“As
políticas governamentais são construídas para atender às demandas da
sociedade. Então, essa escuta é fundamental. Esse conselho é uma forma
democrática de ouvir a sociedade, suas prioridades ouvir, suas
demandas”, disse à Agência Brasil.
Metas estratégicas
Representantes do colegiado entregam ao presidente Lula o documento Pilares de um Projeto de Nação, que reúne metas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país.
As
propostas foram construídas a partir de discussões realizadas nos
últimos meses, nas comissões temáticas do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social Sustentável.
A
construção do documento se deu a partir da Estratégia Brasil 2050,
coordenada pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, com propostas de
metas para uma década e ações mais concretas para os próximos cinco
anos.
“Nas comissões, os conselheiros responderam à
pergunta-guia: ‘Onde vai estar o Brasil daqui a dez anos’, sobre
envelhecimento, os empregos no interior, o perfil das novas tecnologias
afetando a empregabilidade. Foi um debate profundo”, explicou o
secretário-executivo do Conselhão, Olavo Noleto.
Ele
afirmou que as contribuições serão significativas para o futuro do
país, a partir da diversidade. “Os diferentes estão aqui [no Conselhão],
o que é uma riqueza. Porque, no Brasil em que as diferenças são
disputadas a tapa, aqui a gente está provando que as diferenças são
possíveis”, refletiu Olavo Noleto.
Debates públicos
Atualmente, o Conselhão conta com o quadro de 289 conselheiros. Pelo
agro, o produtor de soja e algodão Eraí Maggi, reconheceu medidas
praticadas pelo governo federal que beneficiaram o setor, como o
desenvolvimento de biotecnologias, normatização para o uso de defensivos
agrícolas seguros para os produtores, trabalhadores do campo e
consumidores.
Ele destacou a ampliação do acesso ao
crédito bancário aos produtores rurais, a partir de regras para os
financiamentos bancários que beneficiaram toda nação.
“Teve
financiamento de longo prazo – de 17 anos, com três anos de carência –
para silo, trator e colheitadeira, para pulverizador, para tudo. Daí, o
Brasil virou o que virou, com milhões de toneladas de produção, gerando
empregos e exportando.”
A empresária Luiza Trajano comemorou dois avanços do governo federal: a redução da taxa de desemprego ao menor patamar da série histórica (5,4%) e a recente regulação das bets.
“Vamos
parar de falar mal do Brasil. Vamos destacar o que nós temos de bom e
valorizar o que é nosso. E defendo e acredito profundamente no Brasil,
nós temos absolutamente tudo para construir um 2026 mais forte, mais
justo e soberano.”
Porém, Luiza Trajano criticou a
alta de juros, que segundo ela atrapalha a atividade econômica. A
empresária também convocou os empresários do Brasil a criarem um amplo
movimento de educação de combate à violência contra as mulheres.
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Brasil tem motivos
para ser positivo, sem esquecer dos desafios e gargalos na economia.
O
ministro fez uma comparação com a “motosserra” adotada pela Argentina
como símbolo para o ajuste fiscal e corte de gastos no país platino.
“Não
precisamos de uma serra elétrica para corrigir os nossos
desequilíbrios. Mas de uma chave de fenda. Se nos tirarem a chave de
fenda, vai ser difícil parafusar com à mão. Mas, a gente, com diálogo,
vai continuar prosperando”, afirmou Haddad.
O
ministro ainda trouxe à reunião números sobre a taxa de emprego, a
redução da taxa de informalidade, a alta da média salarial, redução
recorde da desigualdade de renda e comentou a saída do Brasil do Mapa da
Fome, acompanhada da redução da taxa de pobreza. Haddad prevê que a
inflação será a menor da história.
A
cientista de computação e pesquisadora em Inteligência Artificial
(I.A.) Nina da Hora defendeu a soberania digital tecnológica do Brasil,
com investimentos em softwares nacionais e em soluções inovadoras
desenvolvidas no país, bem como nas universidades públicas para geração
de empregos no país. “Não se trata de um isolacionismo, nem de
tecnofobia. Trata-se que a nossa soberania nacional se fortaleça também a
partir de soluções.”
