Setor
deve trazer US$ 169,3 bilhões para a economia do Brasil em 2024, o que
significa aumento de 9,5% em relação aos níveis de 2019
Julia Simpson, presidente e CEO do Conselho Mundial de Viagens e
Turismo (WTTC): "Nós esperamos que a economia global cresça a 2,4% todo
ano durante os próximos 10 anos e nosso setor está crescendo a 3,7%"
(Crédito: Divulgação)
Letícia Franco - Editora 3
O
setor de turismo brasileiro está em crescimento e pode se consolidar
como uma potência global com a promoção de destinos para os turistas
internacionais e um compromisso cada vez maior com práticas
sustentáveis. É o que afirma Julia Simpson, presidente e CEO do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC).
Segundo a última Pesquisa de Impacto Econômico (EIR), elaborada pela
WTTC em parceria com a Oxford Economics, a expectativa é de que o Brasil
registre US$ 7 bilhões em gastos de turistas estrangeiros neste ano, um
recorde e aumento de 9,5% em relação a 2019, antes da pandemia. Já as
despesas do turismo interno também devem atingir novo recorde, de US$
112,4 bilhões, aumento de 11,2% sobre 2019. Além disso, o setor deve
contribuir com US$ 169,3 bilhões para a economia no Brasil em 2024, o
que significa um aumento de 9,5% em relação aos níveis de 2019. Em
entrevista à DINHEIRO, Simpson detalhou as projeções da organização para
o turismo nacional, destacando as principais oportunidades e os
desafios. Confira:
Como você avalia o cenário do setor de viagens e turismo globalmente?
A contribuição do setor para a economia global deve crescer 12% em
2024, em relação a 2023, chegando a mais de US$ 11 trilhões e compondo
assim 10% do PIB global. Estimamos também que neste ano 348 milhões de
empregos estarão ligados ao setor. Isso mostra que, mundialmente, o
turismo emprega 1,5 vezes a população do Brasil, de 215 milhões de
habitantes. Atualmente, analiso todo cenário como positivo, repleto de
oportunidades e avanços. Nós esperamos que a economia global cresça a 2,4% todo ano durante os próximos 10 anos e nosso setor está crescendo a 3,7%. Então, nós somos um setor que registra avanços mais rapidamente do que a economia.
E a contribuição do setor para o Brasil?
Em 2023, a contribuição à economia do setor de viagens e turismo foi
maior do que em 2019, último ano antes da pandemia de Covid-19. O Brasil
foi uma das mais rápidas economias que se recuperou nesse sentido.
Hoje, a área representa 7,7% da economia nacional, com uma contribuição
de US$ 165,4 bilhões. Durante 2023, a atividade reforçou também a sua
força de trabalho com 91 mil postos adicionais aos registrados em 2019,
atingindo um total de 7,76 milhões de postos de trabalho em todo o
território nacional. Da mesma forma, os gastos com turismo
internacional atingiram US$ 6,8 bilhões, 5,7% acima do valor de 2019. Já
os gastos nacionais registraram um máximo histórico com mais de US$ 111
bilhões.
Os números devem crescer até o fim deste ano?
Sim. Em
2024, o setor deve contribuir com US$ 169,3 bilhões para a economia no
Brasil, o que significa um aumento de 9,5% em relação aos níveis de 2019.
Além disso, estima-se que o setor deve representar mais de 8 milhões de
empregos no País, ou seja, 8,1% do total. Esses são dados da nossa
última Pesquisa de Impacto Econômico (EIR) 2024, feita em associação com
a Oxford Economics.
Qual a estimativa para o turismo brasileiro para os próximos anos?
A
projeção é que em uma década, ou seja, até 2034, o setor no Brasil
contribua com US$ 194,6 bilhões para a economia, sendo assim, 7,4% do
PIB nacional. Também será um pilar para a geração de empregos,
proporcionando trabalho a 9,44 milhões de pessoas, o que representa 9%
de todos os postos. Até 2034, 9,2% da força de trabalho no Brasil será
representada pelo setor de viagens e turismo. A geração de empregos é
importante para o País.
