Louann Lofton, autora do livro "Warren Buffett investe como as
mulheres", explica como lidar com o dinheiro de forma inteligente
Por Patrícia ALVES
Aos 14 anos, LouAnn Lofton, então estudante do ensino médio em
uma pequena cidade do Mississipi, nos Estados Unidos, perdeu seu pai e
ganhou direito a uma herança – que só receberia quando fizesse 21 anos.
Sem saber o que fazer, LouAnn foi consultar o oráculo. Nada a ver com
religião ou misticismo para aprender a lidar com o dinheiro. Ela
recorreu ao Oráculo de Omaha, como é conhecido o americano Warren
Buffett, dono de uma fortuna estimada em US$ 54,6 bilhões e considerado o
maior investidor de todos os tempos. Para LouAnn, o bilionário serviu
de inspiração. “Eu queria aprender uma maneira de lidar com o dinheiro
de forma inteligente”, afirma. E não parou por aí. A admiração pelo
megainvestidor a fez estudar seu comportamento, o que resultou em um
livro: Warren Buffett investe como as mulheres. Best-seller nos Estados
Unidos, o livro chega ao Brasil no início de maio, pela editora Saraiva.
LouAnn falou com exclusividade à DINHEIRO.
Como surgiu a ideia de escrever o livro?
A ideia nasceu no verão de 2007. Na época, fiquei curiosa com os
estudos de finanças comportamentais que mostram que homens e mulheres
investem de maneira muito diferente. Homens fazem muito mais transações,
geralmente impulsionados pelo excesso de confiança, e correm mais
riscos. As mulheres, por outro lado, são mais pacientes, realistas e
prudentes.
E o que essa maneira feminina de investir tem a ver com Warren Buffett?
Ele tem um jeito paciente, calmo e sereno de investir. Sempre
admirei isso nele. Sua capacidade de controlar as emoções explica como
ele foi capaz de construir uma grande riqueza e superar a média do
mercado ao longo de décadas. Buffett é exatamente o oposto do que vemos
em Wall Street, onde imperam o ego e a ganância. Isso não quer dizer,
claro, que Buffett não tenha ego ou não seja um empresário extremamente
interessado. A diferença é que ele sabe que o caminho para construir a
riqueza no longo prazo é investir em empresas, e não especular sobre os
movimentos do dia a dia. Essa prudência é uma característica
extremamente feminina.
Você conhece Buffett pessoalmente?
Apesar de ser uma grande fã dele há muitos anos, só tive o prazer
de conhecê-lo no lançamento do livro nos Estados Unidos, em 2011.
Ele leu o livro ou deu algum palpite na preparação do material?
Ele leu uma versão preliminar antes de o livro ser lançado, mas não interferiu na elaboração.
Buffett entendeu a brincadeira?
Estudei muito o comportamento de Buffett antes de começar a
escrever. Sempre tive a sensação de que ele abraçaria o livro e
entenderia exatamente o que eu estava falando. Eu já sabia, também, que
ele tinha um grande senso de humor. Tive a oportunidade, uma vez, de
perguntar, cara a cara, em uma entrevista, se ele investia como as
mulheres. Sua resposta? “Você vai ter que ler o livro para ver os
critérios, mas eu diria que, provavelmente, sou culpado.”
Você já recebeu críticas de investidores homens por causa do livro?
Não. O título do livro é atraente e, uma vez que os leitores do
sexo masculino entenderam que a mensagem é positiva para todos, a
resposta tem sido boa. Eles entendem que todos, homens e mulheres, podem
aprender a controlar as emoções, melhorar o temperamento e ter bons
resultados no longo prazo.
Como seria se Buffett investisse como um homem?
Um exemplo engraçado foi a compra da Berkshire Hathaway, em 1965,
que na época era uma empresa têxtil sem nenhuma perspectiva de
crescimento. Claramente ele atuou fora dos seus padrões, agindo sem
avaliar os riscos. No entanto, todos nós devemos concordar que, para
Buffett, a “imprudência” funcionou. Hoje, a empresa ampliou suas
atividades para outras áreas e tem crescido de forma exponencial.
Seu livro chega ao Brasil quase dois anos depois de ser
lançado nos Estados Unidos. É um bom momento para os investidores
brasileiros lerem sobre isso?
Acredito que não importa onde você está ou o momento. Empregando a
estratégia de investir com foco no longo prazo e apenas em empresas que
você realmente conheça e compreenda – e tendo certeza de que elas
possuem fortes vantagens competitivas –, vai funcionar. É preciso muita
paciência e isso leva tempo.
Um dos princípios de Buffett é que ele não tem nenhum
problema de ir contra o consenso do mercado, comprando quando muitos
estão vendendo e vice-versa. Isso é uma característica do sexo
feminino?
Um estudo citado no livro mostrou que as mulheres conseguem evitar a
pressão dos colegas mais facilmente que os homens. O investidor do sexo
masculino, especialmente em situações de estresse, dá mais atenção às
ações dos outros homens ao seu redor. Ou seja, assim como as mulheres, o
megainvestidor toma suas decisões de forma independente, sem seguir o
que os demais estão pensando.
Quais são as principais lições que Warren Buffett e seu comportamento feminino podem ensinar aos investidores?
Enquanto os homens, em geral, são compulsivos e ousados, Warren
Buffett, assim como as mulheres, tende a ser mais estudioso e razoável. O
segredo é esse. Fazer a lição de casa, ser paciente, perceber que está
comprando uma parte de uma empresa real e não apenas um papel, não
assumir riscos desnecessários, não ter medo de ir contra a multidão –
mesmo que no início pareça ser um erro –, ter uma visão de longo prazo
e, principalmente, ser crítico e cético.