BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA
Folha de S.Paulo
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA
Folha de S.Paulo
Atualizado às 13h18.
O novo diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, disse nesta
quarta-feira, em entrevista coletiva, que a situação da entidade é
crítica. Ele foi eleito na terça (7), derrotando o mexicano Herminio
Blanco.
"A OMC está num estágio muito crítico. Nós costumamos dizer isso, mas é
verdade mesmo. As negociações estão completamente travadas. Há uma
paralisia clara no sistema."
Ele disse que se empenhará para recuperar a importância da organização como mecanismo para facilitar as relações multilaterais.
"Ou as bases mudam, ou o mundo vai avançar e a OMC vai ficar para trás. É
isso que nós temos que evitar", afirmou. "Na minha visão, estamos
correndo risco de perder um mecanismo muito valioso".
O embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevêdo, anuncia candidatura à diretoria-geral da OMC, em janeiro Leia mais
Segundo Azevêdo, a OMC não consegue avançar devido ao fracasso na Rodada
Doha, de liberalização do comércio global. Ele colocou a retomada das
reuniões de negociação como "prioridade número um".
"Resolvendo a rodada Doha, vamos destravar a organização e tirá-la da
paralisia em que ela se encontra nos últimos cinco anos. Temos que achar
uma solução o mais rápido possível".
O brasileiro prometeu empenho para combater o protecionismo e disse que o
trabalho deve começar antes de sua posse, em 1º de setembro, para
evitar o fracasso da conferência de Bali, em dezembro.
"Não sei o estágio em que estaremos até lá. Muita coisa vai acontecer.
Espero encontrar o paciente com o coração batendo e respirando".
Mais cedo, os embaixadores dos Estados Unidos e da União Europeia
prometeram apoiar a gestão do brasileiro. Os países desenvolvidos
votaram no candidato mexicano, Herminio Blanco. Azevêdo foi eleito com
apoio da China e das nações emergentes.
"É um dia muito bom para a OMC como instituição. Nos estamos muito
felizes em fazer parte do consenso por Azevêdo", disse o embaixador
americano Michael Punke.
"Achamos que ele será um diretor-geral muito bom, e vamos trabalhar junto com ele. Nós apoiamos o consenso", acrescentou.
A embaixadora do Reino Unido, Karen Pierce, disse esperar que a
articulação do seu país para que a UE votasse em Blanco não atrapalhe as
relações britânicas com o Brasil.
Ela afirmou que a irritação do governo brasileiro com Londres deve ser
um "mal-entendido". "Temos uma relação muito forte com o Brasil. Seria
uma pena. Se isso for verdade, é um mal-entendido", disse.
O brasileiro Roberto Azevêdo, 55, foi eleito na terça-feira (7) como
diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). É a primeira vez
em que um latino-americano é eleito para um mandato completo de quatro
anos.
Na última fase da disputa, Azevêdo derrotou o mexicano Herminio Blanco,
62, e trouxe ao Brasil uma de suas maiores vitórias diplomáticas. A
decisão foi tomada em Genebra (Suíça) com a participação dos 159 países
que integram a entidade.
O diplomata começou a carreira no Itamaraty em 1984 e foi o principal
assessor econômico do então chanceler Luiz Felipe Lampreia de 1995 a
1997. Participou, em 2001, da criação da Coordenação-Geral de
Contenciosos do Itamaraty, que dirigiu por quatro anos.
Em 2005, ele se tornou o chefe do departamento econômico do ministério
e, de 2006 a 2008, foi subsecretário geral de assuntos econômicos.
Foi em 2009, quando já estava à frente da representação na OMC, que o
órgão autorizou o Brasil a retaliar os EUA pelos subsídios ao algodão.
O Brasil ganhou papel predominante na OMC a partir de 2003, durante o
governo Lula (2003-2010), e se tornou um dos maiores negociadores junto
da UE, do Japão, da China, da Índia, dos EUA e da Austrália.
O país defende um enfoque gradual para derrubar barreiras comerciais e
um grande papel para o governo na regulação do comércio, o que já
provocou queixas de países ricos, como os EUA e o Japão, e de
companheiros emergentes, como a China e a Coreia do Sul.
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