segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Empresário brasileiro vira empregado da Receita, por dedicação ao fisco, diz presidente do TCU

BRUNO  BRASILIA DF  16/12/2022  BRUNO DANTAS/PRESIDENTE TCU CAFÉ IMPRENSA    NACIONAL OE -  O Presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro  Bruno Dantas (FOTO), convidou a imprensa para um café da manhã,  e concedeu uma entrevista coletiva,  nesta sexta-feira (16) na sede do tribunal  em Brasilia-DF.  FOTO:  WILTON JUNIOR / ESTADÃO

O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, disse que, em muitas vezes, o empresário brasileiro vira “empregado” da Receita Federal ao ter que cumprir determinadas obrigações.

“O empresário no Brasil precisa se dedicar a dar eficiência ao seu negócio, e não receber da Receita Federal do Brasil uma série de obrigações acessórias, que ele leva – pelos cálculos que temos da OCDE – mais de 60 dias dedicando exclusivamente sua energia ao fisco. Ou seja, vira empregado da Receita. Evidentemente que nós não podemos compactuar com isso”, afirmou Dantas durante participação no painel “Brasil em foco: mais verde e comprometido com o desenvolvimento sustentável” da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Nova York.Nesse sentido, na avaliação de Dantas, as instituições brasileiras estão promovendo uma série de mudanças que visam trazer simplificação, como a reforma tributária e o projeto de lei que simplifica o licenciamento ambiental.

“Quando se fala de simplificar licenciamento ambiental, não é simplesmente ‘passar a boiada’, mas permitir que a instituições exerçam suas competências e atribuições dentro de uma racionalidade de interesse público no Brasil”, ponderou.

Em relação à reforma tributária, o presidente do TCU reforçou que a medida permitirá eliminar uma “porção de obrigações acessórias” que “drenam a energia do empresário brasileiro”. “E esse movimento revela a maturidade do Congresso brasileiro, que veio para ficar”, acrescentou.

 

Previsão para Selic no fim de 2023 segue em 11,75%; para 2024, continua em 9,00%, diz Focus


Previsão para Selic no fim de 2023 segue em 11,75%; para 2024, continua em 9,00%, diz Focus

A expectativa segue a sinalização dada pelo Copom de continuidade do ritmo de corte de juro em 0,50 ponto porcentual, assim como na reunião de agosto, que inaugurou o ciclo de queda (Crédito: Marcello Casal Jr / Agência Brasil)

 

A poucos dias do Comitê de Política Monetária (Copom), a expectativa para taxa Selic no fim de 2023 foi mantida pela sexta semana consecutiva no Boletim Focus. A mediana para a Selic no encerramento deste ano ficou em 11,75%.

A expectativa segue a sinalização dada pelo Copom de continuidade do ritmo de corte de juro em 0,50 ponto porcentual, assim como na reunião de agosto, que inaugurou o ciclo de queda. Atualmente, o juro básico da economia está em 13,25%.

+ Copom deve cortar Selic em 0,5 p.p. e sinalizar manutenção do ritmo, diz Goldman Sachs

Para o término de 2024, a mediana se manteve em 9,00%. Há um mês, a estimativa já era essa. Considerando apenas as 104 respostas dos últimos cinco dias úteis, a mediana para o fim de 2023 também permaneceu em 11,75%. Para o fim de 2024, continuou em 9,00%, com 104 atualizações na última semana.

A decisão de agosto do Copom surpreendeu parte do mercado, que apostava majoritariamente em uma queda mais “parcimoniosa”, de 0,25pp. Nas comunicações oficiais e em eventos públicos depois do encontro, os membros do colegiado repetiram que a “barra” é alta para acelerar o ritmo de cortes.

Diante disso, o mercado financeiro convergiu para aposta de uma nova baixa de 0,50pp esta semana, para 12,75%, conforme as 69 estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, mas há uma parcela que prevê aceleração do ritmo até o fim do ano.

Em entrevista ao Broadcast/Estadão, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, destacou o papel do tamanho do ciclo de juros para garantir a convergência da meta de inflação. “O orçamento vai ser o que for necessário para atingir o centro da meta.”

O Boletim Focus ainda mostrou que a projeção para a Selic no fim de 2025 e de 2026 continuaram em 8,50%, mesma mediana de quatro semanas atrás.

 

Lira quer união dos 3 Poderes no debate sobre mercado de carbono

 Foto do(a) deputado(a) Arthur Lira


O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu nesta segunda-feira, 18, que o Congresso e o Poder Executivo discutam conjuntamente, sem “nenhuma paternidade definida”, a pauta envolvendo a regulamentação do mercado de carbono. Ele disse ainda que a atuação do Poder Judiciário em auxiliar o debate será importante para evitar que o tema seja “judicializado” no futuro.

