O
grupo de trabalho que prepara a regulamentação da reforma tributária na
Câmara dos Deputados decidiu reduzir a taxação sobre o setor de
construção civil e imobiliário. As alíquotas cobradas de incorporadoras e
construtoras terão uma redução de 40% em relação à tributação de
referência, estimada em 26,5% pelo Ministério da Fazenda.
Já nas
operações de aluguel, cessão onerosa e arrendamento – sempre entre
pessoas jurídicas -, haverá uma redução de 60% em relação à
alíquota-padrão. Pela proposta original elaborada pelo Ministério da
Fazenda, a redução para ambas as modalidades era de 20%.
Os
deputados também decidiram incluir a construção civil dentro do regime
diferenciado do setor imobiliário, o que não havia sido previsto pelo
Ministério da Fazenda. As medidas atenderam ao segmento produtivo, que
alegou que a tributação, como proposta pelo Executivo, iria elevar o
preço dos imóveis.
A
tributação será calculada sobre o valor da operação, e não mais com
base no valor de referência do imóvel. Mas as construtoras e
incorporadoras não poderão se apropriar de créditos do IBS e da CBS –
novos tributos que serão criados com a reforma – gerados pelo fornecedor
de serviços nas aquisições de materiais de construção.
O
relatório também ampliou os redutores sociais. Na versão enviada pela
Fazenda, seria aplicado um redutor de R$ 100 mil por bem imóvel. Os
deputados criaram um redutor extra de R$ 30 mil para a compra de
terrenos que tenham como destino o loteamento para a construção de
residências populares, além de um redutor de R$ 400 para aluguéis. Esses
redutores descontam o valor sobre o qual será calculada a tributação. O
parecer da Câmara dos Deputados estabeleceu que eles deverão ser
corrigidos pela inflação (IPCA).
Segundo
o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC),
Renato Corrêa, houve avanço em alguns pontos do texto. “Porém, em
relação à carga de impostos, a regulamentação se mostra insuficiente
para a obtenção da neutralidade tributária, o que deve impactar o acesso
à habitação, por exemplo”, disse.
Dúvida
Quanto
ao pagamento de IVA sobre a locação de imóveis por pessoas físicas, o
projeto prevê a não incidência, desde que o imóvel não seja utilizado
predominantemente em suas atividades econômicas.
“A locação normal
não está sujeita ao IBS e ao CBS”, afirma Marcel Alcades, sócio da área
tributária do escritório Mattos Filho. No entanto, ele aponta que essa
redação gera dúvidas, especialmente para aqueles cuja maior fonte de
renda são os aluguéis de imóveis. “Por exemplo: um aposentado que recebe
R$ 2 mil por mês de aposentadoria, mas tem cinco imóveis alugados.
Logicamente que a maior parte da renda dele vem dos imóveis. Do jeito
que o texto está redigido, ele abre caminho para essa pessoa ser
tributada”, diz Alcades, alertando que esse ponto pode gerar
judicialização.
Texto cria a figura do ‘nanoempreendedor’
Os
deputados do grupo de trabalho para regulamentação da reforma
tributária decidiram criar mais um limite de isenção tributária, desta
vez voltada aos “nanoempreendedores” – aqueles que faturam até R$ 40,5
mil de receita bruta por ano.
“Criamos novas possibilidades. O
nanoempreendedor é uma inovação. Hoje, o MEI é isento até R$ 81 mil. O
nanoempreendedor ficará isento até R$ 40,5 mil”, disse o deputado Moses
Rodrigues (União Brasil-CE).
“Muitas pessoas defenderam que os
nanoempreendedores, aqueles que vendem de porta em porta, não fossem
tributados pelo IVA (Imposto sobre Valor Agregado, que unificará cinco
tributos). Aqueles que vendem produtos da Avon e da Natura, por exemplo.
Isso foi atendido”, disse Hildo Rocha (MDB-MA).
Segurança
O
principal objetivo da mudança, de acordo com técnicos da consultoria da
Câmara, foi dar maior segurança às pessoas físicas que atuam como
revendedoras. Isso porque o Fisco, ao verificar a contabilidade da
empresa, poderia chegar ao empreendedor e isso poderia gerar uma
autuação. Com a nova isenção do IVA, eles alegam que não haverá esse
risco.
Segundo o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), outro integrante
do grupo de trabalho, após a entrega desse texto inicial começará o
diálogo dentro das bancadas partidárias para a alteração do parecer.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.