Quais são os desafios e oportunidades para o crescimento?
Primeiro, enquanto globalmente, o setor de viagens e turismo vai
expandir mais rápido do que a economia, isso não vai acontecer no
Brasil. Durante os próximos 10 anos, a economia brasileira deve avançar a
1,9% e o setor a 1,4%. Isso é muito peculiar. Outra questão é que o
turismo internacional ainda representa apenas 5,9% de tudo o que é gasto
por viagens em território nacional. É um número baixo, mas vejo como
uma oportunidade para impulsionar e fazer o setor crescer. O México é um destino no qual US$ 40 milhões são provenientes dos visitantes internacionais. É um bom exemplo para o Brasil.
Como promover o turismo internacional?
É preciso mostrar que o País é um lugar seguro, com boa infraestrutura e
oportunidades. Acredito que atrair a geração Z e promover viagens de
luxo são maneiras de atrair esses visitantes. Ambas as áreas estão
crescendo, então é o momento do País investir mais na sua promoção, há
muita coisa boa por aqui, a questão é justamente como se posicionar para
avançar ainda mais.
E esse tipo de turismo na região?
Um ponto positivo é que na região, países como a Colômbia, também têm olhado para esse tipo de turismo. No Caribe, por exemplo, 80% dos gastos vêm de turistas internacionais.
Então, é um mercado com muito potencial, sendo possível que toda a
América Latina continue crescendo. Observo que a Embratur [Agência
Brasileira de Promoção Internacional do Turismo] está fazendo um
trabalho fantástico nessa linha, buscando maneiras para promover o País
no exterior.
O Brasil sai na frente quando…
Quando o assunto é atração, beleza natural. É um dos países mais
diversos do mundo, onde tem cidades fantásticas e uma natureza
impressionante. A Amazônia é um exemplo disso. A cultura e a gastronomia
também são ótimas e diversas, de norte ao sul do País. Essa pluralidade é algo único e especial do Brasil,
um país com uma história rica, que tem museus fantásticos, uma
arquitetura maravilhosa, entre outras vantagens. Todos esses fatores são
oportunidades a serem explorados pelo governo.
A sustentabilidade é essencial para o crescimento do turismo?
Sim, porque crescemos justamente com a sustentabilidade. Temos vários
aspectos quando falamos do tema. Há o impacto sobre o ambiente e as
questões de greenhouse, e sobre o planeta em termos de natureza,
comunidades e cultura. Esse último é muito importante tanto para
empregos como para proteger e incentivar a cultura local. No
caso do Brasil, a sustentabilidade é um pilar essencial para o
crescimento, precisamos que os países ricos entendam o valor da região e
trabalhem coletivamente para preservar a natureza. Isso é
muito importante. Nós [WTTC] podemos contribuir com o consumo de água e a
agricultura de forma sustentável, em como deve se usar os alimentos,
etc. Há várias sinergias do setor com a sustentabilidade, e tudo isso é
fundamental para crescer.
Como as tecnologias emergentes, especialmente a Inteligência Artificial (IA), podem transformar o setor?
É interessante porque a Inteligência Artificial pode definitivamente
ajudar a própria sustentabilidade, através de recursos para proteger o
meio ambiente e estratégias, como mostrar para hotéis e outros agentes
dessa cadeia como ser mais sustentável, quais práticas são boas ou não. Para
a hotelaria, por exemplo, há IAs que realmente monitoram os gastos e
oferecem soluções para redução em relação a comida e água. Essa
tecnologia também está sendo usada na área do marketing, o que é legal
para os países como o Brasil, que pode utilizá-la para atrair a geração Z
por meio de experiências virtuais antes da viagem acontecer. Além de
eliminar tarefas repetitivas. A IA está mudando o turismo.