Solução de gestão da companhia deve chegar ao mercado ao longo dos próximos dois meses
Ramires Paiva e Leandro Moura, fundadores
da Tiba: uma só solução de software para o varejo, muitas fontes de
receita para o negócio (Tiba/Divulgação)
A história da digitalização de processos internos e gestão
tinha até agora deixado as pequenas empresas fora da festa, inclusive
porque começou com grandes nomes internacionais como prestadores de
serviço. Companhias nacionais de softwares começaram a desenvolver
produtos locais principalmente a partir do ano 2.000. Assim, o pequeno
empresário ainda tem, muitas vezes, que fazer suas contas no excel — e
quando muito. Essa realidade está pouco a pouco se modificando. Com esse
espaço ainda como um oceano azul a ser explorado, Leandro Moura e
Ramires Paiva fundaram a Tiba. O registro de funcionamento da companhia saiu nos últimos dias de 2021, mas a companhia já levantou R$ 23 milhões em capital semente com as gestoras Canary e Global Founders Capital (GFC).
A existência dessa lacuna no mercado é tão gritante que os
investidores prontamente entenderam o projeto e os sócios puderam
aproveitar o grande momento de liquidez para capital de risco, que tem
inundado empreendedores de oportunidades.
Os recursos serão usados em tecnologia e na aceleração de
contratações, que começaram a ser feitas em janeiro. A proposta da
companhia é o desenvolvimento de softwares completos para gestão, que
cuidam desde a contabilidade (um desafio para esses empresários),
passando por estoques, contas a pagar e receber e até folha de
pagamentos. O setor escolhido para começar o negócio foi o varejo, mas
mais à frente eles pretendem partir para outras frentes também.
Na visão de ambos, algumas empresas de maior porte estão adaptando
suas soluções para tentar chegar mais perto desse público. Essa é uma
rota que visivelmente Totvs e Stone (agora com Linx) estão traçando. A
questão para eles é que as soluções carregam um legado que, na verdade,
foi pensado para companhias maiores ou então vieram de aquisições que
ainda precisam ser integradas. “Existem soluções para pequenas empresas
muito boas, mas nunca todas juntas e as plataformas não se conversam.”
A expectativa deles é que os clientes atendidos, com suporte na
gestão e tempo para se dedicar ao negócio, consigam ter um aumento de
vendas entre 20% e 30%, com uma melhor atenção ao estoque e suprimentos.
Por enquanto, a companhia não está em fase operacional. O produto
deve chegar ao mercado ao longo dos próximos dois meses, para engatar os
primeiros clientes ao sistema — o esforço de relacionamento já existe,
pois fez parte inclusive da pesquisa para criação da empresa. O motivo é
tempo para estrear com tudo pronto e não em fases, pois esse agregado é
maior carência. “Acreditamos que se chegarmos com tudo já desenvolvido
vamos ganhar escala muito mais rapidamente que os competidores que
oferecem soluções pontuais”, afirma Moura, que além de fundador é COO da
Tiba, em entrevista ao EXAME IN.
Antes de colocar a Tiba de pé, os sócios, que têm experiência em
contabilidade, produtos financeiros e varejo, inclusive fora do Brasil,
eles não só testaram as soluções da concorrência como também viajaram
para buscar locais com um varejo tão pulverizado quanto o brasileiro e
gostaram muito de encontrar propostas semelhantes funcionando bem em
países como Índia, Indonésia, Vietnã e Nigéria, além da América Latina.
“São locais muito diferentes, mas o drama do pequeno varejo é sempre
muito parecido”, destaca Paiva, que é CEO do negócio.
Embora o ponto de largada da Tiba seja software, o modelo de negócios
prevê ganho principalmente com linhas de crédito, na verdade, para esse
empresário, com uma atuação de bank as a service. “Esse empreendedor
está sempre apertado, basicamente com desconto de cartão”, diz Paiva. A
ligação entre software, redução de custo e crescimento está justamente
no dinheiro. “O que não falta hoje são recursos nas fintechs que querem
chegar até esse cliente, mas muitas vezes o empresário não está
preparado para acessar esse crédito”, completa o CEO.
A trajetória que a Tiba vai propor como solução é de adoção do
software, e de cara uma eficiência em custo, para então vir crescimento e
crédito associados. A monetização do modelo de negócios pelo crédito — e
outras soluções que devem vir ao reboque — tanto é o foco que, no
início, a solução de gestão será oferecida em uma versão free, ou seja,
de graça. “Precisamos colocar para rodar um modelo com grande base e
alta eficiência em dados”, enfatiza Paiva.
Esse é o maior desafio da Tiba na largada: nascer com um porte que
consiga provar sua razão de ser. Os sócios, contudo, estão confiantes no
sucesso da proposta, tanto que muito rapidamente conseguiram fazer uma
rodada de capital semente. A série A, inclusive, já está sendo
programada para ocorrer dentro de 12 a 18 meses e com conversas em
andamento.
No modelo criado por Paiva e Moura, há diversas verticais de negócios
que surgem a partir da organização do pequeno varejo. Uma delas, por
exemplo, é usar a sua base de dados — que em seu agregado e não
individualmente — pode ser vendida para a grande indústria se relacionar
melhor com os varejos pequeno. Em geral, esse mercado varejista
extremamente pulverizado responde por cerca de 70% das vendas de grandes
marcas como Ambev e Coca-cola, as mais organizadas nesse atendimento, e
gigantes como Unilever, Danone e tantas outras. A maioria da indústria
atua com distribuidores e perdem o detalhe da penetração a partir dessa
ponta. "Mas, para indústria, a melhor margem está nos menores clientes e
isso ainda não está bem estruturado", afirma Moura.
Na explicação dos fundadores, de um lado um varejista perde porque
não consegue ver que o vizinho do lado tem preços melhores e negocia em
posição de vantagem. Do outro, a indústria não consegue ter visibilidade
desses pequenos, porque não existe nem mesmo a organização interna para
isso.
Com escala para crédito eficiente e soluções de dados para indústria,
a Tiba vai conseguir ter clareza sobre a monetização de software. Nesse
momento, eles sabem que esses ganhos já são suficientes para a
operação. A crença deles é que tendo ganhos com crédito e com a
indústria, o produto de gestão para o pequeno vai poder ter um custo
muito final muito mais interessante e agregar mais benefícios.
https://exame.com/exame-in/tiba-capta-r-23-mi-para-atender-pequeno-varejo-com-software-completo/