“(Na regulamentação do mercado de carbono) o Poder Executivo tem suas propostas. Existem projetos em tramitação no Senado, existem projetos em tramitação na Câmara, e sem nenhuma paternidade definida, (é importante) a unidade e a união de todos os três, com auxílio de um poder sempre que provocado, (que) vem com auxílio de regulamentação, resoluções e decisões que é o Poder Judiciário. Quanto menos judicializado esse tema, melhor”, disse Lira, durante evento na Bolsa de Nova York (Nyse), organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Confederação Nacional das Indústrias (CNI).

O presidente da Câmara repetiu que a “pauta verde” está entre as prioridades da Casa no segundo semestre. No curto prazo, além da apreciação do mercado de carbono, serão analisados também dois marcos regulatórios, um que trará regras para instalação de usinas eólicas em alto-mar, e outro sobre transição energética com ênfase no uso de hidrogênio.

Ele voltou a defender um avanço na discussão sobre o porcentual de participação de biocombustíveis na mistura com combustíveis fósseis e reafirmou a importância de criar incentivos a fontes de produção para biocombustíveis.

O tema, segundo ele, foi tratado no domingo durante encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Lira afirmou ainda que se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que as duas Casas possam discutir conjuntamente com o Executivo medidas que regulamentem e deem credibilidade a temas envolvendo as matrizes energéticas limpas do Brasil.

Governo vai aprovar reforma tributária em outubro, afirma Haddad


Fernando Haddad, ministro da Fazenda, celebra aumento da nota da dívida brasileira pela agência Fitch

Fernando Haddad, ministro da Fazenda (Crédito: AFP)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai aprovar a reforma tributária em outubro. “A maior insegurança jurídica que o Brasil oferece hoje é o caos tributário, que ninguém sabe quando deve e quando vai receber. E isso é um erro”, disse Haddad, a jornalistas, ao chegar para evento da Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) nesta segunda-feira, 18.

Sobre o ambiente político para a discussão da reforma administrativa, Haddad disse que não vê “tumulto” no cenário.

Segundo ele, ninguém é a favor do super salário no Brasil. “Então, por que a gente não começa pelo mais fácil? A reforma é uma reforma administrativa”, afirmou Haddad.

Agendas complementares

O ministro da Fazenda disse ainda que a agenda ambiental e a aprovação da reforma tributária são complementares e estão caminhando conforme o cronograma estabelecido pelo Executivo. De acordo com ele, o Congresso está debruçado sobre todas as ações da pasta com um grau de abertura “bastante significativo”.

“Temos que aproveitar esse momento de harmonização dos poderes para fazer a agenda avançar”, disse Haddad. “Quanto mais cedo nós colhermos os frutos dessa agenda, mais facilmente a economia brasileira vai decolar para patamares de crescimento compatíveis com o nosso potencial”, acrescentou.

‘Tirando o atraso herdado’

Haddad também rebateu críticas de atraso no cronograma do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em setembro, a Fazenda começou o trabalho para a sua primeira emissão de títulos verdes, os chamados green bonds, e em outubro espera aprovar a reforma tributária. Conforme o ministro, a gestão atual está “tirando o atraso herdado”.

“Todo mundo está de queixo caído com esse resultado. As pessoas imaginavam que ele viria em 2, 3 anos e ele vem em uma questão de meses. Então, [estamos] demonstrando que quando o Brasil está focado naquilo que são seus objetivos primordiais, ele alcança esses objetivos e chama a atenção do mundo”, afirmou Haddad.

 

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

A queda de braço entre Haddad e Lira na mesa de negociação


Ministro da Fazenda enfrenta seu ponto mais alto de tensão com o Legislativo, bate o pé e mantém controle sobre apostas on-line. Enquanto isso, presidente da Câmara quer interferir no comando da Caixa e no PAC
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira: debate sobre divisão de cargos, baseada na estratégia de "governabilidade" de Lula (Crédito: Eliseu Paesph)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira: debate sobre divisão de cargos, baseada na estratégia de "governabilidade" de Lula (Crédito: Eliseu Paesph)

Historicamente o papel do Ministro da Fazenda, ao menos em regimes democráticos, precisa ultrapassar o conhecimento em economia. É necessário ter em mente três pontos definidos pelo grego Heráclito por volta de 450 c.C.. Primeiro: as coisas não são de um determinado jeito, elas apenas estão daquela forma. Segundo: algo só muda quando submetido a uma tensão de forças contrárias. Terceiro, o entendimento de que nenhuma unanimidade é natural. Fernando Haddad, o comandante da Fazenda, tem caminhado com essas regras em mente para conciliar os interesses do governo, do PT, do Legislativo e as expectativas empresariais. Até agora, tem conseguido mediar essas demandas todas e ainda obtido resultados expressivos nos âmbitos fiscal, social e econômico. Mas começam a se impor na agenda do ministro novos temas que exigirão dele as habilidades de um exímio negociador. Com o Centrão querendo mais espaço (e poder) no Executivo, e com o presidente da Câmara, Arthur Lira, marcando território com ameaças de frear as boas intenções de Lula, Haddad precisará fazer algumas concessões sem abrir mão da chave do cofre.

