Empresas revisam planos e montam esquemas alternativos
para garantir funcionamento das operações em caso de racionamento ou
novos blecautes em 2013.
Edileuza Soares
23 de janeiro de 2013 - 07h30
A possibilidade de o Brasil vir a ter um apagão de energia por
conta da redução dos reservatórios e crise do setor elétrico preocupa os
empresários dos data centers brasileiros, mas eles garantem que têm
contingência para manter suas operações, caso aconteçam novos blecautes
no País em 2013.
Os data centers estão entre os maiores consumidores de energia elétrica por
operaram com infraestrutura de alta densidade.
Mesmo com adoção da virtualização e processamento em nuvem, que
permitem compartilhar servidores, essas empresas ainda são grandes
puxadoras de eletricidade. Como são responsáveis pela operação de muitos
sistemas críticos de TI de diversos segmentos da economia que não podem
parar, essas companhias precisam investir pesado em sistemas de
contingência.
Caso fiquem fora do ar por falta de energia ou qualquer outro
incidente, muitas empresas terão seus negócios impactados,
principalmente agora que as companhias estão terceirizando mais serviços
de tecnologia e aderindo às aplicações que rodam na nuvem. Para elas,
ter esquemas de energia alternativa e redundância é vital para
manutenção das operações.
"Nossas operações estão preparadas para funcionar independente do
fornecimento das distribuidoras de energia", garante Fabiano Agante
Droguetti, CTO da Tivit, que processa aplicações de 1,2 mil empresas,
sendo 300 das 500 maiores do País. Um de seus clientes é a Cielo, que
processa meios de pagamentos eletrônicos com cartão de crédito e de
débito.
Droguetti observa que a distribuição de energia no Brasil
é instável e apresenta micro interrupções com muita frequência, o que
obriga os data centers a terem planos robustos de contingência e evitar
que as operações sejam suspensas.
No caso da unidade de São
Paulo, localizada em Santo Amaro, por exemplo, ele informa que a empresa
conta com cinco geradores, sendo que dois funcionam como backup. Esses
equipamentos são alimentados por óleo diesel e estão preparados para
manter as operações da Tivit em operação por até sete dias, sem precisar
de reabastecimento, segundo Droguetti.
"Nosso gerador leva cinco minutos para
entrar em operação. Nesses cinco minutos, nossos sistemas são
alimentados por nobreaks que oferecem uma autonomia de até 30 minutos",
conta Droguetti. Como a energia da distribuidora é instável e apresenta
custos elevados no final da tarde, ele afirma que o data center chega a
utilizar os geradores praticamente todos os dias por algumas horas, o
que faz com que os equipamentos passem por manutenção constantemente.
Ainda
como parte do plano de contingência, Tivit se abastece de energia
convencional por meio de duas subestações da AES Eletropaulo. Embora a
distribuidora seja a mesma empresa, Droguetti informa que essa forma de
contratação dá mais segurança, pois se uma das redes cair a outra assume
a operação do data center automaticamente.
Segundo o CTO da
Tivit, o negócio de data center exige contingência. O investimento é
alto, mas ele diz que uma parada arranha a imagem da empresa. Assim como
a Tivit, o executivo acredita que todos os grandes centros de
processamentos de dados estejam preparados para enfrentar um eventual
apagão. "Em 11 anos de operação nunca ficamos fora do ar", afirma.
"Existe apreensão, mas o risco de apagão não é um problema", diz o CTO.
Na
Ativas, data center localizado em Belo Horizonte (MG), o risco de um
apagão preocupa, mas a empresa investiu pesado em esquema alternativo.
Antônio
Phelipe CTO da Ativas explica que a companhia já nasceu preparada para
enfrentar esse tipo de ameaça.
A empresa foi a primeira do seu segmento
na América do Sul a obter a certificação Tier III, concedida pelo
Uptime Institute, que garante disponibilidade de 99,98% de suas
operações. O grupo também é credenciado pela TÜV Rheinland, que comprova
que seus processos seguem as boas práticas.
