quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Líder na transição energética ou nova chance perdida para o Brasil?

 


Estudo diz que Brasil tem vantagens estratégicas na transição tecnológica global para combater o aquecimento global. Mas devido à falta de vontade política, o potencial pode, mais uma vez, não ser aproveitado.A Universidade Johns Hopkins, dos EUA, acaba de publicar um estudo segundo o qual o Brasil poderá ser um dos quatro países do mundo que, em 2050, estarão na liderança da transição tecnológica global necessária para combater o aquecimento global. O primeiro a publicar uma matéria sobre o estudo no Brasil foi o jornal Valor Econômico.

De acordo com o estudo, são sete os setores nos quais o Brasil tem vantagens estratégicas globais que serão decisivas para a transição energética: minerais estratégicos, produção de baterias, veículos elétricos híbridos (que também usam biocombustíveis), combustíveis sustentáveis de aviação (conhecidos pela sigla SAF), fabricação de turbinas eólicas e produção de produtos verdes, como aço de baixo carbono e fertilizantes de baixo carbono.

As grandes diferenças entre o Brasil e os muitos outros países em condições semelhantes no Oriente Médio, África ou Ásia são o grande mercado interno e a base industrial já existente – por exemplo na comparação com outras grandes economias, como a Índia.

A questão é se o Brasil vai aproveitar essa chance.

Porque, em primeiro lugar, o vento global está soprando contra qualquer iniciativa de adaptação à mudança climática. O governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, considera a mudança climática uma besteira, e retirou a maior economia do mundo de todos os compromissos voluntários de proteção climática.

Partes da economia americana, como alguns bancos e empresas, já seguiram o exemplo e abandonaram as regras da governança ambiental, social e corporativa (ESG), como são chamados os padrões, regras e práticas que obrigam uma empresa a operar de forma socialmente responsável e sustentável.

No Brasil, é improvável que as coisas sejam diferentes se houver um governo conservador de direita a partir de 2027.

E também o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não segue um conceito claro de sustentabilidade: em vez de se concentrar totalmente na expansão da cadeia de valor de baterias, desde a mineração das terras raras até a produção de cátodos para baterias, por exemplo, Lula quer agora permitir que a Petrobras produza petróleo no litoral norte do Brasil. Em tempos do “Drill, baby, drill!” de Trump, é provável que as críticas internacionais sejam bem menores.

Provavelmente vai acontecer o que sempre acontece no caso do Brasil: o país não usará suas vantagens e vai desperdiçar mais uma chance. Vai produzir um pouco de energia verde, integrar um pouco de energia sustentável em sua cadeia de valor, mas, ao mesmo tempo, produzir petróleo, operar usinas térmicas e investir numa refinaria para produtos petroquímicos – tudo, claro, a elevados custos, devido à má administração, corrupção e interesses políticos.

“Desenvolvemos nossa indústria tardiamente, perdemos em grande parte a revolução da TI – todas as vezes, o cavalo encilhado passou por nós a galope”, comentou comigo, anos atrás, o bioquímico e gestor de fundos Fernando Reinach. Estávamos falando então sobre a posição de liderança global do Brasil em energias renováveis. Embora o Brasil não tenha perdido essa posição de liderança, ele ainda não alcançou de fato todo o seu potencial.

Essa história pode se repetir na transição energética para a mudança climática.

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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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