Os planos de Fernando Haddad

* Regular e fiscalizar as apostas on-line
* Manter a Caixa longe da política
* Começar a Reforma Administrativa pelos supersalários

Os planos de Arthur Lira

* Levar as apostas on-line para o Esporte
* Cargos na Caixa e ministérios da Educação, Desenvolvimento e Previdência
* Começar a reforma Administrativa pela base da pirâmide

A primeira das concessões foi concordar com o novo rumo do Ministério dos Esportes, agora liderado pelo PP, mas sem abrir mão integralmente da Secretaria de Apostas Esportivas, como pleiteava o Centrão.

O resultado apagou um mini-incêndio, mas deu a garantia de que novos focos de fogo vão surgir. A presidência da Caixa e alguns cargos-chaves dentro do Ministério da Educação, da Previdência Social e do Desenvolvimento Regional são outras cartas que os deputados e senadores devem colocar na mesa em breve para negociar apoio ao governo.

Nas negociações com o governo, o Centrão pleiteia o comando da Caixa Econômica, banco que responde pela Loteria Federal e detém 90% dos financiamentos imobiliários

Munidos de tais demandas, o fisiologismo se apoia no que acostumamos no Brasil a chamar de Governo de Coalização, mas na verdade se tornou um sequestro desde que as legendas partidárias passaram a atrair membros por vantagens, não ideologia.

A melhor prova disso é a entrada de André Fufuca no Ministério dos Esportes. Fufuca, do PP do Maranhão, embarca no governo Lula mesmo com 75% dos 47 deputados do PP votando contra a agenda do governo nas pautas que não foram articuladas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (que é do PP do Alagoas).

Fufuca também esteve ao lado de Jair Bolsonaro em campanha eleitoral no Nordeste. Tudo isso sem contar o fato de que ele nunca propôs uma lei que envolvesse esporte e nem possui qualquer relação direta de vivência ou conhecimento dos meandros do assunto, muito diferente de Ana Moser, ex-ministra.

Para entender como funciona essa relação é só olhar a agenda. Na quarta-feira (13) no começo da tarde, André Fufuca foi nomeado ministro. Seis horas depois, a Câmara aprovava a Regulamentação das Apostas Eletrônicas, nos moldes e parâmetros desenhados por Haddad e incluindo cassinos, apostas esportivas e jogos de azar virtual.

“Quando essa eficiência acontece e é puxada pelo Centrão, há um estremecimento na base real de um governo”, disse Rogério Felicio Carlo, professor de macroeconomia e política da Universidade Federal do ABC e que esteve no governo de transição.

O texto aprovado na Câmara agora segue para o Senado e tem potencial de arrecadação de R$ 12 bilhões ao ano.

O promissor mercado de apostas digitais gerou a maior tensão entre Haddad e o Centrão. O desfecho foi a guarda compartilhada da Secretaria que cuidará dos jogos

Remediando

Na tentativa de diminuir o impacto da chegada de Fufuca ao governo, Haddad bateu o pé para manter na Fazenda a responsabilidade de regulamentar as apostas esportivas, já que se trata de uma medida de arrecadação e foi desenhada dentro do ministério que comanda.

Ao longo de seis meses Haddad conversou com empresas digitais, clubes de futebol, representantes do poder público e exerceu a dialética para construir um texto equilibrado e que foi elogiado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) como um caminho promissor para a discussão do assunto em âmbito global.

Mas onde termina a abertura para o contraditório e começa a chantagem política? Nos bastidores da negociação com o PP pela Pasta, era comum ouvir deputados dizendo que que queriam “ministério turbinado”. Não demorou para que houvesse um ruído no mercado de apostas, que entenderam que a transferência para o Esporte faria o assunto retroceder.

Tudo isso enquanto o presidente Lula, em viagem no exterior, ainda não havia nem confirmado a chegada de Fufuca. Depois de algum tempo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deu o que parece ter sido o veredicto da negociação. A questão das apostas online terá guarda compartilhada. “Existe uma concordância da criação de uma estrutura de acompanhamento desse tema das apostas”, disse.

O ministro garantiu que a questão da fiscalização, regulamentação e arrecadação ficará sob cuidados e curadoria da Fazenda. “Além disso, uma parte dos recursos, já está prevista na medida provisória [da regulação das apostas] vem para o Ministério do Esporte, para o fomento do esporte no nosso país”, disse. A Secretaria, que ainda não foi criada, comportará 65 novos cargos.

