Em
conferência em Paris, especialistas discutem necessidade e caminhos para
que construtoras e incorporadoras possam rumar ao futuro
Segundo um estudo recentemente publicado pela consultoria britânica PWC, os investimentos em tecnologia no ramo imobiliário
europeu chegaram a 3,4 bilhões de euros em 2017. A cifra é vinte vezes
maior do que o montante em 2011, mas isso não significa que o setor
abraçou de vez a inovação. O mesmo relatório afirma que apenas 10% dos CEOs europeus dessas empresas tem a tecnologia como uma preocupação.
Esses
resultados foram divulgados durante a conferência MIPIM Proptech — o
termo, em inglês, define a nova onda de startups e inovações digitais no
setor imobiliário. Realizado em Paris nesta penúltima semana de junho, o
evento recebeu alguns especialistas que discutiram o futuro de uma
indústria que, mesmo tradicional, é responsável por cifras astronômicas
da receita global.
Para
Elizabeth Rapoport, uma das autoras do estudo da PWC, há um claro
descompasso entre a mentalidade dos tomadores de decisões e os
investimentos pesados em novidades que vão de design a big data. A
especialista acredita que construtoras e incorporadoras precisam avançar
no futuro antes que caiam numa situação do tipo Blockbuster — a outrora
rede de locadoras de vídeos ficou para trás ao não absorver inovações.
A
preocupação é até maior quando analisada a concorrência: grandes
empresas de tecnologia que expandem seus tentáculos para além do mundo
virtual, criando prédios inteligentes ou infra-estruturas conectadas.
"Não estamos tão atrasados, mas precisamos mudar", diz Cees van der
Spek, um dos diretores da construtora holandesa EDGE Technologies.
Spek
afirma que uma das maneiras de acelerar o passo da indústria é
manter-se próximo a polos de inovação como startups e universidades.
Responsável por edifícios de desenho e funcionamento futuristas, como o
edifício holandês Las Palmas, a EDGE Technologies mantém contato com a
Singularity University — reconhecido think tank multidisciplinar que tem
parcerias até com a NASA.
Diretora da maior incorporadora do
mundo, a CBRE, Bridget Wilkins afirmou que inovações desse tipo
representam mudanças, algo a que um setor tão tradicional quanto o
imobiliário não está acostumado. Ela acredita que é preciso quebrar
algumas barreiras, sejam elas simbólicas, ou concretas, como fronteiras
entre algumas companhias e países. "Estamos muito atrás do que
deveríamos estar", diz ela. "Basta olhar para alguns índices e números."
Mudar com cuidado
Wilkins também acredita que a inovação um tanto tardia pode resultar em aprendizados o setor imobiliário. Segundo a diretora, companhias e plataformas de redes sociais tem hoje uma grande preocupação com a transparência no uso do dados, mas isso é resultado de alguns erros de percurso. "Quero ver como isso pode se aplicar na maneira como operamos edifícios", afirma ela.
Fundadora da Architrave, empresa alemã de
gestão de recursos, Maurice Grassau reforçou a análise de Wilkins quanto
a um uso responsável da tecnologia. "Para se tornar digital, a
indústria inteira tem de mudar", diz ele. "Isso só vai funcionar se
todos trabalharem juntos."
Grassau também citou danos colaterais
que podem surgir com um uso desenfreado da tecnologia no ramo
imobiliário, caso dos prédios inteligentes munidos de rastreadores e
sensores. "O dono do prédio não pode ser dono dos dados do prédio", diz
ele. "Mas empresas de tecnologia poderão usar dados desses prédios e aí
vamos ter algo como vimos nas telecomunicações, por exemplo."
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