Outra conselheira, a vice-presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP), Mônica Veloso, recordou
conquistas dos trabalhadores, como a política permanente de valorização
do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda que amplia a
isenção dos tributos daqueles que ganham até R$ 5 mil por mês.
“Estamos
falando de uma economia de cerca de 83% de um salário, o que é,
praticamente, um 14° salário a mais. Serão 28 bilhões a mais de recursos
nas mãos dos trabalhadores. Isso significa renda, consumo e mais
empregos”.
Com isso, a sindicalista lista que, nos últimos três
anos, políticas de enfrentamento às desigualdades sociais resultaram na
redução da pobreza e desigualdades no Brasil e na saída oficial do país,
pela segunda vez, do Mapa da Fome das Nações Unidas.
“Combater as
desigualdades é tirar da invisibilidade social a imensa maioria do povo
preto das nossas comunidades periféricas, da subsistência e da
exclusão, dando-lhes as condições de voltarem a esperanças, sonhar e de
viver o Brasil que precisa ser de todos nós.”
Apesar de destacar
os feitos, Mônica Veloso, cobrou que o poder público tenha, em 2026,
foco nos aposentados. Do mesmo modo, reivindicou a geração de empregos
de boa qualidade e que o Brasil ponha fim à escala 6×1. “Tempo livre
dinamiza a economia.”
O cofundador da presidente global da
Central Única das Favelas (Cufa), Preto Zezé, entende que o governo
terá que renovar o repertório de discussões sobre as questões urbanas do
Brasil, principalmente de segurança pública.
“Não
podemos deixar o debate ser reduzido, somente à munição efetiva,
polícia e viatura. Precisamos introduzir intervenções integradas dentro
dos territórios urbanos”, disse à Agência Brasil.
O ativista defende o debate econômico, que eu acho que é importantíssimo.
“Vivemos
uma precarização do trabalho. A favela produz uma economia de R$ 312
bilhões e que passa ao largo do Estado. Quando o Estado chega próximo
desse ambiente econômico desregulado, muitas vezes, atrapalha ou é visto
como um inimigo, quando na verdade as pessoas precisam de políticas
públicas nesses territórios”, frisa Preto Zezé.
O jovem ativista
na luta anti-capacitista (em defesa de pessoas com alguma deficiência e
sua inclusão na sociedade) e influenciador digital da inclusão, Ivan
Baron, relacionou as pautas que levou ao Conselhão. “Queremos colocar as
pessoas com deficiência dentro do orçamento público, algo que venho
debatendo sobre o BPC [Benefício de Prestação Continuada] e queremos
evitar os cortes no Ministério de Desenvolvimento Social [MDS –
Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à
Fome].”
Outras entregas
Os representantes do colegiado entregaram ao presidente Lula a cópia do projeto Move Mundo, que
reuniu pessoas de diversas idades e territórios do Brasil e do mundo,
para levar mensagens e propostas da comunidade científica da Amazônia
aos líderes globais na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima (COP30), encerrada em novembro, em Belém.
Durante a 6ª
Reunião do Conselhão também foi encaminhada à Presidência da República a
Agenda Positiva do Agro 2025: um conjunto de práticas e tecnologias já
adotadas por empresas, instituições de pesquisa, governos e organismos
internacionais para fortalecer a produção sustentável e a inovação no
setor agropecuário brasileiro.
Outra apresentação foi a do
Portfólio De Investimentos Voltados à Transformação Ecológica no Brasil,
organizado pelo Ministério da Fazenda, que detalha um conjunto de dados
sobre projetos públicos e privados e aplicações financeiras focadas em
projetos e empresas com impacto ambiental positivo, como os relacionados
à bioeconomia, energias renováveis e soluções baseadas na natureza.