Seis horas após nomeação de Fufuca, a Câmara dos Deputados aprovou a regulamentação das apostas esportivas e cassinos on-line

Próximas demandas

Quem acompanhou a saga do governo Bolsonaro e sua relação com o Centrão sabe o que pode acontecer quando se abre demais as portas. O presidente fica resignado em um cargo ilustrativo, os ministros técnicos rendidos e o Legislativo executando o governo. Para desviar deste caminho Haddad precisará se preparar, porque o cerco vai se formar.

Deputados ligados à Arthur Lira confirmaram a DINHEIRO que já há negociações pelo comando da Caixa Econômica Federal, além de vagas em autarquias ligadas ao Ministério da Educação, Previdência Social e Desenvolvimento Regional.

Segundo dois parlamentares de legendas diferentes, os assuntos são debatidos em paralelo à aprovação das Reformas. De acordo com os deputados, o presidente Lula já sinalizou que entregará o banco “de porteira fechada” o que significa que o novo presidente teria autonomia para trocar os 12 diretores. Quem trabalha na busca por um nome para o comando do banco público seria o próprio Arthur Lira.

Com relação ao Desenvolvimento Regional, o plano do Centrão é receber assento em autarquias, empresas públicas e órgãos federais, já que haverá grande demanda envolvendo os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No comando do Desenvolvimento, hoje, está Waldez Góes que entrou no governo por meio da cota do PDT na aliança do segundo turno. O PDT também é o partido de Carlos Lupi, ministro da Previdência Social, que enfrenta turbulências em função de disparidades no cálculo da fila do INSS e tem sido alvo de críticas de parlamentares do Centrão.

Com tudo isso em jogo, Haddad precisa colocar em prática o pensamento que descreveu em seu livro O Terceiro Excluído: sem a dialética efetiva, qualquer humanidade vai regredir, mas é preciso ter clareza para não confundi-la com a falácia dialética – quando ela se esconde na falsa eficiência ou na condescendência passiva.

Novo ministro do Esporte nunca apresentou um projeto sobre o tema e tem histórico de embate com o PT

A conversa com empresários

Enquanto, em Brasília, o ministro Fernando Haddad enfrenta o paredão Legislativo, outro tema também tem colocado pressão na agenda do petista. A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) pediu a rejeição integral da Medida Provisória (MP) que altera a tributação sobre as grandes empresas que recebem benefícios fiscais dos Estados.

O movimento já era esperado pela equipe econômica, já que a alteração acerta em cheio questões como:
* lucros e dividendos,
* fundos isentos de imposto de renda,
* fim do Juro Sob Capital Próprio (JCP).

Com tudo isso, mais a decisão pró governo dos julgamentos empatados no Carf, o governo fala em uma arrecadação extra de R$ 37 bilhões, o que daria ao ministro da Fazenda condições de honrar os planos de reduzir o déficit das contas públicas significativamente já em 2024.

O argumento dos empresários de capital aberto é que Executivo desrespeitou decisões do Legislativo e do Judiciário com o objetivo de aumentar a carga tributária, o que representa uma “grave violação à segurança jurídica”.

Apesar de começar seu manifesto em tom apocalíptico, a entidade diz está aberta a negociar, já que outro revés, este vindo do STJ, determinou o pagamento integral dos CSLL e PIS/Cofins de isenções que não visassem investimento (até então o entendimento era que benefícios poderiam ser usados para o custeio da empresa) poderia ser flexibilizado com aplicação dos prazos para devolução dos impostos.

Um assunto que Fernando Haddad, que viaja sábado (16) para os Estados Unidos em uma tour para atração de investimento estrangeiro no mercado de capitais, já disse que irá tratar pessoalmente em seu retorno.

 

 

“Criadores não têm mais canais no YouTube e sim negócios”, diz Patrícia Muratori, diretora geral do YT para AL


Patrícia Muratori, diretora geral do YouTube para América Latina: "Criadores não têm inscritos, mas sim fãs, alunos e clientes. Isso acaba transformando muitos desses criadores, permitindo que eles possam empregar outras pessoas" (Crédito: Samuel K.)

Patrícia Muratori, diretora geral do YouTube para América Latina: "Criadores não têm inscritos, mas sim fãs, alunos e clientes. Isso acaba transformando muitos desses criadores, permitindo que eles possam empregar outras pessoas" (Crédito: Samuel K.)

