Na data de seu 13º aniversário, o Valor publica hoje o caderno especial "Rumos da Economia", cujo conteúdo está totalmente voltado à resposta a uma pergunta que intriga os brasileiros: "Por que o país, a despeito dos estímulos aplicados nos últimos dois anos, não cresce?"
Para responder a essa pergunta, o jornal pediu artigos, entrevistou
economistas e fez reportagens sobre alguns obstáculos que parecem
impedir o crescimento do PIB. Trouxe também ao jornal dois economistas
de tendências diferentes, embora nem sempre divergentes, os professores
Edmar Bacha e Luiz Gonzaga Belluzzo, que durante três horas dialogaram
sobre os entraves ao crescimento.
Bacha, hoje ligado ao PSDB, é um dos formuladores do Plano Cruzado e
do Plano Real. Belluzzo, também da equipe que implantou o Cruzado, se
identifica mais com a atual equipe econômica do governo. No debate,
ambos concordaram em que, para que haja crescimento, será preciso fazer
alguma coisa para salvar a indústria brasileira. "O foco é a indústria",
disse Bacha, que propôs o lançamento de um "Plano Real da indústria".
A proposta de Bacha inclui três estágios, não necessariamente
sequenciais. O primeiro seria fiscal, um programa pré-anunciado para um
certo número de anos, durante os quais haveria corte progressivo de
impostos e racionalização sobre a atividade industrial. Isso resolveria o
primeiro problema da indústria, que é o custo dos tributos, gerando
perda de receita compensada com o controle de gastos públicos por oito
anos.
O segundo estágio seria uma espécie de URV do Real: a troca de
tarifas de importação pelo câmbio. Haveria amplo de corte de tarifas,
também pré-anunciado, com redução de conteúdo nacional, abdicação de
controles de normas e procedimentos. E no terceiro estágio seriam
firmados acordos comerciais com os diversos mercados mundiais, incluindo
Alca e União Europeia.
Belluzzo concordou com a ideia de que o país precisa de uma
reindustrialização. Mas, sobre a proposta de Bacha, fez uma pergunta
básica: "Para onde iria o câmbio?" Bacha deixaria o "câmbio solto", para
flutuar, e estima que a taxa poderia ir a R$ 2,40, com uma
desvalorização de uns 20%. "Tudo depende de quem vai fazer [o programa
de reindustrialização]. Se for alguém crível, vai entrar capital",
disse.
Em artigo (página F3), o economista Yoshiaki Nakano diz que na onda
liberalizante global, a partir dos anos 80, o pensamento econômico
hegemônico no Brasil tinha como componente básico que o objetivo maior
da política econômica era alcançar a estabilidade macroeconômica e
conquistar a credibilidade do mercado.
"Políticas voltadas para
desenvolvimento foram consideradas desnecessárias e o planejamento de
longo prazo virou sinônimo de atraso." O diagnóstico, segundo Nakano,
era de que para crescer bastava abrir a economia e atrair capital. "O
resultado desse regime foram baixo crescimento, ciclos sucessivos de
recuperação e crise, forte elevação da carga tributária, crise de
balanço de pagamentos, apreciação de taxa de câmbio e
desindustrialização."
Para o economista Marcos Lisboa, o maior crescimento econômico no
governo Lula deveu-se, na sua maior parte, ao aumento da produtividade,
tendência que tem sido revertida nos últimos anos. "Produtividade
significa aumentar a capacidade de produção com os mesmos recursos
produtivos, e não pode ser confundida com reduções forçadas dos preços
de alguns bens e serviços".
Essas reduções, segundo o economista, apenas
implicam transferências de recursos entre setores, sem aumento da
produtividade total da economia. "Soluções oportunistas podem postergar o
enfrentamento das dificuldades, porém adicionam novos e crescentes
problemas e, progressivamente, nos condenam de volta à mediocridade",
escreve Lisboa.
O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros sustenta que crescimento
é limitado pela oferta de bens e serviços e pelo aumento da inflação.
Essa limitação seria produto de um diagnóstico equivocado feito pela
presidente Dilma que "deu continuidade à política econômica estabelecida
pelo ex-presidente Lula, quando a economia do país já havia mudado."
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