sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Câmbio não é instrumento para frear inflação, diz Mantega


Na Rússia, onde participa de reunião do G-20, ministro diz que a taxa de juros é o principal instrumento de controle da inflação no Brasil

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega (Foto: EFE)

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está em Moscou, na Rússia, para participar de uma reunião do G-20,  afirmou nesta sexta-feira (15/02) que a taxa de juros - e não o câmbio - é o principal instrumento de controle da inflação no Brasil, que em janeiro atingiu o maior patamar desde abril de 2005. Segundo ele, o Banco Central tem de estar "vigilante" e tomar "as devidas providências" na hipótese de o índice de preços não desacelerar "espontaneamente".
 
Mantega observou que o "sinal de alerta" do governo acende sempre que a inflação supera os 4,5% que são o centro da meta deste ano. Perguntado se os juros iriam subir em razão da alta de preços registrada em janeiro, o ministro respondeu que essa é uma questão que tem de ser endereçada ao Banco Central. O índice de preços atingiu 0,86% em janeiro, o maior patamar para o igual mês desde 2003 e o mais elevado desde abril de 2005. Anualizado, o percentual significa uma inflação de 6,15%.
Por causa da declaração de Mantega, os juros futuros operam em alta consistente desde a abertura dos negócios desta sexta-feira. De acordo com um gestor da área de renda fixa, com as declarações, "Mantega deu sinal verde para o BC subir o juro, o que é uma medida inteligente, pois quanto antes fizer o aperto menos doloroso será". "A alternativa para o BC postergar o aumento do juro seria usar o câmbio, mas já vimos que tem um limite para apreciação e o swap reverso anunciado nesta sexta-feira só referenda isso (que o câmbio não será usado para o controle de preços)", disse.
Mantega disse que a taxa de inflação neste ano deverá ficar abaixo do nível de 5,85% visto em 2012 e que permitir uma apreciação do real para conter os preços não é uma solução. "A taxa de câmbio não pode ser usada para combater a inflação e o Banco Central não faz isso", acrescentou. Ele disse também que espera que a economia do país crescerá entre 3% e 4% em 2013, ante a expansão de 1% no ano passado.
Câmbio
O ministro Mantega ressaltou que o governo não tem uma meta para a cotação do real em relação ao dólar, mas reconheceu que o nível atual é mais "equilibrado". Segundo ele, a valorização registrada nos últimos dias, que levou o dólar a R$ 1,956, não é uma resposta à alta da inflação e decorre de movimentos normais do mercado.
A apreciação da moeda pode ajudar no controle de preços na medida em que torna mais baratas as importações - são necessários menos reais para pagamento do valor em dólares."Não houve mudança na política cambial", disse, observando que o regime é de "flutuação" e "vigilância" para evitar excesso de volatilidade.
O ministro afirmou que vários países exportadores estão encontrando cada vez mais dificuldades para competir com outros que estão adotando medidas para enfraquecer suas moedas. "A guerra cambial ser tornou mais explícita agora porque os conflitos comerciais se tornaram mais pronunciados", afirmou Mantega em entrevista à Dow Jones. "Os países estão tentando desvalorizar suas moedas devido à queda do comercial global. Assim, muitos deles estão em uma situação difícil."
Guido Mantega (Foto: Fernando Bizerra Jr/EFE)

Ele disse que, apesar da importância do debate sobre as chamadas guerras cambiais entre os membros do G-20, o comunicado final da reunião não deverá incluir comentários sobre o assunto. "Há países que não reconhecem a existência de uma guerra cambial", afirmou. "Eles querem continuar a evitar qualquer referência a isso. O comunicado precisa refletir o consenso de todos os membros do G-20, mas meus funcionários estão trabalhando para incluir os termos mais adequados possíveis.

A rodada de medidas de estímulo mais recente provocou novas acusações de que alguns países podem estar buscando enfraquecer deliberadamente suas moedas e ganhar vantagem ao impulsionar suas exportações às custas das exportações de outros países.

Em um esforço para dar aos países em desenvolvimento uma participação maior nos assuntos econômicos globais, Mantega disse que os Brics, grupo que incluiu Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, estão fazendo progresso para estabelecer um banco de desenvolvimento, que poderá entrar em operação em um período de um ano.

Segundo ele, outras instituições financeiras, como o Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento da Ásia, baseado em Manila, nas Filipinas, não têm dinheiro suficiente para realizar todos os investimentos necessários para as economias emergentes. "(O banco de desenvolvimento" deverá entrar em operação em um ano a partir de agora", afirmou Mantega. "Inicialmente, ele envolverá somente membros dos Brics, mas mais tarde ele poderá expandir dinheiro para outros países em envolvimento. Nós estamos discutindo onde a sede do banco será localizada e a configuração de seu capital." Os membros dos Brics se reunirão em março, na África do Sul, e discutirão o estabelecimento do banco de desenvolvimento.
 
Selic

O sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, diz que uma inflação que em um único mês atinge 0,86%, com índice de difusão na marca dos 75% e acumulado em 12 meses na faixa de 6,15% - próximo ao teto da meta -, só pode ser combatida com aumento de juros. Para ele, as afirmações feitas por Mantegare forçam sua visão de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria elevar a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual já no seu próximo encontro (5 e 6 de março), para 7,50% ao ano.

Para Daoud, de certa forma o ministro está preparando o mercado para um eventual aumento de juros caso necessário, o que vai ao encontro da sua defesa de que elevação da Selic será o único remédio para esta inflação que já se mostra disseminada. "Nada segura uma inflação cujo Índice de Difusão atinge 75,1%", observa o sócio diretor da Global Financial Advisor.

Estadão

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