União
Europeia e EUA comprometeram-se ontem a completar em dois anos as
negociações de um novo acordo comercial, um prazo ambicioso para um
projeto de imenso potencial comercial, mas repleto de complicações.
A ideia de um pacto entre as
duas potências comerciais, elogiada pelo presidente americano Barack
Obama durante seu discurso sobre o Estado da União, na noite de
terça-feira, vem sendo discutida há décadas.
Agora, no entanto,
políticos europeus e americanos mostram-se desesperados para apresentar a
seus eleitores planos tangíveis para reanimar o crescimento e criar
empregos, enquanto criam uma frente unida diante da concorrência contra a
China e outros países emergentes.
Para José Manuel Barroso,
presidente da Comissão Europeia, um acordo unindo parceiros comerciais
responsáveis por quase a metade da produção econômica mundial iria
"mudar o jogo".
"Juntos, vamos criar a maior
zona de comércio do mundo [...]. É um impulso a nossas economias que não
custa um centavo em dinheiro dos contribuintes", disse.
Michael Froman, que assessora
Obama em política econômica internacional, disse: "Isso poderia aumentar
drasticamente os empregos e o crescimento tanto nos EUA como na Europa,
integrar ainda mais nossas economias e ajudar a determinar regras
mundiais que poderiam contribuir para fortalecer o sistema de comércio
multilateral".
Karel De Gucht, o comissário
de Comércio Exterior da UE, afirmou que qualquer padrão legal ou técnico
adotado pelo bloco econômico e pelos EUA poderia tornar-se referência
internacional. "Isso é da maior importância para os nossos negócios."
O prazo de dois anos fixado
por De Gucht, e endossado pelos EUA, coincide com o fim do mandato da
atual Comissão Europeia (o órgão executivo da UE). Se o acordo comercial
não for concluído em 2015, suas perspectivas seriam incertas sob uma
nova liderança. Qualquer acordo teria de ser aprovado pelos 27
países-membros da UE, pelo Parlamento europeu e pelo Congresso dos EUA.
Washington se mostra relutante
em lançar negociações, quando vê pouca probabilidade de sucesso e
desperdício capital político e recursos administrativos.
"Dissemos que se formos pegar essa estrada, queremos chegar ao fim com
um tanque de gasolina", disse Froman. "Não queremos passar dez anos
negociando questões bem conhecidas e não chegar a um resultado."
Conseguir um acordo expressivo
entre UE e EUA será uma tarefa difícil. As tarifas comerciais já são
baixas, e os dois lados já se comprometeram a eliminar as que persistem,
de forma que as negociações terão como foco barreiras não tarifárias e
padrões de regulamentação.
Washington e Bruxelas já
travaram batalhas épicas em quase todas as áreas, de subsídios e
aeronaves até o tratamento com hormônios para o gado e a lavagem com
cloro da carne de frango. Embora autoridades dos dois lados venham
tentando aplainar as divergências antes das negociações, ainda persistem
diferenças substanciais.
De Gucht admitiu que não
sobraram mais "frutas fáceis de pegar", mas enfatizou o potencial dos
benefícios para os dois lados. "Nosso foco é o futuro. Esta não é uma
negociação, por exemplo, com o objetivo principal de encontrar uma
solução para o frango com cloro. O que queremos fazer é criar um mercado
entre os EUA e a UE."
As iniciativas transatlânticas
anteriores de comércio exterior foram, em grande parte, decepcionantes.
Hugo Paemen, ex-embaixador da UE em Washington, disse que os EUA
deveriam se esforçar mais para ampliar os laços comerciais com a Ásia.
Em seu discurso, na
terça-feira à noite, Obama elogiou outro projeto comercial, a Parceria
Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), antes de mencionar o pacto
entre UE e EUA.
"Claramente, a motivação no lado europeu é maior que no americano", disse Paemen.
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