quinta-feira, 2 de maio de 2013

Por que o Brasil não cresce?

 

 

Na data de seu 13º aniversário, o Valor publica hoje o caderno especial "Rumos da Economia", cujo conteúdo está totalmente voltado à resposta a uma pergunta que intriga os brasileiros: "Por que o país, a despeito dos estímulos aplicados nos últimos dois anos, não cresce?"


Para responder a essa pergunta, o jornal pediu artigos, entrevistou economistas e fez reportagens sobre alguns obstáculos que parecem impedir o crescimento do PIB. Trouxe também ao jornal dois economistas de tendências diferentes, embora nem sempre divergentes, os professores Edmar Bacha e Luiz Gonzaga Belluzzo, que durante três horas dialogaram sobre os entraves ao crescimento.

Bacha, hoje ligado ao PSDB, é um dos formuladores do Plano Cruzado e do Plano Real. Belluzzo, também da equipe que implantou o Cruzado, se identifica mais com a atual equipe econômica do governo. No debate, ambos concordaram em que, para que haja crescimento, será preciso fazer alguma coisa para salvar a indústria brasileira. "O foco é a indústria", disse Bacha, que propôs o lançamento de um "Plano Real da indústria".

A proposta de Bacha inclui três estágios, não necessariamente sequenciais. O primeiro seria fiscal, um programa pré-anunciado para um certo número de anos, durante os quais haveria corte progressivo de impostos e racionalização sobre a atividade industrial. Isso resolveria o primeiro problema da indústria, que é o custo dos tributos, gerando perda de receita compensada com o controle de gastos públicos por oito anos.

O segundo estágio seria uma espécie de URV do Real: a troca de tarifas de importação pelo câmbio. Haveria amplo de corte de tarifas, também pré-anunciado, com redução de conteúdo nacional, abdicação de controles de normas e procedimentos. E no terceiro estágio seriam firmados acordos comerciais com os diversos mercados mundiais, incluindo Alca e União Europeia.

Belluzzo concordou com a ideia de que o país precisa de uma reindustrialização. Mas, sobre a proposta de Bacha, fez uma pergunta básica: "Para onde iria o câmbio?" Bacha deixaria o "câmbio solto", para flutuar, e estima que a taxa poderia ir a R$ 2,40, com uma desvalorização de uns 20%. "Tudo depende de quem vai fazer [o programa de reindustrialização]. Se for alguém crível, vai entrar capital", disse.

Em artigo (página F3), o economista Yoshiaki Nakano diz que na onda liberalizante global, a partir dos anos 80, o pensamento econômico hegemônico no Brasil tinha como componente básico que o objetivo maior da política econômica era alcançar a estabilidade macroeconômica e conquistar a credibilidade do mercado.

 "Políticas voltadas para desenvolvimento foram consideradas desnecessárias e o planejamento de longo prazo virou sinônimo de atraso." O diagnóstico, segundo Nakano, era de que para crescer bastava abrir a economia e atrair capital. "O resultado desse regime foram baixo crescimento, ciclos sucessivos de recuperação e crise, forte elevação da carga tributária, crise de balanço de pagamentos, apreciação de taxa de câmbio e desindustrialização."

Para o economista Marcos Lisboa, o maior crescimento econômico no governo Lula deveu-se, na sua maior parte, ao aumento da produtividade, tendência que tem sido revertida nos últimos anos. "Produtividade significa aumentar a capacidade de produção com os mesmos recursos produtivos, e não pode ser confundida com reduções forçadas dos preços de alguns bens e serviços". 

Essas reduções, segundo o economista, apenas implicam transferências de recursos entre setores, sem aumento da produtividade total da economia. "Soluções oportunistas podem postergar o enfrentamento das dificuldades, porém adicionam novos e crescentes problemas e, progressivamente, nos condenam de volta à mediocridade", escreve Lisboa.

O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros sustenta que crescimento é limitado pela oferta de bens e serviços e pelo aumento da inflação. Essa limitação seria produto de um diagnóstico equivocado feito pela presidente Dilma que "deu continuidade à política econômica estabelecida pelo ex-presidente Lula, quando a economia do país já havia mudado."

Valor Econômico

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