Sridhar Vembu, da Zoho, durante evento Zoho Day 24 em McAllen (Crédito: Divulgação)
De McAllen, Texas (EUA) *
A lista de empresas que fracassaram ao tentar concorrer com Google e Microsoft é grande. Lotus, Netscape, Novell, Sun, Altavista e Lycos são apenas algumas das empresas que – ao longo de décadas – acabaram falindo ou sendo compradas.
Uma exceção a essa lista é a Zoho, que há quase 30 anos oferece apps na nuvem para usuários individuais e pequenas e médias empresas. A companhia de origem indiana concorre diretamente com os pacotes Microsoft 365 e Google Workspace, que dominam o mercado.
Apesar da força dos rivais, a Zoho tem uma trajetória sólida e fechou 2022 com receita bruta de US$ 1 bilhão. É pouco quando comparado aos mais de US$ 200 milhões que empresas como Google e Microsoft faturam por dia. Mas é suficiente para manter uma companhia de 15 mil funcionários, mais de 100 milhões de usuários registrados e mais de 700 mil clientes empresariais pagantes. Segundo Sridhar Vembu, fundador e CEO da Zoho, a receita para se manter saudável em um mercado tão disputado é apostar no “jogo longo”.
“Quando a Zoho começou, em 1994, Microsoft e Apple já eram empresas grandes e com muito poder em seus mercados. E hoje, 30 anos depois, mesmo vivendo períodos de altos e baixos, elas estão entre as maiores empresas do mundo. A Apple domina a área de computação pessoal, enquanto a Microsoft é a mais forte na área de software para empresas. Isso ocorre pois ambas fazem apostas de longo prazo. E isso é o que fazemos na Zoho”, disse Vembu durante o evento ZohoDay, voltado para analistas que ocorreu na semana passada em McAllen (EUA).
Para Vembu, as empresas que dão certo são aquelas que apostam em inovação e mantêm seus custos sob controle. “Vemos muitas startups que têm vida curta. Elas criam serviços totalmente dependentes de grandes plataformas de nuvem, gastam muito em marketing e aquisição de usuários. Tudo na esperança de serem compradas por alguma Big Tech. Mas no fim das contas essas empresas não criam nada de novo, nenhuma tecnologia relevante. E por isso não são compradas por ninguém”, afirmou.
Uma empresa diferente
A Zoho tem algumas características que a diferenciam da maioria das empresas de tecnologia. Para começar, o fundador continua à frente da empresa após 28 anos. Vembu, um indiano de fala calma que usa trajes tradicionais de seu país em apresentações corporativas, não mora no Vale do Silício, mas em uma vila no interior da Índia.
Outra grande diferença entre a Zoho e outras empresas de software é a total ausência de anúncios em seus produtos. Nem mesmo as versões grátis têm publicidade. Essa escolha permitiu que a empresa passasse ao largo das polêmicas sobre privacidade dos últimos anos e mantivesse seu seu modelo de negócio após as aprovações de leis de proteção de privacidade, como a GDPR europeia e a LGPD brasileira.
A Zoho se diferencia ainda por manter seus próprios data centers em tempos de nuvem pública. A empresa tem atualmente 14 data centers e pretende expandir esta área, inclusive com um data center a ser construído neste ano na América Latina, possivelmente no Brasil.
Por fim, enquanto muitas startups procuram um sucesso rápido para fazer seu IPO e lucrarem com venda de ações, a Zoho é uma empresa de capital fechado e pretende continuar assim. “Muitas empresas de capital aberto se submetem a pressões do mercado e acabam não buscando projetos de longo prazo e inovadores”, explica Vembu.
Disputa pelo escritório
O mercado de software de produtividade para empresas fechou o ano de 2022 com US$ 53 bilhões em investimentos em todo o mundo, e deve crescer em média 14% ao ano até 2030, de acordo com dados da consultoria Grand View Research. Este mercado inclui aplicativos de e-mail, comunicação, planilhas, programas de controle financeiro e relacionamento com clientes (CRM), entre outros. Entre as gigantes desse setor estão Microsoft, Google, Salesforce e Intuit.
Com mais de 50 aplicativos online, a Zoho compete com todos esses gigantes. A companhia tem foco maior em empresas de pequeno e médio porte, e trabalha com preços mais acessíveis em relação a concorrentes maiores. O Zoho Workplace, pacote básico de software de produtividade, tem preço de R$ 30 por mês por usuário na sua versão profissional. Para efeito de comparação, pacotes similares da Microsoft e do Google ficam entre R$ 70 e R$ 80.
“Na Zoho privilegiamos a flexibilidade, todos os aplicativos podem ser contratados separadamente ou em pacotes. Não há contratos com multas para saída nem outros mecanismos que ‘prendam’ os clientes aos nossos serviços”, ressaltou Vijay Sundaram, chefe global de estratégia da Zoho.
Por enquanto a cobrança dos produtos da Zoho é feita em dólar, e a cobrança em reais é um dos projetos deste ano da Zoho Brasil. O principal escritório da empresa no Brasil fica em Florianópolis (SC) e comporta cerca de 100 funcionários.
Cautela com IA
Como outras empresas do ramo, a Zoho também investe em integrar recursos de Inteligência Artificial em seus produtos. Mas as soluções são implementadas de forma cautelosa, a fim de evitar brechas de dados dos clientes. “Mesmo nos anos 1990 quando lançamos nossos primeiros produtos, não incluímos anúncios neles por respeito à privacidade dos clientes. E mantemos essa mesma abordagem no uso da IA”, afirma Ramprakash Ramamoorthy, diretor de Pesquisa de IA da Zoho.
Ramamoorthy explica ainda que, como parte da filosofia verticalizada da empresa, a Zoho não usa o ChatGPT nem outros modelos de linguagem natural (LLM) em seus produtos. “Todos os nossos modelos de IA são feitos internamente. Já temos modelos pequenos e médios para executar tarefas mais simples, e estamos desenvolvendo um LLM de maior porte para integrar em nossas ferramentas. Também estamos investindo em processadores e data centers para rodar esse modelo”, diz.
* O jornalista viajou a convite da Zoho