
Tendo como principal condutor o resultado mais fraco do que o esperado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, os juros futuros negociados na B3 mantiveram a toada de recuo por toda a extensão da curva no pregão desta quinta-feira, 04.
Segundo agentes, mais do que o número cheio em si – que mostrou que a economia brasileira cresceu apenas 0,1% nos três meses encerrados em setembro ante o trimestre anterior, feitos os ajustes sazonais -, a composição do dado, que trouxe desaquecimento maior da demanda, finalmente deu um sinal mais contundente ao mercado de que a política monetária restritiva está segurando a atividade.
Com maior clareza sobre essa leitura, as apostas de que a Selic será reduzida em janeiro cresceram. Agora, as atenções dos investidores se voltam ao comunicado que vai acompanhar a decisão de juro do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana, em busca de sinais menos conservadores do Banco Central.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 diminuiu de 13,591% no ajuste de quarta-feira para 13,55%. O DI para janeiro de 2029 cedeu de 12,694% no ajuste para 12,645%. O DI para janeiro de 2031 ficou em 12,88%, vindo de 12,915% no ajuste precedente.
Nos cálculos de Gean Lima, gestor de portfólio da Connex Capital, na quarta, a precificação implícita na curva a termo apontava 73% de chances de redução de 0,25 ponto porcentual do juro básico na reunião de janeiro do Copom, probabilidade que aumentou para 77%. “O PIB abaixo das expectativas, principalmente demonstrando moderação no consumo das famílias, reforça a perspectiva de que o BC deve cortar a taxa de juros no primeiro trimestre de 2026”, afirma Lima.
Na passagem trimestral, o consumo das famílias ficou praticamente estagnado, com avanço de 0,1%, após ter crescido 0,6% de abril a junho – abertura que, para economistas, foi o grande destaque das Contas Nacionais Trimestrais. Pela ótica da oferta, a expansão dos serviços desacelerou de 0,3% para 0,1% entre e o segundo e o terceiro trimestres, sempre na comparação dessazonalizada com o trimestre antecedente.
Outro ponto que indicou perda de ímpeto da atividade na margem foi a revisão do IBGE, realizada sempre no período do terceiro trimestre, em resultados trimestrais anteriores. A alta do PIB segundo trimestre de 2025 foi reduzida de 0,4% para 0,3%. Por outro lado, o crescimento dos primeiros três meses do ano foi revisto de 1,3% para 1,5%. De qualquer forma, a visão predominante é de que o dado conhecido desta quinta é favorável ao início do aguardado ciclo de flexibilização monetária.
“Acho que essa era a grande mensagem de que o mercado precisava: uma desaceleração mais clara no consumo e nos serviços”, afirma Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, para quem o PIB e sua abertura ainda foram os fatores que reduziram os prêmios de risco ao longo de toda a curva na segunda parte da sessão.
“O PIB trouxe grande animação para o mercado no sentido de que essa desaceleração da demanda mostra o cumprimento da expectativa da política monetária”, diz Tavares. “Tínhamos certa dificuldade de ver de forma tão clara a ação a política monetária sobre a demanda. O câmbio estava sendo o funcionário do ano, mas o PIB de serviços vindo mais baixo e o componente de consumo desacelerando expressivamente são boas notícias que dão alívio ao mercado”.
Diretor de pesquisa econômica do banco Pine, Cristiano Oliveira afirma que a dinâmica do consumo foi a única surpresa da instituição entre os componentes do PIB, que, em sua visão, reforça que o canal da política monetária está funcionando. “O consumo menor é a combinação de um mercado de trabalho em desaceleração, da política monetária atuando muito pelo canal de crédito e do endividamento das famílias em alta”, disse Oliveira à Broadcast.
Para o diretor, o BC já teria condições técnicas de cortar o juro no encontro da próxima semana, tendo em vista o conjunto de dados que mostra arrefecimento da atividade, da inflação e do mercado de trabalho, mas a opção pelo discurso conservador da autoridade monetária o faz prever um ajuste para baixo em janeiro.
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