 

Ocupando a segunda colocação entre os sites mais acessados do mundo (atrás somente do Google), o YouTube contribuiu com a injeção de mais de R$ 4,55 bilhões no PIB brasileiro e com a geração de mais de 140 mil empregos equivalentes a tempo integral em 2022. Os dados são de um relatório da Oxford Economics, que revelou ainda o fato de 105 mil criadores brasileiros empregarem outras pessoas para trabalharem em seus canais. Em meio ao avanço de concorrentes como TikTok, a plataforma de vídeos controlada pela big tech Alphabet (também dona do Google) tem buscado se adaptar por meio de suas possibilidades multiconteúdo, multiformato e multidispositivo. Uma das grandes novidades, fomentada por uma mudança considerada disruptiva por Patrícia Muratori, é a transmissão de jogos esportivos através de canais dos criadores de conteúdo, como é o caso do CazéTV. “Eu costumo dizer que o Brasil é um grande laboratório massivo”, afirmou. “Tudo o que acontece aqui é muito grande e tem um efeito muito importante para entendermos como pode ser o comportamento do criador e do usuário em uma perspectiva de escala” .

O YouTube injetou R$ 4,55 bilhões no PIB brasileiro. Qual sua avaliação sobre esse impacto na economia criativa?
Nós temos um coletivo de milhares de criadores que quebram a barreira da mentalidade comum sobre a forma que a economia gira. O criador brasileiro, inclusive, tem um papel muito importante nisso. Atualmente, os criadores não têm mais canais no YouTube e sim negócios. Eles não têm inscritos, mas sim fãs, alunos e clientes. Isso acaba transformando muitos desses criadores, permitindo que eles possam empregar outras pessoas.

Há muitos casos de criadores que, a partir de seus canais na plataforma, tenham aberto outros negócios?
Sim, inclusive fisicamente. Eles abrem, por exemplo, salões de beleza, academias, padarias. Isso tem acontecido em inúmeros grupos de afinidade, de diversos temas. E essa é a grande magia. Entendemos que esse pode ser um mundo do entretenimento que se desdobra em várias frentes. Os resultados apresentados no nosso relatório servem para cristalizar as histórias por trás dessa economia criativa para que o mercado consiga perceber a importância do criador de conteúdo que, na verdade, é um criador de negócios.

Como o Brasil se destaca na economia criativa e no mercado de influência?
Existe uma explosão criativa muito forte no Brasil. Temos a criatividade, a paixão atrelada e a linguagem. A forma de se comunicar é única. Mas também há um engajamento muito grande. Acredito que a diversidade seja um ponto interessante nisso tudo, porque a gente vê pessoas de diversos tipos utilizando a plataforma como meio de carreira e retorno financeiro. Mas, para além disso, também existe o outro lado da tela. A importância para quem assiste e acessa essa diversidade.

O Brasil é o terceiro país que mais consome vídeos do YouTube. Qual a importância estratégica do País para a plataforma?
A gente sabe que o brasileiro é uma das nacionalidades que mais consome o digital como um todo. Quando você está em uma empresa global e você tem um país que desponta pela criatividade, consumo e quantidade de usuários, os produtos acabam sendo testados nesse lugar antes, por exemplo. Existe também um espaço maior para feedbacks. Eu costumo dizer que o Brasil é um grande laboratório massivo. Tudo o que acontece aqui é muito grande e tem um efeito muito importante para entendermos como pode ser o comportamento do criador e do usuário em uma perspectiva de escala.

Recentemente, o PL das Fake News voltou a ser discutido na Câmara. Qual sua opinião sobre o projeto?
Nós temos uma forte estratégia de combate à desinformação. A remoção dos conteúdos que ferem nossas políticas de comunidade é uma delas. Mas para além disso, nós buscamos recompensar conteúdos que atingem um nível de qualidade e destacar as fontes de confiança. Isso é dia-a-dia. Fora isso, nós também fazemos muitas parcerias. No ano passado, por exemplo, nós fizemos parceria com o Centro Internacional para Jornalistas, o ICFJ, para combater desinformações associadas ao período eleitoral no Brasil. Durante a pandemia, a parceria foi com a OMS. É claro que em um ambiente onde a gente recebe mais de 500 horas de vídeo por minuto, nós estamos sempre intensificando o nosso sistema para poder aprender, inclusive, com os maus atores que surgem na plataforma. Sobre as questões regulatórias, nós somos sim a favor do combate à desinformação. Agora, nós precisamos fazer parte deste debate, mostrando como a plataforma funciona, como é que a nova economia criativa funciona e quais são nossos esforços de responsabilidade.

Na era do TikTok e dos vídeos curtos, como o YouTube vem buscando se adaptar?
Os vídeos curtos foram uma evolução orgânica de uma plataforma de vídeos, mas ele é mais que um formato, é um recurso para quem cria e para quem consome. Faz parte do contexto. Eu quero um vídeo curto para ser fácil no meu dia. Eu tenho essa opção. Porém, o YouTube tem o diferencial de poder oferecer um formato curto de 15 segundos ou uma live de 15 horas. Partimos do princípio de que a nossa plataforma funciona através do que é bom para o usuário e para o criador de conteúdo.

