O governo brasileiro colocou na mesa de negociação com os Estados Unidos a possibilidade de ampliar a cota de exportação de açúcar
para o país norte-americano sem incidência de imposto, com o objetivo
de minimizar danos ao setor diante da chance de implementação de tarifa
adicional sobre o etanol, disseram à Reuters duas fontes a par das
tratativas.
A busca pelo aumento da cota para o açúcar
é um pleito histórico do setor e já havia sido proposto sem sucesso em
anos anteriores, mas o governo decidiu fazer uma nova tentativa após a
abertura de rodadas de negociação nas últimas semanas, segundo as
fontes.
Após assumir a presidência dos EUA, Donald Trump
passou a propor elevações de tarifas para a importação de produtos. Em
fevereiro, ao anunciar cobranças recíprocas contra países que taxam os
Estados Unidos, a Casa Branca mencionou o etanol brasileiro como
possível alvo. A medida ainda não foi implementada, mas pode vir em um
novo pacote de taxações que o governo norte-americano promete para 2 de
abril.
O Brasil tem hoje uma cota de cerca de 147 mil toneladas de açúcar que pode ser exportado para os EUA
sem incidência de imposto de importação. O restante é taxado por
tonelada, o que resulta em cobranças médias que ficam em torno de 80%.
Açúcar como contrapartida nas negociações
Apesar da tarifa
extracota, a exportação de açúcar do Brasil para os Estados Unidos não
foi desprezível em 2024, somando 1,1 milhão de toneladas, de um total de
38,2 milhões embarcadas para todos os destinos, segundo dados governo
brasileiro.
De acordo com as fontes, a ampliação da cota
permitiria que produtores brasileiros reorientassem suas cadeias para
ampliar a fabricação de açúcar em caso de uma eventual redução de
demanda de etanol com a taxação do combustível pelos norte-americanos.
Os
primeiros contatos para discutir as questões tarifárias foram feitos na
semana passada, entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário
de comércio norte-americano, Howard Lutnick, e em seguida entre o
ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o representante de
comércio dos EUA, Jamieson Greer.
Depois
dessas conversas, ficou acertado que grupos técnicos devem começar um
diálogo para tratar das questões tarifárias. A expectativa do governo
brasileiro é de inserir novos produtos e pautas de interesse do país na
mesa de negociação.
Em entrevista à rádio CBN na terça-feira,
Alckmin reconheceu que a tarifa imposta sobre o etanol pelo Brasil, de
18%, é maior que a dos EUA, de 2,5%, mas ponderou que é necessário
avaliar em conjunto com o açúcar, citando cobrança elevada pelos
norte-americanos para o volume que ultrapassa a “pequena cota”.
Quando
a possibilidade de ampliar a taxação do etanol foi citada pela Casa
Branca em fevereiro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira,
disse que para ter um plano “justo e recíproco” seria necessário zerar
as alíquotas de importação para o açúcar brasileiro, já que os dois
países sempre negociaram açúcar e etanol de forma conjugada.
“A
medida adotada pelo presidente Trump é desarrazoada, uma vez que não se
fala em contrapartida na ampliação da exportação de açúcar brasileiro
para os norte-americanos”, afirmou em nota na ocasião.
A discussão
sobre inclusão do açúcar nas negociações para evitar uma tarifa maior
para o etanol brasileiro nos EUA, contudo, acontece em um momento em que
o Brasil tem uma produção crescente do combustível produzido a partir
do milho, mesma matéria-prima utilizada pelos norte-americanos.
Com
vários projetos em desenvolvimento ou em construção, a produção anual
de etanol de milho do Brasil deverá quase dobrar para cerca de 16
bilhões de litros até 2032, afirmou o banco de investimentos Citi em uma
nota publicada nesta terça-feira, citando a rápida expansão do setor.
As
exportações de etanol do Brasil para os EUA no ano passado somaram 310
milhões de litros, de um total de 1,9 bilhão de litros exportados para
todos os destinos, segundo dados publicados pela União da Indústria de
Cana-de-açúcar (Unica). Já as importações totalizaram 192 milhões de
litros em 2024, sendo 110 milhões vindo dos EUA.
Uma das fontes do
governo acrescentou que também será feita uma tentativa de ampliar a
cota de exportação de carne para os Estados Unidos, em pauta não ligada
diretamente ao etanol, mas que atenderia ao agronegócio brasileiro.