Mercado aposta em aumento no ritmo de alta da Selic (Crédito: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)
A
um dia de o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir sobre o
patamar da taxa de juros, hoje em 11,25% ao ano, a Confederação Nacional
da Indústria (CNI) afirmou que uma eventual elevação – que é a aposta
do mercado – demonstraria que o Banco Central “ignora” elementos
importantes dos cenários econômicos nacional e internacional.
Em
nota divulgada hoje, a entidade classificou a política monetária ainda
mais contracionista como ‘insistir no erro’, tendo em vista a redução
“significativa” do impulso fiscal sobre a atividade econômica,
considerando também o pacote apresentado pelo governo ao Congresso.
Para
a CNI, o BC também precisa ponderar outros elementos, como a
desaceleração da economia brasileira “já em curso” e a tendência de
corte de juros nas principais economias globais. Além disso, classificou
a reação inicial do mercado ao pacote fiscal como “exagerada”.
A posição da Indústria contrasta com a avaliação do setor financeiro. Como mostrou o Projeções Broadcast
mais cedo, a maioria do mercado espera intensificação no ritmo de
aperto monetário com uma alta de 0,75 ponto porcentual na Selic, para
12%. Este é o cenário base de 26 das 39 instituições consultadas em
pesquisa relâmpago, feita entre ontem e hoje. Onze casas preveem alta
ainda maior, de 1 ponto, em seus cenários-base, possibilidade que ganhou
força nos últimos dias, à luz de nova desancoragem das expectativas de
inflação do último boletim Focus e persistência do câmbio ao redor de R$
6.
Enquanto o mercado mantém uma postura mais cética sobre os
resultados do pacote fiscal apresentado ao Congresso pelo governo, a CNI
afirmou hoje que as medidas irão melhorar a sintonia entre as políticas
fiscal e monetária e contribuir para a sustentabilidade do novo
arcabouço fiscal.
“Também
é positivo o fato de o pacote conter medidas que são de caráter
estrutural, como a revisão da regra de reajuste do salário-mínimo, da
regra que determina o valor do abono salarial e da regra que define a
contabilização da renda para fins de recebimento do Benefício de
Prestação Continuada (BPC)”, disse a entidade.
Sobre a inflação, a
CNI avaliou que as propostas vão impor freio adicional no impulso
fiscal sobre a economia, pontuando ainda a previsão de que as despesas
federais devem registrar queda de 1,8% na comparação do segundo semestre
de 2024 em relação ao segundo semestre de 2023 (desconsiderando o
pagamento adicional de precatórios em 2023).
“A
CNI prevê que as despesas terão crescimento real de 2,1% em 2025, ritmo
menor que o previsto para 2024, de 4,1% (também desconsiderando o
pagamento adicional de precatórios em 2023)”, disse a Confederação,
observando ainda que o limite inferior da meta fiscal de resultado
primário deverá ser cumprido neste ano.
Para a CNI, a reação
negativa do mercado ao pacote fiscal, que gerou uma desvalorização da
taxa de câmbio e alta nos juros futuros, será revertida uma vez que a
reforma da renda que será enviada ao Congresso será neutra do ponto de
vista fiscal. “Ainda, não se deve tomar decisões de política monetária
com base em seus efeitos temporários”, disse a entidade, para quem os
mercados de trabalho e de crédito já dão sinais de desaceleração.
“Elevar
a taxa de juros é jogar contra o esforço fiscal em curso, uma vez que
aumenta o custo da dívida pública, já que a Selic indexa parte
considerável dos títulos públicos. Cada ponto porcentual a mais na Selic
representa R$ 50,3 bilhões a mais na dívida bruta, segundo estimativas
do próprio Banco Central”, apontou.
O presidente da CNI, Ricardo
Alban, disse que o “é totalmente inoportuno” para o BC elevar a Selic.
“Seria uma medida excessiva em termos de controle da inflação e apenas
traria restrições adicionais ao crescimento do país”, disse em nota da
entidade, que aposta ainda que as condições climáticas mais favoráveis
em 2025 devem contribuir para a desaceleração expressiva dos preços de
alimentos e energia, desfazendo duas fontes de pressão da inflação
corrente.