De que forma isso é feito?
Nosso funcionamento acontece através do comportamento de quem consome, mas vem também do propósito, da paixão, habilidade, do negócio e do criador. Por isso que hoje somos multiconteúdo, multiformato e multidispositivo. Hoje, uma das grandes formas de você assistir o YouTube é na televisão. Temos mais de 76 milhões de dispositivos ligados ao YouTube na TV. Assim como sabemos a força do celular. Mas não é sobre uma coisa ou outra, é sobre essa evolução constante a partir do que é importante para quem consome e para quem cria.

Quais mudanças de hábitos digitais vêm sendo percebidas pelo YouTube?
O Brasil é um país que sempre teve um consumo muito forte de futebol pela mídia tradicional. Porém, dados revelados no nosso último Relatório de Impacto mostram que 72% dos entrevistados brasileiros preferem assistir transmissões ao vivo do seu esporte favorito no YouTube em vez do rádio ou da televisão. Então a gente entende que essa combinação da linguagem, da autenticidade, da criatividade e da interatividade é crucial. Nesse sentido, temos visto fenômenos importantes acontecendo, como é o caso do canal CazéTV, que faz transmissão e comenta jogos esportivos através de uma linguagem muito específica. Essa percepção fez com que a gente apostasse em combinações. Anunciamos o Paulistão, que foi também uma grande novidade da plataforma e que vai para dentro do CazéTV em 2024. Então a gente acredita nessa explosão de impacto entre o conteúdo, que é o maior ativo, versus a audiência dos canais.

Quais tecnologias têm sido aliadas das transformações no YouTube?
A Inteligência Artificial tem colaborado muito para que nossas transformações e evoluções aconteçam de forma orgânica. Ela está muito por trás do play. Tem a ver com recomendação, personalização, recomendação, com a experiência do usuário. Ou seja, para você poder assistir um conteúdo no celular, no transporte público, ou para você assistir na sua casa, tem toda uma tecnologia por trás. Assim como o investimento em produto. No momento, por exemplo, estamos em um formato beta com os criadores, para que eles possam, por exemplo, dublar seus vídeos em diversos idiomas. Algo que seria impossível de se fazer de forma manual. Afinal, nós estamos falando de mais de 500 horas de vídeo por minuto que sobem na plataforma. A IA também é aliada da garantia da segurança, para privar os usuários de conteúdo perigoso. A gente faz isso usando uma combinação de sistemas de inteligência artificial e revisores humanos, para garantirmos que a plataforma seja segura e para protegermos a experiência do usuário de forma eficiente em escala.

Que novidades podemos esperar do YouTube para os próximos anos?
Com certeza novidades relacionadas com a Inteligência Artificial. É uma estratégia importante para trabalhar com o usuário, os criadores, as marcas e a inovação de conteúdo. Acho que ainda vêm grandes lançamentos e anúncios pela frente, mas essa é uma das novidades que já consigo antecipar.

 

Globalização dará lugar a blocos de países antes ‘inimagináveis’ - “Há uma definição diferente do que é poder econômico; creio que veremos blocos diferentes”


Globalização dará lugar a blocos de países antes ‘inimagináveis’



Carlos Cordón:
 
 