A exemplo da Tivit, o
data center da Ativas é abastecido por duas subestações diferentes da
Cemig, distribuidora de energia de Minas Gerais, que detém 49% do seu
capital, o que segundo a empresa, é uma vantagem competitiva ter um
sócio do setor. "Às vezes não é nem o blecaute que gera falta de
energia. A
queda de uma árvore pode interromper o fornecimento e ter dois caminhos
alternativos aumenta a redundância", explica Phelipe.
"Usamos
duas redes distintas de energia e a troca é automática", garante o CTO
da Ativas, mencionando que a companhia conta um esquema alternativo com
dois geradores, sendo um backup ligado por um sistema de barramento
para subir imediatamente, caso o primeiro falhe.
Ter uma
subestação própria de energia aumenta a contingência e dá mais segurança
para o data center. É para ter mais tranquilidade que a Level 3 está
investindo nesse tipo de projeto para alimentar o data center de São
Paulo, que hoje é atendido pela AES Eletropaulo.
Além da unidade
de São Paulo, a Level 3 conta com outras duas, uma localizada no Rio de
Janeiro e outra em Curitiba. Vagner Moraes, diretor da unidade data
center da companhia explica que a energia fornecida pela distribuidora
oscila muito. Ele contabiliza que em 2012 ocorreram cerca de mil
registros de interrupções da rede convencional, o que motivou a companhia
a investir na construção de uma subestação própria, que ficará pronta
dentro de 24 meses.
"Apesar de termos um data center construído nos padrões de alta
disponibilidade, nos preocupa diretamente a possibilidade de um apagão",
admite Emerson Ferreira, gerente de compliance da
Algar Tecnologia. Segundo ele, o data center do grupo mineiro, que conta
com unidade em Uberlândia e Campinas (SP), está equipado com geradores
com abastecimento garantido por 48 horas. Entretanto, ele observa que
outros serviços podem não ter plano de contingência, como é o caso de
transporte para reabastecimento de diesel.
Problema com a legislação
De acordo com a legislação brasileira, as empresas não têm opção de
contratar dois fornecedores de energia, uma vez que há apenas uma
distribuidora por região. Essa situação obriga os data centers a
recorrerem aos planos alternativos como construção de usinas próprias e
contratação de duas linhas da mesma fornecedora.
"Temos que construir sites prevendo que não podemos depender do
fornecimento externo de energia para manter nossas operações em
funcionamento. Os mais modernos data centers são desenhados para ser
autônomos. Temos que ter geradores a mais", explica Paulo Sartório,
gerente de marketing de produtos da Terremark.
Sartório garante que o data center da Terremark tem um plano
contingência que permite que a empresa se mantenha até 72 horas em
funcionamento em caso de apagão. "Estamos tranquilos porque nossas
instalações foram construídas, levando em conta esse tipo de ameaça",
afirma ele.
"Temos uma pequena usina hidrelétrica porque energia é crítica para
nosso negócio. Todo mês há uma queda. A energia do Brasil não é de boa
qualidade e oscila muito", informa Marco Fonseca, diretor de operações
da Locaweb, justificando a necessidade de essas empresas terem esquemas
alternativos.
"Se tivéssemos a opção de termos duas concessionárias, não seria
preciso investir tanto", diz o executivo, que acha que energia deveria
ser como links de telecomunicações e internet, que é possível terem
rotas redundantes com diferentes fornecedores.
Falhas podem acontecer
Outros data centers como T-Systems, Uol
Diveo, Embratel, Telefônica e Oi também estão reforçando seus planos de contingência. Entretanto,
nem sempre ter esquemas alternativos de energia garantem que as empresas
se mantenha no ar em caso de blecaute.
Segundo os especialistas, elas precisam ter pessoal treinado e fazer
manutenção constante dos geradores e ter bancos de baterias de
qualidade. Os equipamentos devem ser ligados constantemente e os planos
precisam ser revisados sempre para funcionarem em caso de incidentes.
