quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Leonardo Loewenstein, empresário de comex e especialista em mercado chinês.


Semanas de modas acontecendo e o business fashion a todo vapor. Quando achamos que o mercado de fusões e aquisições da indústria de moda está consolidada eis que surgem novidades e desta vez é Michael Kors!!

O estilista resolveu vender parte de sua participação acionária na Michael Kors Holdings Inc, empresa que administra a sua marca. O marcado foi pego de surpresa poque a MK vai bem obrigado, e anunciou um aumento de vendas algumas semanas antes e as ações da empresa triplicaram de valor desde que foram lançadas na bolsa de NY em dezembro de 2011. É aguardar!
E nós por aqui vamos continuar a nossa saga chinesa e ler a entrevista de Leonardo Loewenstein, especialista em comércio chinês que entende como poucos as nuances deste mercado que desperta uma relação de amor e ódio entre os empresários brasileiros.


Confiram!!

Estamos cada vez mais importando moda da china? porque? mesmo com a burocracia brasileira importar da china é vantajoso?

Sim, importamos cada vez mais roupas da China pois a qualidade e o design tem melhorado muito.

Na última década grande parte das grandes grifes e designers mundiais passaram não só a produzir massivamente na China, eles abriram escritórios nas principais cidades, mandaram seus funcionários para a China para que estes pudessem controlar desde a seleção da matéria prima até a produção, para garantir a qualidade do produto. Isso impulsionou as fábricas chinesas a utilizarem e produzirem itens de melhor qualidade.
O que há uma década era produzido na China e quase 100% exportado, agora começa também a ser consumido pelos próprios chineses, pois a renda deles vem crescendo gradativamente.
Importamos muito da China, mas também exportamos tendências, design e recursos humanos. Sempre que vou a Guangzhou encontro com modelos brasileiros passando uma temporada por lá, fazendo catálogos de roupas de grifes até lojas de departamento Chinês.
Se a seleção do fornecedor/produto for bem feita, mesmo com toda a burocracia e altos impostos do Brasil, a importação pode sim valer a pena. Mas tem de ser bem estudada e toda planificada antes de se efetuar a importação. Muitos empresários têm prejuízos na 1ª importação, pois a fazem sem dar devida ênfase na seleção criteriosa de fornecedores, sem ir à China ou contratar uma empresa que possa lhe ajudar antes de efetuar a compra.




 A qualidade da moda chinesa está em que nível comparada com a brasileira?

O Brasil tem mais nome, experiência e tradição em segmentos da moda mundial, como moda praia, calçados etc, mas a China investe muito na melhoria de todos os seus setores produtivos e isso inclui moda e design. Eles são o país que mais tem investido em educação e há uma nova geração sendo preparada e treinada nas melhores escolas de design, na só da China, mas de todo o mundo. A China é um dos países que mais manda estudantes para cursar universidades no exterior. Ela está ávida para mudar a definição de que produto feito na China é de baixa qualidade, sem design, só cópia. Faz parte do ultimo plano quinquenal deles que todos os produtos chineses devem melhorar de qualidade, inovar, ser tornarem referencia no mercado. Eles querem criar marcas mundiais, com padrões de qualidade respeitados no mundo inteiro. Segundo os chineses, o tempo do Made in China está acabando, é hora de substituí-lo por Design in China. 



A moda chinesa é uma ameaça aos pólos de moda  brasileiros a curto prazo? Porque?

Para os empresários que administram seus negócios sem olhar para o futuro, sem se atentar para  que o comercio hoje é mundial, que é preciso estar ciente e se adequar as rápidas mudanças de um mundo cada vez mais globalizado e interligado,  resposta é sim.
Não existe ambiente de negócios sem competição, seja interna(doméstica) ou externa(internacional).
Os empresários que demoram ou não querem aceitar, enxergar isso, vão passar dificuldades ou serem excluídos do negócio. Já aqueles que estão antenados, investindo em design próprio, a par das tendências e pronto para mudar o rumo de seu negócio, a resposta é não.
Competir diretamente com os chineses, quando se fala de preço e volume é praticamente impossível, então mude sua estratégia, procure parceiros chineses, internacionalize sua empresa! Faça o que o a Europa e EUA já fazem a décadas! Vá a China para estudar e entender o que é o comercio com a China. Transforme um possível competidor em um recurso a ser explorado.




Como é o processo de importação da China?

