Na Rússia, onde participa de reunião do G-20, ministro diz que a taxa de juros é o principal instrumento de controle da inflação no Brasil
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está em Moscou, na Rússia,
para participar de uma reunião do G-20, afirmou nesta sexta-feira
(15/02) que a taxa de juros - e não o câmbio - é o principal instrumento
de controle da inflação no Brasil, que em janeiro atingiu o maior
patamar desde abril de 2005. Segundo ele, o Banco Central tem de estar
"vigilante" e tomar "as devidas providências" na hipótese de o índice de
preços não desacelerar "espontaneamente".
Mantega observou que o "sinal de alerta" do governo acende sempre que a
inflação supera os 4,5% que são o centro da meta deste ano. Perguntado
se os juros iriam subir em razão da alta de preços registrada em
janeiro, o ministro respondeu que essa é uma questão que tem de ser
endereçada ao Banco Central. O índice de preços atingiu 0,86% em
janeiro, o maior patamar para o igual mês desde 2003 e o mais elevado
desde abril de 2005. Anualizado, o percentual significa uma inflação de
6,15%.
Por causa da declaração de Mantega, os juros futuros operam em alta
consistente desde a abertura dos negócios desta sexta-feira. De acordo
com um gestor da área de renda fixa, com as declarações, "Mantega deu
sinal verde para o BC subir o juro, o que é uma medida inteligente, pois
quanto antes fizer o aperto menos doloroso será". "A alternativa para o
BC postergar o aumento do juro seria usar o câmbio, mas já vimos que
tem um limite para apreciação e o swap reverso anunciado nesta
sexta-feira só referenda isso (que o câmbio não será usado para o
controle de preços)", disse.
Mantega disse que a taxa de inflação neste ano deverá ficar abaixo do
nível de 5,85% visto em 2012 e que permitir uma apreciação do real para
conter os preços não é uma solução. "A taxa de câmbio não pode ser usada
para combater a inflação e o Banco Central não faz isso", acrescentou.
Ele disse também que espera que a economia do país crescerá entre 3% e
4% em 2013, ante a expansão de 1% no ano passado.
Câmbio
O ministro Mantega ressaltou que o governo não tem uma meta para a
cotação do real em relação ao dólar, mas reconheceu que o nível atual é
mais "equilibrado". Segundo ele, a valorização registrada nos últimos
dias, que levou o dólar a R$ 1,956, não é uma resposta à alta da
inflação e decorre de movimentos normais do mercado.
A apreciação da moeda pode ajudar no controle de preços na medida em
que torna mais baratas as importações - são necessários menos reais para
pagamento do valor em dólares."Não houve mudança na política cambial",
disse, observando que o regime é de "flutuação" e "vigilância" para
evitar excesso de volatilidade.
O ministro afirmou que vários países exportadores estão encontrando
cada vez mais dificuldades para competir com outros que estão adotando
medidas para enfraquecer suas moedas. "A guerra cambial ser tornou mais
explícita agora porque os conflitos comerciais se tornaram mais
pronunciados", afirmou Mantega em entrevista à Dow Jones. "Os países
estão tentando desvalorizar suas moedas devido à queda do comercial
global. Assim, muitos deles estão em uma situação difícil."
Ele disse que, apesar da importância do debate sobre as chamadas
guerras cambiais entre os membros do G-20, o comunicado final da reunião
não deverá incluir comentários sobre o assunto. "Há países que não
reconhecem a existência de uma guerra cambial", afirmou. "Eles querem
continuar a evitar qualquer referência a isso. O comunicado precisa
refletir o consenso de todos os membros do G-20, mas meus funcionários
estão trabalhando para incluir os termos mais adequados possíveis.
A rodada de medidas de estímulo mais recente provocou novas acusações
de que alguns países podem estar buscando enfraquecer deliberadamente
suas moedas e ganhar vantagem ao impulsionar suas exportações às custas
das exportações de outros países.
Em um esforço para dar aos países em desenvolvimento uma participação
maior nos assuntos econômicos globais, Mantega disse que os Brics, grupo
que incluiu Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, estão fazendo
progresso para estabelecer um banco de desenvolvimento, que poderá
entrar em operação em um período de um ano.
Segundo ele, outras instituições financeiras, como o Banco Mundial e o
Banco de Desenvolvimento da Ásia, baseado em Manila, nas Filipinas, não
têm dinheiro suficiente para realizar todos os investimentos necessários
para as economias emergentes. "(O banco de desenvolvimento" deverá
entrar em operação em um ano a partir de agora", afirmou Mantega.
"Inicialmente, ele envolverá somente membros dos Brics, mas mais tarde
ele poderá expandir dinheiro para outros países em envolvimento. Nós
estamos discutindo onde a sede do banco será localizada e a configuração
de seu capital." Os membros dos Brics se reunirão em março, na África
do Sul, e discutirão o estabelecimento do banco de desenvolvimento.
Selic
O sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, diz que uma
inflação que em um único mês atinge 0,86%, com índice de difusão na
marca dos 75% e acumulado em 12 meses na faixa de 6,15% - próximo ao
teto da meta -, só pode ser combatida com aumento de juros. Para ele, as
afirmações feitas por Mantegare forçam sua visão de que o Comitê de
Política Monetária (Copom) deveria elevar a taxa Selic em 0,25 ponto
porcentual já no seu próximo encontro (5 e 6 de março), para 7,50% ao
ano.
Para Daoud, de certa forma o ministro está preparando o mercado para um
eventual aumento de juros caso necessário, o que vai ao encontro da sua
defesa de que elevação da Selic será o único remédio para esta inflação
que já se mostra disseminada. "Nada segura uma inflação cujo Índice de
Difusão atinge 75,1%", observa o sócio diretor da Global Financial
Advisor.
Estadão