Estamos diante do fim da globalização. Daqui para frente, veremos o comércio de bens tímido entre os países e um mundo dividido em blocos econômicos inimagináveis há dez anos. O diagnóstico é de Carlos Cordón, professor de estratégia e administração de cadeias de valor do International Institute for Management Development (IMD), com campi em Lausanne, na Suíça, e em Cingapura.
Esse movimento, afirma, tem dentre os principais motivos a guerra comercial entre Estados Unidos e China, a ruptura nas cadeias de valor que levou à ideia de que fornecedores não são mais tão confiáveis e o aumento dos salários dos trabalhadores chineses.
Em entrevista ao Valor, o especialista diz que estamos diante de uma nova ordem mundial, que difere muito do arranjo antes protagonizado pelo Ocidente.
“Agora vemos uma nova ordem com contrapontos como o Brics, uma potência como a China. Há uma definição diferente do que é poder econômico. E creio que veremos blocos diferentes”, diz. “Do ponto de vista econômico, isso significa muitas barreiras. Veremos mais competição, e os políticos desempenhando um papel muito maior. Para as empresas, isso demandará entender muito mais sobre política do que antes.”
A nova ordem mundial, argumenta, será marcada por muitas regiões econômicas. “Creio que há um bloco econômico da Europa, outro com EUA, Canadá e México. E outro na Ásia. Na verdade, há três blocos na Ásia: um com Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Austrália e EUA. Outro com a China e os países que comercializam muito com ela. E há um país estranho, que é a Índia. Não sabemos exatamente o que está fazendo, mas quer negociar com todos os outros”, diz.
Ele acrescenta a esse cenário elementos que podem surpreender, como o Brics, e países que se colocarão como friendshoring (fornecedores parceiros), como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e parte da América do Sul. E alerta: as cadeias de valor serão cada vez mais influenciadas pela política.
A seguir, trechos da entrevista:
Valor: O senhor participou recentemente de um evento cujo título era: O fim da globalização. Estamos diante dele?
Carlos Cordón: A resposta é “sim”. Se olharmos para o comércio global de bens, vemos que, há anos, ele vem caindo. Não é o caso do comércio global de serviços. Mas o de mercadorias está diminuindo. E não é por causa da covid-19, como se dizia. É porque as empresas não estão querendo mais comprar de um lugar para vender em outro. Lembro que uma empresa de alimentos contava que costumava comprar alguns itens na Malásia para vender no Peru, mas não fará mais. Há várias razões por trás desse fim: a primeira é do ponto de vista geopolítico. Há praticamente uma guerra comercial entre EUA e China. Vemos alguns políticos agindo de determinada forma, como no caso do governo de [Joe] Biden, outros países tomando medidas semelhantes para alimentos, sob o argumento de segurança alimentar, e assim por diante. E todos estão tentando repatriar grande parte das cadeias de abastecimento. A segunda é que interrupções que vimos criaram a ideia de que não existe uma situação tão confiável como antes, e que o fornecedor pode não ser tão confiável. E, já que não temos certeza se vamos receber, faz sentido comprar de tão longe? Talvez não. O terceiro ponto é que os salários na China, nos últimos dez anos, multiplicaram-se por dois. Então, como empresa, comprar coisas da China há dez anos era muito barato. Agora não é tanto quanto costumava. Sempre esclareço que o fim da globalização ocorre para muitos produtos, mas não para todos. Na Suíça temos o maior consumo de chocolate per capita do mundo, mas nunca cultivaremos cacau por questões climatológicas. Será preciso, então, importar cacau. Esse comércio continuará a existir, mas muitos outros que cresceram dramaticamente estão diminuindo. Empresas como Maersk ou outras transportadoras sempre mencionam o efeito multiplicador. O que é isso? Antes, se o PIB mundial crescesse 3%, o comércio global cresceria 6%. O efeito multiplicador, portanto, era 2. No final de 2008, em 2009 e em 2010 esse multiplicador passou para 1. Hoje é basicamente negativo. Faz sentido transportar os produtos por tanto tempo para tão longe?
Valor: As causas da desglobalização são econômicas ou políticas?
Cordón: Eu diria que ambos. Políticas, se pensarmos na razão pela qual, por exemplo, os EUA estão tentando bloquear o comércio com a China. São razões políticas, mas também econômicas, pois eles querem manter a liderança tecnológica. O governo Biden, um pouco ingenuamente, aprovou no ano passado o Chips and Science Act, que proíbe as empresas americanas de enviar para a China tecnologia empregada na fabricação de microchip. Isso significa que os EUA acreditam terem a liderança dessa tecnologia, o que não é o caso. A empresa alemã ASML, que faz máquinas para fabricar os microchips, tem plantas na Califórnia, na Malásia. O governo Biden pressionou o governo alemão para bloqueasse algumas das exportações de ASML para a China. Outras razões econômicas têm a ver com a possibilidade de alguns países tentarem fazer o resto do mundo de refém. Se a China pensar: “Temos terras raras, item necessário para a produção de microchips, e agora vamos limitar a exportação deles”.
Valor: As causas que levaram à globalização não existem mais?
Cordón: Com certeza, não. É interessante porque, durante muitas décadas, a crença era que, se todos os países comercializassem entre si, ficariam mais próximos. E, portanto, seria mais difícil travarem uma guerra. A ideia era: mais integração econômica, menos conflito. Essa realidade não existe mais. Acho que nas forças que levaram à globalização havia intenções muito boas, mas que não estão mais aí. E esse é um aprendizado doloroso.