É um processo que vem aumentando bastante nos últimos anos, e que constantemente é alvo de fiscalizações por parte da receita federal para evitar subfaturamento, emissão de certificados de origem falsos  e triangulações da mercadoria, principalmente pelo Paraguai, Uruguai e Argentina.  Como todo segmento da indústria nacional que sofre com a competição chinesa, a indústria de têxteis e vestuário brasileira reclama e pressiona seus representantes políticos por medidas de proteção da indústria nacional. Eu acho válido que a indústria nacional tome medidas para evitar fraudes, subfaturamento etc, mas na minha opinião, não se deve gastar toda a energia tentando proibir a entrada do produto chinês aqui. Se ele é mais barato e vem dominando o mercado mundial, não há como lutar contra isso, bater de frente! É hora de investir em capacitação do nosso mercado, da nossa mão de obra, flexibilizar nossa legislação trabalhista e diminuir nossa carga tributária, que é o grande inimigo oculto. 

Seguindo exemplo de grandes marcas globais como Gap, Zara e Top shop, grandes marcas brasileiras estão optando pelo Outsourcing chinês com designer próprio. Compensa? o parque industrial têxtil brasileiro corre o risco de se tornar chinês?

Tem compensado, mas já não é tão rentável como há 5, 7 anos atrás. O valor dos salários dos operários chineses vem subindo gradualmente e já não se encontrar tantos chineses vindos do campo com disposição de trabalhar em fábricas sendo mal pagos como seus antecessores. O que diferencia os empresários de moda bem sucedidos hoje em dia é que eles estão antenados nas mudanças e tendências mundiais, pois investiram em Outsorcing quando poucos faziam isso. Viram que outsourcing sem gerencia e design próprio não dava resultados satisfatórios, então mandaram seus gerentes para a China, para morar  lá e gerir o business in loco.

Além disso eles são os primeiros a mudar e se adaptar a novas realidades, como a crise europeia e alta do custo de produção na China, e rapidamente começam a produzir em outros países, como no leste europeu e Turquia, que por estarem mais próximos, não terem barreiras alfandegárias, transporte, logística,  tempo de entrega e necessidade de menor volume de compras, vem ganhando espaço frente aos produtos produzidos na China. 

Mas a China tem um fator que ao invés de ser uma ameaça ao setor têxtil/moda brasileiro, pode se transformar em uma vantagem, se bem usada e prospectada.

Como o povo chinês tem melhorado de vida e é o país que mais tem produzido novos bilionários, tem uma classe média com quase 300 milhões de pessoas, isso a faz ser um imenso mercado consumidor, com potencial inimaginável. Não é a toa que todas as grandes grifes de luxo estão abrindo lojas e escritórios na China. Há uma década atrás era só para produzir lá e exportar tudo para o mundo. Agora está começando a hora de vender para a China, e o chinês com dinheiro não quer produto chinês, ele quer o importado!!

Os empresários brasileiros de visão não ficam parados reclamando da situação, eles arregaçam as mangas e vão para China buscar parceiros, para investir nas suas fábricas, em seus produtos e marcas, para vender pra China!!



Quais as principais dificuldades de se importar moda no Brasil? 

Eu diria que, tanto no setor de moda como em quase todos os setores do comercio no Brasil, os pequenos e médios empresários sempre tem mais dificuldade e isto não está relacionado à falta de capital para importar, mas principalmente pela falta de informação, baixa escolaridade, falta de domínio do inglês, pouco contato e familiaridade com as tendências do comercio internacional e vários outros fatores.

Infelizmente o que acontece com muitos pequenos e médio empresários, é que quando decidem internacionalizar suas compras ou vendas, não dão o devida atenção ao processo de pesquisa, seleção e qualificação de possíveis fornecedores ou parceiros internacionais. A maioria se dispõe a gastar um bom dinheiro comprando produtos, mas poucos se preocupam em gastar com o levantamento de informações, em ir à China, em contratar gente especializada para fazer toda a parte anterior a compra. Também acontece de decidirem importar sem se preocuparem em garantir que o produto esteja de acordo com a modelagem do corpo do brasileiro e não do Chinês, que é totalmente diferente!

Eu comecei a pesquisar sobre a China pois também sou comerciante, e queria comprar uma linha de produtos para revender. Passei mais de 6 meses pesquisando sobre como é o comercio na China, fornecedores, como selecionar, preparando a minha 1ª viagem, me inscrevendo em feiras na China etc. Assim como outros pequenos e médios empresários, tive muita dificuldade de obter informação ou ajuda aqui no Brasil sobre como achar, selecionar e comprar de fornecedores chineses. Antes mesmo de viajar para a China pela 1ª vez já vislumbrei a ideia de criar uma empresa de consultoria e assessoria, para ajudar os empresários do Brasil a selecionar e negociar tudo referente a importação ou exportação com a China. Assim nasceu a Coletiva Trading!





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