do
governo Bolsonaro. O Decreto-lei passou a ser a fórmula usual de Messias
impor suas vontades em um “modus operandi” bem peculiar de governar.
Ele emite mais de um decreto, em média, por dia. Já foram 157 atos. É um
recorde quase absoluto desde a promulgação da Constituição em 1988.
Somente o deposto ex-presidente Collor ombreia com ele nesse quesito. A
tática é contestada seguidamente no Congresso e, em alguns casos, até
mesmo no Supremo Tribunal.
O expediente do decreto como instrumento de decisão resvala no
autoritarismo. Ao “canetar” deliberações, sem a necessária promulgação
do Legislativo, o mandatário está indicando que não deseja discutir o
assunto. Não aceita sugestões, nem reparações, ao que quer fazer. Há
razões evidentes para essa saída escolhida por Bolsonaro. Com uma base
parlamentar frágil, negociações capengas e pouca interlocução com
opositores, ele tenta fugir da armadilha que criou para si ao adotar uma
postura belicosa em relação aos políticos.
Logo que assumiu falou em ruptura com o que considerava a
“velha política”. Não apresentou nada de novo. Ao contrário.
Distanciou-se, como se isso o blindasse de “experiências negativas”.
Embora tenha passado 28 anos atuando diretamente no Parlamento, o
presidente sempre pareceu considerar aquela Casa um antro de venais
fisiológicos, adeptos do toma lá, dá cá. Vendeu essa imagem
insistentemente nas redes de seguidores digitais. Provocou os aliados a
tomarem as ruas para protestar contra a instituição.
Confrontou os partidos. Fez o diabo e isolou-se. No momento existem
33 propostas tramitando para sustar de maneira parcial ou integral os
três decretos de armas que colocou em vigor. Dezenas de outros recursos
procuram limitar a voracidade com que Bolsonaro recorre aos decretos. Na
contabilidade da semana passada, já chegava a 117 pedidos de suspensão
de medidas do governo. No STF, sete ações questionam a legalidade das
“canetadas”. O risco iminente é de uma paralisia do Executivo.
Das duas uma: ou o mandatário volta atrás na estratégia de emitir
normas sem consultar o Congresso e pacifica as relações ou sofrerá
graves sanções, já em adiantado em estágio de analise. Para se ter uma
ideia do exagero da prática até aqui, o presidente editou ao menos 45
decretos sobre organização, remanejamento ou extinção de cargos
comissionados. Produziu outros 17 decretos para promulgar acordos
internacionais, como o tratado de extradição entre Brasil e Israel.
Colocou sua “Bic” para funcionar como nunca e quis assim dá um drible na
harmonia entre poderes. Certamente não deverá acabar bem essa aventura.
(Nota publicada na Edição 1124 da Revista Dinheiro)