O que ocorre se todos os produtos vendidos na Suíça e fabricados na China passem a ser fabricados na Suíça? Para a Suíça é um grande impacto, mas para a China é pequeno”
Valor: Estamos diante de uma nova ordem mundial?
Cordón: Sim. Estamos perante uma nova ordem mundial em que teremos muitas regiões econômicas. Veremos mais barreiras comerciais e mais blocos econômicos. Creio que há um bloco econômico da Europa, outro com EUA, Canadá e México. E outro na Ásia. Na verdade, há três blocos na Ásia: um com Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Austrália e EUA. Outro com a China e os países que comercializam muito com ela. E há um país estranho, que é a Índia. Não sabemos exatamente o que está fazendo, mas quer negociar com todos os outros. Um desenvolvimento mais surpreendente poderia ser com o Brics e o Brics estendido. Penso que nessa nova ordem mundial serão regiões diferentes, acordos multilaterais diferentes. E há países que se colocam como friendshoring, como é o caso da Arábia Saudita, se pondo como um país amigo dos EUA, da China, de todos. Veremos muitos países no Oriente Médio assim. Parte da América do Sul também tentará ter um papel nisso. Acho que o Brasil tem chances, faz parte do Brics, pode negociar com países diferentes, está relativamente próximo da Europa e dos EUA. Mas creio que investidores ficarão muito preocupados com a estabilidade desses países. E o Brasil, pode ter tido altos e baixos, [governos de] esquerda e direita, mas é estável do ponto de vista dos negócios.
Valor: Qual a principal diferença entre essa nova ordem e a antiga?
Cordón: É uma pergunta muito boa. Se pensarmos na velha ordem, ela era em grande parte liderada pelos países ocidentais. Eram eles quem lideravam a economia, a tecnologia, e estavam tentando fazer com que todos praticassem mais comércio livre. Era algo como: “Somos países desenvolvidos, ajudamos os países em desenvolvimento a se tornarem mais parecidos conosco, ditamos as regras do jogo”. Agora acho que vemos uma nova ordem com contrapontos como o Brics, uma potência como a China. Há uma definição diferente do que é poder econômico. E creio que veremos blocos diferentes. O que era chamado de sociedade ocidental não será seguido pelas outros. Penso que não veremos mais uma liderança clara desses países. Do ponto de vista econômico, isso significa muitas barreiras. Veremos mais competição, e os políticos desempenhando um papel muito maior. Para as empresas, isso demandará entender muito mais sobre política que antes. Já vejo algumas empresas tendo especialistas em geopolítica, aconselhando-as sobre mudanças em determinadas cadeias. A China já não é uma fábrica para o mundo inteiro. O mesmo sobre a ideia de a Apple desenvolver o design na Califórnia e fazer a montagem na China. Veremos montagem de aparelhos Apple em diferentes lugares.
Valor: A diversificação das cadeias produtivas, em parte impulsionada pelo conflito entre EUA e China, pode oferecer oportunidades para quais economias e setores?
Cordón: A questão não é muito sobre qual setor, mas mais sobre quais subsetores. Deixe-me dar um exemplo. Quando pensamos em comida, vemos que muitas das cadeias de abastecimento globais são globais por causa da natureza. Não se pode cultivar mamão na Suíça, por exemplo. Porém, quando falamos sobre produtos lácteos, essas produções tendem a ser mais locais. Alguns produtos podem ser produzidos mais localmente, mas, se esse país tiver um déficit devido à climatologia, não há outra escolha senão importá-los. Países que têm boa climatologia, como o Brasil, têm grande oportunidade [adiante]. Mas não creio que a Finlândia, por exemplo, tenha. Empresas que foram para a China produzir terão de repensar [sua estratégia], especialmente as de mecânica, eletrônicos, linhas de montagem. Pense na Apple ou baterias para carros elétricos. Haverá muita oportunidade para eles. Outros setores ainda estão engatinhando e precisam de muita diversificação. No caso da indústria automobilística, ela é muito local, regional. Os carros comprados no Brasil, em geral, são fabricados no Brasil. Os carros vendidos na América do Norte são fabricados lá, muitos deles feitos no México para os EUA. No setor de maquinários, depende. Se for um tipo de maquinário muito sofisticado, de alto valor agregado, a produção tende a ser global. Se não tiver tanto valor agregado, será regional. Um setor que não deve se regionalizar é o da indústria aeronáutica.
Valor: O sr. acredita que as economias sul-americanas poderiam ter um papel relevante nesse movimento crescente de reorganização das cadeias de valor?
Cordón: Acho que sim. Provavelmente não significativo para a economia mundial, mas para a economia de um país. O que ocorre se, de repente, todos os produtos vendidos na Suíça e fabricados na China, passarem a ser fabricados na Suíça? Para a Suíça é um grande impacto, mas para a China é muito pequeno. Não acrescentará muito à economia global, mas contribuirá para a transição para essa nova ordem mundial. Um país que certamente está colhendo muitos benefícios é o México. Acredito que o resto do mundo ainda demorará um pouco para acordar e ver que pode lucrar com isso. Dependerá de empresários da América do Sul buscarem oportunidades lá fora. Isso depende muito dos empresários e também dos políticos.
Valor: Há algum ponto não mencionado que considera relevante?
Cordón: Uma coisa que mencionamos lateralmente, mas terá um papel maior no futuro é a sustentabilidade. E acredito que existe um lado positivo nisso. Fiquei surpreso quando vi alguns grandes agricultores do Brasil na vanguarda [disso], de como fazer diferente e tornar a produção mais sustentável. Isso poderia ser uma oportunidade para o Brasil, que pode ser um beneficiário disso.

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