O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala na sessão para chefes de
Estado e de governo da cúpula do clima COP28, em Dubai, em 1º de
dezembro de 2023 - AFP
Os
líderes dos países do Mercosul se reunirão na quinta-feira (5) no Rio
de Janeiro, em meio a fortes resistências para finalizar o acordo
comercial com a União Europeia (UE), apesar do objetivo inicial de ambas
as regiões de fechá-lo este ano.
O
Brasil, presidente pro tempore do bloco sul-americano formado por
Argentina, Paraguai e Uruguai, esperava fechar ainda na cúpula do Rio
este acordo de livre comércio, negociado há mais de duas décadas e que
criaria a maior zona de livre comércio do planeta.
Ambas
as partes intensificaram as negociações nas últimas semanas, com
“progressos significativos”, concordaram o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen,
quando se reuniram na última sexta-feira à margem da COP28, em Dubai.
Mas
nos últimos dias as negociações não pareciam progredir: a França
mostrou o seu desacordo com o texto e a Argentina afirmou que “não há
condições” para a conclusão do tratado.
– Macron: um acordo “mal remendado” –
O
presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou no sábado em Dubai que o
acordo está “mal remendado”, “desmantela tarifas” como se fazia antes e
não “leva em conta a biodiversidade e o clima”.
Da mesma forma, o
atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, que participará de sua
última cúpula do Mercosul, considerou que não há “condições” para
aprovar o texto na sua versão atual e apontou “a resistência” da Europa
ao tratado, especialmente da França.
Uma
nova rodada de negociações planejada no Rio, às vésperas da cúpula,
passou para o formato virtual, disse à AFP uma fonte do Itamaraty.
“Devido
à transição em curso na Argentina, a tendência” é deixar as decisões
pendentes para o próximo governo do ultraliberal Javier Milei, que
assume o poder em 10 de dezembro, argumentou o informante.
Em uma
visita recente a Brasília, a futura chanceler argentina, Diana Mondino,
destacou a “importância de assinar o acordo com a UE o mais rápido
possível”.
– Lula: “Não vou desistir” –
Mas
Lula não desistirá de seus esforços para fechar o tratado no Rio. Na
segunda-feira, garantiu em Berlim, junto com o chanceler alemão, Olaf
Scholz, que não desistirá “enquanto não conversar com todos os
presidentes e ouvir o ‘não’ de todos”.
“A França sempre foi o país
mais duro para fazer acordo, porque a França é mais protecionista. Não é
a mesma posição da União Europeia, que pensa outra coisa”, disse Lula
no fim de semana.
Scholz, à frente da maior economia europeia, apelou ao pragmatismo para “chegar a um compromisso”.
A
UE e o Mercosul estabeleceram as linhas gerais de um pacto de livre
comércio em 2019, após anos de negociações para alinhar interesses e
convencer setores relutantes, como os agricultores franceses.
Mas
as divergências ressurgiram e os europeus acrescentaram uma seção de
exigências ambientais ao bloco sul-americano, especialmente para o
Brasil, que abriga a maior parte da Amazônia, fundamental para o combate
à mudança climática.
O
Mercosul, que em conjunto representa a quinta maior economia do mundo,
rejeitou o “protecionismo verde” da Europa e respondeu com suas próprias
exigências, como a criação de um fundo ambiental para apoiar os países
em desenvolvimento.
– Ultimato do Paraguai –
Se um acordo
não for alcançado este ano, as comportas para sua conclusão poderão se
fechar em janeiro, quando o Paraguai assumir o mandato do bloco
sul-americano. Seu presidente, Santiago Peña, disse que após o prazo se
concentrará em outras regiões.
“O acordo está morto, mas ninguém
se atreve a declará-lo morto e enterrá-lo”, disse à AFP o pesquisador da
London School of Economics, Bruno Binetti.
O bloco sul-americano, ao qual a Bolívia somou-se como membro pleno, tentará pelo menos mostrar suas conquistas.
Durante
a cúpula, precedida na quarta-feira por reuniões de ministros das
Relações Exteriores e das Finanças, deve ser assinado um acordo
comercial com Singapura, o primeiro do Mercosul em 12 anos, e o primeiro
com um país asiático.
Ao mesmo tempo, surgem dúvidas sobre o
futuro funcionamento do grupo fundado em 1991, especialmente a dinâmica
entre os líderes das duas principais economias da sub-região: Lula e o
argentino Milei, que chamou o brasileiro de “comunista” e “corrupto”
durante sua campanha.
Milei também é muito crítico do atual Mercosul.
Por
outro lado, o Uruguai inicia negociações comerciais com a China,
contrariando um compromisso de longa data dos Estados-membros do
Mercosul de negociar em conjunto com países terceiros.
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, disse que proporá na cúpula uma reunião do Mercosul com Pequim.