Prova disso, foi que no último apagão que o Brasil sofreu em 15 de
dezembro do ano passado que afetou cidades de nove estados do País. Um grande data center bem equipado, localizado
em São Paulo, ficou fora do ar e prejudicou clientes que tinham
aplicações de missão crítica hospedadas em suas unidades.
Segundo especialistas, o motivo da falha não foi ausência de
tecnologia, mas dificuldade para colocar os sistemas em operação e
mantê-los em funcionamento após a queda do fornecimento de energia da
distribuidora. Os geradores e nobreaks foram ativados, mas entraram em
pane e o data center interropeu operações.
"Mesmo que não sejam usados, os geradores precisam passar por testes
smenais para que funcionem corretamente quando falta energia. É preciso
fazer a manutenção do óleo diesel", relata Peter Catta Preta, diretor de
infraestrutura da Alog. Ele observa que essas máquinas são como um
grande motor de caminhão que têm que ser revisados constantemente e
ficarem pré-aquecidos para darem partida no momento certo.
A Alog conta com três data centers, sendo dois em São Paulo e outro
no Rio. O localizado no centro da capital paulista conta com cinco
geradores e o de Tamboré (Barueri) tem dois equipamentos desses,
enquanto o do Rio possue oito equiopamentos para situações de
emergência. Essa quantidade, segundo Catta Preta é suficientes para
garantir as operações em caso de incidente por até uma semana.
Exigências de SLAs e boas práticas
Com a
popularização do modelo de cloud computing, mais empresas estão
recorrendo aos data centers para terceirizar serviços de TI. Para que
essas companhias tenham garantias de que suas aplicações não vão ficar
fora do ar com eventuais quedas de energia, especialistas recomendam que
fiquem mais atentas com os acordos de nível de serviço (SLA) e que
contratem parceiros que sigam as melhores práticas do mercado.
Uma
das formas de avaliar se o prestador de serviço está em conformidade
com as regras do mercado são as certificações que exigem que os data
centers estejam instalados em locais adequados e se têm planos de
contingências.
O Uptime Institute é uma das organizações
internacionais que auditam data centers e atesta se eles oferecem alta
disponibilidade com credenciais Tier III e IV. Essa última ninguém
possui no Brasil, mas alguns prestadores de serviço comerciais já
alcançaram a segunda que são Ativa, T-System, Alog e Embratel.
A
Vivo e Petrobras também obtiveram esse selo para seus data centers para
uso interno. A certificação Tier III, audita os sites que foram
construídos para oferecer disponibilidade de 99,98% 24 horas aos sete
dias da semana, avaliando planos de contingência. Outros prestadores de
serviço afirmam que atendem aos requisitos dessa norma, mas ainda não
passaram pelo crivo do Uptime Institute.
Ivan Semkovski, COO da
Globalweb Outsourcing, conta que fez a lição de casa de conferir SLA e
certificações quando a empresa decidiu atender seus clientes por meio de
terceiros. "Fizemos um estudo para verificar se teríamos data center
próprio ou usaríamos infraestrutura de um parceiro. Constamos que não
justificava fazer esse investimento", explica o executivo.
Hoje a
Globalweb atende seus cerca de 95 clientes ativos por meio de três data
centers. No Brasil, a empresa utiliza a infraestrutura da Oi e
Terremark. No exterior, a empresa tem acordo com o CoreSite, localizado
em Miami (EUA). Segundo Semkovski, todos eles possuem planos de
contingência para manter as operações em caso de
falta de energia ou outras ameaças.
"Um possível apagão regional não nos preocupa porque se a Terremark
cair, vamos para os data centers da Oi e vice-versa", diz o COO da
Globalweb, que considera ser uma vantagem usar a infraestrutura da
operadora com sites distribuídos pelo País. Ainda segundo ele, há
alternativa de ir para o CoreSite, caso essas empresas sejam derrubas
por blecautes.
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